A concentração como característica psicológica fundamental no contexto escolar e federado La concentración como característica fundamental en el contexto escolar y federado |
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Universidade de Vigo, España (Brasil) |
Jorge Vanine |
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Resumo Este estudo procura caracterizar e comparar a concentração em alunos do ensino básico e secundário, e praticantes e não praticantes de desporto. Adicionalmente pretende definir um conjunto de estratégias que permitam dar ao professor uma ferramenta pedagógica que o ajude no seu objectivo de elevar os níveis de concentração dos alunos. O instrumento utilizado foi a Prova Perceptiva e de Atenção de Toulousse & Pieron. Os resultados mostram que os alunos estão no nível médio de concentração. Encontramos diferenças significativas apenas entre os alunos do ensino básico e do secundário, tendo estes últimos, valores médios mais elevados. No entanto, não encontramos diferenças significativas em relação ao género ou ao nível de prática, dentro do mesmo nível de ensino. Unitermos: Concentração. Desporto. Alunos.
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
As características psicológicas e o seu desenvolvimento são determinantes para o sucesso desportivo ou escolar na adolescência. Entre essas características, aquela que nos parece ser uma das mais referidas por treinadores e professores como sendo pouco desenvolvida, é a concentração.
A concentração, é muitas vezes o motivo pelo qual o atleta não consegue obter êxito na execução do gesto técnico ou ter sucesso escolar ao nível das diferentes disciplinas.
1. O conceito de concentração
Segundo William James (1999 in Weinberg & Gould, 1999), a concentração é a capacidade de estar com atenção, permitida pela mente. Para este autor, a focalização e a concentração são a essência da atenção. No entanto, esta definição apenas refere um dos aspectos da concentração, que é a atenção selectiva. Para Solso (1995 in Weinberg & Gould, 1999), a concentração no desporto, define-se em três partes: focalização das sugestões relevantes do envolvimento (atenção selectiva), manutenção da focalização da atenção durante um período de tempo longo e, conhecimento da situação.
A concentração, pode explicar-se como uma intensa actividade mental, dirigida a um sector delimitado da nossa actividade. Permite a um jogador, actualizar as aprendizagens realizadas com antecedência, e “bloquear” aquelas que não têm a ver com o objecto da actividade que se está a desenvolver.
Promove condições óptimas para realizar os movimentos de forma correcta, nas variadas situações integrantes do desporto em geral, ou seja, através de um nível de concentração adequado, é possível aumentar o êxito que se obtém.
2. Concentração – atenção no contexto do alto rendimento desportivo
A concentração é a capacidade que permite a um indivíduo centrar-se nos estímulos pertinentes do jogo, omitindo ou ignorando os outros estímulos. Trata-se ainda, da capacidade que o desportista evidencia para manter o foco atencional, nos estímulos pertinentes e relevantes (Carrascosa, 2003).
A correcta gestão da atenção, é a chave para resolver com eficácia qualquer tarefa ou situação. Segundo Pinillos (1975 in Carrascosa, 2003), a atenção partindo da perspectiva do processamento da informação, conceptualiza-se de duas formas:
a quantidade de informação que o sujeito pode seleccionar e processar num momento, a focalização da atenção nos aspectos importantes da competição, é uma forma do atleta estar sempre com um nível de concentração máximo. Quando o envolvimento da competição se altera, o atleta deve estar preparado para alterar igualmente a sua focalização da atenção,
a capacidade para alterar o foco atencional de uma fonte de informação para outra, ou seja, ter uma percepção do estímulo selectiva e dirigida. A atenção é então, selectiva. O sujeito selecciona a informação (interna ou externa), ignorando os restantes estímulos. Deve progredir de um processo consciente e difícil para um processo inconsciente e fluido.
Segundo Bandeira (in Platonov, 2004) as pesquisas mostram - nos que os atletas de alto nível em comparação com atletas de nível inferior possuem uma maior actividade cognitiva que se manifesta numa atenção focalizada.
Um estudo de Monte (2005) procurou a relação entre um tipo de atenção, especificamente a capacidade de concentração da atenção e o rendimento das judocas da equipa nacional de Cuba. Realizaram 114 avaliações através da prova de Anillos de Landorf e do rendimento dos atletas em diferentes competências de estudo. Os resultados mostram que, pelo menos uma parte importante do rendimento dos atletas , está condicionada pela sua capacidade de concentração da atenção.
A focalização da atenção, de uma forma geral, conduz o atleta a percepcionar em simultâneo vários aspectos. Isto é extremamente importante em desportos onde os envolvimentos se alteram (Weinberg & Gould, 1999). A focalização da atenção restrita, ocorre apenas quando respondemos a uma ou duas sugestões. A focalização da atenção externa é directa a um objecto, como a bola, enquanto que a interna é direccionada para emoções.
A concentração depende das distracções internas e externas do atleta. As internas incluem eventos passados, eventos futuros, fadiga e análise do mecanismo do corpo. As distracções externas, incluem factores visuais (Weinberg & Gould, 1999). A fadiga é um factor de distracção interna que altera a focalização da atenção.
O monólogo é também um potencial factor de distracção interna, que pode ser utilizado para ultrapassar a falta de concentração do atleta em competição. O monólogo pode possuir um efeito positivo ou negativo (Weinberg & Gould, 1999). Em provas onde existe aparecimento de fadiga, o monólogo também pode motivar o atleta a manter a sua performance, através do fornecimento ao organismo de um estímulo que conduz o atleta a superar os seus níveis elevados de fadiga (Weinberg & Gould, 1999).
Um estudo realizado por Raalte, Brewer, Riviera & Petitpan (1994 in Weinberg & Gould, 1999), demonstrou que, em jovens atletas de ténis, o monólogo negativo é muito mais utilizado do que o monólogo positivo, sendo o mesmo emitido após cometer o erro.
Isto quer dizer que focalizam a sua atenção nos aspectos negativos, o que vai prejudicar a sua performance. Estudos realizados em atletas de elite (como por exemplo Weinberg & Gould, 1999) mostram a existência de monólogo positivo, de carácter de instrução ou de motivação, promovendo uma melhoraria nas suas performances.
