Ergonomia da vida diária: controle da hiper e hipoglicemia através de caminhadas regulares Ergonomía de la vida cotidiana: control de la hiper y la hipoglucemia por medio de caminatas habituales |
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*Doutorado em Ergonomia UFSC - FEFFI **Doutorado em Biomecânica UFSC – Florianópolis (Brasil) |
Pedro Ferreira Reis* Antonio Renato Pereira Moro** |
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Resumo O objetivo do trabalho era avaliar os níveis de glicose no sangue a partir da adoção da prática da caminhada. Trata-se de um estudo de caso, realizado com um sujeito de 30 anos de idade, portador do Diabete Mellitus, onde foi submetido a um programa regular de caminhada com o auxílio de uma esteira ergométrica. O ritmo e a intensidade da atividade foi estabelecido com base pela freqüência cardíaca (FC), onde se adotou 50% a 60% da FC máxima. Após 10 secções de atividade, pode-se verificar uma redução progressiva nos níveis de glicose, com um consumo médio de 60 mg/dl em cada hora de atividade. Unitermos: Trabalhadores. Diabetes. Glicose. Caminhadas
Abstract The objective of the work was to evaluate the glucose levels in the blood from the adoption of the practical one of the walked one. One is about a study of case, carried through with a citizen of 30 years of age, carrier of the Mellitus Diabetes, where it was submitted to a walked regular program of with the aid of an ergometric mat. The rhythm and the intensity of the activity were established with base for the cardiac frequency (FC), where if it adopted 50% 60% of the maximum CF. After 10 sections of activity, a gradual reduction in the glucose levels can be verified, with an average consumption of 60 mg/dl in each hour of activity. Keywords: Workers. Diabetes. Glucose. Walked |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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1. Introdução
A doença diabetes mellitus não insulino-dependente, surge gradualmente em função da perda da resistência celular à insulina, obrigando o pâncreas a elevar sua produção, comprometendo a vida útil das células beta no organismo humano. Nesse sentido, a American Diabetes Association caracteriza a doença quando a sua taxa de glicose no sangue em jejum estiver acima de 125 mg/dl” (In: MARTIN, 2000).
Como a vida moderna mudou muito os hábitos humanos, os alimentos passaram por uma transformação significativa o que vêem corroborando para o aumento nos índices de pessoas portadoras de diabetes tipo II (não insulínica). Com essa modernidade veio também a limitação de movimentos corporais, contribuindo no avanço do sedentarismo, favorecendo ainda a disseminação desta doença em todo o mundo.
A prática regular de atividade física é sem duvida o melhor remédio para o diabético, pois melhora seus hábitos saudáveis e automaticamente proporciona uma melhor qualidade de vida quer em casa, no lazer ou trabalho. Toda prática de atividade física aeróbica, ocorre com a presença de oxigênio produzido pelo sistema cardiovascular com batimentos cardíacos oscilando de 50% a 85% da frequência cardíaca máxima, se tornando uma prática de fácil execução.
É muito importante manter o equilíbrio da glicose sanguínea, principalmente nos momentos que precede qualquer atividade física, uma prática regular de exercícios físicos mal orientados poderão resultar em taxas muito baixas de glicose (hipoglicemia) ou muito altas (hiperglicemia), pois quando os níveis de glicose estiverem abaixo de 150 mg/dl ou acima de 300mg/dl, não são recomendados esforços físicos de qualquer natureza para diabéticos. É provável que a glicose é bem mais utilizada como fonte de energia nos primeiros 15 a 20 minutos de atividade física, após este tempo o combustível mais utilizado será a gordura.
O diabetes mellitus se constitui uma doença crônica e perigosa, a qual deve ser monitorada 24 horas por dia, e se for aliada a uma prática de atividade física orientada contribuirá para uma melhor qualidade de vida do diabético em casa, no trabalho e no lazer o que vem dar uma importância maior para esta pesquisa.
2. Objetivo
O objetivo principal do trabalho foi o de avaliar os níveis de glicose no sangue a partir da adoção da prática da caminhada.
