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A responsabilidade social do professor de Educação Física frente à

violência de gênero no contexto da educação física e dos esportes

La responsabilidad social del profesor de Educación Física frente a la 

violencia de género en el contexto de la educación física y de los deportes

Social responsibility of the teacher of Physical Education ahead to 

gender violence in the context of physical education and sports

 

Professora do Curso de Educação Física da ULBRA/SM

Especialista em Pesquisa: Aprendizagem Motora pela UFSM

Mestre em Desenvolvimento Humano: Psicologia do Esporte pela UFSM

Doutora em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS

Maria Cristina Chimelo Paim

crischimelo@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi investigar a representação social da violência contra a mulher no contexto esportivo, entre os acadêmicos de Educação Física da ULBRA Santa Maria e como o Curso de Educação Física capacita seus alunos para lidarem com situações de violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte. Os dados foram coletados através de questionário realizados com 20 acadêmicos de Educação Física da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/SM), sendo 12 acadêmicos de Educação Física do sexo feminino e 8 acadêmicos de Educação Física do sexo masculino. Esses acadêmicos estavam cursando o sexto ou sétimo semestre do curso. Os resultados revelaram que para os participantes do estudo, há a presença da violência de gênero quando: há diferença de salários entre homens e mulheres que praticam o mesmo esporte; há menor número de mulheres dirigentes e comentaristas esportivos; quando as mulheres são menos estimuladas; quando há piadas envolvendo as mulheres que praticam esportes; quando o preconceito e os estereótipos de gênero limitam a participação da mulher do contexto dos esportes; quando o professor separa os meninos das meninas na aula de Educação Física; quando uma menina é assediada sexualmente em função do esporte da qual pratica, entre outros. Para os acadêmicos é papel da Universidade alertá-los sobre temas polêmicos e desconhecidos da população em geral, pois acreditam que trabalhar uma temática como a violência de gênero, requer um processo contínuo de transformação das mentalidades tanto daqueles que ofendem, como também, daquelas que sofrem as humilhações.

          Unitermos: Violência de gênero. Representação social. Educação Física

 

Abstract

          The aim of this study was to investigate the social representation of violence against women in the sporting context, among students Physical Education ULBRA Santa Maria and as the Physical Education Course enables students to deal with situations of gender violence in the context of Physical Education and Sport. Data were collected through a questionnaire conducted with 20 students of Physical Education, Lutheran University of Brazil (ULBRA / SM), 12 physical education students were female and 8 students of Physical Education were male. These scholars were attending the sixth or seventh semester of the course. The results showed that the participants of the study is the presence of gender violence when: there is difference in wages between men and women who practice the same sport, there are fewer women leaders and sports commentators, when women are less encouraged; when there are jokes involving women who play sports, when prejudice and gender stereotypes limit women's participation in the context of sports, when the teacher separates the boys from the girls in the Physical Education class, when a girl is sexually harassed on the basis sport practices which, among others. For the academic role of the University is alert them of controversial issues and unknown to the general population, because they believe that working with a subject as gender violence, requires a continuous process of transformation of mentalities both those that offend, and also those who suffer the humiliation.

          Keywords: Gender violence. Representation. Physical Education

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    No século XXI, a educação surge como uma alternativa para o desenvolvimento pleno do indivíduo e da sociedade. Ela deve permitir ao sujeito construir uma vida cidadã, desenvolver as competências exigidas no mercado de trabalho, e possibilitar uma releitura do processo de ensino-aprendizagem, enfocando a qualidade, autonomia, a práxis cotidiana e o entendimento crítico e político do todo.

    Dessa forma percebe-se que a universidade inserida nesse contexto da educação e que visa à qualidade de ensino, se compromete com docentes que tentam garantir que seus estudantes e ele próprio aprendam a aprender. Num mundo em que a velocidade das transformações sociais e tecnológicas é quase alucinante, aprender a aprender é requisito insubstituível do cidadão, que precisa ter uma leitura de mundo, capaz de atuar criticamente na sociedade na qual se insere. Assim o grande desafio para o docente garantir qualidade de ensino, é ser capaz de motivar, estimular e acreditar em expectativas cada vez mais altas em relação ao ser humano. Pois, percebe-se que a educação de qualidade deve possibilitar que os seres humanos sejam inseridos no contexto social de forma reflexiva, facilitando o entendimento das problemáticas atuais e os ajudando na construção das habilidades e das competências necessárias ao mercado de trabalho.