Estudos realizados com esquiadores de “cross – country” (Rushall, Hall, & Rushall, 1988 in Weinberg & Gould, 1999), jogadores de ténis (Ziegler, 1987 in Weinberg & Gould, 1999), velocistas (Rallet & Hausrahan, 1997 in Weinberg & Gould, 1999) e patinagem artística (Mug & Martin, 1996 in Weinberg & Gould, 1999) mostram realmente como o monólogo é utilizado pelos atletas, bem como a importância que os mesmos dão ao monólogo para o desenvolvimento da sua performance.
O monólogo positivo, é aquele que ajuda na “performance”, porque mantem o atleta concentrado na tarefa. Falar consigo mesmo ou dizer “mantem o olhar na bola“, por exemplo, são formas do atleta manter o nível de concentração elevado. Este tipo de monólogo pode ser determinante para a concentração, bem como para a sua manutenção durante a competição. Desta forma, deve ser utilizado em várias situações, como por exemplo, na aprendizagem de “skills” ou na tentativa de finalização de um hábito indesejável. Quanto maior é a alteração dos comportamentos, maior deve ser a utilização do monólogo (Weinberg & Gould, 1999). O monólogo negativo, por seu lado, é crítico, e vai dificultar os níveis de concentração do atleta, porque referem-se a aspectos menos bons do mesmo, como por exemplo, chamar nomes a si próprio ou como auto-questionar-se “como é que jogo tão mal ?“. Este factor vai promover um aumento dos níveis de ansiedade do atleta e, consequentemente, fazer com que o atleta tenha mais dificuldade em focalizar a sua atenção (Weinberg & Gould, 1999). O monólogo também é importante para motivar os atletas, como numa corrida em que o mesmo pode dizer para si mesmo “mais rápido“. Através desta técnica poderá facilitar a obtenção dos seus objectivos.
Em suma, o monólogo tem bastante importância ao nível da performance do atleta e categoriza-se em positivo ou negativo. O monólogo negativo é crítico e prejudicial, tendendo a produzir ansiedade e, consequentemente, conduzindo à diminuição da concentração do atleta (Weinberg & Gould, 1999), enquanto que o monólogo positivo permite o desenvolvimento da auto – estima, motivação e da focalização da atenção. A alteração do monólogo negativo para positivo, é um aspecto que o atleta terá de treinar o que não é fácil. O atleta deve primeiro definir quais os monólogos que prejudicam a sua performance. Seguidamente, deve alterar o monólogo para positivo. O atleta deve fazer isto em treino e só depois em competição (Weinberg & Gould, 1999).
A focalização da atenção permite ao jogador, uma percepção nítida da informação seleccionada. Quando um futebolista consegue gerir correctamente o seu nível de atenção, tende a perceber com total nitidez, as acções do jogo e inibir-se de qualquer outro estímulo, como por exemplo, as suas próprias preocupações (Carrascosa, 2003).
Esse centralizar da atenção está definido, segundo Dosil (2004), em dois tipos de estímulos: (1) Estímulos dominantes, (2) Estímulos flutuantes. Estímulos dominantes são aqueles estímulos que ocupam a focalização principal do sujeito. Por exemplo no ténis, seria seguir a bola e o adversário. Estímulos flutuantes são aqueles que podem aparecer na situação em que se encontra o sujeito. Por exemplo, o público a falar.
A atenção é um dos aspectos que distingue os atletas com mais sucesso dos atletas com menos sucesso. Para além de seleccionar a sua focalização, o atleta tem que estar igualmente preparado para manter essa focalização da atenção durante toda a competição.
Esta manutenção da atenção focalizada, é mais um dos aspectos da concentração, que distingue favoravelmente os atletas de sucesso. No entanto, não se trata de uma tarefa fácil para o atleta e pode ser determinante. Por exemplo, num jogo de golfe ou numa corrida da maratona, que são competições de longa duração, a manutenção da concentração em níveis elevados é fundamental, na medida em que um único momento, pode ser determinante para vencer ou perder uma competição nestas modalidades.
Ao nível da manutenção da atenção focalizada, encontramos atletas de sucesso que utilizam estratégias que combinam uma atenção associada, como a monitorização das forças do corpo, como a frequência cardíaca, como a tensão muscular ou como a ventilação, com a atenção dissociada, ou seja, a distracção (Silva & Applebaun , 1989 in Weinberg & Gould, 1999).
Na modalidade de atletismo, os atletas que utilizam dentro da mesma corrida as duas estratégias, vão depender da forma como se sentem durante a competição num momento particular. Os atletas da maratona de menor sucesso, utilizam quase exclusivamente a estratégia dissociativa.
Um estudo realizado por Scott, Scott, Bedit & Dowd (1999 in Bishop, 2008) testou três tipos de estratégias cognitivas em nove novos lançadores. Cada um foi testado na sua performance durante 40 minutos seguidos de um aquecimento de 15 minutos. A distância conseguida durante este tempo foi medida e variável. Após isso, os lançadores foram sujeitos a três condições :
ouvir uma cassete com uma voz a dizer “ está a aquecer “ e “sente a tua respiração”,
uma cassete a ouvir os 40 hits e
um vídeo do campeonato do mundo de 1992 de atletismo.
Os atletas que fizeram parte de estratégia associativa mostraram um incremento no lançamento maior do que aqueles que utilizaram a estratégia dissociativa.
A Associação de Ténis dos Estados Unidos (USTA, 2004), refere que na modalidade de ténis, a concentração é igualmente, a característica psicológica mais importante. Os jogadores têm que ter a capacidade para fixar a atenção de forma rápida e eficaz.
Muitos atletas têm dificuldades de concentração durante a competição. Normalmente, esta dificuldade é causada por inapropriada focalização da atenção. Os atletas não estão a focalizar as sugestões correctas.
Por exemplo, no ténis, colocam pessoas a andar pelos “courts” a falar. Isto é uma forma de estimular a atenção do atleta, simulando a situação de competição. Orlick & Partington (1988), encontraram atletas de sucesso que consideravam muito importante a simulação do treino como se fosse competição, como parte da sua preparação.
O conhecimento da situação, é igualmente um aspecto determinante ao nível da concentração do atleta. Trata-se da capacidade que o atleta possui para conhecer a situação considerada decisiva durante a competição, aquela que possui características para decidir o vencedor. Por exemplo, num jogo de basquetebol, se a equipa tem de encestar porque faltam 5 segundos é um momento em que o atleta que tem a bola tem que decidir. Essa decisão vai estar dependente do seu conhecimento da situação porque permite diminuir o nível de incerteza da tarefa.
