A importância das aulas inclusivas de Educação Física para os portadores de deficiência La importancia de las clase inclusivas de Educación Física para personas con necesidades educativas especiales |
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*Universidade Trás os Montes e Alto Douro. UTAD, Portugal **Universidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC. Leopoldina, MG (Brasil) |
Mauro Lúcio Mazini Filho* | Ricardo Luiz Pace Júnior* ** Júlio César Correa Neto Caras* ** | Dihogo Gama de Matos* Gabriela Rezende de Oliveira Venturini* ** Rafael Pedrosa Savóia* | André Luiz Zanella* |
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Resumo Por meio da investigação da produção científica a respeito da inclusão e das contribuições da Educação Física como disciplina comprometida socialmente, busca-se investigar as atuais contribuições do profissional dessa área. O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados disponíveis via internet. Restringimos o período de levantamento bibliográfico dos livros, das dissertações, das teses e dos artigos em periódicos de 1990 a 2005. Dessa forma, a base desta pesquisa consistiu no estudo de livros, de artigos especializados, de dissertações e de teses, o que possibilitou o acesso e a manipulação de informações relevantes para a reflexão sobre as relações entre inclusão, deficiência física e Educação Física escolar adaptada. Concluímos portanto que é fundamental entender que o que vai dar qualidade e promover cada processo de inclusão é o esforço coletivo em refletir bastante e profundamente, propor e apoiar idéias inclusivas e ter coragem de colocá-las em prática, assumindo os riscos de errar, mas tendo sempre a disposição de aprender com os erros, e a partir daí criar novas práticas. Unitermos: Investigação. Educação Física Adaptada. Deficientes
Abstract Through the examination of the output scientific concerning the inclusion and of the contributions of the Physical Education is discipline involved socially, search-whether check out the existing contributions of him of that area. The opinion poll bibliographic be fulfilled in backgrounds of given available road internet. Cramp the bout of opinion poll bibliographic with books, of the dissertations, of the tresses and this articles in periodicals of 1990 at 2005. of that figure, at bases of this opinion poll consist in study of books, of skilled articles, of dissertations and of tresses, what possibilities him access and the manipulation of information relevant for the reflection remain the dealings among inclusion, school bodily deficiency and Physical Education adapt. Close hence that be considerable catch on that what go give grade and advance each lawsuit of inclusion be the effort collective in reflect sufficient and deeply, propose and support conceptions inclusive and have boldness of give in observance, assume the chances of err, but have always the disposal of learn with the errors, and at break hence bring up new observances. Keywords : Examination. Physical Education Adapt. Deficient |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
O presente trabalho visa discutir as contribuições da Educação Física Escolar na promoção da inclusão dos deficientes na escola regular.
Por meio da investigação da produção científica a respeito da inclusão e das contribuições da Educação Física como disciplina comprometida socialmente, busca-se investigar as atuais contribuições do profissional dessa área. Dessa forma, crê-se possível a construção de uma prática educacional mais igualitária.
Para a realização dessa pesquisa, procurou-se abarcar a Educação Física Escolar e suas relações com a Educação Física Inclusiva, principalmente no que tange os alunos portadores de deficiências físicas diversas e as principais estratégias de atuação dos profissionais dessa área.
A base desta pesquisa consistiu no estudo de livros, de artigos especializados, de dissertações e de teses, o que possibilitou o acesso e a manipulação de informações relevantes para a reflexão sobre as relações entre inclusão, deficiência física e Educação Física escolar adaptada.
O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados disponíveis via internet. Restringimos o período de levantamento bibliográfico dos livros, das dissertações, das teses e dos artigos em periódicos de 1990 a 2005. Esse período é considerado de grande relevância uma vez que corresponde ao aumento do interesse da comunidade científica sobre o tema e proporciona uma visão dos trabalhos atuais desenvolvidos.
Revisão de literatura
Sobre deficiência
Discutir um conceito não é apenas uma questão de tornar comum, em um âmbito de investigação científica, uma terminologia. Para além do esclarecimento do significado da palavra deficiência, está a necessidade de expor a carga de preconceito que pode ser acrescentada ao seu uso para nomear um portador de necessidades especiais.
A palavra ‘deficiência’ denota a condição de um ser humano resultante de um impedimento, ou seja, de uma limitação, perda ou anormalidade numa parte ou estrutura corporal ou numa função orgânica.
Segundo Sassaki (2005), o termo anormalidade é utilizado na CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde) para se referir a uma variação das normas estatísticas estabelecidas, ou seja, quando se está referindo a um desvio da média da população dentro de normas estatisticamente delineadas. Portanto não é apropriado o uso desse termo para designar um portador de necessidades especiais.
Este autor ainda afirma que o conceito de incapacidade denota um estado negativo de funcionamento da pessoa, resultante do ambiente humano e físico inadequado ou inacessível, e não um tipo de condição. Como um exemplo disso, podemos citar a incapacidade de um usuário de cadeiras de rodas em acessar um prédio que não possua instalações adequadas à sua condição. Além disso, não devemos tomar o significado de deficiência por incapacidade, uma vez que ao nomearmos um deficiente como incapaz, estaremos expropriando deste qualquer possibilidade de desenvolvimento de outras capacidades.