    Dentre os diferentes contextos que a Universidade deve estar preparada para capacitar seus alunos a interagir, enfrentar e modificar realidades, um deles diz respeito à violência.

    A violência é uma realidade tão antiga quanto à humanidade. Está atrelada à “necessidade“ de poder, que é exercido contra o considerado mais fraco; contra a minoria ou, às vezes, contra a maioria, no caso do poder político, esportivo e religioso, transformando-se em alguns casos em fanatismos e radicalismos. O presente estudo focaliza a violência como parte das ações de homens e mulheres, portanto, como um fenômeno gerado nos processos sociais, históricos e culturais.

    Essa idéia de que a violência não faz parte da natureza humana, e sim, de que se trata de um complexo e dinâmico fenômeno biopsicossocial, que tem na vida em sociedade, seu espaço de desenvolvimento, é idéia quase unânime entre os pesquisadores, nesta perspectiva recorro a Minayo (1998) para sustentá-la, visto que nessa perspectiva a violência torna-se um fenômeno psicológico, histórico, político e cultural, bastante complexo (WERBA, 2004).

    A palavra violência vem do latim vis, que significa força, vigor, potência, violência, emprego de força física, mas também quantidade, abundância, essência ou caráter essencial de uma coisa (MICHAUD, 1989 e ZIMERMAN, 2000). De acordo com Chauí (1998), violência é todo ato de força contra a natureza de algum ser, sendo que esta pode ser contra a espontaneidade, contra a vontade e contra a liberdade de alguém; ou de violação da natureza de alguém ou de algo valorizado por uma sociedade; de transgressão de valores, entre outros. É, portanto, um ato de brutalidade, de abuso físico e ou psíquico contra alguém e caracteriza relações sociais calcadas pela opressão, preconceito e intimidação, pelo medo, pelo terror.

    Para a Asociación pro Derechos Humanos (1999), violência é uma forma de exercício de poder mediante o empenho da força física ou psicológica. Esse jogo de poder implica altos e baixos, fatos e símbolos, onde habitualmente exterioriza-se sob a forma de papéis que se complementam: pai-filho, homem-mulher, professor-aluno, patrão-empregado, jovem-velho, etc. Werba (2004) cita como exemplos mais comuns de violência, os atropelamentos, as agressões físicas, os assaltos, os seqüestros, os assassinatos, as torturas corporais, os estrupos, as guerras, etc, todos esses configurando a violência física.

    Mas além da violência física, presenciamos outros tipos de violência, como é o caso da violência psicológica, da violência verbal, da violência simbólica e da violência de gênero. Esses tipos de violência da mesma forma acarretam agressões, porém, com danos às vezes maiores. De acordo com a Rede Saúde (2001), violência psicológica é toda ação ou omissão que causa ou visa dano à identidade ou ao desenvolvimento de uma pessoa; já a violência simbólica de acordo com Werba (2004), tem o poder de construção da realidade, que tende a estabelecer o sentido imediato do mundo, em particular do mundo social e a violência de gênero pode acontecer em um ou em todos os tipos de violência citados, e se materializa toda vez que, a mulher ou o homem forem vítimas de ofensas, piadas, palavrões e através de manifestações de preconceitos e discriminações (STREY, 2004).

    A violência de gênero se estabelece como o cerne das relações de poder existentes entre homens e mulheres, crianças, adultos e idosos. Constitui-se como o reflexo das relações de denominação e de opressão que transformam as desigualdades sociais, econômicas, políticas em exclusão (STREY, 2001). A violência de gênero se faz presente em quase todas as ações humanas como: na política, nas leis, no mercado de trabalho, nas idéias vinculadas a mídia, na família, na escola, na economia, no esporte, etc. (PAIM, 2007; 2008). No presente estudo enfocaremos a violência de gênero contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte.