Os investigadores mostraram que os atletas de elite conseguem estar focalizados no presente centrando-se apenas na tarefa (Weinberg & Gould, 1999).
Esses atletas mostram também que, “performances” (a nível psicológico) elevadas têm que ficar absorvidas no jogo. Os atletas de elite utilizam muitas vezes palavras sugestivas de atenção, fazendo-o de forma mais rápida do que os jovens atletas.
A este nível, jogadores como Larry Bird ou Martina Hingins, demonstraram sempre estar um passo à frente no conhecimento da situação. Isto pode significar que o atleta de elite tem a capacidade de analisar as situações mais rápidamente do que o atleta de não elite (Weinberg & Gould, 1999).
No atleta de elite, a capacidade de desenvolver a concentração necessita de uma prévia focalização da atenção nos “skills”. Os atletas que se concentram bem, ou seja os que são eficazes, têm em simultâneo uma boa relação com estímulos internos e externos. Têm grandes resultados ao nível interno e externo da focalização da atenção, e podem alterar a sua atenção do extenso para o restrito, se for necessário.
Os atletas que não se concentram bem, os ineficazes tem tendência para ficar confusos e cheios de estímulos internos e externos. Quando assumem a focalização no interno extenso e no externo extenso, têm dificuldades de atenção. Como exemplo, temos o jogador de futebol que deve concentrar a sua atenção na bola.
Os árbitros são um elemento fundamental numa competição e necessitam de um conhecimento muito bom das regras, um bom nível físico e também devem focalizar a atenção no comportamento adequado e para isso necessitam de niveis de concentração elevados.
Num estudo realizado por Asci & al. (2007) observou os níveis de concentração dos árbitros e comparou estes nos diversos níveis de campeonato em futebol. Classificaram os árbitros com nível bom de concentração e não encontraram diferenças entre os árbitros dos diferentes níveis de campeonatos.
Segundo Carrascosa (2003), no que se refere ao caso específico da modalidade de futebol, muitos jogadores reconhecem que possuem dificuldades de concentração, o que poderá estar relacionado com numerosos factores internos e externos, referidos de seguida.
Ainda segundo este autor, os problemas de atenção/ concentração, explicam-se melhor através de factores internos (emocionais) do que externos.
Externos
Ambientais
Clima
Estado do terreno do jogo
Manifestações dos adeptos
Competição
Resultado
Conductas dos rivais
Conducta do árbitro
Conducta do treinador
Conducta dos companheiros
Dificuldades relativas ao jogo da equipa
Envolvimento
Conflictos familiares, afectivos, sociais, etc..
Opiniões dos meios de comunicação
Conducta da direcção
Internos
Personalidade
Atenção dispersa
Ansiedade
Estilo cognitivo
Cognitivos
Dúvidas sobre as tarefas a realizar no jogo de equipa
Preocupações
Excesso de responsabilidade
Medo do erro e do fracasso
Urgência ou necessidade de render de forma óptima
Erros cometidos no passado
Emocionais
Ansiedade
Desânimo
Alegria ou euforia
Aborrecimento
Físicos
Sintomas de fadiga
Dor ou lesão
Todos estes factores podem ser treinados e alterados, tanto ao nível do treino, como ao nível da competição. Desta forma, alguns treinadores utilizam estratégias para desenvolver os níveis de concentração do seu atleta, como por exemplo no basquetebol, em que treinadores promovem a existência de muito barulho durante os treinos para terem um envolvimento semelhante àquele que irão encontrar na competição (Weinberg & Gould, 1999).
O treino da concentração deve ser realizado utilizando estratégias de atenção, porque em modalidades de grandes duração e intensidade, a manutenção de níveis elevados de concentração define os atletas.
Um estudo realizado com atletas de futsal do Brasil (Adriano, 2003) procurou avaliar o nível de concentração dos atletas pré e pós treinos. Os resultados apresentaram um aumento da pontuação média dos testes pós treino em relação ao pré treino.
Os treinadores procuram realizar o treino da concentração no envolvimento da competição, porque é um factor que influência a concentração. Existem outros factores que influenciam a concentração, como por exemplo a ansiedade competitiva, a motivação e a confiança (Weinberg & Gould, 1999).
Koruc & al. (2007) realizou um estudo que tinha como objectivo encontrar relação entre a ansiedade, a auto confiança e a concentração em jogadores de futebol. Os resultados mostraram que quando a auto confiança dos atletas diminui a concentração aumenta.
Dosil (2004) define uma série de técnicas que são úteis para aumentar a concentração do desportista, que envolvem o estabelecimento de objectivos, o estabelecimento de rotinas pré – competitivas e competitivas, o controlo do nível de activação, a utilização de palavras chave e o controlo visual.
Gomes & Cruz (2007) definiram normas e princípios do treino da atenção e da concentração, dos quais escolhemos quatro que nos parecem mais importantes.
Simulações das situações reais de competição devendo os treinadores recriar nos treinos o máximo de semelhanças com as tarefas que os atletas tem mais dificuldade em enfrentar e gerir correctamente nos jogos, possibilitando-lhes assim a lidar com esses distractivos (ex. presença de adeptos e jornalistas, mesmas condições físicas do recinto do jogo, etc.)
Utilização de planos mentais e palavras - chave, onde os atletas são ensinados a adoptar um conjunto de rotinas de pensamento e de comportamentos apropriados as tarefas a realizar durante as competições.
Focalização no processo de execução e não apenas no seu resultado, ou seja, os atletas devem ser encorajados a pensar naquilo que tem de fazer para executar bem uma determinada tarefa e não somente no resultado final dessa execução, termos de ganhar ou perder
Ensino aos atletas das pistas ou aspectos das tarefas e ou situações competitivas a que tem de prestar atenção e como devem reagir perante situações novas ou negativas, utilizando os treinos como melhor contexto para começarem a automatizar estes aspectos
É fundamental que os jogadores com dificuldades de concentração, aprendam a alterar a direcção da atenção e a focalizá-la nos aspectos mais importantes da competição.
Encontramos também um estudo realizado por Salazar & Montoya (2006) que reforça a extrema importância do treino da atenção. Estes autores utilizaram distracções do tipo visual e auditivo num grupo de universitários desportistas e obtiveram rendimento desportivo mais elevado nos grupos experimentais do que no grupo de controlo.