A nosso ver, a discussão sobre a utilização de um determinado termo para nos referirmos aos portadores de deficiências é de suma relevância, já que se trata de um assunto de cunho humano sobre uma perspectiva inclusiva. Neste caso, a terminologia correta é especialmente importante, pois estamos abordando um assunto tradicionalmente arraigado de preconceitos, estigmas e estereótipos.
Compreendendo a deficiência física
Para falarmos sobre a inclusão de alunos com deficiência física nas escolas e as relações desse processo inclusivo com a educação física escolar adaptada, entendemos ser necessário clarear o que estamos abarcando com o termo “deficiência”.
Mazzotta (1982) indica que as pessoas com necessidades educacionais especiais são aquelas que “(...) em razão de desvios acentuados, de ordem física, intelectual, emocional ou sócio-cultural, apresentam necessidades educacionais que, para serem adequadamente atendidas, requerem auxílios ou serviços especiais de educação”.
Entendemos que esse conceito é bastante apropriado devido à sua abrangência. Porém, para melhor definir o objeto central dessa pesquisa optamos por utilizar o termo “deficiência”. Esse termo designa todo e qualquer comprometimento que afeta a integridade da pessoa e traz prejuízos para a fala, compreensão de informações, orientação espacial, locomoção, coordenação de movimento, percepção ambiental e contato com outras pessoas. A deficiência acarreta em dificuldades ou impossibilidades de execução de atividades comuns às outras pessoas.
Nesse estudo pretendeu-se abarcar de forma privilegiada a deficiência física entendendo esta como todo comprometimento da mobilidade, da coordenação motora geral, causado por lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas bem como por má formação congênita ou adquirida.
Para Mader (1997), existe um repertório muito amplo e variado de deficiências físicas que têm como traço incomum a diminuição permanente ou progressiva da movimentação do corpo. Essa dificuldade pode ser adquirida, principalmente, a partir de um trauma na medula espinhal, de uma doença degenerativa dos músculos ou do sistema nervoso ou de uma lesão no cérebro.
Essa dificuldade pode também ser genética ou oriunda de má formação intra-uterina. Entende-se que, quando a deficiência física acompanha o sujeito desde o nascimento ou nos primeiros meses de vida este tem diminuídas suas possibilidades de agir sobre o meio, de fazer descobertas, de construir conceitos espaciais, temporais, corporais e de avaliar o impacto de suas ações sobre o meio.
As pessoas com deficiência física apresentam uma significativa ausência de coordenação dos membros o que dificulta a execução de uma série de movimentos como comer, vestir, andar, correr, saltar, pegar/soltar e tirar/colocar. Isso porque esse tipo de deficiência acarreta em importantes alterações no tônus muscular. Entendemos por tônus o estado natural de contração de nossa musculatura quando estamos em repouso. Normalmente os músculos, ainda que relaxados, conservam certa firmeza que nos permite movimentar membros, sustentar o corpo e executar movimentos de forma harmônica e coordenada. A pessoa com deficiência física pode ter a musculatura muito flácida (hipotônica) ou muito rígida (hipertônica), ou pode, ainda, ter um tônus que oscile entre a hipotonia e a hipertonia, o que faz com que seus movimentos sejam pouco harmônicos (Mader, 1994).
Ainda segundo a rede “Entre Amigos”, implementada em 1998 com o objetivo de oferecer informações rápidas e fidedignas acerca das mais diferentes deficiências, a deficiência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor com a produção de limitações físicas derivadas de lesões ou doenças dos sistemas ósteo-articular, muscular e nervoso.
As principais causas da deficiência física são:
Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição; materna; rubéola; toxoplasmose; trauma de parto; subnutrição; outras.
Hemiplegias: por acidente vascular cerebral; aneurisma cerebral; tumor cerebral e outras.
Lesão medular: por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca; acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas. Traumatismos diretos; quedas; processos infecciosos; processos degenerativos e outros.
Amputações: causas vasculares; traumas; malformações congênitas; causas metabólicas e outras.
Mal formações congênitas: por exposição à radiação; uso de drogas; causas desconhecidas.
Artropatias: por processos inflamatórios; processos degenerativos; alterações biomecânicas; hemofilia; distúrbios metabólicos e outros.
A mesma rede, indica que a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que desconsiderando os períodos de guerra, 10% da população de países desenvolvidos e de 12 a 15% da população de países em desenvolvimento, são constituídos de pessoas com algum tipo de deficiência. Destes 20% são portadores de alguma deficiência física.
Alguns fatores de risco também não devem ser ignorados como violência urbana, acidentes desportivos, acidentes de trabalho, tabagismo, maus hábitos alimentares, abuso de entorpecentes, sedentarismo, epidemias, endemias, agentes tóxicos e falta de saneamento básico.
Devido às questões apresentadas anteriormente entende-se que o diagnóstico precoce e a inclusão da criança em ambientes e programas estimuladores são de suma importância para a estimulação do movimento e do posicionamento adequados, estimulação das aquisições motoras básicas, da participação em jogos, brincadeiras e tarefas de auto-cuidado.
