Atividades rítmicas na escola. Observações em instituições públicas e privadas na Grande Florianópolis Actividades rítmicas en la escuela. Observaciones en instituciones públicas y privadas en la Gran Florianópolis |
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*Acadêmica do curso de Licenciatura em Educação Física, CEFID, UDESC **Pesquisador, Laboratório de Pesquisas em Biomecânica Aquática, UDESC (Brasil) |
Elinai dos Santos Freitas* Gustavo Ricardo Schütz** |
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Resumo O trabalho rítmico busca, através de práticas lúdicas e desafiadoras, criar condições objetivas para que o aluno amplie seu universo sonoro, que estabeleça diversas relações entre som e movimento e que identifique os vários tipos de ritmos e os apreenda da melhor maneira que lhe convier, em função de suas necessidades. Desenvolver nos alunos a competência rítmica é ajudá-los a melhor apreender a percepção espaço-temporal e, conseqüentemente, a conhecer o seu mundo, o mundo dos objetos, o mundo dos outros e a realidade à qual pertence. A partir destas afirmações deve-se verificar se as atividades rítmicas estão inseridas no cotidiano escolar, durante as aulas de Educação Física, de uma maneira organizada e programada ou, de que maneira poderiam ser inseridas atividades que englobem as atividades rítmicas. Tendo isto, este trabalho objetivou verificar o desenvolvimento de atividades rítmicas em uma escola de ensino público e uma de ensino privado, além de verificar o que a literatura especifica discute a respeito do tema. Participaram quatros professores de Educação Física do ensino fundamental de uma escola de ensino privado e uma escola de ensino público estadual. Utilizou-se uma ficha de observação, na qual foi anotado: turma, número de alunos, número de alunos por gênero, e as atividades proposta pelo professor e realizada pelos alunos. Além dessas informações outras que tenham sido achadas de relevância como postura do professor, relatos de alunos, comportamento dos alunos com relação às atividades propostas. Também foi realizada uma entrevista com os professores referente à prática de atividades rítmica. Soma-se a isto, uma busca de material bibliográfico para embasar cientificamente o trabalho possibilitando com isso fazer uma discussão entre o que já foi escrito e o que foi verificado na prática da Educação Física Escolar referente às atividades rítmicas. Pode-se verificar diferenças na abordagem pedagógica verificada nas duas instituições de ensino (pública e privada), diferenças estas relacionadas ao comprometimento com os objetivos da Educação Física Escolar para o desenvolvimento global do educando. Contudo, este estudo possibilitou confrontar a observação do que ocorre na prática da Educação Física escolar em dois contextos distintos, e o confronto dessas observações com a realidade verificada por autores especialistas na área. Unitermos: Atividades rítmicas. Escola. Educação Física |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
Historicamente a Educação Física se apresenta como plano de intervenção que atua no campo pedagógico e da saúde pelo conhecimento da cultura corporal e se manifesta através dos jogos, dos esportes, das lutas e das danças trabalhando no desenvolvimento das habilidades motoras, fisiológicas e psicológicas dos indivíduos.
Em uma retrospectiva histórica sobre as manifestações rítmicas, percebe-se que danças folclóricas, danças populares, brinquedos cantados, cantigas infantis não aparecem mais freqüentemente no cotidiano da vida de crianças e jovens. Atualmente essas expressões espontâneas e lúdicas foram substituídas por outras atividades mais modernas.
Rosário e Darido (2005) citam que os professores de Educação Física, ainda influenciados, sobretudo pela concepção esportivista, continuam restringindo os conteúdos das aulas aos esportes mais tradicionais, como, por exemplo, basquete, vôlei e futebol. Em muitos casos também, estes conteúdos são distribuídos sem nenhuma sistematização e são apresentados de forma desordenada ou aleatória, ou seja, estes são organizados ou seqüenciados sem critérios mais consistentes.
O ensino rítmico na escola se apresenta como fonte de conhecimento para a ampliação da comunicação e apreensão do mundo por parte do aluno. Formas e sons passam gradativamente a compor o universo sensório-motor do jovem ajudando a desenvolver melhor percepção espaço-temporal e paralelamente, a imagem corporal do aluno (FORNEL et al., 2006).