Mérida, Resa & Mena (2001) realizaram um estudo, centrando-se na melhoria da capacidade atencional dos futebolistas, como meio da sua melhoria desportiva. A concentração parece ser um tema muito interessante nesta modalidade, como em outras.
Vários autores (Arévalo & al., 1995; Nideffer, 1976 & Brignani, 1989 citados in Mérida, Resa & Mena, 2001), encontraram relações positivas entre a concentração e o rendimento.
No entanto, Mérida, Resa & Mena (2001), não encontraram resultados significativos estatísticamente. Estes autores colocaram a possibilidade de atribuir estes resultados, ao facto do trabalho psicológico ter encontrado dificuldades para ser aplicado no terreno do jogo. Segundo eles, será preciso realizar programas de treino adaptados especificamente ao futebol, no qual se estruturem exercícios que promovam nos futebolistas, o desenvolvimento de estilos atencionais requeridos para este tipo de desporto, trabalhando a atenção como algo inerente ao próprio treino desportivo, em situação real, junto ao treino físico, técnico e táctico, coordenados com a equipa técnica.
A grande dificuldade encontra-se ao nível da enorme diferença existente entre trabalhar a atenção num contexto de laboratório e o trabalho em situação de treino real, com o objectivo claro em conseguir transferir do treino à própria competição e à alta competição desportiva de equipa, onde o manejo e controlo de todas as variáveis é difícil, demonstrando que existe uma melhoria efectiva no desenvolvimento do jogo (rendimento), e não apenas nos aspectos técnico - tácticos.
A equipa de psicólogos do Sevilha (2002, in Cabezas & al.), que está ligada ao futebol, considerando a concentração um dos aspectos determinantes para alcançar o nível máximo para cada desportista desenvolveu um conjunto de jogos e exercícios que se realizam no local de prática que melhoram os níveis de atenção e concentração dos jogadores.
Segundo Mcneill (1986), na modalidade de orientação, a concentração pode treinar-se olhando para uma fotografia do desporto durante 5 minutos. A atitude pode ser incrementada pela auto - sugestão na forma de pensamentos positivos.
A utilização de palavras sugestivas, é também uma forma de treinar os atletas desenvolvendo a sua atenção durante a competição. Essas palavras devem ser de instrução ou de motivação para que o atleta se focalize na tarefa.
A importância da utilização destas palavras é muito grande também quando o atleta se encontra na fase de aperfeiçoamento de um movimento ou, como já foi referido anteriormente, para conseguir finalizar um hábito indesejável.
O estabelecimento de rotinas pré – competitivas e durante a competição, é também muito importante para o atleta focalizar a sua atenção nos aspectos determinantes da sua “performance”. O efeito dessas rotinas tem suporte em muitos investigadores (Cohn, Rotella & Lloyd no golf, em 1990; Feltz & Landers, na pesquisa mental, 1983; Gould, Eklund & Jackson no Wrestling, em 1992b; Kirschenbaum, Ordman, Tomarken & Holtzbauer no bowling, em 1982; Moore & Stevenson no ténis, em 1994; Orlick no ski, em 1986; Wrisberg & Pein no basquetebol, em 1992 (todos in Weinberg & Gould, 1999), que demonstraram que as mesmas reduzem a ansiedade, eliminam as distracções e promovem a confiança no atleta.
Pode considerar-se uma rotina, as paragens durante a competição, que permitam ao atleta dizer duas ou três palavras sugestivas, de forma a focalizar a sua atenção na competição.
O mais importante, é que essa rotina seja uma forma do atleta manter a sua concentração elevada durante a competição. O desenvolvimento de planos de competição ou o controlo do olhar, são também formas de influenciar a concentração.
Em suma, para melhorar a concentração, o treinador pode utilizar técnicas e exercícios em situação de treino, como por exemplo, a simulação, palavras sugestivas, estabelecimento de rotinas e planos pré – competitivos e competitivos. As técnicas devem ser realizadas durante os treinos
3. Concentração em contexto escolar
No contexto escolar, a concentração é igualmente uma das características psicológicas mais importantes para o sucesso dos alunos. Os professores queixam-se repetidamente da falta de concentração dos seus alunos e do seu elevado nível de distracção.
A causa dessa desconcentração, pode ser a própria desmotivação dos alunos para a escola (Perez, 2006). Quando isto acontece, a escola tem que encontrar estratégias para aumentar a motivação dos seus alunos, promovendo igualmente um incremento relativamente aos seus níveis de concentração.
Existem igualmente alunos que apesar de estarem motivados, têm muitas dificuldades de concentração e consequentemente, de obtenção do sucesso educativo. Neste caso, podemos realizar transferes das estratégias desenvolvidas no desporto de elite, na medida em que são instrumentos que poderão ajudar a maximizar os níveis de concentração dos nossos alunos, tal como acontece com os atletas.
Os factores que condicionam a falta de concentração são inúmeros. Podemos referir a falta de motivação, a ansiedade, a falta de auto – confiança, os problemas familiares, os problemas monetários, a fadiga ou mesmo as dificuldades de aprendizagem.
Na bibliografia que consultámos, encontramos muitos estudos que referem estratégias para melhorar a concentração dos alunos sem utilizarem o desporto.
De uma forma geral, todos referem como fundamental que o aluno esteja motivado, o que responsabiliza profundamente o professor, que deverá realizar aulas criativas, sem que sejam monótonas. Por outro lado, se o aluno está motivado, temos que perceber quais os motivos que condicionam a sua concentração.
È muito importante que o aluno aprenda a saber concentrar-se, e este processo deve iniciar-se desde a primária. Adicionalmente, o aluno deve ter hábitos de estudo e de trabalho, quer durante as aulas, quer quando está a estudar. O local de estudo, deve ser adequado para que o aluno consiga estar concentrado. Também é importante desenvolver técnicas de memorização. O aluno deve dormir o número de horas de sono suficientes para não atingir o estado de fadiga. O nível de activação do aluno também deverá ser o ideal para que consiga estar concentrado.
As estratégias para o desenvolvimento da concentração passam por aquilo que foi referido, e também pela realização de actividades sensoriais, auditivas, visuais e motoras que podem ser desenvolvidas e incluem técnicas de visualização, relaxação, memorização que podem realizadas através de jogos de aprendizagem (Góis, 2005).