O posicionamento corporal adequado evita a atrofia muscular - encurtamento da musculatura - e facilita a execução correta dos movimentos. O trabalho com esse posicionamento deve ser bastante diversificado oferecendo diferentes oportunidades de participação das atividades características de sua idade cronológica. Esse trabalho também é de suma importância nas atividades de auto-cuidado como a alimentação, o vestir, o despir, o banho e a higiene oral já que visa uma maior autonomia do sujeito.
Ainda nesse sentido, não devemos ignorar que a adaptação de materiais e de atividades para as necessidades da criança é imprescindível para que ela passe a ser mais ativa em suas ações motoras sobre os objetos. Entendemos, então, que a introdução gradativa da criança com deficiência física no mundo do movimento é essencial para o seu desenvolvimento motor e cognitivo.
No âmbito da cognição, devemos acrescentar que a deficiência física não está vinculada à deficiência mental. Quando indicamos déficits cognitivos em crianças com esse tipo de deficiência, não devemos perder de vista que, na maioria dos casos, esse déficit está relacionado à falta de estimulação adequada ou inadequação do ambiente para o desenvolvimento da criança. Sendo assim, o pleno desenvolvimento da criança com deficiência física prevê a atuação de equipe interdisciplinar voltada para o trabalho de reabilitação e de educação como fisioterapeutas, oftalmologistas, pedagogos e profissionais de educação física.
Educação inclusiva
Numa viagem pela história, podemos perceber que a pessoa deficiente tem sido sistematicamente excluída do sistema escolar regular. No Brasil, as primeiras possibilidades de educação formal foram oferecidas através de um sistema educacional segregativo. Atualmente existe um movimento em torno da inclusão desses alunos nas escolas regulares de ensino (Mazzotta, 1982).
De forma geral, a inclusão significa que todas as crianças e jovens em idade escolar têm o direito de freqüentar a escola regular que deverá estar organizada para atender às necessidades educativas de todos os alunos seja qual for a sua condição social, econômica, física ou psíquica. Desta forma, falar de educação inclusiva significa falar da garantia de que também os alunos com deficiência tenham acesso à escola regular.
O que se chama atualmente de Educação Inclusiva foi um movimento iniciado nos Estados unidos a partir da promulgação da Lei 94.142 de 1975. A preocupação com a educação dedicada aos deficientes foi aderida por outros países, como é o caso da Grã-Bretanha, onde está sediado o mais reconhecido centro de estudos a respeito de Educação Inclusiva, o CSIE (Centre for Studies on Inclusive Education) sediado em Bristol. É dele que têm partido os principais documentos a respeito da área da Educação Especial: 1. O CSIE - International Perspectives on Inclusion; 2. O Unesco Salamanca Statement(1994).
De acordo com Aguiar e Duarte (2005), o paradigma da escola inclusiva pressupõe uma educação apropriada e de qualidade dada conjuntamente para todos os alunos, em escola regular, onde deve ser desenvolvido um trabalho pedagógico que sirva a todos os alunos, indiscriminadamente. Sendo assim, o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos, independente de seu talento, deficiência (sensorial, física ou cognitiva), origem sócio-econômica, étnica ou cultural.
Segundo Mrech, pode-se entender por Educação Inclusiva o processo de inclusão das pessoas com deficiências ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus. Ressalta ainda que a escola inclusiva deve ter algumas características peculiares que discutiremos a seguir.
Mrech afirma que em uma escola inclusiva, o processo educativo é visto como um processo social, no qual as crianças com deficiências e distúrbios de aprendizagem devem ter acesso à escolarização o mais próxima possível do ‘normal’. O objetivo dessa escola é fazer com que as crianças atinjam o seu potencial máximo, sendo o seu processo de ensino-aprendizagem adequado às necessidades de cada criança.
Para atingir também a este público, a escola que se propõe inclusiva precisar sofrer uma readaptação dos papéis tradicionais dos professores e da equipe técnica. A pessoa portadora de deficiência, segundo esta autora, precisa de uma maior proximidade dos professores e que estes estejam aptos a perceber e a trabalhar com suas maiores dificuldades. Portanto, o suporte aos professores da classe comum é essencial para o bom andamento do processo de ensino-aprendizagem.
A escola inclusiva precisa estabelecer uma nova infraestrutura de serviços, onde ela gradativamente irá criando uma rede de suporte para a superação das maiores dificuldades do deficiente. Para isto, ela precisa também de um ambiente educacional flexível, que vise o processo de aprendizagem das pessoas com deficiências. A autora não deixa de frisar a importância da parceria da escola inclusiva com os pais, uma vez que os considera parceiros essenciais no processo de inclusão da criança na escola.
Outro aspecto ao qual a escola que pretende ser inclusiva deve estar atenta é ao que diz respeito às formas de avaliação da aprendizagem. Modelos tradicionais e antiquados de avaliação não podem ser utilizados com os alunos portadores de deficiência, pois suas diferenças precisam ser consideradas nesse processo.