A literatura especializada e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), citados por Tibeau (2006), consideram as atividades rítmicas como manifestações da cultura corporal e conteúdos da Educação Física Escolar, que possuem grande valor educativo e essenciais para o desenvolvimento motor, cognitivo e sócio-afetivo. Todavia, parece existir um preconceito em relação a essas atividades que utilizam música, expressão de sentimentos e emoções, criatividade de movimentos por parte dos profissionais da Educação Física Escolar, que acabam por privilegiar os esportes como meio para alcançar os objetivos educacionais.
Entre os conhecimentos específicos tratados pedagogicamente no contexto escolar, a dança aparece como um elemento da cultura corporal não é exclusivo do profissional de Educação Física, sendo compartilhado, em outros âmbitos de atuação além da escola, por profissionais das Artes Cênicas, Artes Plásticas, além dos bacharéis e licenciados em Dança. E de acordo com Ehrenberg (2003) o que se percebe com freqüência no âmbito escolar é a ausência desse conhecimento, ou o desenvolvimento de um trabalho superficial que se caracteriza por apresentações coreográficas de caráter festivo dentro do contexto da Educação Física Escolar.
Pelo exporto acima surgiu à seguinte situação problema: As atividades rítmicas estão sendo desenvolvidas nas aulas de Educação Física em escolas na grande Florianópolis?
Método
Esta pesquisa caracteriza-se como exploratória descritiva de campo segundo Rudio (1983) e Cervo e Bervian (1983), pois visa conhecer como acontece a Educação Física Escolar, levantar os conteúdos ministrados diretamente em duas escolas situadas no Município de São José e Florianópolis através da observação e descrição.
Inicialmente foi feito contato com o responsável pelas instituições (diretor, coordenador pedagógico) em que foi exposto o objetivo do trabalho e a forma a atuação (observação das aulas de Educação Física). Foi entregue o oficio à instituição visitada e marcado dias e horários, bem como verificadas quais turmas e professores seriam observados.
Participaram então deste trabalho, quatros professores de Educação Física do ensino fundamental de uma escola de ensino privado localizado no Município de Florianópolis e uma escola de ensino público estadual em São José.
Utilizou-se uma ficha de observação, na qual foi anotado: turma, número de alunos, número de alunos por gênero, e as atividades proposta pelo professor e realizada pelos alunos. Além dessas informações outras que tenham sido achadas de relevância como postura do professor, relatos de alunos, comportamento dos alunos com relação às atividades propostas. Também foi realizada uma entrevista com os professores de Educação Física referente à prática de atividades rítmica.
Soma-se a isto, uma busca de material bibliográfico para embasar cientificamente o trabalho possibilitando com isso fazer uma discussão entre o que já foi escrito e o que foi verificado na prática da Educação Física Escolar referente às atividades rítmicas.
Depois de realizada a revisão bibliográfica e a observação das aulas confrontaram-se os dados observados durante as aulas praticas e as observações feitas por autores a respeito das atividades rítmicas no contexto escolar.
Resultados e discussão
Educação Física Escolar e as Atividades Rítmicas na literatura científica
A Educação Física possui um vasto conteúdo formado pelas diversas manifestações corporais criadas pelo ser humano ao longo dos anos. São eles jogos, brincadeiras, danças, esportes, ginásticas, lutas, etc. Este conjunto de práticas tem sido chamado de cultura corporal de movimento, cultura corporal, cultura de movimento, etc. Por se tratar de um conjunto de saberes diversificado e riquíssimo, existe a possibilidade de transmiti-lo na escola, porém não é o que se observa na maioria das aulas de Educação Física (ROSARIO & DARIDO, 2005)
Ao longo do processo histórico da Educação Física, os conteúdos moldaram-se visivelmente em busca de atingir os objetivos que a área se propunha a alcançar, sendo justificados por necessidades como as de adestramento, performance, busca de talentos esportivos, entre outras. Para tal, acompanhamos neste percurso o enfoque das atividades gímnicas, das atividades esportivas e, a partir dos anos 1980, a sistematização de outras manifestações entre os conteúdos desenvolvidos pela área (EHRENBERG, 2003).
Historicamente a dança se inseriu no contexto escolar em 1854, quando a ginástica passou a ser oferecida aos homens e a dança se tornou uma atividade exclusiva para as mulheres. Neste período, as aulas de dança se propunham a reafirmar a leveza e a graça das mulheres predestinadas à maternidade e aos cuidados do lar, através de exercícios calistênicos, ritmados ao som musical (EHRENBERG, 2003).