Pegue num objecto, observe-o com atenção durante 30 segundos, depois feche os olhos e tente representa-lo mentalmente, de maneira clara e precisa. Se alguns detalhes não estiverem perfeitamente claros e nítidos e observe de novo o objecto ate que consiga representa-lo mentalmente.
Está com os seus colegas e o primeiro diz uma palavra, o segundo diz a primeira palavra e a uma palavra sua e assim sucessivamente.
Escute ou ouça o rádio, depois diminua o volume, depois mais baixo ainda, regule o aparelho o mais baixo possível ate compreender, suficientemente o que se diz. A fraca intensidade do som irá obrigar o aluno a concentrar-se. Não prolongue este exercício mais de três minutos.
Na sala de aula formam grupos. Um grupo coloca-se numa determinada posição sem se mexer durante 1 minuto. Os outros grupos estão a observa-los. Depois deixam de os observar e o grupo realiza algumas alterações a sua posição inicial. Depois, os grupos tem que referir quais foram as alterações a posição inicial
Os exercícios para desenvolver a concentração são inúmeros. No entanto, o importante é o professor avaliar quais são as dificuldades dos seus alunos e aplicar as técnicas mais correctas e adequadas a cada situação.
Como sabemos, a actividade física e o desporto escolar são fundamentais para melhorar as capacidades do aluno / atleta em diferentes factores, ao nível cognitivo, social, afectivo e motor.
Podemos referir, que a actividade física nos jovens potencia os seguintes aspectos:
Melhora o rendimento escolar em geral
Aumenta os níveis de concentração
Estimula a auto estima e a confiança
Melhora os comportamentos hiperactivos
Aumenta a auto estima e a auto confiança
Melhora a auto imagem
Reduz a ansiedade o stress e a depressão
Melhora o controlo da agressividade
Aumenta a energia
Aumenta a coesão e cooperação
Melhora as competências e a eficiência
Contribui para a formação de valores e atitudes
Contribui para o desenvolvimento da personalidade
As aulas de educação física são muito importantes, pois são o local ideal para maximizar todas essas características e, mais concretamente, esses níveis ideais de concentração.
Um estudo realizado por Romero & Aguiar (2007) procurou analisar uma intervenção pedagógica durante as aulas de educação física em crianças que apresentavam um défice de atenção. Foram utilizados os seguintes instrumentos: roteiro de anamnese psicológico, teste http, teste de Bender, teste para avaliar a definição de lateralidade, teste de atenção concentrada, teste de atenção distribuída e ditado.
Os resultados demonstraram que as crianças com pouca capacidade de atenção e concentração, podem apresentar problemas quanto à definição de lateralidade. Os dados mostram ainda que estes factos aliados a problemas de ordem social e económica, comprometem consideravelmente o rendimento escolar.
Desta forma, a importância da educação física no desenvolvimento de exercícios que favoreçam o desenvolvimento da lateralidade ou da atenção, permitem obter resultados positivos principalmente no que se refere ao processo de ensino aprendizagem.
A importância da actividade física e do desporto no desenvolvimento das capacidades psicológicas e neste caso, da concentração, tem vindo a ser cada vez mais estudada pelos investigadores.
Cardenas & al. (2007) procuraram estudar a influência do exercício físico e do desporto no rendimento académico das crianças. Para isso, escolheram os 10 alunos de uma escola no Brasil com menor rendimento escolar. Definiram um grupo de 5 alunos como grupo controlo e 5 alunos como grupo experimental. No grupo experimental, definiram as seguintes actividades físicas desportivas: jogos de equilíbrio, jogos de coordenação, jogos sensoriais e actividades práticas de futebol. Essas actividades foram realizadas duas vezes por semana. Os resultados obtidos concluíram que a actividade física e o desporto influenciam de forma positiva no rendimento escolar.
Algumas vezes referem que os jovens estão em stress e sofrem de depressões. No entanto pensamos que isto são situações difíceis de acontecer. No entanto, se o jovem se encontra instável emocionalmente, os seus níveis de concentração não vão ser bons e provavelmente não vão ter capacidade para focalizar a atenção no estímulo adequado. A depressão inclui diversos sintomas cognitivos tais como problemas de atenção que podem prejudicar o desempenho escolar.
Um estudo de Baptista (2006) concluiu que 33,8 % dos estudantes apresentam sintomas depressivos que, ao nível das mulheres, existem em maior quantidade. Os resultados mostram que os alunos sem sintomas de depressão têm um melhor desempenho escolar e mais elevados níveis de atenção que o grupo com esses sintomas. Existe de facto, uma relação entre depressão, atenção e desempenho escolar.
Tal como temos vindo a referir, os factores que influenciam os níveis de concentração podem ser vários. Num estudo Sanches (2004) compararam o perfil psico - motor associado a aprendizagem escolar encontraram mais dificuldades de atenção em alunos com problemas familiares e sócio - económicos.
É um facto que o desporto pode promover o desenvolvimento da concentração na criança ou nos jovens. Segundo Torok & Bueno (1983, in Pinto & Cunha, 1998) jogar ténis exige uma concentração e atenção, que bem orientadas podem tornar-se um bom pressuposto para as actividades teóricas relacionadas com as disciplinas escolares.
Também para Tilden (1979, in Pinto & Cunha, 1998), a concentração ao nível da prática da modalidade de ténis tende a tornar-se um hábito, sendo um factor muito importante relativamente às actividades do dia - a - dia da criança, os quais requerem igualmente muita atenção e concentração.
O xadrez é igualmente um desporto que ajuda muito ao nível do desenvolvimento da concentração dos alunos.
Vários estudos, entre os quais um realizado por Oliveira (2007) mostram que o xadrez pedagógico é utilizado de forma a desenvolver habilidades nas quais o estudante tem mais dificuldades e que comprometem o seu desempenho escolar. A prática deste jogo traduz uma inovação pedagógica, que ainda não foi bem explorada pelos professores apesar dos estudos demonstrarem a eficácia deste desporto para melhorar o desempenho escolar.
Ao contrário do que se pensa, a televisão é um factor prejudicial para o desenvolvimento da atenção e da concentração nas crianças. Estudos realizados demonstraram que não devem ver mais de 2 horas por dia. Segundo Hancox (2007), as crianças que vêm menos de 2 horas de televisão na infância não ampliam o risco de sofrer distúrbios de atenção na adolescência. Mas a partir da terceira hora o risco aumenta 44 %. Estudos anteriores encontraram o mesmo resultado , apesar de não serem de tão grande porte como este.
