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Ciclo menstrual: influência das alterações hormonais 

na atividade física e na função ósteomusculoarticular

Ciclo menstrual: influencia de las alteraciones hormonales en la actividad física y en la función osteoarticular

 

*Mestre pela UDESC. Prof. ULBRA /RS

**Prof. Dr. CEFID/UDESC

***Acadêmica Ed. Física: ULBRA Campus Torres /RS

****Esp. Fisioterapia e aluna especial mestrado/UDESC

(Brasil)

Carla Pinheiro Lopes*

Walter Celso de Lima**

Vanessa Dias***

Fabiele Costanzi****

lopescarla.p@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Esta revisão sobre o ciclo menstrual feminino tem por objetivo esclarecer as principais alterações hormonais isocíclicas e a influência que exercem sobre os sistemas límbico e motor, através da estruturação conceitual e bibliográfica sobre os dados e evidências entre picos hormonais e conexões neuroendócrinas. Este estudo sugere que a especificidade cíclica feminina pode disponibilizar maior ou menor quantidade energética conforme a concentração humoral do ciclo, afetando diretamente atividades de caráter físico e fisioterapêutico.

          Unitermos: Ciclo menstrual. Alterações hormonais. Atividade física

 

Abstract

          This review about feminine menstrual cycle have the objective to explain the particulary important changes in hormonal cycle and the influency exerce over the limbic and motor systems through by conceitual and bibliographic structuacion about data and evidences between hormonal amounts and neuroendocrine conections. The study suggest that the female cycle especifity wich may dispose hight or low energetic quality according hormonal cycles amount, affecting the activities of physical and physiotherapics character.

          Keywords: Menstrual cycle. Hormonal alterations. Physical activity

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    A perda sanguínea genital, cíclica e temporária, apresentada pela mulher tem sido objeto de observação e estudo através de séculos. Antes mesmo das investigações cientificas, as explicações sobre os mecanismos menstruais inseriam-se no campo das cogitações. Para Hipócrates e Aristóteles, no organismo humano feminino a menstruação exercia uma função depurativa (BASTOS, 1994). No final do século XIX realizaram-se os primeiros experimentos em animais para verificar a “teoria neurorreflexa”, que relacionou os ovários ao fenômeno menstrual, proposta por PFLÜGER, em 1865 (BASTOS, 1994). Mas só depois de vários anos, no início do século XX, realizaram-se experimentos que traziam a luz da ciência os mecanismos de ação hormonal: Carvalho (1994) cita que HALBAN no ano de 1901, após ocorrências experimentais em resposta à reinplantação das gônadas em local distante do original, supôs que o elemento de ligação ovárioendométrio, provavelmente, seria um hormônio.

    Na elucidação da fisiologia ovariana concorreram, a seguir, ainda as pesquisas e discussões de ADLER, OPITZ, HITSCHMANN e HALBAN, até que, em meados, de 1915 dois pesquisadores, SEITZ e WINTZ, concluíram que dois hormônios presidiam a orquestra menstrual: a Foliculina (hemorragíparo) e a Luteína (anti-hemorragíparo) (BASTOS, 1994).

    Em 1921, os conhecimentos progrediram e estudos (EVANS & LONG) atribuíram função endócrina ao lobo anterior da hipófise e, após isolamento de outros hormônios hipofisários, foi considerada como o “cérebro das glândulas endócrinas”.

    Posteriormente, várias observações no campo fisiológico apontavam a participação do SNC na secreção das gonadatropinas. Conhecia-se, então, a relação do hipotálamo com a neurohipófise mas mantinham-se obscuras as correlações hipotalâmicas com a adeno-hipófise. POPA & FIELDING (1933) esclareceram estas questões quando descobriram o sistema venoso porta-hipofisário e, logo depois, SPANNER demonstrou o fluxo da corrente sanguínea do hipotálamo para a adeno – hipófise (BASTOS, 1994).

    O estudo das áreas hipotalâmicas continuou evoluindo: foram localizadas a área tônica, responsável pela secreção a níveis basais dos hormônios gonadotrópicos (FSH-LH), e a área cíclica que estimula a variação mais drástica dos níveis hormonais. Ficavam cada vez mais evidentes as participações dos centros superiores do encéfalo na resposta hormonal e, sabe-se hoje, que a transmissão destes impulsos são feitos através das correspondentes conexões sinápticas no hipotálamo (DEG, 1986).