Atualmente, entende-se a Educação Física como uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 1998).
Ainda referenciando os PCNs de Educação Física, Larentis (2003) cita uma proposta que procura democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica da área, buscando ampliar, de uma visão apenas biológica, para um trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos. Incorporam, de forma organizada, as principais questões que o professor deve considerar no desenvolvimento de seu trabalho, subsidiando as discussões, os planejamentos e as avaliações da prática de Educação Física.
Relacionando ao âmbito escolar, a partir do Decreto no 69.450, de 1971, a Educação Física passou a ser considerada como a atividade que, por seus meios, processos e técnicas, desenvolve e aprimora forças físicas, morais, cívicas, psíquicas e sociais do educando. O decreto deu ênfase à aptidão física, tanto na organização das atividades como no seu controle e avaliação, e a iniciação esportiva, a partir da quinta série, se tornou um dos eixos fundamentais de ensino; buscava-se a descoberta de novos talentos que pudessem participar de competições internacionais, representando a pátria (BRASIL, 1998).
Na década de 80 os efeitos desse modelo começaram a ser sentidos e contestados: o Brasil não se tornou uma nação olímpica e a competição esportiva da elite não aumentou significativamente o número de praticantes de atividades físicas. Iniciou-se então uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no próprio discurso da Educação Física, que originou uma mudança expressiva nas políticas educacionais: a Educação Física escolar, que estava voltada principalmente para a escolaridade de quinta a oitava séries do ensino fundamental, passou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta séries e também à pré-escola. O objetivo passou a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se retirar da escola a função de promover os esportes de alto rendimento (BRASIL, 1998).
Porém é preciso esclarecer que a atividade física desenvolvida pelos professores de educação física na escola que se apropriam da técnica psicomotora não tem por objetivo fazer a criança adquirir os ritmos, mas antes favorecer a expressão de sua motricidade natural (ritmos internos) e ajudá-los a melhor realizar os movimentos no jogo, nas danças, no correr, no saltar, no correr e saltar, no correr e pular, no transpor, etc. (ritmos externos), proporcionando-lhes maior autonomia e liberdade para criar e recriar novas formas corporais em ritmos distintos se for o caso (RETONDAR, 2001).
De acordo com Rosário e Darido (2005) o que se percebe na prática escolar são os professores sistematizando conteúdos no decorrer do ano através dos bimestres, sem fazer modificações na seqüência de ano para ano. A ordem utilizada na 5ª série é a mesma encontrada em todas as outras. De acordo com os docentes, o que varia de 5ª à 8ª séries não são os conteúdos, mas o grau de profundidade com que eles são tratados. As atividades, com o passar dos anos, vão se aproximando cada vez mais do que é verificado nos esportes de alto rendimento, aumentando gradativamente a complexidade técnica e tática.
Esses mesmos autores complementam o parágrafo anterior defendendo que não há necessidade de que a mesma seqüência seja implementada de 5ª à 8ª séries, até porque a variedade de conteúdos na Educação Física é bastante extensa. E utilizar a mesma seqüência pode impossibilitar a abrangência de uma maior quantidade de vivências e conhecimentos. No entanto, os professores sentem uma pressão muito grande para repetir os conteúdos de basquetebol, voleibol e futebol, pois os alunos têm grande expectativa em relação a eles. E sugerem é que estes conteúdos possam até estarem presentes em todas as séries, no entanto, deve-se variar o ensino-aprendizagem das dimensões dos conteúdos (ROSARIO & DARIDO, 2005).
Abrangendo a discussão, não se pode esquecer o que citam Venturini et al. (2009) que a cultura corporal do movimento nas aulas de educação física deve incluir também portadores de necessidades especiais, pois na maioria das vezes, eles estão excluídos da mesma e sabe-se que a participação integral do aluno é benéfica a essas crianças, podendo contribuir para o seu desenvolvimento psicossocial.
Continuando a relação entre a prática nas aulas de Educação Física escolar, o principal critério utilizado para a sistematização dos conteúdos são os fundamentos esportivos. Os conteúdos mais difíceis de serem executados e aprendidos pelos alunos tendem a ficar no fim do ano. A intenção é que no decorrer do ano as outras atividades e vivências desenvolvam as habilidades motoras necessárias para uma melhor aprendizagem desses conteúdos mais complexos, na realidade, de seus fundamentos, tendo o aluno maiores condições de executá-lo (ROSARIO & DARIDO, 2005).