Em suma, as estratégias para melhorar a concentração nos alunos são inúmeras. Podemos definir 2 tipos de concentração. A concentração imediata e a concentração prolongada (Góis, 2005). É importante melhorar a concentração prolongada, pois os alunos necessitam de estudar, aprender, reter, redigir calcular, pensar ou reflectir. Nas aulas de educação física podemos realizar actividades lúdicas ou desportivas tendo como dominante o desenvolvimento da concentração.
Como foi referido anteriormente, as técnicas de treino da concentração devem basear-se num transfere do que é realizado para os atletas de alto rendimento, adaptadas à realidade do aluno, ao nível da educação física.
Assim, temos:
o estabelecimento de objectivos individuais, por exemplo, definir objectivos em cada aula para cada exercício, ou seja, critérios de êxito com os alunos;
a definição de rotinas para as aulas motivantes, por exemplo, definir tarefas a realizar pelo aluno antes da aula, durante e depois da mesma;
a utilização de palavras chave, como por exemplo, na execução de um exercício que o aluno tem dificuldade emitir-lhe palavras a referir como “vou conseguir”;
a visualização, como por exemplo, na execução de um remate, visualizar o movimento e o local onde vai colocar - se a bola, ou a relaxação, como por exemplo, deitar os alunos todos e realizar um pouco de relaxação progressiva.
O professor de educação física pode ainda utilizar técnicas de desenvolvimento da concentração não necessariamente relacionadas com os conteúdos, mas sim com situações mais específicas, onde define como dominante o desenvolvimento da concentração e em regime de um determinado exercício.
Todas estas variáveis podem ser realizadas nas aulas de educação física e devem ser desenvolvidas, como uma ferramenta pedagógica para o professor, afim de aumentar os níveis de concentração dos alunos, o que vai ter resultados também ao nível das diferentes disciplinas e assim, elevar o seu sucesso escolar
Tipo de estudo
Trata-se de um de estudo comparativo. Pretendeu-se caracterizar os níveis de concentração dos alunos pertencentes às escolas que praticam ou não desporto, e comparar os resultados obtidos.
As hipóteses que pretendemos estudar são as seguintes
Existem diferenças no nível de concentração dos alunos pertencentes ao ensino secundário, relativamente à prática desportiva - pratica desporto / não pratica desporto.
Existem diferenças no nível de concentração dos alunos pertencentes ao ensino básico, relativamente à prática desportiva - pratica desporto / não pratica desporto,
Existem diferenças no nível de concentração dos alunos relativamente ao seu nível de ensino: básico e secundário.
Existem diferenças no nível de concentração dos alunos relativamente ao seu género: feminino e masculino.
Método
Amostra
A nossa amostra é constituída por 178 alunos dos quais, 107 pertencem ao género feminino e 71 pertencem ao género masculino, todos pertencentes a escolas do ensino básico e secundário: 126 pertencem ao ensino secundário e 52 pertencem ao ensino básico.
Quadro 1. Frequência da amostra em relação ao género
|
Frequência |
Percentagem |
Masculino |
71 |
39,7 |
Feminino |
107 |
59,8 |
Total |
178 |
99,4 |
Instrumento
O instrumento utilizado é a prova perceptiva e de atenção de E. Toulouse & H. Piéron. 1986. Este teste foi validado com três amostras de nível escolar e tem como objectivo avaliar a atenção concentrada em duas componentes – a velocidade e a exactidão.
Permite ainda verificar a regularidade de realização e a resistência a fadiga traduzidas no rendimento minuto a minuto, durante dez minutos. Este teste foi aferido e validado para a população portuguesa dos 10 anos por J. Amaral em 1967. Este teste tem sido muito utilizado em diferentes estudos, alguns dos quais, realizados na área da psicologia desportiva (Veiga, 1987; Veiga & Brito, 1988; Ferreira, 1990; David, 1991; Colaço, 1992; Brandão, 1993).
Procedimentos
Operacionais
Foi solicitada aos alunos, a sua participação no estudo, e posterior aplicação dos instrumentos.
A prova foi aplicada de forma colectiva, na sala de aula, respeitando todo o protocolo de aplicação.
Variáveis
Variáveis Independentes
Contexto:
Nível de prática desportiva
Alunos que praticam desporto.
Alunos que não praticam desporto.
Nível de ensino
Alunos que pertencem ao 3º ciclo do Ensino Básico.
Alunos que pertencem ao ensino secundário..
Género:
masculino
feminino
Variáveis Dependentes
A variável conceptual é a concentração: resultados do teste
Análise dos dados
Após a aplicação dos instrumentos, procedemos à cotação dos mesmos para efectuarmos o tratamento estatístico; recorremos à utilização da estatística de inferência comparativa (prova paramétrica ou, o seu equivalente não paramétrico). Foi considerada uma probabilidade de erro de 0.05 (habitual em estudos desta natureza). Recorremos às tabelas de referência de correcção deste instrumento e ao programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences).
Apresentaçao dos resultados
Relativamente aos valores que encontrámos com a aplicação do nosso teste, o valor médio encontrado para os níveis de concentração dos nossos alunos é de 157,6.
Em 178 alunos, 21 apresentam um resultado inferior a 100. No entanto, 34 alunos apresentam um valor superior a 200. Destes, apenas dois alunos apresentam um valor superior a 300 num score máximo de 400. A maioria dos alunos apresenta valores entre os 118 e os 200.
A nossa amostra é constituída por 118 alunos que não praticam desporto e 60 que praticam desporto, o que corresponde a 65,9% e 33,5 % respectivamente.
Como se pode observar no gráfico número dois, o número de alunos que não pratica desporto quase duplica em relação aos alunos que praticam.
No que se refere aos níveis de concentração dos alunos da nossa amostra, encontramos um valor médio superior ao nível dos alunos que não praticam desporto de 160,2. Os alunos que praticam desporto têm um valor médio de 152,7.
Apesar dos alunos que não praticam desporto apresentarem médias mais elevadas relativamente aos alunos que praticam desporto, não existem diferenças estatisticamente significativas quando comparamos os dois grupos.
Comparando os valores médios de concentração dos alunos na variável género, encontramos valores mais elevados no género feminino, com 161,2 e no género masculino, 152,3.
As diferenças encontradas entre os dois géneros ao nível da variável concentração não são significativas.