Para Merch, é preciso que sejam realizadas modificações na estrutura física da escola que receberá alunos que necessitam de atenção e cuidados especiais, de forma a tornar mais fácil seu acesso. Também deve ser considerado o oferecimento de cursos preparatórios para os funcionários dessa escola, de maneira a prepará-los para trabalhar com esses alunos.
Para Cardoso (2003) a inclusão de alunos com necessidades especiais na escola regular, constitui uma perspectiva e um desafio para o século XXI, cada vez mais firme, nos diferentes sistemas e níveis educativos.
Educação Física Escolar Inclusiva
Toda grande transformação no âmbito educacional, exige reavaliações profundas de todos os professores. Com os professores de educação física não é diferente. A inclusão tem sido discutida a mais de uma década e exige um reposicionamento destes frente a uma nova realidade. Ao tratarmos da deficiência física fica ainda mais evidente essa necessidade.
Segundo Aguiar e Duarte (2005), culturalmente, a formação pedagógica do professor de Educação Física vem sendo colocada em plano secundário, prevalecendo os conteúdos das disciplinas de cunho técnico- desportivo, corporal e biológico, em detrimento das disciplinas pedagógicas. Sendo assim, a formação vem privilegiando o desenvolvimento de capacidades e habilidades físicas, que tem por prioridade o desempenho físico, técnico e o corpo enquanto objeto de consumo.
Tendo essa visão como base, focada na cultura desportiva e competitiva, entendemos que as resistências com relação à inclusão de pessoas vistas como menos capazes fisicamente são históricas. Muitas das proposições de atividades feitas em Educação Física, realizadas na base da cultura competitiva, podem ser observadas nas escolas. A prática desportiva, quando usada sem os princípios da inclusão, é uma atividade que não favorece a cooperação, que não valoriza a diversidade e que pode gerar sentimentos de satisfação e de frustração. Essa cultura competitiva constitui uma fonte de exclusão e pode se consistir numa barreira à educação inclusiva.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento que subsidia a atuação dos profissionais da área de educação, a proposta curricular é incluir os temas transversais nas aulas de educação física como ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural e orientação para trabalho e consumo. Nesse sentido, cabe também ao professor de educação física estimular processos reflexivos contribuindo para uma visão crítica do meio social trazendo um novo objetivo para essa disciplina: a formação de cidadãos.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física para o Ensino Fundamental (BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, 1997) expressam, em seus objetivos gerais, a expectativa que os alunos sejam capazes de:
participar de atividades corporais, estabelecendo relações equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo e respeitando características físicas e de desempenho de si próprio e dos outros, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais (p. 43); participar de diferentes atividades corporais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais (p. 63); participar de atividades corporais, reconhecendo e respeitando algumas de suas características físicas e de desempenho motor, bem como as de seus colegas, sem discriminar por características pessoais, físicas, sexuais ou sociais (p. 71); conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corpórea, adotando uma postura não-preconceituosa ou discriminatória por razões sociais, sexuais ou culturais (p. 72).
Essa discussão parece ainda mais importante quando refletimos sobre o objetivo da educação física no ensino fundamental numa escola inclusiva: formar alunos capazes de participar de atividades corporais estabelecendo uma atitude construtiva com os colegas deficientes desenvolvendo uma atitude de respeito, aceitação e solidariedade.
A educação deve romper com o tratamento tradicional dos conteúdos que favorece os alunos que já têm aptidões, adotando como eixo estrutural da ação pedagógica o princípio da inclusão, apontando para uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, da cooperação, da participação social e da afirmação de valores e princípios democráticos. Nesse sentido, deve buscar garantir a todos a possibilidade de usufruir de jogos, esportes, danças, lutas e ginástica em benefício do exercício crítico da cidadania.
A bibliografia consultada enfatiza que cabe ao professor de Educação física, desenvolver as potencialidades de todos os seus alunos atentando-se para a não exclusão de nenhum deles. Porém, no geral, a escola opta por dispensar determinados alunos dessas atividades, principalmente os alunos com deficiências, alegando que o professor não está preparado para desenvolver habilidades nessas crianças. Algumas escolas designam essas crianças para realizar atividades externas, como por exemplo a cronometragem de tempo. Porém, não devemos perder de vista os objetivos da educação física.
Segundo Ribeiro (1987), a educação física deve favorecer a qualquer criança, incluindo as com deficiências, o pleno desenvolvimento tendo como parâmetro a capacidade de cada um. Sendo assim o aluno deficiente deve ser incluído também nas aulas de educação física por apresentar necessidade de desenvolvimento motor. Afinal não devemos perder de vista que é uma das principais funções dessas aulas favorecerem o desenvolvimento social e afetivo do qual nenhuma criança pode ser privada.
Para a implementação de uma escola inclusiva, ainda que consideremos apenas a Educação Física enquanto unidade curricular há que se considerar múltiplos aspectos. O primeiro deles consiste no oferecimento de cursos de reciclagem para capacitação de docentes. Outro aspecto diz respeito à importância da existência de um corpo técnico especializado composto por psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo. E, por último, porém não menos importante, o apoio da família do aluno com necessidades especiais, além de outros fatores como o número de alunos na classe, a eliminação de barreiras arquitetônicas, a revisão pela sociedade civil da concepção sobre a pessoa com necessidades especiais, o apoio da sociedade política, a destinação de verbas, a adequação de currículos, metodologias de ensino, recursos didáticos e materiais e sistemas de avaliação.