Porém, há uma possibilidade para que professores se desliguem dos fundamentos esportivos, inserindo com isso o trabalho rítmico que deverá permitir a facilitação dos ritmos motores espontâneos e, por outro lado, trabalhar a percepção espaço-temporal de seus próprios movimentos, dos sons de natureza musical ou daqueles emitidos pela voz humana (RETONDAR, 2001).
Entre os conteúdos abordados, no ensino fundamental de primeira a quarta série é importante que o aluno conheça e compreenda como se trabalha o seu corpo, pois o trabalho de Educação Física nas séries iniciais, possibilita aos alunos a terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais, como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. Mais para isso é preciso que as aulas estejam voltadas para os aspectos corporais do movimento e as atividades estejam vinculadas a experiências práticas. Sendo que o professor deverá dar a oportunidade para que o aluno possa vivenciar estas práticas sem que haja a mera repetição de gestos estereotipados com vista em automatizá-los e reproduzi-los. É necessário que o aluno possa estar criando o seu próprio movimento para que haja com isso a participação integral do mesmo (VENTURINI et al., 2009)
De acordo com os PCNs (Brasil, 1998) no primeiro ciclo (1 e 2 ano) o que se percebe é que muitas crianças ao entrar na escola já possuem certo conhecimento sobre o movimento, o corpo e a cultura corporal isso devido à experiência pessoal e da vivência do grupo social em que cada criança esta inserida, e também um dos contribuintes desse conhecimento é o meio de comunicação, na qual através de várias informações os alunos passam a obter um conhecimento amplo e significativo, contribuindo com isso para a realização de algum tipo de movimento nas aulas de educação física.
Brasil (1998) complementa que nesse momento da escolaridade, os alunos têm grande necessidade de se movimentar e estão ainda se adaptando à exigência de períodos mais longos de concentração em atividades escolares. Entretanto, afora o horário de intervalo, a aula de Educação Física é, muitas vezes, a única situação em que têm essa oportunidade. Tal peculiaridade freqüentemente gera uma situação ambivalente: por um lado, os alunos apreciam e anseiam por esse horário; por outro, ficam em um nível de excitação tão alto que torna difícil o andamento da aula (BRASIL, 1998).
É característica marcante desse primeiro ciclo a diferenciação das experiências e competências de movimento de meninos e meninas. Os conteúdos devem contemplar, portanto, atividades que evidenciem essas competências de forma a promover uma troca entre os dois grupos. Atividades lúdicas e competitivas, nas quais os meninos têm mais desenvoltura, como, por exemplo, os jogos com bola, de corrida, força e agilidade, devem ser mesclados de forma equilibrada com atividades lúdicas e expressivas nas quais as meninas, genericamente, têm uma experiência maior; por exemplo, lengalengas, pequenas coreografias, jogos e brincadeiras que envolvam equilíbrio, ritmo e coordenação (BRASIL, 1997).
Nas aulas de educação física de quinta a oitava série os aspectos procedimentais são mais observáveis, pois as aprendizagens dos conteúdos estão conectadas com as experiências práticas que cada aluno já vivenciou nos ciclos anteriores, e dependendo da forma como se são trabalhados os conteúdos nas aulas, poderá sim ou não levar a exclusão do aluno nas aulas de educação física. Então para que não aconteça essa exclusão é necessário que as aulas tenham sentido para o aluno, no qual o mesmo tenha a possibilidade de estar fazendo escolhas, trocar informações, estabelecer questões para que o mesmo se sinta inserido nas aulas, pois Os conteúdos deste bloco são amplos, diversificados e podem variar muito de acordo com o local em que a escola estiver inserida (CORTEZ, 1992).
É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta profissionais. Embora seja uma fonte de informações, não podem transformar-se em meta a ser almejada pela escola, como se fossem fins em si mesmos. A Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Cabe assinalar que os alunos portadores de necessidades especiais não podem ser privados das aulas de Educação Física (BRASIL, 1998).