Os alunos pertencentes ao ensino secundário caracterizam-se por possuir valores médios mais elevados do que os alunos do ensino básico: 164,9 e 140,0 respectivamente. Existem diferenças significativas ao nível da concentração, entre o ensino básico e o ensino secundário.
No que se refere aos resultados relativos aos sub - grupos da nossa amostra para observar os seus valores médios relativamente aos praticantes e aos não praticantes de desporto, bem como ao género, no ensino básico, encontramos uma média de 134,2 para os praticantes e de 149,2 para os não praticantes.
Podemos observar que, uma vez mais, os valores médios encontrados para os alunos não praticantes são mais elevados do que os valores médios encontrados para os alunos não praticantes.
Estes resultados confirmam-se ao nível do género. E, em comparação, os rapazes não praticantes têm valores médios mais elevados do que as raparigas não praticantes, com valores de 159,3 e 140,9, respectivamente.
Quando comparamos os alunos do ensino básico em relação ao género e à sua prática desportiva, nos praticantes encontramos valores médios de 137,9 para o género masculino e de 128,0 para o género feminino. No entanto, não encontramos diferenças significativas neste grupo.
Não encontramos diferenças significativas entre os alunos do básico pertencentes ao género masculino e feminino, nem entre praticantes e não praticantes.
Em relação ao ensino secundário, os alunos praticantes apresentam um valor de 173,7, enquanto que os alunos não praticantes, apresentam um valor de 162,4. Desta forma, ao nível do ensino secundário, os alunos praticantes possuem valores médios mais elevados de concentração do que os alunos não praticantes. Apesar das diferenças encontradas, também no ensino secundário, não encontramos diferenças significativas entre praticantes e não praticantes de desporto.
O valor médio mais elevado conseguido pelos praticantes está relacionado com o valor obtido pelos alunos femininos praticantes que apresentam um valor médio de 199,9 relativamente aos praticantes masculinos, que apresentam um valor médio de 147,6 caracterizando-se por ser o valor mais baixo nesta relação.
Os alunos não praticantes do género masculino e feminino apresentam valores de 162,7 e 162,3. O nível de prática desportiva foi a variável que teve mais peso no ensino secundário. Os praticantes possuem valores médios mais elevados do que os não praticantes. Não encontramos diferenças significativas entre os alunos do secundário do género masculino e feminino, nem entre praticantes e não praticantes. Não encontramos diferenças significativas na variável género no ensino secundário, em relação a concentração.
Discussao dos resultados
Através deste estudo, pretendemos caracterizar e comparar os níveis de concentração dos alunos do ensino básico e secundário. Não foi nossa intenção utilizar a variável idade porque a diferenciação entre básico e secundário permite esse estudo. Os alunos do ensino básico tem entre 12 e 15 anos e do ensino secundário entre os 16 e os 20 anos.
Adicionalmente, o estudo procurou caracterizar a concentração dos alunos e comparar os resultados obtidos entre diferentes variáveis e ainda, definir estratégias para melhorar a concentração dos alunos ligadas ao contexto desportivo ou desenvolvidas no contexto escolar.
A nossa amostra foi constituída por 178 alunos dos quais 126 pertencentes ao ensino secundário e 52 pertencentes ao ensino básico. O teste que aplicámos caracteriza-se por ser uma prova de percepção e atenção. É um instrumento que, através dos estudos realizados, vai definindo patamares que os alunos que o realizam devem alcançar.
Os nossos alunos obtiveram valores médios de 157,6. Se tivermos em conta que estamos perante alunos dos 12 aos 20 anos, parece-nos um resultado médio não muito satisfatório.
Quando analisamos melhor esses dados, percebemos que a maioria dos alunos encontra-se com valores entre os 128 e os 200, o que corresponde ao percentil 50 da escala elaborada por Toulouse – Pieron .
Encontramos ainda, 21 alunos com percentil até 45, o que se revela preocupante, apesar de serem os alunos do ensino básico os que possuem esses valores mais baixos. Segundo o estudo de Navas, M (1986), existe um forte crescimento dos resultados a partir dos 13, 14 anos. Isto explica a razão de encontrarmos 34 alunos com valores acima dos 200, o que significa percentil acima dos 97. A explicação para estes resultados pode ser uma entre muitas: a falta de treino da concentração desde o primeiro ciclo ou a fraca estimulação dos alunos nesta área nas suas escolas.
Como podemos observar, a percentagem de alunos que pratica desporto é muito inferior à percentagem daqueles que não praticam desporto. Sentimos que esta questão tem vindo a acontecer, e pode dever-se a diferentes factores relacionados com a sociedade actual em que estamos inseridos.
O estudo não mostra diferenças significativas entre alunos praticantes e não praticantes em relação ao ensino básico, e em relação ao ensino secundário. Estes resultados mostram-nos que, de alguma forma, os praticantes não estão a ser bem direccionados ou também pode ser os professores que estão a conseguir exercitar os níveis de concentração dos alunos. Os valores, ao nível dos não praticantes, são ligeiramente mais elevados do que aqueles encontrados para os alunos praticantes.
No entanto, quando comparamos os praticantes com os não praticantes, os níveis de concentração são muito semelhantes, revelando-se ligeiramente superiores nos alunos não praticantes, não originando diferenças estatisticamente significativas. Estes resultados demonstram alguma oposição aos estudos encontrados, na medida em que na sua grande maioria, demonstram-nos o contrário.
Apesar deste facto ao nível do nosso estudo, percebemos que, se os alunos praticantes não realizassem actividade desportiva, provavelmente teriam valores ainda mais baixos, segundo os resultados da maioria dos estudos que consultámos. No entanto, talvez o desporto que praticam, não esteja correctamente direccionado. Segundo Torok & Bueno (1983), a prática da modalidade de ténis, por exemplo, exige uma concentração e atenção que, podem tornar-se um bom pressuposto para as actividades teóricas relacionadas com as disciplinas escolares, mas tem que ser bem orientada.
Os níveis de concentração dependem do tipo de solicitações, bem como das estimulações e treino ocorridos. Dependem de numerosos factores internos e externos. No entanto, a prática desportiva bem orientada pode promover várias alterações e benefícios dos níveis de concentração do praticante.