    De acordo com Paim & Strey (2007), a participação das mulheres no esporte, tanto no esporte de lazer, como no esporte educacional ou de rendimento merece nossa atenção e reconhecimento, pois nem sempre foram, e ainda não são iguais as condições de acesso e participação, quando comparada aos homens. Nesse caso quando os estereótipos ou preconceitos de gênero atacam direta e individualmente as mulheres, ferindo-as psicologicamente, transformando-se em obstáculo e impedimentos para participação e progressão da mulher em qualquer terreno esportivo, estamos diante de um quadro de violência, neste caso a violência de gênero.

    Face ao exposto ressalta-se a importância de realizarmos estudos desta natureza, pois ao abordamos este tipo de questionamento relacionado com a prática de esporte pelas mulheres, estaremos alertando as pessoas, aqui incluo (os acadêmicos de Educação Física, os profissionais de Educação Física nas escolas e clubes, os atletas e o público em geral) de um grave problema social no contexto esportivo e da Educação Física, pois o que vemos é que em muitos casos esses estereótipos, preconceitos e discriminações, ou seja, essa violência de gênero se encontra tão enraizada em nossa sociedade, ainda bastante “machista”, que passa despercebida pela maioria das pessoas, tornando-se algo comum ou culturalmente aceito como correto, não sendo encarada como violência (PAIM, 2007; 2008).

    Desta forma elegeu-se como foco de pesquisa investigar a representação social da violência contra a mulher no contexto esportivo, entre os acadêmicos de Educação Física da ULBRA Santa Maria e como o Curso de Educação Física capacita seus alunos para lidarem com situações de violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte.

Caminhos percorridos

     Este estudo se encontra ancorado na abordagem de pesquisa qualitativa. Silva (2004), diz que a pesquisa qualitativa é particularmente útil para investigar questões ligadas à vida das pessoas e aos significados que as mesmas atribuem ao mundo. Os dados foram coletados através de questionário realizados com 20 acadêmicos de Educação Física da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/SM), sendo 12 acadêmicos de Educação Física do sexo feminino e 8 acadêmicos de Educação Física do sexo masculino. Esses acadêmicos estavam cursando o sexto ou sétimo semestre do curso.

     A aplicação do questionário aconteceu no decorrer da disciplina de Psicologia da Atividade Física e do Esporte, portanto esses acadêmicos já tinham conhecimento prévio do assunto abordado. Antecedendo a realização do questionário foi informado o objetivo da pesquisa, apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e solicitada à leitura e assinatura do mesmo, como forma de consentimento da participação. O sigilo e anonimato foram garantidos de modo a preservar a identidade dos (as) participantes. Para a apresentação das falas dos (as) atletas, foram utilizados nomes fictícios, onde foi feita uma homenagem a atletas brasileiros, praticantes de diferentes modalidades esportivas ao longo da história do esporte brasileiro. A pesquisa teve aprovação da Coordenação de Curso e de Pesquisa da ULBRA/SM.

     Os questionários foram respondidos individualmente e após foi feito o levantamento dos temas, e para cada um desses temas foram extraídas as falas correspondentes nos textos. Os temas selecionados foram avaliados e resumidos até formarem núcleos de sentidos, que deram origem a categorias. Realizamos o levantamento e análise de conteúdo dos 20 questionários realizados com base em (BAUER, 2003; BAUER, GASKEL & ALLUM 2003; SETÚBAL, 1999; KUDE, 1997 e BARDIN, 1991).

Resultados e discussões

    Os dados foram agrupados em duas categorias: Como percebem a violência de gênero contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte; Como o profissional da Educação Física pode contribuir para a diminuição da violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte e qual o papel da Universidade nesse processo de formação. Alguns de seus relatos encontram-se citados no decorrer da leitura.