    Na intenção de explicar os fenômenos do ciclo menstrual, as investigações sobre as conexões neuroendócrinas prosseguem na tentativa de elucidar os mecanismos de ação e quantificar a influência do sistema nervoso nos biorritmos hormonais femininos.

    Portanto, as mesmas preocupações do passado se renovam na história que se estende aos pesquisadores atuais. Acredita-se hoje, que o pensar pode modificar a matéria e com isso nasceu a psicossomática, união das interpretações da psique às explicações cartesianas. Tudo acontece em um determinado ambiente que molda e influência, portanto, na medicina moderna todos os problemas são biopsicossociais. (BERESTEIN, 2001). A resposta emocional, a reação psicossomática é variável, própria a cada indivíduo. Este “harmônico mecanismo de integração funcional, com substrato anatômico, responsável pelo comportamento emocional do homem e também dos animais” é a definição proposta por Mac LEAR (1954) ao sistema límbico, denominação esta, também do mesmo autor.

    No estado atual de conhecimentos, admite-se que o córtex cerebral processa os estímulos do meio-ambiente e os transmite ao sistema límbico que, após analisá-los, encaminha-os ao hipotálamo centro transformador dos fenômenos neuropsíquicos em relações endócrinas, vasculares e humorais (Bastos, 1994).

    Assim, situações anímicas, como a depressão ou angústia, são transformadas em estímulos endócrinos e neuro vasculares; o estresse emocional pode ser um depressor hipotalâmico e pode inibir a adenohipofise (BASTOS, 1994); o exercício físico além de estar relacionado ao aumento de HDL plasmático (DURSTINE, 1994), ao conseqüente aumento de produção estrógena e a alterações transitórias do controle hipotálamo-hipofisário (UFER, 1974).

    Reconhece-se, em início de esclarecimentos, que no mecanismo processador de liberação das gonodotropinas pelo GnRh, o papel importante dos neuro transmissores (BASTOS, 1994), dentre os quais se destaca a noradrenalina e a dopamina, sistemas monoanígicos sensíveis à atividade física e ao tratamento fisioterapêutico (DESPOPOULOS, 1994).

    ELLENDORFF (1977) descreve como prematuro o desenho de uma relação sistemática entre emoções- hipotálamo- hipófise - ovários, mas admite que o sistema límbico fornece informações por ele moduladas ao hipotálamo e que, provavelmente, de todo processo ovulatório e menstrual. Cada módulo, porém, tem funcionamento independente ou interage com os outros módulos; cada módulo, ou o total deles altera sua função em resposta a estímulos internos (esteróides plasmáticos, por exemplo) ou externos (informações sociais, ambientais ou musculares).

Objetivos

    Analisar na literatura disponível, dados relacionais entre variações cíclicas humorais femininas, atividade física e função ósteo-músculo-articular.

Métodos

    Trata-se de uma estudo descritivo de análise qualitativa e os procedimentos tem base nos dados bibliográficos da dissertação “Influência do estrógeno plasmático no desempenho físico de mulheres jovens” (LOPES & LIMA, 2002), que, em análise posterior,somou-se à periódicos e livros, definindo a origem e finalidade da conduta de investigação aqui exposta, supondo-se elucidações de mais caminhos entre as conexões neuroendócrinas e as manifestações fisiológicas mensais femininas, referindo-se às possíveis interações existentes entre atividades de caráter físico, lesões osteomusculoarticulares e hormônios cíclicos.

Resultados e discussôes

    As definições a seguir, têm a proposta de esclarecer pontos considerados conceitualmente importantes na estruturação e entendimento dos mecanismos hormonais básicos do ciclo menstrual e sua possível relação à atividade física e aos procedimentos fisioterapêuticos.

1.     Estrógenos

    Os estrógenos são hormônios ovarianos responsáveis pelo desenvolvimento sexual feminino e também pelas alterações sexuais isocíclicas mensais. Os estrógenos são, na realidade, um conjunto de hormônios, denominados estradiol, estriol e estrona, sendo o mais ativo o estradiol. (E2); possuem funções quase idênticas embora bioquimicamente, nem tão iguais. Apesar disso, são tratados como se fossem um único hormônio: o estrógeno (GUYTON, 1988).

    O estrógeno tem ação ampliada no organismo feminino, são literalmente responsáveis pelo estro ( o lado feminino) do universo celular, anatômico e comportamental da mulher, com discreta manifestação no homem. Com atividade maximizada durante o menacma (BERENSTEIN, 2001) tem ação no ovário, quando estimula a maturação do folículo e do óvulo;no útero, na vagina, colo uterino, fertilização e manutenção do feto.