De acordo com o princípio da Inclusão, a Educação Física escolar deve ter como eixo fundamental o aluno e deve se voltar para o desenvolvimento das competências de todos os alunos e proporcionar condições de acesso aos conteúdos a partir de estratégias adequadas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais ampliam a contribuição da Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, modificando a história desse componente curricular que vem apontando para um processo de ensino e aprendizagem centrado no desenvolvimento de capacidades e habilidades físicas e que objetiva e privilegia o desempenho físico e técnico, quase sempre, resultando numa constante seleção entre pessoas aptas e inaptas para a prática da cultura corporal do movimento.
Inclusão e Educação Física Adaptada
Conforme visto anteriormente, a inclusão dos alunos com deficiências nas escolas regulares é um processo amplo, com transformações em todas as dimensões no ambiente físico e na mentalidade de todas as pessoas envolvidas no processo educativo, incluindo o próprio portador de deficiência e sua família. Nesse sentido, não devemos perder de vista que o professor da escola inclusiva deve compreender as diferenças individuais, aprendendo a conviver com a diversidade humana a partir de valores como respeito, compreensão e cooperação mútua.
Frente à realidade de proposta de inclusão, cada área de atuação tem buscado possíveis estratégias frente a essa nova realidade. Sob o aspecto legal, a inclusão dos portadores de deficiência está amplamente amparada. A ONU promulgou, em 1948, a Declaração Universal de Direitos Humanos, assegurando a todas as pessoas, de todas as nações, os mesmos direitos e deveres, assim como a Constituição de 1988, a Declaração de Salamanca de 1994, a Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional de 1996, entre outras, asseguram a inclusão do portador de necessidades especiais.
Incluir é um desafio que deve ser encarado pelos profissionais da educação. Mas o simples ato de transferir o aluno portador de deficiência de uma escola totalmente adaptada às suas necessidades para outra de ensino regular, não significa inclusão.
Ao professor de educação física cabe proporcionar vivências e oportunidades motoras adaptando-se às mais diferentes realidades e construir exercícios e atividades que promovam a estimulação das áreas motoras mais debilitadas, as quais, devido ao impedimento de um desenvolvimento adequado, estão comprometidas.
A educação física é uma área de adaptação que permite a participação de todos, em atividades adequadas às possibilidades de cada um, proporcionando a integração. Para cada tipo de deficiência existe uma maneira de enfatizar as necessidades a serem contempladas.
Uma intervenção efetiva no que diz respeito à atividade física para deficientes deve respeitar suas limitações e promover autonomia. É importante que o professor sempre tenha conhecimentos básicos sobre seu aluno (tipo de deficiência, idade, funções e estruturas que estão sendo prejudicadas, etc.), uma vez que, ao conhecer o educando, ele adequará a metodologia a ser adotada. Para Cidade e Freitas (2002, p. 42-43) várias considerações devem ser levadas em conta:
Em que grupo de educandos haverá maior facilidade para a aprendizagem e desenvolvimento de todos;
A avaliação constante do programa de atividades possibilitando as adequações necessárias, considerando as possibilidades e capacidades dos educandos, sempre em relação aos conteúdos e objetivos da educação física adaptada;
Adaptação de material e sua organização na aula, tempo disponível, espaço e recursos materiais;
Adaptações de objetivos e conteúdos, adequando-os quando for necessário, em função das necessidades educativas especiais, dando prioridade a conteúdos e objetivos próprios, definindo mínimos e introduzindo novos quando for preciso.
Incluir o indivíduo portador de necessidades especiais nas escolas significa oferecer oportunidades iguais, apesar das diferenças. Neste sentido, a Educação Física Adaptada surgiu como estratégia oficial nos cursos de graduação através da resolução 3/87 do Conselho Federal de Educação e prevê a atuação do professor de Educação Física com o portador de deficiências e outras necessidades especiais. Porém, muitos professores em plena atividade nas escolas não tiveram esse subsídio em sua formação acadêmica, portanto poucas escolas estão preparadas para receber o aluno com deficiência principalmente no que diz respeito aos professores.
A Educação Física Adaptada “é uma área da Educação Física que tem como objetivo de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada portador de deficiência, respeitando suas diferenças individuais” (Saint-Laurent, 1997p.113). Ela se constitui em uma grande área de adaptação ao permitir a participação de crianças e jovens em atividades adequadas às suas possibilidades. Do exposto anteriormente, concluímos que um programa de educação física quando adaptada ao aluno portador de deficiência, possibilita a ele a compreensão de suas limitações e capacidades, auxiliando-o na busca de uma melhor adaptação.
No Brasil, um dos marcos de desenvolvimento profissional e acadêmico ocorreu em 1984 quando foram estruturados alguns cursos de preparação profissional para atender uma demanda futura de inserção da disciplina Educação Física Adaptada no ensino superior.