3. Metodologia
Para este estudo foi utilizado um sujeito único de 30 anos de idade, pesando 70 kg, portador de diabete mellitus não insulínico. Para seu desenvolvimento foi utilizado o laboratório de medidas e avaliações do Centro de Ensino Superior (CESUFOZ). Para a atividade de caminhar, foi utilizada uma esteira ergométrica convencional, com a superfície ajustada em 10º graus de inclinação. O ritmo da atividade foi imposto pela freqüência cardíaca, a qual foi calculada pelo método de Karvonen (In: Filho, 2003) – 220 menos a idade atual do indivíduo - Para o referido sujeito, a freqüência alvo foi então de 135 a 146 batimentos por minuto.
Para analisar a glicemia, as mostras de sangue (20m) foram coletadas do dedo anular por meio de microtúbulos e analisadas pelo aparelho portátil Prestige smart system, sendo coletado a glicemia, antes e após os 60 minutos de atividade física.
Figura 01. Procedimento para a coleta de amostra de sangue e o respectivo aparelho utilizado para a análise da glicose sanguínea
4. Revisão de literatura
A atividade física que mais contribui para a saúde é, sem dúvida o trabalho aeróbico com intensidade de baixa a média intensidade o que contribui para praticar exercícios sem risco de ocorrência de lesão (CARVALHO, 1988).
Um estilo de vida sedentário, sem a participação de atividades físicas regulares, poderá contribuir no surgimento ou agravamento de diabetes, em função do aumento da glicose sanguínea. (Wei, et. al.,1999). Este aspecto foi reafirmado por Nieman (1999), o qual enfoca que é extremamente importante a prática regular de atividade física para o diabético, pois além de melhorar o índice do açúcar do sangue, também contribui para sua auto-estima. No entanto Nahas (2003) orienta que um programa de atividade física aeróbica, deve respeitar a individualidade de cada praticante principalmente quanto, ao tipo, duração e intensidade propondo que sejam realizados pelo menos de 3 a 5 vezes por semana.
A prática de uma atividade física moderada contribui significativamente no estilo de vida do diabético não dependente, melhorando a hemoglobina glicolisada e a secreção da insulina. (BOUCHARD et. al., 1990). Hanninem (1989) cita que durante a prática de atividade física ocorre um crescimento na utilização da glicose sanguínea, tendo que utilizar as reservas do fígado, devido a um aumento na liberação de hormônios metabólicos como adrenalina, cortisol e hormônio do crescimento. Sendo estabelecido que a adrenalina é a maior responsável pela aceleração da glicogenolise hepática, aumentando a glicemia, o qual juntamente com o glucagon, atua tanto na glicogenólise, como no gliconeogênese hepática, favorecendo no aumento adicional da glicemia. Já o cortisol faz gliconeogênese hepática a partir dos aminoácidos circulantes (MORINATI et. al., 1992).
Hary, et. al. (1987), mostra o lado oposto da produção de glicose pela adrenalina e glucagon, citando a atividade física, pois segundo este mesmo autor a pratica regular de exercícios físicos, diminui a produção da insulina, em função da inibição das células betas das ilhotas de langerhans no pâncreas, confirmando que uma atividade física acima de 60% do VO2 máximo, proporciona uma diminuição na liberação da insulina em função do aumento da atividade adrenérgica.Colberg,(2003) cita a importância do controle glicêmico antes e após a prática regular de atividade física, enfocando que se a taxa de glicose estiver acima de 250 mg/dl (14mM) com cetose presente ou acima de 300 mg/dl (17mM) mesmo sem a presença de cetose o exercício físico fica contra-indicado em virtude da possibilidade de ocorrer uma hiperglicemia pós -atividade. Muito bem comentado por Leite (1985), o qual orienta para não se aplicar insulina nos grupos musculares que participam ativamente do exercício, evitando assim uma entrada súbita deste hormônio na circulação, pois segundo este autor neste caso poderá ocorrer uma hipoglicemia. Comentado por Cancellieri,(1999), mostrando que pessoas praticantes de atividade física regular, tem uma maior sensibilidade à insulina, permitindo que a glicose entre no músculo com maior eficácia, tanto a longo como em curto prazo.