1.     Como os acadêmicos percebem a violência de gênero contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte

  Quando questionamos os acadêmicos sobre como eles percebem a representação da violência contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte percebemos no decorrer das aulas de Psicologia da Atividade Física e do Esporte, em um primeiro momento que os participantes não tinham uma representação social clara do que seria a violência de gênero no contexto esportivo, sendo que alguns deles nunca tinham ouvido nada a respeito do tema de estudo. Foi no decorrer das aulas que o tema foi surgindo e aos poucos os participantes começaram a revelar a suas percepções e vivências a respeito da violência de gênero no contexto esportivo. Assim quando os acadêmicos responderam o questionário todos já tinham entendimento do tema de estudo.

    Com base nesse relato conseguimos verbalizar a representação que os acadêmicos tem da violência contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte, assim há a presença da violência de gênero quando: ha grande diferença de salários entre homens e mulheres que praticam o mesmo esporte, por exemplo, os baixos salários das atletas da Seleção feminina de futebol, quando comparado aos altos salários da Seleção masculina de futebol; há menor número de mulheres dirigentes e comentaristas esportivos; quando as mulheres são menos estimuladas, tanto na família, na escola, a praticarem da Educação Física e dos esportes do que os homens; quando há piadas envolvendo as mulheres que praticam esportes, quer seja em função do seu corpo musculoso, quer seja em função do seu gênero; quando o preconceito e os estereótipos de gênero limitam a participação da mulher do contexto dos esportes; quando o professor separa os meninos das meninas na aula de Educação Física; quando uma menina é assediada sexualmente em função do esporte da qual pratica entre outros, como podemos observar na fala dos acadêmicos:

    “Infelizmente no futebol ou futsal bah! Eu acho que a sociedade ainda vê a presença da mulher de uma maneira preconceituosa, discriminatória e estereotipada. Percebo muitos comentários indevidos, por parte tanto de homens como de mulheres. O futebol ainda é o reduto do homem brasileiro.” (Ana Paula, 22 anos)

    "Eu era e ainda sou atleta de Futsal, adoro jogar, mas para uma mulher ser respeitada neste meio, leva muito mais tempo do que um homem. Já fui vítima de assedio por parte de minhas próprias colegas de equipe. Você imagina se não há respeito dentro da própria equipe, como vamos querer que a sociedade nos respeite. Eu jogo futebol, mas eu gosto de me relacionar com homens.” (Hortência 20 anos)

    “A questão do preconceito me assusta principalmente contra as mulheres que participavam de provas com os arremessos e levantamentos de peso, tudo em função do corpo ficar muito musculoso.” (Virna, 21 anos).

    “Os homens ganham mais, que as mulheres. Por exemplo: a seleção feminina de futebol, não tem condições de treino, seu salário é muito baixo.” (Maradona, 21 anos)

    “Lá onde eu estudava os meninos tinham equipes e disputavam campeonatos escolares, a as meninas só jogavam se tinham vontade mesmo, porque o professor não exigia nem que elas fizessem aula de Educação Física, a aula era dividida por sexo e nada era desenvolvido com as meninas” (Rivelino, 22 anos).

  A partir da análise dessas falas, percebe-se que a inserção social das mulheres no contexto da Educação Física e dos Esportes, é um processo lento que começou há pouco tempo, face ao longo período em que lhes eram impostas condições de submissão, reclusão e impotência. A sociedade deve se conscientizar de que as mulheres mudaram, e que as organizações sociais devem acompanhar essa evolução. Pois na visão dos participantes do estudo é muito bom ver essa integração de homens e mulheres no esporte.