Em 1986 aconteceu o I Simpósio Paulista de Educação Física Adaptada, e nos anos pares subseqüentes este seria o evento que reuniria os profissionais e estudantes da área.
Em 1988 foi criado o primeiro curso de especialização em Uberlândia, que até os dias de hoje é um dos cursos de referência no país. Com o ingresso de docentes nos cursos de pós-graduação stricto sensu, um novo perfil se delineou. Em 1989 houve a primeira participação brasileira num ISAPA, e a partir de então, em cada ano ímpar, outros profissionais compareceram a ISAPAs, sendo que na última edição, em julho de 2001, 20 resumos de trabalhos brasileiros foram publicados nos anais.
A USP e UNICAMP foram pioneiras na formação de mestres e doutores, e hoje dividem o mérito da produção de conhecimentos com tantas outras Instituições de Ensino Superior e laboratórios de pesquisa que se instalaram em várias capitais e cidades do Brasil.
Em 1991 surgiu a idéia de fundar uma sociedade que auxiliasse a congregar os profissionais da área, foi então que fundou-se, em 1994, a Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada - SOBAMA. Segundo conceito apresentado pela SOBAMA, a "Educação Física Adaptada constitui a área de conhecimentos relativos à cultura corporal de movimento da pessoa com uma diferença significativa, particularmente a deficiência/descapacidade”.
Metodologia e procedimentos
Tendo como base a definição de Turtelli (2003), entendemos que o presente estudo corresponde à pesquisa do tipo bibliográfica. Esse tipo de pesquisa está incluído na gama de pesquisas do tipo documental, mas se caracteriza, principalmente por ser desenvolvida a partir de material já elaborado como livros e artigos científicos e não prevê o contato direto com “materiais de brutos” ou informantes de primeira ordem (Gil, 1991).
Dessa forma, a base desta pesquisa consistiu no estudo de livros, de artigos especializados, de dissertações e de teses, o que possibilitou o acesso e a manipulação de informações relevantes para a reflexão sobre as relações entre inclusão, deficiência física e Educação Física escolar adaptada. O levantamento bibliográfico foi realizado em bases de dados disponíveis via internet. Restringimos o período de levantamento bibliográfico dos livros, das dissertações, das teses e dos artigos em periódicos de 1990 a 2004. Esse período é considerado de grande relevância uma vez que corresponde ao aumento do interesse da comunidade científica sobre o tema e proporciona uma visão dos trabalhos atuais desenvolvidos.
Para a seleção das bases de dados a serem pesquisadas, optamos por duas bases científicas gerais – Scielo e Bireme –, bases de dados específicas sobre o assunto – SOBAMA / Sociedade brasileira de atividade motora adaptada – e bancos de dissertações de algumas importantes universidades do país que trabalham com a perspectiva da Educação física adaptada – USP/ Universidade de São Paulo e Unicamp / Universidade de Campinas.
A pesquisa foi realizada em todas as bases de dados por assunto. Foram utilizadas, como palavras-chave, “inclusão”, “deficiência física”, “comprometimento motor”, “educação física escolar” e “educação física adaptada”.
Após o levantamento bibliográfico, o material foi estudado por meio da realização de fichamentos, que objetivavam abranger todas as informações relevantes para o estudo da educação física adaptada para deficientes físicos e suas relações com a inclusão escolar desses alunos bem como sínteses das principais idéias de cada texto pesquisado. A elaboração dos fichamentos com as principais idéias de cada texto objetivou uma posterior correlação entre os diversos autores. O cruzamento dos resultados e conclusões apresentados por cada estudo possibilitou uma visão sobre os caminhos que as pesquisas sobre o tema vêm seguindo.
Discussão dos resultados
Uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos professores de Educação Física Adaptada (EFA) é a diversidade terminológica usada entre muitos instrumentos de avaliação presente nos estudos com origem nas diferentes escolas superiores, pelos grupos de estudo de pesquisas e pelos editores. Na realidade, cada termo representa as dificuldades experimentadas pelas crianças com dificuldades de movimento.
A avaliação motora em crianças e adolescentes portadores de deficiência mental é necessária para uma intervenção de qualidade, porém se faz necessário identificar claramente os critérios que o instrumento oferece. A seleção de um instrumento de avaliação deve ser precedida de uma compreensão sobre o porque da criança estar sendo testada e como as medidas serão utilizadas. A avaliação da habilidade motora total é primeiramente completada para a proposta de triagem, diagnostico e prescrição.
Essa avaliação é um processo complexo e os dados obtidos através dela são utilizados para se tornarem decisões importantes sobre os indivíduos. Podem ocorrer muitos problemas no processo de avaliação dos alunos e, quando há efeitos negativos, os alunos e suas oportunidades na vida podem ser afetados de maneira adversa.
Resumidamente, podemos classificar os problemas concernentes à Educação Física Adaptada em dois grandes grupos: problemas de caráter macro, que norteiam a área da educação como um todo e problemas de ordem micro que remetem especificamente à área da educação física. Dentre as dificuldades encontradas para uma intervenção em contexto inclusivo no nível macro é possível destacar: a desinformação por parte da comunidade em geral.