    O E2 atua sobre outros hormônios (FSH e LH), sobre o sangue, equilíbrio hidrosalino e apresenta, também, atividade osteoblástica. Além disso, age sobre as articulações, sobre metabolismo lipídico e SNC, onde afetam o psiquismo, o comportamento sexual e social do indivíduo (Despopoulos, 1994). Pelo aumento da mobilidade articular, fases estrogênicas podem facilitar trabalhos de flexibilidade e estímulos capsulares. A intensificação técnica é recomendável nas atividades físicas que exigem força e/ou resistência muscular, pela maior instabilidade ligamentar e conseqüente aumento na incidência de lesões.

    Durante o ciclo menstrual o corpo humano apresenta variações físicas conforme quadro abaixo:

Quadro 1. Taxa média de secreção de estrógeno (MG/dia)

Mulheres

Mg/dia

Menstruação

0,1

Fase folicular

0,2-0,3

Ovulação

0,7

Fase Lútea

0,3

Homens

0,1

Fonte: DESPOPOULOS, 1995

2.     Prostágenos

    A progesterona é o hormônio prostágeno mais potente. É um hormônio esteroídeo, sintetizado pelas células presentes no corpo lúteo, no folículo ovárico e na placenta. Nos homens, tem síntese regular no córtex da suprarenal, em pequeno ritmo de liberação (DESPOPOULOS, 1995).

    Um dos efeitos mais significativos da progesterona é a ação prévia ou simultânea ao estradiol:em fase folicular do ciclo menstrual o E2 aumenta o número de proteínas receptoras para a progesterona; durante a fase lútea a quantidade destes recepções volta a diminuir (DESPOPOULOS, 1995). Enquanto o estrogênio em nível celular, modifica sua própria atividade aumentando os receptores em relação a si próprio e o prostágeno e andrógenos (reenchimento), a progesterona limita a resposta do estrógeno, preenchendo e diminuindo a concentração de seus receptores (SCHAISON, 1991).

    Na fase lútea, a progesterona inibe a liberação de LH. A administração de prostágenos durante a fase folicular, interfere sobre a ovulação, o que lhe confere efeito contraceptivo isolado ou com combinação estrogênica (“pílulas combinadas”) ( KNOBIL, 1988).

    Em resumo, a progesterona é um hormônio ligado diretamente à reprodução, sendo liberada na segunda fase do ciclo,na intenção de preparar o corpo da mulher para um possível gravidez. Estando grávida ou não, o comportamento da mulher muda e difere da fase estrogênica, anterior a esta, estimulada pelo prostágeno. Tem propriedades sedativas, um mecanismo de ação inibidor que, apesar de estabilizar o humor feminino,predispõe a mulher a estados depressivos e de menor atividade locomotora (BERENSTEIN,2001). No período mensal com predominância plasmática de prostágenos, as propriedades anestésicas deste hormônio podem oferecer benefícios no tratamento de lesões onde a permanência de estados dolorosos limitam a evolução terapêutica. Movimentos mais lentos e atividades moderadas também estão favorecidos pela ação profilática e antidepressiva.

Quadro 2. Período cíclico

Período cíclico

Progesterona

Ritmo e Secreção (mg/dia)

Concentração (g/dia) de plasma

Fase Folicular

4

0,3

Fase Lútea

30

15

Menstruação

2

0,15

Homens

0,7

0,3

Fonte: DESPOUPOLOS, 1995

3.     Testosterona

    Os principais produtos androgênicos produzidos pelos ovários são a deidropiandrosterona (DHEA), a testosterona e a androstenediona.

    A testosterona é considerado o mais potente dos androgênios. A taxa de produção de testosterona na mulher normal é de 0,6 a 0,3 mg/dia, sendo que 25% da produção total tem origem de precursores, principalmente da androstenediona, sendo esta conversão realizada em vários lugares ( fígado,gordura,pele, músculos e no encéfalo). Na mulher adulta normal, varia de 20 a 80 mg/dia a concentração de testosterona no plasma (NESTLER, 1991).

    O hipotálamo converte ativamente os androgênios em estrogênios, sendo necessária a conversão através da aromatase (SCHAISON, 1991).