Reis, et. al (2003) e (Nahas, 2003) citam que um sujeito sedentário é aquele que tem um gasto calórico além do basal, inferior a 500 calorias enquanto que para ser considerado como moderadamente ativo, suas atividades deverão ser acima de 1000 calorias, o que representa aproximadamente 30 minutos de atividade física durante 5 vezes por semana. Sempre respeitando as individualidades do diabético, sendo recomendado atividades dinâmicas moderadas, com intensidade de 50% a 60% da freqüência cardíaca máxima ou 49% a 65% do VO2 máximo, tendo o máximo cuidado da glicemia não estar acima de 300 mg/dl, evitando assim a hiperglicemia.
(RAMIRES, et. al., 1992),(GORDON, 1996), (VIVOLO et. al, 1996).Forti, (1997) orienta que para ter motivação para a atividade física, a coleta da glicemia antes e após a atividade é de suma importância para o diabético, pois verificando a diminuição da glicose pelo metabolismo do exercício, não só verifica os benefícios, mas também cria uma alto-motivação, pois o diabético percebe de perto os benefícios da atividade física, além de proporcionar dados para o seu controle pessoal, e também para prevenir tanto a hipoglicemia como a hiperglicemia, bem como ingestão de açúcar e carboidratos se necessário antes da atividade física.
5. Resultado
Durante todo o trabalho que foi desenvolvido, a freqüência cardíaca de repouso teve pouca variação, oscilando de 76 a 82 batimentos por minuto em todas as sessões de treinamento.
Figura 02. Comportamento do nível de glicemia no sangue ao longo das sessões de caminhadas na esteira ergométrica - antes e durante os 60 minutos de atividade
Conforme o gráfico pode-se verificar que a utilização de um trabalho aeróbico através do metabolismo muscular durante 60 minutos, com uma freqüência cardíaca alvo entre 50% a 60% da freqüência cardíaca máxima, utiliza aproximadamente 20% da taxa de glicose de repouso, o qual durante o presente estudo atingiu uma média de 60 mg/dl, a cada uma hora de caminhada.
Martins (2000) afirmou que é muito importante para o diabético saber monitorar o seu açúcar sanguíneo freqüentemente, em especial antes e depois da prática de atividade física, pois segundo esta mesma autora, este hábito irá contribuir para uma prevenção tanto da hipoglicemia como da hiperglicemia. Já Ramalho (1999), alerta a todos os sujeitos portadores de diabéticos, que quando o seu índice de glicemia estiver de 130 mg/dl a 200 mg/dl, não há necessidade de suplementação de carboidratos, mas ao contrário se estiver abaixo de 130 mg/dl, é necessário haver uma suplementação de 20 gramas aproximadamente de carboidratos antes da prática de qualquer atividade física.
6. Conclusão
Através desta pesquisa podemos afirmar que atividade física aeróbica, através de uma caminhada moderada reduziu significativamente o índice de glicemia do portador de diabetes mellitus. Queremos alertar que é de extrema importância que os trabalhadores que executam atividades aeróbicas, sejam elas impostas pelo trabalho ou na prática regular de atividade física, que monitorem seus níveis de glicemia diariamente evitando assim a hipoglicemia e a hiperglicemia. Da mesma forma, também orientar os trabalhadores diabéticos sedentários de que a atividade física deve estar sempre presente em suas vidas, pois juntamente com uma dieta controlada e manutenção da glicemia nos níveis normais, os diabéticos não insulínicos poderão ter uma vida saudável e normal. Neste sentido através de uma simples caminhada todos os diabéticos que não tem hábitos de praticar esportes coletivos, poderão usufruir os benefícios do metabolismo muscular para queima da glicose, com saúde, conforto e segurança.
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