    Ao abordar a relação de gênero e a prática esportiva, tentamos comparar as condições de participação da mulher em diferentes ambientes esportivo com a dos homens, o que se percebe é que as mulheres em muitos casos são impedidas ou melindradas de se envolverem na prática de atividades físicas e esportivas, ocorrendo em alguns casos um processo de seleção para a prática de determinados esportes em favor dos homens em maior proporção. Essa realidade não é conseqüência apenas dos aspectos biológicos entre os dois gêneros envolvidos, mas sim dos atributos e preconceitos de gênero culturalmente construídos dentro da nossa sociedade ainda excludente e preconceituosa. Com essa realidade, percebe-se que a mulher sofre, apesar de não ser de forma de contato físico, a violência constantemente. A violência de gestos, de negação, de falta de incentivo, discriminação sexual, a manipulação de imagens, a falta de estímulos para a prática, a violência verbal e psicológica, realizada na maioria das vezes com a presença de ofensas, piadas, palavrões e através de manifestações de preconceito, o que vem configurando, como já citado anteriormente a violência de gênero.

    Percebe-se também, que os estereótipos, preconceitos e discriminações que permeiam a representação social da violência de gênero contra a mulher no contexto da Educação Física e dos Esportes, em muitos casos, são gerados no próprio meio e pelos próprios praticantes, revelando-se como um tipo de violência silenciosa, que na maioria dos casos passa despercebido pela sociedade, inclusive por quem vivencia a atividade física. Daí a importância de serem revelados, estudados, enfrentados e denunciados.

    O contexto dos esportes de rendimento, de acordo com Shinabargar (1989); Cecchetto (2004) e Saraiva (2005) oferece um dos últimos redutos de exercício de masculinidade, pois nesse contexto, ainda é permitido, exercer demonstrações de força, combate, rivalidade, agressividade, lealdade, competitividade, entre outros, os quais são traços idealizados com masculinos.

2.     Como o profissional da Educação Física pode contribuir para a diminuição da violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte e qual o papel da Universidade nesse processo de formação

    Quando questionamos os acadêmicos sobre como o profissional da Educação Física pode contribuir para a diminuição da violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte percebemos que os acadêmicos tem consciência de seu grande papel social no contexto da Educação Física e dos Esportes em se tratando ao combate a violência de gênero. Os acadêmicos relataram que as ações não são poucas e também não é nada fácil mostrar as pessoas, alunos, colegas que determinadas atitudes, comportamentos, gestos e palavras que usamos, está caracterizando a violência de gênero. Isso porque, muitas pessoas desconhecem esse tipo de violência, dificultando assim sua intervenção. Os acadêmicos relataram também que trabalhar uma temática como a violência de gênero, requer um processo continuado e cotidiano de transformação das mentalidades tanto daqueles que ofendem, como também, daquelas que sofrem as humilhações, como podemos observar na fala dos acadêmicos:

    "Para acabar com a violência contra a mulher no contexto esportivo não vai ser fácil, eu acredito que somente através de um sistema de ensino de qualidade alcançaremos sucesso” (Jaqueline, 21 anos)

    “Teremos um árduo trabalho pela frente, pois teremos que mudar mentes.” (Pelé, 20 anos)

    “Acho que todo o acadêmico deve passar pela cadeira de Psicologia do Esporte, pois é nela que eu conheci e comecei a entender esse tipo de violência que tanto males acarreta nos seres humanos.” (Negrão, 23 anos)

    “Acho que podemos começar com pequenas ações como o exercício do respeito e da liberdade de escolha.” (Fofão, 20 anos)

    “Penso que devemos organizar a nossa práxis pedagógica de forma mista, proporcionando aos alunos o exercício da interação, do coleguismo, da cooperação.” (Maurício, 21 anos)

    “Acho que um trabalho em conjunto com toda a comunidade escolar, professores, alunos, coordenação e direção poderá favorecer o combate à violência de gênero.” (Virna, 23 anos)

    A partir da análise dessas falas, percebe-se que será necessário um esforço conjunto da sociedade para reverter esse quadro de violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte, visto que estamos diante de um problema socialmente e culturalmente construído o qual deve ser desconstruído e resignificado, pois essas desigualdades entre os gêneros no esporte, não configura a essência dos seres humanos.