    Talvez por compreenderem etapas de metabolismo enfálico intenso, os hormônios androgênicos apresentam referências importantes no comportamento cíclico feminino, tanto quanto a totalidade de hormônios sexuais tipicamente responsáveis pelos caracteres físicos e emocionais da mulher, como os estrógenos e a progesterona (MARTINI, 1991). Durante o ciclo menstrual, aumentam do 7º dia ao 17º dia com possível aumento da libido e da ação antidepressiva. Situações agressivas, como também as de vitória ou competição, podem elevar a taxa androgênica, o que vem a facilitar a produção adrenergética (BERENSTEIN, 2001). No ciclo mensal feminino a testosterona parece funcionar de forma similar ao estrógeno durante a fase pré-ovulatória, no que se refere à reprodução. Exercícios de menor intensidade e maior duração já foram descritos como adequados a esta fase androgênica. (LEBRUN & MCKENZIC, 1995)

Quadro 3. Taxas de produção androgênica (24hs) em mulheres nos diferentes estágios do ciclo menstrual

Estágios do ciclo menstrual

Andrógeno

Fase Folicular

Pré Ovulatória

Fase Lútea Média

Androstenedioma (mg)

2,6

4,7

3,4

Testosterona ( )

144,0

171,0

126,0

Fonte: GANONG, 1995

4.     Índices de estrógenos plasmático máximo e mínimo

    As alterações hormonais durante o ciclo são de acentuada responsabilidade dos estrógenos e da progesterona. O índice de estrógeno plasmático, porém, sofre oscilações críticas quanto a diferenciação quantitativa no plasma, em dois períodos mensais bem definidos, que são de importância irrefutável para a mulher, quer pelas modificações fisiológicas que causam ou pelos fatores psicológicos que tanto a queda quanto o aumento radical deste hormônio parecem causar ao comportamento feminino. (MAFFULLI, 1995; PHILLIPS & SANDERSONE, 1996; HALBE, 1982; BERENSTEIN, 2001: recitando alguns).

    Estes “momentos” cíclicos do estrógeno caracterizam o período menstrual e a fase pré ovulatória.

4.1.     Menstruação: o índice de estrógeno mínimo

    O conceito de menstruação é o de sangramento uterino periódico e cíclico, acompanhado da descamação do endométrio durante a menacma (CARVALHO, 1994).

    A partir do 21º dia do ciclo, as alterações progressivas do endométrio atingem seu ponto máximo e a queda, tanto de estrógeno como de progesterona, é linear. A vasoconstrição local aumenta, dando início a isquemia tecidual. No 27º dia, fase do pré-menstruo, a queda dos esteróides ovarianos atinge os valores plasmáticos mínimos e promove acentuada redução da espessura endometrial por reabsorção do edema, o que agrava a isquemia. No 28º dia a taxa média de secreção de estradiol é 0,1 mg/dia e a necrose tecidual do endométrio e o conseqüente processo de descamação, se completam.Este é o desfecho de um ciclo normal de 28 dias. No dia seguinte, inicia a fase menstrual (marca o 1º dia do novo ciclo), com estrógeno baixo e estável e com a eliminação tissular de parte do endométrio, cuja quantidade de expulsão varia muito entre as mulheres (DALLENBACH- HELLWEG, 1981).

    O processo da menstruação dura, em média, de 3 a 5 dias, nos quais o menstruo será gradualmente expelido por contrações uterinas intermitentes que, conforme a intensidade, poderão se tornar dolorosas (GUYTON,1988). Mesmo após a eliminação, persiste a camada focal do endométrio, onde se inicia a atividade proliferativa regenerativa, sob a influência da secreção renovada e, novamente crescente, de esteróides ovarianos. (CARVALHO, 1994; GUYTON, 1988).

    Sob os aspectos psico-emocionais, BERENSTEIN (2001) enfatiza a expressividade hormonal desta fase pela instabilidade emocional e irritação típicas do pré-menstruo (síndrome pré-menstrual) e pelo extravasamento que se dá pelo início do sangramento menstrual, traduzido por resposta emocional introspectiva e de retorno à calma, conferido pela baixa, porém agora estável taxa hormonal: todos hormônios esteróides estão em seus índices mínimos e constantes no plasma, com exceção da testosterona que se mantém em igual concentração até o 11º dia do ciclo, aproximadamente.

    Se observada a curva de oscilação estrógena no ciclo menstrual e considerado o período médio de 5 dias de menstruo, fica evidente que o período de maior estabilidade mensal deste hormônio, corresponde ao seu menor índice plasmático.

4.2     Fase pré-ovulatória:índice de estrógeno máximo

    A ovulação ocorre quase que exatamente 14 dias da menstruação, não tendo maior importância aqui, o número de dias do ciclo, e sim sua regularidade (GUYTON,1988).