Roca (2007) realizou um estudo que procura avaliar a concentração mental em jogadores de futebol de uma equipa de juvenis de Mendonça, e a variação dessa concentração, com as características do posto táctico e a idade cronológica que possuem. Utilizou o teste de avaliação da concentração mental de Toulouse – Pieron (prova perceptiva de atenção). Os resultados mostraram que há diferenças no nível de concentração mental em relação ao posto táctico, sendo esses valores mais elevados nos jogadores defensivos. O nível de concentração mental também varia com a idade, sendo mais elevada nos jogadores mais velhos e diminuindo nos jogadores com 18 anos.
No entanto, Holder (2004) realizou um estudo com rapazes que praticam futebol no colégio, e não encontrou diferenças significativas ao nível da concentração, entre os grupos experimentais e o grupo de controlo no grid exercice.
A comparação dos valores médios de concentração em relação ao género mostram um resultado mais elevado no género feminino relativamente ao género masculino, apesar das diferenças encontradas não serem significativas. A explicação para esse valor mais elevado do género feminino, pode encontrar-se num estudo que define percentis diferentes para rapazes e raparigas, sendo mais exigente para estas últimas. Talvez isto aconteça, porque as raparigas estão numa fase de maturação superior aos rapazes, o que, de alguma forma, influencia as capacidades psicológicas.
Apesar dos estudos não referirem estes aspectos sabemos que a concentração é igualmente desenvolvida no género masculino e feminino.
Em relação à comparação dos valores médios de concentração entre o ensino básico e o ensino secundário, encontramos valores mais elevados no ensino secundário, apresentando diferenças significativas. Neste nível de ensino, os alunos praticantes apresentam um valor mais elevado do que os alunos não praticantes.
Estes dados estão de acordo com o resultado global já apresentado de que os não praticantes têm um valor médio mais elevado, e também com o estudo de Roca (2007) que mostra existir um aumento dos níveis de concentração entre os 13 e os 17 anos e uma redução aos 18 anos.
Relativamente aos resultados obtidos pelos alunos do ensino básico, a explicação também pode ser a falta de estimulação dos alunos em etapas anteriores das capacidades psicológicas e neste caso, a concentração.
Os alunos no ensino básico que, ao nível do nosso estudo, possuem níveis de concentração menos elevados, poderão não ter tido oportunidade de desenvolver esta característica psicológica, pelo que, deverão procurar actividades bem orientadas que os ajudem neste sentido. Já referimos várias técnicas e modalidades, como o ténis e o xadrez, que poderão contribuir para elevar os níveis de concentração.
Não encontrámos diferenças significativas em relação ao género. Pensámos que, ao nível do ensino básico, poderíam haver diferenças pois as alunas estão numa fase de maturação biológica mais elevada o que lhes permitiria encontrarem mais estabilidade psicológica.
Os nossos dados revelaram um pouco inesperados. Encontrámos um valor médio mais elevado nos praticantes do género masculino, relativamente ao género feminino, no ensino básico, apesar das diferenças existentes não serem significativas.
Ao nível dos alunos não praticantes, o género masculino também possui um valor médio mais elevado relativamente ao género feminino. Isto significa que, apesar de não existirem diferenças significativas, o género masculino pode estar mais desenvolvido, porque tiveram maiores estimulações dos processos de atenção anteriormente, ou porque a prática desportiva está bem direccionada, ajudando-os ao nível do desenvolvimento da concentração.
O valor médio mais elevado alcançado pelos praticantes reflecte o valor médio dos praticantes femininos, na medida em que foi mais elevado, relativamente aos praticantes do género masculino.
No entanto, quando comparamos os não praticantes em relação ao género encontramos um resultado muito parecido. As raparigas continuam a exibir valores médios mais elevados relativamente aos rapazes. Apesar destas diferenças também não serem significativas. Essa diferença das praticantes femininas pode estar relacionada com os processos de treino.
No que se refere ao estudo que aqui desenvolvemos, em suma, ao nível da variável concentração, pensamos que o nosso estudo forneceu um contributo importante para um melhor conhecimento desta variável no contexto em que foi desenvolvido.
Consideramos fundamental a existência de um maior número de estudos relacionando atletas e alunos das escolas.
Ao nível da investigação parece-nos que foi dado um contributo para a compreensão dos níveis de concentração dos alunos das escolas. Mais estudos devem ser realizados a este nível e muito importante será comparar os níveis de concentração destes alunos com alunos de escolas diferentes.
Ao nível do ensino, consideramos este estudo importante para que os professores encontrem estratégias de rentabilizar os níveis de concentração dos alunos e as suas prestações.
Os professores queixam-se habitualmente que os alunos estão distraídos, mas não desenvolvem estratégias direccionadas para promover uma melhoraria dessas dificuldades de concentração, como a utilização de actividades/ modalidades ou situações como por exemplo o xadrez, que tal como já foi referido, ajuda muito a desenvolver a concentração dos alunos e consequentemente, promove o desempenho escolar.
Ao nível da formação, pensamos que este estudo mostra a importância que um psicólogo desportivo/ geral pode ter na performance de um atleta ou de um estudante. Como não temos psicólogos do desporto nos clubes e nem sempre, temos psicólogos na escola, têm que ser os treinadores e os professores a realizarem tarefas de incremento dos níveis de concentração, nos treinos e na escola, respectivamente.
As características psicológicas são fundamentais no sucesso desportivo ou escolar, pois interferem na prestação do atleta ou do aluno. Ao nível escolar, é uma preocupação constante dos professores as dificuldades que observam nos alunos por comportamentos de distracção. Desta forma, consideramos a concentração como uma das características psicológicas mais importantes no sucesso desportivo e escolar. Ficou demonstrado que as estratégias utilizadas no desporto devem ser realizadas e adaptadas para os alunos. Adicionalmente, a prática desportiva bem direccionada, eleva os níveis de concentração dos alunos.
Os objectivos do nosso estudo propostos foram atingidos. Conseguimos caracterizar os níveis de concentração da nossa população, encontrando-se os mesmos nos valores médios.
Comparámos a nossa população em relação ao nível de ensino, ao género e ao nível de prática, tendo obtido diferenças significativas apenas entre os alunos do ensino básico e os alunos do ensino secundário. Desta forma, apenas se confirmou a hipótese 3.
Finalmente, o nosso estudo permitiu definir um conjunto de ferramentas pedagógicas que podem ser utilizadas pelos professores para elevarem os níveis de concentração dos alunos.
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