A prática metodológica de periodização utilizada no treinamento por técnicos da categoria juvenil da natação competitiva brasileira La práctica metodológica de la periodización utilizada en el entrenamiento por los técnicos de la categoría juvenil en la natación competitiva brasileña |
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* Graduado em Educação Física, Faculdade Salesiana de Vitória (FSV)** Mestre em Ciências da Atividade Física (UNIVERSO) ***Especialista em Bases Metabólicas e Nutricionais do Exercício Físico e da Saúde (UFES) (Brasil) |
Bernardo Pereira* Fabio Venturim** Leonardo Miglinas*** |
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Resumo Este trabalho teve por objetivo analisar a prática metodológica de periodização conhecida e utilizada no treinamento por técnicos de nível nacional das equipes juvenis da natação brasileira, bem como identificar a formação profissional desses treinadores. A amostra foi composta por 10 técnicos de natação que atuam no cenário competitivo brasileiro. Os técnicos foram escolhidos de acordo com o ranking dos Campeonatos Brasileiro Juvenil de Verão de 2007 e Campeonato Brasileiro Juvenil de Inverno de 2008. A partir disso os treinadores selecionados foram submetidos a uma entrevista durante a realização do XVII Campeonato Brasileiro Juvenil de Natação – Troféu Carlos Campos Sobrinho, disputado em Vitória, ES, no período de 27 a 30 de novembro de 2008. O estudo revelou a partir dos dados, o perfil dos treinadores referente a sua formação e os métodos de treinamento que utilizam. Concluiu-se que todos os treinadores são Graduados em Educação Física e que 18% dos técnicos utilizam o modelo proposto por Fernando Navarro. Outro dado importante é que apenas 13% dos técnicos conhecem o modelo proposto por Matveev, Concluímos que apesar de todos os técnicos serem Graduados em Educação Física, 80% deles possuírem especialização, e ainda mesmo sendo técnicos vitoriosos das grandes equipes da natação brasileira, diante dos dados encontrados, parece haver uma confusão por parte dos treinadores de como eles entendem e aplicam os modelos de periodização existentes na literatura mundial. Unitermos: Modelo de periodização. Treinamento. Natação. Técnicos |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
A natação competitiva se tornou alvo de pesquisas que visam a melhora no aperfeiçoamento técnico e físico para uma melhor performance dentro do esporte de rendimento. Haja vista o grande apelo comercial que esta modalidade obteve nos últimos anos, exemplos como a criação de novos trajes de competição, novos acessórios para o treinamento, a mudança nas regras, o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar nos clubes, tudo em prol do resultado vem sendo cada vez mais discutido e implantado na natação competitiva.
Podemos citar em relação ao desenvolvimento de novas tecnologias que contribuam com o resultado dos atletas, a participação da National Aeronautics and Space Administration (NASA) quando criou um traje de competição para a natação, utilizado nas ultimas olimpíadas em Pequim 2008. Essa é hoje a realidade da natação de alto rendimento, buscando de várias formas a obtenção de melhores resultados.
O homem ainda é o protagonista dentro e fora das piscinas, as empresas investem na busca do melhor resultado, porém não adianta ter investimento nos clubes, se os profissionais que preparam o atleta para a competição, não estão devidamente preparados e atualizados sobre os aspectos que rodeiam o treinamento da natação. Com o objetivo de acompanhar essa necessidade de melhora na performance da natação competitiva, a atualização do técnico com os métodos de treinamento, as novas tecnologias que o ajudarão, e todas as áreas de conhecimento agregadas a esse objetivo, como a psicologia a pedagogia por exemplo, deverão fazer parte de uma atualização constante desses profissionais.