Nos mais variados campos de atuação percebe-se uma falta de compreensão por parte da comunidade no que tange as características de cada deficiência. De modo geral, é possível inferir que ainda prevalece grande falta de entendimento sobre as possíveis conseqüências da prática inclusiva.
Outra dificuldade está vinculada à insuficiência de informações atualizadas relativas à pessoa portadora de deficiência. Há uma tendência, até mesmo, em muitos eventos científicos e publicações de se discutir muito propostas de intervenção para indivíduos portadores de deficiência. Contudo, percebe-se uma falta de compreensão mais efetiva das características e possibilidades de cada indivíduo.
As atitudes de muitos portadores de deficiência que querem conviver apenas com seus pares também se constituem em uma dificuldade a nível macro. Mais especificamente, o envolvimento dos próprios indivíduos portadores de deficiência, pode representar uma dificuldade para a concretização de alguns projetos de intervenção.
Podemos observar também reações de negação à deficiência, ou mesmo de super-proteção por parte das famílias dos indivíduos portadores de deficiência. Muitas vezes, a própria família representa um embargo considerável para a proposta de intervenção. Caso não ocorra uma grande interação entre o que propõe a instituição e o que, de fato, a família promove, corre-se o risco de fazer com as metas de trabalho não sejam alcançadas.
Muitas organizações de atendimento às pessoas portadoras de deficiência que apelam para o assistencialismo protecionista e esse fato pode servir de propagador de uma falsa idéia a respeito dos portadores de deficiência. Algumas instituições que proporcionam atendimento a indivíduos portadores de deficiência, pecam pelo excessivo amadorismo em seus quadros de funcionários.
A ausência de uma análise crítica em relação à idéia de integração e ambigüidades nos textos e documentos legais em relação tema acarreta dificuldades para aqueles que se encontram empenhados no processo de inclusão. A dificuldade na interpretação de algumas leis, bem como, a discussão mais aprofundada das limitações e ganhos com o processo de inclusão podem representar uma grande entrave ao alcance das propostas.
E, por fim (porque não apontar para um problema recorrente em diversas áreas no Brasil?) devemos apontar para carência de recursos financeiros, humanos e materiais destinados ao atendimento nas áreas da saúde, educação, esporte e preparação para o trabalho.
Em meio a essa conjuntura que ainda dificulta a plena inserção de indivíduos portadores de necessidades especiais nas aulas regulares, existem dificuldades específicas que se consolidam no universo da área da Educação física e estes são os problemas de ordem micro.
Um dos aspectos que merece consideração é a própria natureza do fenômeno movimento, com o qual lida a educação física. Das mais variadas situações que norteiam o movimento humano surgem entraves específicos ao processo de inclusão que podem e devem ser analisados de forma mais cautelosa por parte dos profissionais da área.
A busca pela superação das dificuldades individualmente ou em grupos, muitas vezes, típicas dos contextos dos jogos pré-desportivos, pode criar condições favoráveis à segregação. Para a conquista, freqüentemente, privilegia-se a formação de pares e a composição de grupos com os considerados mais "aptos" ou "melhores", os quais, nem sempre incluem os indivíduos portadores de necessidades especiais.
Mais especificamente no que tange à formação dos professores de educação física é possível destacar quatro aspectos fundamentais que podem contribuir de forma significativa para essa dificuldade. O primeiro diz respeito à falta de disciplinas ou mesmo ênfase na formação profissional para essas discussões. Em especial, no Brasil, somente a partir da década de 80 é que passou a ocorrer uma discussão mais efetiva sobre as diferentes deficiências e as possíveis implicações para a intervenção nos cursos de Educação Física por meio de disciplinas específicas, tais como Educação Física Adaptada, Educação Física Especial ou Educação Física para portadores de necessidades especiais.
Outro aspecto refere-se à própria tendência das disciplinas que abordam temas associados à intervenção junto a indivíduos portadores de deficiência atribuírem muita ênfase à etiologia do problema, negligenciando, grande parte das vezes, um aprofundamento na caracterização e nas implicações de cada problema para o processo de inclusão dos indivíduos.
Sem sombra de dúvida, existe uma série de barreiras que devem ser suplantadas para o alcance de propostas de inclusão na área da educação física. Tomando como base o "estado da arte" talvez não seja possível aplicar um modelo único e que sirva de receita para todos os contextos de atuação, mas sim, realizar uma análise de alguns projetos que não alcançaram seus objetivos e avaliar o que os mesmos deixaram de fazer.
Ao mesmo tempo, cabe destacar a existência de alguns caminhos que podem ser percorridos para o desenvolvimento de políticas de inclusão na área da educação física e do esporte. Algumas dessas propostas implicam necessariamente em mudanças na esfera macro, como a das próprias políticas públicas na área da educação. Essas iniciativas passam, até mesmo, por investimentos maiores na área da educação e, mais especificamente, no segmento da educação especial. Desse modo, seria possível que essas mudanças de caráter macro resultassem na aquisição de equipamentos especializados, na estruturação de ambientes e na qualificação de profissionais.