    Os ciclos podem ser normalmente muito curtos (21 dias) ou longos (até 40 dias). A ocorrência maior é o ciclo médio de 28 dias, onde a ovulação ocorre, literalmente, no meio do período.

    A ovulação é conceituada por GANONG (1995) como “lançamento do ovo na cavidade abdominal, após a ruptura do folículo já distendido”.

    Antes disto, porém, na fase folicular o hormônio folículo estimulante FSH, prepara o amadurecimento do óculo (6º ao 12º dia do ciclo, aproximadamente), enquanto o hormônio luteinizante LH, se mantém em concentrações baixas neste período, quanto acontece o pico, repentinamente, no 13º dia, quando então o folículo se rompe, liberando o óvulo. Ambos, FSH e LH, estimulam o aumento do estradiol (DESPOPOULOS, 1995). Nesta fase pré-ovulatória, um polipeptídeo denominado interleucina-1, induz o aumento de estrógenos que, por volta do 13º dias, alcança os índices máximos no aparecimento plasmático. Este aumento do estrógeno esta relacionado à indução do aumento da progesterona pós-ovulatória a fim de manter o óvulo, caso ocorra a fecundação do mesmo (SANTOS, 1994).

5.     Gravidez, relaxina e lesões osteomúsculoarticulares

    Estruturalmente, a pelve feminina é mais curta e larga que a masculina. Este fato anatômico, somado às alterações hormonais mensais e eventuais, como gravidez, tornam as articulações femininas levemente mais móveis, sugerindo aumento da vulnerabilidade às entorses e distensões (GOULD,1993).

    WEISS (1979) e HISAW(2001) relataram a liberação do hormônio relaxina na gravidez e a possibilidade de diminuição da integridade das estruturas pélvicas em função do nascimento.Estas alterações bioquímicas são bem pronunciadas enquanto o período da amamentação prevalece e disfunções sacrilíacas específicas podem ocorrer - e permanecer, em mulheres que sofrem traumas logo antes ou logo após o parto.

    Outro fator importante descrito na literatura é a ocorrência de Lombalgias na gravidez que, segundo a caracterização de JOHANSSON (2003), poderá se manifestar em região lombar, no quadril, e combinada, podendo ainda ser irradiada à musculatura glútea e aos membros inferiores.

    Atribui-se, como suposta causa de lombalgia, o hormônio relaxina que, por provocar o relaxamento articular, torna o quadril mais instável (BALDERSTON, 2003), o que pode vir a causar limitações das atividades diárias (PAHLBÄCK, 2003) sendo que alguns desconfortos permanecem até 3 anos após o parto quando não tratados adequadamente (NOVAES, 2006).

    A manutenção de níveis de atividade física adequada e o fortalecimento dorsal e do abdome antes da gravidez parecem minimizar o aparecimento destes desconfortos gestacionais (CALDERON, 2003). Quando já instalado o problema, requer uma equipe de orientação multidisciplinar: ao médico caberá o tratamento medicamentoso, e ao profissional de educação física e ao fisioterapeuta, a orientação sobre os exercícios adequados e técnicas de relaxamento (FAGHIH,2005; MOGREN, 2005).

Considerações finais

    No aspecto comportamental feminino, o índice máximo de estrógenos aumenta consideravelmente a libido, o nível de estresse e também as carências emotivas e a disponibilidade físico-intelectual. (BERENSTEIN, 2001). No entanto, recentemente foi relatada menor predisposição física na presença de maiores concentrações plasmáticas de estrógeno. Neste estudo, foram registradas respostas menores quanto à força e VO2 Máximo, durante o período ovulatório de mulheres com atividade física regular (LOPES & LIMA, 2002).

    A adequação hormonal estrogênica às necessidades da fase ovulatória, requer armazenamento de energia destinada à concepção, nidação e a todo processo que prioriza a possibilidade de um gestacional. Possivelmente esta drenagem ao endotélio funcional diminua a eficiência de outros sistemas que não estejam estritamente ligados à reprodução. O desempenho muscular feminino, por exemplo, pode evidenciar este caráter cíclico de menor ou maior disponibilidade energética. Talvez, por estes fatos se justifique melhor qualidade nas atividades físicas e nos tratamentos fisioterapêuticos realizados durante o período de menstruo, onde estrógenos, andrógenos e prostágenos tem pequena produção, oscilações leves e melhora quantitativa. Isto pode significar uma liberação das reservas orgânicas anteriores e, concomitantemente, um menor dispêndio de energia pelos órgãos e mecanismos efetores da reprodução durante o fenômeno menstrual.

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