A globalização, que leva o conhecimento instantaneamente para todas as partes do mundo, favorece hoje em dia resultados expressivos de equipes que realizam o treinamento em lugares fora dos grandes centros tradicionais da natação como, por exemplo, os EUA e a Austrália. Países da Europa, África do Sul e Japão figuram dentro do cenário mundial da natação competitiva como grandes potencias atuais. O Brasil obteve na última olimpíada o melhor resultado na história da natação brasileira, conquistando a primeira medalha de ouro dentro do esporte. Essa melhora da natação brasileira possivelmente está atrelada a uma melhor preparação teórica e cientifica dos treinadores que atuam no país.
Essa preparação teórica do profissional que trabalha com alto rendimento permeia conteúdos como a fisiologia, cinesiologia, biomecânica e o treinamento esportivo, dentre outros. Esse estudo pretende analisar a periodização, que por sua vez esta contida na área do treinamento esportivo.
Portanto este trabalho teve por objetivo analisar a prática metodológica de periodização conhecida e utilizada no treinamento por técnicos de nível nacional das equipes juvenis da natação brasileira, bem como identificar a formação profissional desses treinadores.
Revisão de literatura
Segundo Bompa (2002, p. 206) “periodização origina-se da palavra período, que é uma porção ou divisão do tempo em pequenos segmentos, mais fáceis de controlar, denominados fases”. Gomes (2002, p. 85) complementa essa definição afirmando que periodização consiste em criar um sistema de planos para distintos períodos que envolvem um conjunto de objetivos mutuamente vinculados.
Salo e Riewald (2008) definem periodização como, um processo cientifico e sistemático do planejamento da temporada quebrando-o em diversas fases. Ainda acrescentam a idéia de que um dos maiores benefícios em fazer uma periodização é que o técnico pode planejar o treinamento, determinando assim quando ele quer que o atleta atinja o ápice.
Barbanti (2004, p. 35) resume bem o nascimento do treinamento desportivo há milhares de anos, no Egito e na Grécia, ele já era usado para preparar atletas para os Jogos Olímpicos e também para a guerra. Somente no final do século XIX, com o inicio dos Jogos Olímpicos da era moderna, o treinamento passou a ser uma estrutura sistematizada, para elevar o rendimento esportivo.
Gomes (2002, p. 143) apresenta a cronologia do planejamento do treinamento na literatura, iniciada em 1902 por Kraevki. Em 1916, Kotov destacou a manifestação do universalismo desportivo (formação multidesportiva). Quatro anos depois Gorinevski escreveu o primeiro livro com o título Bases fundamentais do treinamento. Até a década de 50, vários autores contribuíram com o desenvolvimento do treinamento desportivo, como, Pihkala, Grantyn, Ozolin, Letonov.
Mas um cientista em especial denominado Leev Pavlovtchi Matveev, chamou a atenção para o seu modelo de periodização ainda nos anos 50, conhecido como Modelo tradicional, que com os seus postulados, popularizou a teoria da periodização no mundo todo (GOMES, 2002, p. 142).
Em 1971 os russos Arosiev e Kalinin, publicaram um artigo, propondo a “estruturação pendular” do treinamento desportivo. (DE LA ROSA, 2006, p. 106).
Diante de várias críticas, novas ideias a cerca da periodização do treinamento desportivo foram surgindo. Possivelmente a mais marcante foi na década 70, com a formulação do modelo contemporâneo proposto pelo Prof. Dr. Yuri Verkhoshanski. Esse novo modelo veio para confrontar a metodologia de Matveev e seus seguidores.
Já no final da década de 80, Bondarchuk, apresenta o seu modelo integrador, voltado mais para o atletismo, especificamente para a prova de lançamento de martelo. Mesmo três décadas após a teoria clássica, Bondarchuk se baseia nos princípios propostos por Matveev, porém com algumas adaptações (GOMES, 2002, p. 150).
Em 1990 o alemão Peter Tschiene, organizou o que ele mesmo considera chamar o Esquema Estrutural de Treinamento de Altos Rendimentos. A perspectiva do autor com essa metodologia é de conseguir que o atleta mantenha um nível de rendimento durante todo o ciclo anual de competições (DE LA ROSA, 2006, p. 110).
