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Relação cintura-quadril e consumo alimentar 

de estudantes do ensino fundamental

Relación cintura-cadera e ingesta alimentaria de estudiantes de enseñanza básica

 

*Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano – CEFID/UDESC

**Programa de Pós-Graduação em Docência em Saúde – CBES, RS

***Nutricionista, especialista em Dietética pela UNIVATES, RS

(Brasil)

Roges Ghidini Dias*

Giovane Pereira Balbé*

Ernani Pereira Paz Neto**

Ana Teresa Lamb***

rghidini@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem por objetivo analisar a relação entre as medidas da cintura e quadril (relação cintura/quadril) e o consumo alimentar de estudantes do ensino fundamental (Pré escola a 8ª série) da cidade de Tapejara. Foram avaliadas 430 estudantes de ambos os sexos entre 5 e 16 anos (9,5±2,5) de idade. Para avaliação da relação cintura quadril (RCQ), empregou-se a medida referente à última costela e a medida da prega glútea com o mínimo de vestimentas. O recordatório alimentar foi efetuado por meio de duas perguntas fechadas: “Você costuma realizar lanche no horário do recreio?” e “Você traz lanche de casa ou se alimenta do lanche oferecido pela escola?” nas quais os alunos respondiam a utilização ou não de lanche no horário do recreio e qual sua procedência. Empregou-se estatística descrita (média e desvio padrão) e teste de qui-quadrado com nível de significância de p<0,05. Os resultados encontrados não demonstraram relação entre a RCQ e o consumo de lanche, provavelmente pelo fato de a maioria dos alunos fazer uso da merenda escolar que é fornecida e produzida por meio de um rígido controle calórico.

          Unitermos: Escolares. Merenda escolar. Antropometria

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    Considerando o aumento da prevalência o sobrepeso e da obesidade em populações jovens e admitindo-se que o excesso de peso e de gordura corporal na infância a na adolescência prediz adultos obesos, a proposição de programas de controle do peso corporal, especificamente para crianças e adolescentes torna-se de grande importância na área de saúde pública (GUEDES; GUEDES, 1998).

    Raras vezes as escolas se preocupam em desenvolver ações educativas para levar os jovens a adquirir hábitos de vida que favoreçam o controle do peso corporal. O ambiente escolar se constitui em excelente oportunidade de prevenção e controle do excesso de peso corporal, na medida em que os jovens dedicam significativa quantidade de tempo nas duas primeiras décadas de vida às atividades escolares (GUEDES; GUEDES, 2003).

    Conforme o autor, ao contrário das intervenções tradicionais as ações educativas voltadas ao controle do peso corporal desenvolvidas nas escolas podem alcançar maior número de jovens. Os jovens realizam pelo menos uma de suas refeições (merenda escolar) e/ou consomem produtos de lanchonete, na escola, havendo ai uma possibilidade de discutir conceitos associados à alimentação saudável. Algumas experiências desenvolvidas nas escolas, procurando contemplar atividades isoladas relacionadas à prática de exercícios físicos e a orientação dietética, têm apresentado resultados efetivos na redução do peso corporal de escolares com sobrepeso ou obesos.

    Contudo, ações educativas incluídas nos currículos voltadas ao controle do peso corporal de todo universo de escolares poderão alcançar não apenas jovens com sobrepeso ou obesos, mas também aqueles que eventualmente possam apresentar risco ao desenvolvimento do excesso de peso e de gordura corporal. Assim, os currículos escolares podem-se constituir em mecanismo potencial direcionado à prevenção primária e secundária do excesso de peso corporal.

    Na infância o crescimento é lento e constante durante os anos pré-escolares e de idade escolar. Nesta etapa a falta de apetite pode causar ansiedade aos pais e gerar briga na hora das refeições. Há pouco crescimento da cabeça; o crescimento do tronco tem velocidade diminuída e os membros aumentam seu comprimento consideravelmente. Com o aumento da atividade física as pernas afinam enquanto que os músculos abdominais e das costas retesam-se para suportar a nova postura. (MAHAN; STUMP, 1998)

    Segundo Stump (1999), nessa fase de até 12 anos, a criança deve receber refeições adequadas para eliminar a fome passageira que interfere no rendimento escolar. A nutrição das crianças tem como objetivo promover crescimento e desenvolvimento adequado, impedindo as deficiências nutricionais, especialmente de ferro que pode diminuir a capacidade de concentração, falhas no crescimento e redução de resistência. A mesma deve auxiliar na redução de doenças crônicas futuras, como hipertensão, diabetes e obesidade.