    Fora as atribuições já citadas anteriormente, contribuintes para a existência da violência de gênero na prática esportiva, percebe-se que a relação da prática pedagógica nas aulas de Educação Física Escolar torna-se um elemento importante neste tema. As questões de gênero permeiam diversas instancias social, inclusive no contexto escolar. A separação por sexo dos discentes nas aulas de Educação Física, por exemplo, torna-se padrão de exclusão na relação de determinadas atividades por ambas as partes. Essa separação acarreta a construção de estereótipos de gênero e a limitação dos conteúdos para os sexos.

     Uma alternativa para que as relações de gênero, no cenário da Educação Física e dos Esportes se tornem mais justas e humanas, de acordo com Paim (2009), somente acontecerá quando, as instituições de ensino, e em especial os professores e professoras de Educação Física se conscientizem de que não existem atividades físicas masculinas, ou femininas, e sim atividades físicas, que proporcionam as crianças e adolescentes, a vivência rica de movimentos corporais.

    A escola é o lugar da sociedade que deve permitir ao indivíduo o acesso às manifestações culturais e a participação na construção de uma cidadania democrática, e dentro deste contexto, a aula de Educação Física, é o lugar ideal para se promover essas mudanças. Assim acredito que é papel da Universidade promover debates, seminários, trabalho investigativo de campo, abordando essas diferenças de gênero no contexto esportivo, fazendo o acadêmico pensar e refletir sobre essas questões que dizem respeito à violência de gênero contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte, pois os acadêmicos participantes foram unânimes em responder que foi através dos conhecimentos recebidos na disciplina Psicologia da Atividade Física e dos Esportes que entraram em contato com um problema social, bastante sério, mas ainda pouco discutido no contexto da Educação Física e dos Esportes, fato esse que consideraram ser de extrema importância para a sua formação profissional de qualidade.

Considerações finais

    O objetivo do presente estudo foi investigar a representação social da violência contra a mulher no contexto esportivo, entre os acadêmicos de Educação Física da ULBRA Santa Maria e como o Curso de Educação Física capacita seus alunos para lidarem com situações de violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte.

     Quando questionamos os acadêmicos sobre como eles percebem a representação da violência contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte percebemos que em um primeiro momento muito deles não tinham um entendimento do assunto, mas durante as aulas da disciplina de Psicologia da Atividade Física e do Esporte, tiveram a oportunidade de conhecer e debater esse tema. A partir desse relato conseguimos perceber a representação que os acadêmicos tem da violência contra a mulher no contexto da Educação Física e do Esporte. Para os participantes do estudo, há a presença da violência de gênero quando: há diferença de salários entre homens e mulheres que praticam o mesmo esporte; há menor número de mulheres dirigentes e comentaristas esportivos; quando as mulheres são menos estimuladas, tanto na família, na escola, a praticarem da Educação Física e dos esportes do que os homens; quando há piadas envolvendo as mulheres que praticam esportes; quando o preconceito e os estereótipos de gênero limitam a participação da mulher do contexto dos esportes; quando o professor separa os meninos das meninas na aula de Educação Física; quando uma menina é assediada sexualmente em função do esporte da qual pratica, entre outros.

    Quando questionamos os acadêmicos sobre como o profissional da Educação Física pode contribuir para a diminuição da violência de gênero no contexto da Educação Física e do Esporte percebe-se que os acadêmicos tem consciência de seu papel social no contexto da Educação Física e dos Esportes em se tratando ao combate a violência de gênero. Os acadêmicos relataram que as ações não são poucas e também não é nada fácil mostrar a sociedade que determinadas atitudes, comportamentos, gestos e palavras que são usualmente utilizadas, caracteriza um tipo de violência, no caso a violência de gênero. Isso porque, muitas pessoas desconhecem esse tipo de violência, dificultando assim sua intervenção. Os acadêmicos relataram também que é papel da Universidade alertá-los sobre esses temas polêmicos e desconhecidos da população em geral, pois acreditam que trabalhar uma temática como a violência de gênero, requer um processo contínuo de transformação das mentalidades tanto daqueles que ofendem, como também, daquelas que sofrem as humilhações. E esse é um esforço necessário para que atinjam a excelência no exercício da docência em Educação Física em diferentes contextos sociais aos quais estão inseridos.

Referencial teórico

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