Outra maneira de inserir as atividades rítmicas na escola é utilizando as aulas de Educação Física para fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogos, lutas e danças produzidos na cultura popular, que por diversas razões correm o risco de ser esquecidos ou marginalizados pela sociedade. Pesquisar informações sobre essas práticas na comunidade e incorporá-las ao cotidiano escolar, criando espaços de exercício, registro, divulgação e desenvolvimento dessas manifestações, possibilita ampliar o espectro de conhecimentos sobre a cultura corporal de movimento. Dessa forma, a construção de brinquedos, a prática de brincadeiras de rua dentro da escola, a inclusão de danças populares de forma sistemática, e não apenas eventual nas festas e comemorações contribuem para a construção de efetivas opções de exercício de lazer cultural e para o diálogo entre a produção cultural da comunidade e da escola (BRASIL, 1998).
Ehrenberg (2003) em seu trabalho cita que a Educação Física utiliza a dança reforçando os movimentos mecânicos e repetitivos, sem qualquer fundamentação ou contextualização. A maioria das escolas, ao inserir a dança no currículo da Educação Física, está preocupada exclusivamente com as festas comemorativas do calendário escolar. Nelas, os professores “perdem” várias aulas exigindo sincronia e habilidade técnica dos alunos para a repetição de movimentos ritmados que foram previamente criados por eles. Observamos claramente a presença da dança no interior das escolas, principalmente como sinônimo de festas comemorativas. Esta relação dança-festa está inserida no discurso da maioria dos professores para justificar a presença da dança em suas aulas, porém este trabalho denota uma contribuição restrita da dança não favorecendo o seu conhecimento como elemento educativo.
Complementando em relação à realidade escolar, Ehrenberg (2003) constatou que a dança já se faz presente nos programas das aulas de Educação Física das escolas de ensino básico, porém vista apenas sob a perspectiva de realização das festas comemorativas do calendário escolar. Assim, podemos concluir que a caracterização da dança apresenta-se apenas na forma do produto final, coreografia.
A identificação das danças para o âmbito escolar atribuída pelos professores entrevistados foi a folclórica, porém, considerando o conceito restrito de folclore, atrelado às festas típicas regionais, sendo a festa junina a citada por todos eles. Por outro lado, não foi apresentado, nos discursos desses entrevistados, qualquer tipo de contextualização ou estudo das realidades dessas danças ditas folclóricas (EHRENBERG, 2003).
Tibeau, 2006 a partir de sua prática também complementa que o ritmo é pouco trabalhado de forma intencional em atividades motrícias. Talvez por seu caráter subjetivo, pela idéia de que ritmo e movimento devem ser vistos como manifestação “de dentro para fora”, pela inibição que essa forma de expressão possa trazer, muitos profissionais acabam por não privilegiar as atividades rítmicas como estratégia para alcance de objetivos educacionais e também de reeducação psicomotora e de reabilitação neuro-motora.
Com relação especificamente as atividades rítmicas e expressivas é relevante sublinhar que todas as práticas da cultura corporal de movimento, mais ou menos explicitamente, possuem expressividade e ritmo. Em relação à expressão, essas práticas se constituem em códigos simbólicos, por meio dos quais a vivência individual do ser humano, em interação com os valores e conceitos do ambiente sociocultural, produz a possibilidade de comunicação por gestos e posturas. Em relação ao ritmo, desde a respiração até a execução de movimentos mais complexos, se requer um ajuste com referência no espaço e no tempo, envolvendo, portanto, um ritmo ou uma pulsação. Este bloco de conteúdos inclui as manifestações da cultura corporal que têm como característica comum a intenção explícita de expressão e comunicação por meio dos gestos na presença de ritmos, sons e da música na construção da expressão corporal. Trata-se especificamente das danças, mímicas e brincadeiras cantadas. Nessas atividades rítmicas e expressivas encontram-se mais subsídios para enriquecer o processo de informação e formação dos códigos corporais de comunicação dos indivíduos e do grupo (BRASIL, 1988).
Tibeau (2006) em seu trabalho que objetivou oferecer aos profissionais da área da Educação Física escolar um aprofundamento teórico como subsidio para analisar as vantagens educacionais da utilização das atividades que envolvam musica e motricidade, cita que parece existir um preconceito em relação às atividades que utilizam música, expressão de sentimentos e emoções, criatividade de movimentos. As metodologias utilizadas para trabalhar com os conteúdos de atividades rítmicas requerem uma participação ativa do aluno e, portanto, não podem ser totalmente diretivas.
E a dimensão conceitual, procedimental e atitudinal de advém dos conteúdos da ginástica, da dança e das atividades que utilizam música ou percussão são indispensáveis para a formação de crianças e adolescentes, além de serem atividades prazerosas, que estimulam a criatividade e as relações sócio-afetivas em qualquer idade e contexto (TIBEAU, 2006).