A partir do modelo de “estrutura pendular”, De La Rosa elaborou uma proposta mais atual denominada de Sinos estruturais. (PANTALEÃO; ALVARENGA, 2008). “Os sinos estruturais seguem os mesmos princípios da diferenciação entre as cargas gerais e específicas, quer dizer, sempre em todo momento da macroestrutura as cargas de preparação especial estarão acima das cargas gerais” (DE LA ROSA, 2001, p. 114).
O modelo de periodização proposto por Bompa (2002) descreve que a terminologia não é a mesma em todos os países. O autor utiliza como denominação de seus períodos o microciclo, o macrociclo e o planejamento anual. Bompa explica que não enfatiza o mesociclo russo por entender que se trata de mera formalidade. Um planejamento anual possui três períodos: o preparatório, o competitivo e o de transição. Mesmo fazendo as adaptações, Bompa seguiu a linha de Matveev para elaborar o seu próprio modelo (BOMPA, 2002, p. 160).
Talvez um dos mais recentes modelos de periodização, seja o modelo de cargas seletivas, proposto por Gomes (2002) sendo dentre todos os modelos apresentados o mais específico para o futebol. Este modelo foi idealizado pelo grande número de jogos que dificulta distribuição de cargas durante o calendário anual.
Materiais e métodos
A amostra foi composta por dez técnicos da categoria juvenil. Os técnicos foram escolhidos de acordo com o ranking dos Campeonatos Brasileiro Juvenil de Verão de 2007 e Campeonato Brasileiro Juvenil de Inverno de 2008, ou seja, os dez primeiros clubes na pontuação final da competição credenciaram seus técnicos a participarem dessa pesquisa. O ranking foi divulgado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). Caso algum técnico selecionado não tivesse interesse em participar da pesquisa, o próximo nome da lista seria chamado (sempre de acordo com o ranking).
Os técnicos foram entrevistados durante a realização do XVII Campeonato Brasileiro Juvenil de Natação – Troféu Carlos Campos Sobrinho, disputado em Vitória, ES, no período de 27 a 30 de novembro de 2008. Diariamente foram entrevistados cerca de dois a três técnicos de forma individual, em uma sala adequada para a entrevista. O entrevistador lia as perguntas para o entrevistado, que as respondiam uma a uma de forma pausada para que o entrevistador pudesse gravar o áudio.
Os instrumentos utilizados foram um MP3 Player para gravar o áudio e um roteiro de entrevista. Após gravar a entrevista, o áudio foi transcrito na integra para formatação textual tabulada no software Microsoft Office Word 2007. Logo em seguida a estatística descritiva foi tabulada no software Microsoft Office Excel 2007.
Resultados e discussão
Segue abaixo o resultado e a discussão da pesquisa:
A pesquisa revelou que 100% dos técnicos possuem graduação em Educação Física. Esse dado representa a importância dos profissionais que trabalham com treinamento de natação serem graduados em Educação Física. Esse dado parece fortalecer a importância do professor formado na área específica do treinamento, uma vez que a figura do prático ou do ex-atleta não parece mais figurar entre os treinadores de alto nível da natação competitiva brasileira.
Figura 1. Porcentagem de técnicos que possuem Especialização
A Figura 1, aponta que 80% dos técnicos possuem uma formação profissional complementar. Desses 80% que possuem especialização, todos são especialistas na área afim. Esse dado representa que os técnicos estão em busca do conhecimento cientifico, e que de certa forma confirma que a especialização pode ajudar em seu trabalho.
Esse dado pode indicar que os técnicos estão em busca de novos conhecimentos para tentar aprimorar o treinamento, que conseqüentemente repercute na possível melhora dos resultados dos seus atletas. A especialização confere um aprofundamento das informações científicas, deixando o empirismo de lado.