No âmbito das escolas, nos parece imprescindível criar condições favoráveis para o envolvimento das famílias das crianças nos projetos de inclusão. É fundamental que a implantação dessas propostas envolva a participação da família. Não são poucas as situações em que o discurso e a prática das famílias de crianças, portadoras de deficiência ou não, resulta em conflito com o projeto inclusivo. Desse modo, é fundamental que exista uma interação entre os profissionais e o projeto pedagógico da instituição com a família.
A área da educação física apresenta peculiaridades que podem favorecer o envolvimento família x escola, como as situações que levam a família à escola tendo em vista o acompanhamento de uma competição, semana de jogos, eventos de caráter lúdico. Cabe aos profissionais da área da educação física ampliar as possibilidades para que ocorram essas situações.
Outro aspecto crucial corresponde à necessidade de se refletir sobre a preparação que é feita sobre as crianças com necessidades especiais para se inserir num grupo com outras crianças, ditas normais.
O profissional de educação física deve, na medida do possível, proporcionar melhor orientação aos pais das crianças ou jovens sobre como os mesmos podem estruturar o ambientes residenciais e de outros locais e, até mesmo, realizar a estimulação motora de seus filhos, tendo em vista favorecer a sua melhor adaptação no âmbito escolar. Ao mesmo tempo, é necessário que haja uma grande reflexão sobre os meios que têm sido utilizados na área da educação física adaptada para o processo de ensino-aprendizagem e para a avaliação de indivíduos portadores de necessidades especiais.
Tradicionalmente as intervenções dos profissionais de educação se baseiam em estilos de ensino eminentemente diretivos, bem como, a forma de elaboração das metas a serem sobrepostas pelos alunos nas sessões de atividade pouco levam em consideração as possibilidades individuais.
Indivíduos portadores de necessidades especiais, marcados, muitas vezes, por restrições estruturais e funcionais podem encontrar dificuldades em apresentar os padrões de movimento típicos de indivíduos normais. Na busca de interagir no seu ambiente esses indivíduos, em algumas ocasiões empregam estratégias motoras não usuais. São várias as ocasiões em que essas estratégias refletem um dinamismo no seu comportamento motor. Esses meios alternativos refletem uma propriedade presente no comportamento motor do ser humano denominada de equivalência motora.
A valorização desses meios alternativos tende a valorizar a auto-estima e a aprimorar a competência motora do aprendiz. Quando o processo de avaliação também leva em consideração parâmetros dessa natureza a relação "normal" e "deficiente" se modifica, incitando um repensar sobre conceitos como aptidão e capacidade. O emprego de ferramentas de ensino e avaliação que levem em consideração dimensões como a equivalência motora pode contribuir de forma preponderante no processo de aprendizagem de crianças com necessidades especiais, sobretudo quando isso acontece em contexto voltado para a inclusão.
Outro aspecto fundamental é a idéia de que, pelo menos, no início de um processo de intervenção a inclusão não deve ser pensada a partir de grandes grupos, mas sim, deveria acontecer por meio de grupos com número reduzido de componentes. É fundamental que sujeito a ser incluído e grupo acolhedor se conheçam relativamente. Esse conhecimento pode ser decorrente do número de relações estabelecidas entre os diferentes elementos do grupo, bem como, do tempo em que essas relações acontecem.
Considerações finais
A educação física muito tem a contribuir neste processo através de suas práticas, rompendo as barreiras do preconceito, promovendo a integração e oportunizando o acesso à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer e acima de tudo à atividade física.
Mas é fundamental que a comunidade escolar esteja convencida do importante papel da educação física nesse processo, para que, ao desenvolver o projeto político-pedagógico da escola ela seja parte do compromisso que toda a escola está assumindo.
O professor de educação física tem que acreditar na inclusão, acreditar que é peça fundamental no processo e ser o defensor dessa proposta na elaboração do projeto político-pedagógico. Por enquanto, isso parece caminhar a passos bem lentos em grande parte do nosso país.
É possível perceber o longo caminho que ainda precisamos percorrer no processo de inclusão. Há ainda preconceitos a quebrar, em todas as frentes de trabalho. Na escola regular, na escola especializada, no sistema educacional e na sociedade de uma maneira geral.
As escolas ainda não perceberam a importância do projeto político-pedagógico dentro do contexto sócio-político da escola. Falta um envolvimento maior, tanto da comunidade interna como da externa à escola. Uma falta de fé na capacidade da comunidade escolar de participar de um planejamento coletivo em todas à suas fases.
Também a educação física ainda não conseguiu se estabelecer como disciplina importante na escola. Ainda não se compreende o seu verdadeiro papel no processo de educação e especialmente da educação inclusiva.
É importante também compreender que a Inclusão é um processo que envolve pessoas. Por isso nunca podemos afirmar que existe um modelo de inclusão que vai ser o ideal para todas as pessoas em todos os lugares. É fundamental entender que o que vai dar qualidade e promover cada processo de inclusão é o esforço coletivo em refletir bastante e profundamente, propor e apoiar idéias inclusivas e ter coragem de colocá-las em prática, assumindo os riscos de errar, mas tendo sempre a disposição de aprender com os erros, e a partir daí criar novas práticas.
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