    As refeições dos adolescentes freqüentemente têm padrões caóticos. Com freqüência pulam o café da manhã e o almoço. Contudo, deverá satisfazer as necessidades do estirão, além de manter um desenvolvimento adequado. O cardápio dos jovens deve ser observado freqüentemente para diagnosticar possíveis deficiências, como a de cálcio pela redução do consumo de leite e seus derivados, ferro que pode gerar uma anemia e os riscos das doenças crônicas (MAHAN; STUMP, 1998).

    Na educação nutricional dos jovens alguns itens devem ser destacados, tais como: explicar a pirâmide dos alimentos e a função de cada grupo alimentar; a importância da higiene oral e da saúde dentaria; a importância de algumas vitaminas como a vitamina A e C, pois a grande maioria dos jovens tem baixo consumo destes nutrientes; a importância de não pular refeições, sobretudo o café da manhã; a importância do cálcio, encontrado principalmente no iogurte, leite e queijo; destacar as refeições familiares, mas debater as realizadas fora de casa; demonstrar a importância da variedade dos alimentos. (STUMP, 1999).

    Com base no contexto acima destacado, surgiu o problema deste estudo, o qual busca averiguar se há ou não relação entre a relação cintura/quadril (RCQ) e o consumo de alimentos (lanche) no horário de recreio por parte de estudantes do ensino fundamental do município de Tapejara – RS com idade entre 5 e 16 anos.

Metodologia

    Este estudo classificou-se como uma pesquisa correlacional, pois pretende verificar a existência da relação entre as medidas antropométricas (cintura e do quadril) e o consumo de lanche de estudantes das escolas municipais da cidade de Tapejara – RS. Em uma pesquisa correlacional, de acordo com Gil (2002), o pesquisador não influencia (ou tenta não influenciar) nenhuma variável, apenas as mede e procura por relações (correlações) entre elas.

    Participaram deste estudo 430 estudantes de ambos os sexos com entre 5 e 16 anos de idade (9,5 ± 2,5) oriundos de 4 escolas municipais de Tapejara – RS, que foram selecionados por meio de processo de voluntariado.

    As variáveis antropométricas foram avaliadas por meio de medidas da cintura e do quadril e posteriormente efetuou-se o cálculo de sua relação. O questionário empregado para avaliar o consumo alimentar no horário do recreio se deu por meio de duas perguntas fechadas “Você costuma realizar lanche no horário do recreio?” e “Você traz lanche de casa ou se alimenta do lanche oferecido pela escola?” nas quais os alunos respondiam a utilização ou não de lanche no horário do recreio e qual sua procedência.

    Os dados foram tratados através da estatística descritiva (média e desvio padrão), para as variáveis antropométricas e o teste de qui-quadrado (x2) com nível de significância de p<0,05 com o auxilio do programa estatístico SPSS versão 15.0.

Resultados e discussão

    A realização deste estudo nas escolas públicas municipais da cidade de Tapejara – RS possibilitou traçar um perfil da população em idade escolar com vistas às suas características morfofuncionais e seu comportamento alimentar. Na tabela 1 encontram-se os dados referentes a caracterização da população analisada.

Tabela 1. Médias e desvio-padrão das medidas de cintura, quadril, RCQ e idade dos estudantes da rede municipal de ensino de Tapejara – RS

Variáveis

Média

Desvio-Padrão

Idade (anos)

9,57

2,57

Cintura (cm)

64,69

10,06

Quadril (cm)

74,59

11,37

RCQ

17,81

4,43

    Com base nos dados descritos na tabela acima, pode-se denotar uma normalidade de medidas com vistas à amostra analisada. Observa-se claramente uma predominância de baixos valores de medidas e da RCQ devido à predominância de crianças entre 6 e 11 anos de idade. Bellizi e Dietz (1999) relatam que a distribuição da gordura de forma centrípeta e predominante em indivíduos do sexo masculino e que desse modo as medidas de circunferências tendem a serem maiores quando se analisam amostras predominantemente masculinas (206 meninos e 224 meninas). Na tabela 2, encontram-se os dados referentes a associação entre RCQ e comportamento alimentar dos estudantes.