O ritmo está presente em todas as manifestações da motricidade humana, é universal e o percebemos em todos os movimentos da vida. O ritmo e o movimento humano se desenvolvem simultaneamente no tempo e no espaço.
A valorização ou não do desenvolvimento do ritmo pode estar atrelada à confusão no seu entendimento ora como capacidade humana diretamente ligada ao Sistema Nervoso Central, ora como metodologia de ensino que facilita e motiva a aprendizagem, execução e criação de movimentos (TIBEAU, 2006).
Observações realizadas em uma escola de ensino público
A realidade observada em uma escola de ensino público nos chama a atenção a uma velha discussão dentro do contexto da Educação Física Escolar: os professores que não parecem comprometidos com o ensino e com o verdadeiro valor atribuído as aulas de Educação Física. Professores pouco motivados, que justificam seus atos de falta de comprometimento pelas dificuldades impostas pelo sistema educacional. Turmas com número excessivo de alunos, falta de espaço físico, falta de materiais adequados, além é claro da defasagem salarial que toma conta de toda a área da saúde no Brasil.
Verificou-se que as atividades propostas dentro desta instituição principalmente nas turmas de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental vai de acordo com o que encontramos na literatura, voltada para a prática dos jogos esportivos, com conteúdos sistematizados no decorrer do ano através de bimestres ou trimestres sem modificações na seqüência de ano para ano conforme citaram Rosário e Darido (2005)
A “pressão” também citada pelos autores acima foram descritas pela professora durante a entrevista. “Seu eu não der futebol na aula de sexta-feira os alunos me enlouquecem” e “eles (alunos) só querem jogar futebol e vôlei por causa do projeto esportivo que é desenvolvido na escola... inserir outros conteúdos é muito difícil”. Fato que concorda com a citação de Rosário e Darido (2005) em que os professores sentem uma pressão muito grande para repetir os conteúdos de basquetebol, voleibol e futebol, pois os alunos têm grande expectativa em relação a eles. E fica como sugestão dos autores é que estes conteúdos possam até estarem presentes em todas as séries, no entanto, deve-se variar o ensino-aprendizagem das dimensões dos conteúdos.
Também se verificou alunos desmotivados com relação aos conteúdos e excluídos das aulas conforme cita Cortez (1992) nas aulas de educação física de quinta a oitava série os aspectos procedimentais são mais observáveis, pois as aprendizagens dos conteúdos estão conectadas com as experiências práticas que cada aluno já vivenciou nos ciclos anteriores, e dependendo da forma como se são trabalhados os conteúdos nas aulas, poderá sim ou não levar a exclusão do aluno nas aulas de educação física. O autor continua e sugere que para que não aconteça essa exclusão é necessário que as aulas tenham sentido para o aluno, no qual o mesmo tenha a possibilidade de estar fazendo escolhas, trocar informações, estabelecer questões para que o mesmo se sinta inserido nas aulas, pois os conteúdos deste bloco são amplos, diversificados e podem variar muito de acordo com o local em que a escola estiver inserida.
Ficou difícil de verificar o entendimento da Educação Física como uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida como está previsto nos PCNs no que diz respeito à disciplina de Educação Física.
Com relação às atividades rítmicas, foi verificado que de 1ª a 4ª série a professora insere alguns brinquedos cantados, mas sem fundamentação e que já se encontram os elementos voltados aos jogos pré-desportivos. A dança aparece como elemento específico para a preparação de apresentações em datas festivas, fato este que concorda com Ehrenberg (2003) que cita que a maioria das escolas, ao inserir a dança no currículo da Educação Física, está preocupada exclusivamente com as festas comemorativas do calendário escolar. Nelas, os professores “perdem” várias aulas exigindo sincronia e habilidade técnica dos alunos para a repetição de movimentos ritmados que foram previamente criados por eles.
Observações realizadas em uma escola de ensino privado
A realidade observada nesta instituição de ensino apresentou-se bastante diferente da realidade anteriormente observada (escola pública). Aqui as turmas são com um número reduzido de alunos, turmas com no máximo 15 alunos. O professor tem o pleno controle da turma, é a referencia durante as aulas. Há o respeito e um sentimento de amizade entre professor e alunos. O professor chama todos os alunos pelo seu nome. Os alunos se apresentam motivados e participativos para o desenvolvimento das atividades.