Figura 2. Anos de experiência como técnicos de natação
A segunda Figura indica a porcentagem de técnicos que trabalham como treinador de natação já há algum tempo. A estatística aponta que 100% dos técnicos têm experiência de pelo menos 10 anos comandando equipes de natação. Considerando que metodologicamente foram selecionados os técnicos das dez melhores equipes ranqueadas a nível nacional, isso indica que os técnicos entrevistados, são vitoriosos em suas equipes, (no mínimo já foram campeões nacionais de categoria) e a experiência como treinador é vasta, ou seja, a experiência pode ser um indicativo para o sucesso do treinador e que haja uma equipe vencedora.
Figura 3. Modelos de periodização conhecidos pelos técnicos
A figura 3 apresenta o resultado dos modelos de periodização conhecidos pelos técnicos entrevistados. De acordo com a figura 13% dos técnicos conhecem o modelo proposto por Ernest Maglischo. Vale a pena ressaltar que Ernest Maglischo não elaborou um método de treinamento, ele apenas usufruiu do modelo proposto por Matveev e descreveu como ele é abordado na sua realidade. Mas como na natação competitiva a literatura mais conhecida na atualidade é a deste autor, então possivelmente os técnicos entrevistados tenham se equivocado com a resposta. Outra informação relevante é que apenas 7% dos técnicos conhecem o modelo ATR. Essa questão parece apontar para uma possível realidade dos técnicos conhecerem vários modelos, o que significa que eles buscam informações em fontes diferentes e se utilizam desse conhecimento de diferentes formas.
Figura 4. Modelos de periodização utilizados pelos técnicos
A figura 4 destaca os modelos de periodização utilizados pelos técnicos, sendo, 18% dos técnicos utilizam o modelo proposto por Fernando Navarro. Essa estatística entra em conflito com a figura anterior, quando evidenciado que apenas 7% dos técnicos relataram conhecer o modelo ATR. Outro dado é que apenas 9% dos técnicos utilizam o modelo proposto por Matveev, sendo que esse é considerado o “pai do treinamento desportivo”. Isso pode significar que eles estão atualizados para com os modelos de periodização, já que se utilizam de um modelo mais recente dentro das propostas de periodização para a natação competitiva, ou que haja uma confusão na hora de creditar o conhecimento adquirido. Modelos de periodização são importantes para respaldar o trabalho do treinador de uma forma cientifica. Essa diversidade de modelos encontrados parece indicar que cada profissional adapta o método que mais lhe convém de acordo com a sua realidade partindo como referencial os modelos já conhecidos.
Conclusão
A graduação e a especialização dos treinadores assim como sua experiência, são fatores que diretamente parecem estar ligado ao sucesso das melhores equipes da natação competitiva brasileira da categoria Juvenil. Concluímos ainda que apesar de todos os técnicos serem Graduados em Educação Física, 80% deles possuírem especialização, e ainda mesmo sendo técnicos vitoriosos das grandes equipes da natação brasileira, diante dos dados encontrados, parece haver uma confusão por parte dos treinadores de como eles entendem e aplicam os modelos de periodizacao existentes na literatura mundial.
Referências
BARBANTI, V. J. Teoria e pratica do treinamento esportivo. 2ª ed. São Paulo: Edgard blücher, 2004.
BOMPA, T.O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4ª ed. São Paulo: Phorte, 2002.
DE LA ROSA, A. F. Treinamento desportivo: carga, estrutura e planejamento. 2ª ed. São Paulo: Phorte, 2006.
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: estruturação e periodização. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
PANTALEÃO, D.; ALVARENGA, R. L. Análise de modelos de periodização para o futebol. EFDeportes.com, Revista Digital - Buenos Aires - Ano 13 - N° 119, 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/analise-de-modelos-de-periodizacao-para-o-futebol.htm
SALO, D.; RIEWALD, S. A. Complete Conditioning for Swimming. Illinois: Human Kinetics, 2008.
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