Tabela 2. Teste de qui-quadrado (x 2 ) entre comportamento alimentar e RCQ dos estudantes da rede municipal de ensino de Tapejara – RS

RCQ

Lanche

De casa *

Escola*

Não faz Lanche*

0,70

-0,6

0,6

-0,1

0,72

-0,6

0,6

-0,1

0,73

-0,6

0,6

-0,1

0,74

-0,6

0,6

-0,1

0,75

-0,6

0,6

-0,1

0,76

-0,8

0,8

-0,2

0,77

0,9

-0,8

-0,2

0,78

0,4

-0,4

-0,2

0,79

1,0

-0,9

-0,3

0,80

-1,1

0,5

2,5

0,81

0,5

-0,4

-0,4

0,82

0,3

-0,2

-0,4

0,83

-1,3

0,9

1,4

0,84

-0,6

0,7

-0,7

0,85

1,9

-2,0

0,7

0,86

0,7

-0,5

-0,7

0,87

-0,2

0,3

-0,7

0,88

-0,5

0,3

0,7

0,89

-0,2

0,3

-0,6

0,90

2,2

-2,0

-0,6

0,91

-0,8

0,9

-0,5

0,92

-1,7

1,3

1,5

0,93

-0,2

0,3

-0,3

0,94

-0,9

0,9

-0,3

0,95

0,6

-0,5

-0,3

0,96

-1,2

1,3

-0,2

0,97

-1,0

1,0

-0,2

0,99

1,8

-1,7

-0,2

1,00

1,8

-1,8

-0,1

* Ajuste residual ajustado

    A tabela 2 elucida os valores referentes à associação entre RCQ e comportamento alimentar dos estudantes durante sua permanência na escola. Como se pode notar, os valores não fornecem associações relevantes entre essas variáveis, uma vez que não existe um padrão de acompanhamento das alterações da RCQ com a utilização de alimentos, ou seja, os valores de RCQ não fornecem associação com o tipo de alimentação utilizada durante a permanência dos estudantes na escola.

    Possivelmente, esse fenômeno deve-se ao fato de a maioria dos alunos (325) fazerem uso da alimentação proporcionada pela escola, uma vez que a merenda escolar apresenta um rígido controle calórico e de distribuição de nutrientes, tornando-se assim uma refeição balanceada.

    Outro fator que pode estar relacionado aos resultados encontrados é a atividade física. Segundo alguns autores (Howley e Franks, 2000; McArdle, Katch, Katch, 1998) a atividade física surge como uma alternativa para contemplar o aumento de peso e acúmulo de gordura subcutânea. De acordo com os autores, a prática de atividade física pode ser um fator desencadeante da diminuição do peso e de medidas tanto em adultos quanto em crianças e essa afirmação vem ao encontro dos resultados encontrados neste estudo.

Conclusão

    Diante dos resultados obtidos, pode-se observar a inexistência de associação entre os valores de RCQ e o consumo alimentar dos estudantes no período em que permaneciam na escola. Torna-se necessário enfatizar que outros estudos envolvendo maior número de amostra e modelos metodológicos se fazem necessários para elucidar novos resultados ou até mesmo corroborarem com o estudo em questão.

Referências

  • BELLIZI, M. C. DIETZ, W. H. Workshop on childohood obesity: summary of he discussion. Am. J. Clin. Nutr. 1999;70(1): S173-5.

  • GIL, A . C. Como elaborar projetos de pesquisa, 3º ed. São Paulo, Atlas, 1996.

  • GUEDES, D. P., GUEDES, J. E. R. P. Controle do Peso Corporal. 2 ed. Londrina, Shape, 2003;

  • GUEDES, D. P., GUEDES, J. E. R. P. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes do município de Londrina (PR), Brasil. Motriz. V.4, n.1, 1998.

  • HOWLEY, E. T.; FRANKS, B.D. Manual do Instrutor de Condicionamento Físico para a Saúde. 3 ed. Porto Alegre. Artmed, 2000.

  • MAHAN, L. K., STUMP, S. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Tradução: Andréa Favano. 9a Edição, São Paulo: Roca, 1998.

  • McARDLE, W. D.; KATCH,F. I. & KATCH, V. L. – Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 3 ed. Rio de Janeiro, Interamericana, 1998;

  • STUMP, Sylvia S. Nutrição Relacionada ao Diagnóstico e Tratamento. Editora Manole. São Paulo, 1999.

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