O professor demonstrou-se muito receptivo flexível com relação aos objetivos deste trabalho, mudando o conteúdo previamente planejado a fim de experimentar com os alunos uma nova possibilidade que foi a introdução de uma aula com brinquedos cantados. O resultado foi positivo, com alunos participando, dando sugestões e a turma interagindo entre si.
O planejamento das aulas de Educação Física segue o modelo adotado pelo Colégio (Sistema Positivo de Ensino) em que as atividades previstas vão de encontro com o que esta previsto nos PCNs desenvolvendo atividades que englobam os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas. Não foi verificado uma sistematização dos conteúdos e nem uma expectativa por parte dos alunos para os conteúdos envolvendo os grandes jogos desportivos (vôlei, futebol, basquetebol e handebol). Percebeu-se a introdução de materiais, como as bolas utilizadas nos jogos desportivos, a inclusão de regras em alguns jogos entre outros elementos, mas não a sistematização pura e simples voltada para os grandes jogos.
Porém em um aspecto vale a pena à reflexão como o que diz Venturini et al. (2009) que a cultura corporal do movimento nas aulas de educação física deve incluir também portadores de necessidades especiais. Existe todo um movimento dentro da Educação nacional para que ocorra a inclusão desses indivíduos nas aulas, englobando ai as aulas de Educação Física. Porém não podemos esquecer que essas pessoas, como o nome diz são pessoas com necessidades educativas especiais, ou seja, precisam que alguém lhes dê um tratamento diferenciado para que possam obter os benefícios propostos pela inclusão que giram em torno do desenvolvimento psicossocial. E um professor tendo que dar atenção a 10 ou 15 alunos compromete toda a sua aula de for dar a atenção devida ao educando com necessidades especiais. Para estes casos deve-se seguir o que está previsto, ter auxiliares tanto dentro de sala de aula quanto nas aulas de Educação Física. Alguém que acompanhe esses educandos, faça as adaptações nas atividades e os integre as atividades realizadas dentro do grande grupo.
Considerações finais
De maneira geral podemos considerar que existe diferença na abordagem pedagógica verificada nas duas instituições de ensino - pública e privada. Diferenças relacionadas ao comprometimento com os objetivos da Educação Física Escolar para o desenvolvimento global do educando através da utilização de elementos dos jogos, danças, ginástica e lutas.
Na escola de ensino público no terceiro e quarto ciclo (5ª a 8ª séries) foi verificada a presença dos jogos esportivos, com ênfase no voleibol e futebol e alguns elementos apresentados isoladamente e fora de um contexto maior com a presença de elementos que compõe a aptidão física, com uma circuito de exercícios e força, agilidade, flexibilidade e coordenação. Os alunos desses ciclos apresentam-se desmotivados, entendem a Educação Física como obrigação, pois é assim que a professora apresenta determinados conteúdos a eles. Excluem-se das atividades com facilidade. No primeiro e segundo ciclos (de 1ª a 4ª séries) alguns elementos das atividades rítmicas foram observados, como os brinquedos cantados em algumas partes da aula, porém não se verificou uma contextualização desses conteúdos com os objetivos propostos nas aulas. Já existe nessas séries iniciais uma cobrança dos alunos para o desenvolvimento dos jogos esportivos, principalmente do futebol pelos meninos. Além disso, as atividades rítmicas aprecem nesta instituição como preparação de apresentações rítmicas nas comemorações festivas durante o ano letivo, conforme já sugerido pela literatura.
Na escola de ensino privado verificou-se um comprometimento maior do planejamento ligado aos Parâmetros Curriculares Nacionais, com conteúdos integrados e objetivos. Não foi observada uma cobrança por parte dos alunos com relação aos jogos desportivos (futebol, vôlei...) e os alunos se envolvem com os conteúdos propostos, sugerem atividades, participam ativamente e apresentam-se motivados. Não foi verificada exclusão dos alunos durante as aulas, com exceção de uma aluna com necessidades especiais (deficiência mental) que não participa das atividades com o grupo.
Contudo, este estudo possibilitou confrontar a observação do que ocorre na prática da Educação Física escolar em dois contextos distintos, escola de ensino público e privado e o confronto dessas observações com a realidade verificada por autores especialistas na área da Educação Física Escolar.
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