Comparação entre variáveis psicofisiológicas e técnicas em triathletas com e sem o uso da roupa de neoprene Comparación entre variables psicofisiológicas y técnicas en triatletas con y sin uso de ropa de neoprene |
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*Graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná Acadêmica do Curso de Pós-Graduação em Atividades Aquáticas Mestranda em Atividade Física e Saúde **Graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná Mestranda em Atividade Física e Saúde ***Graduado em Educação Física pela Faculdade Integrada de Guarulhos Especialista em Fisiologia do Treinamento Desportivo Mestre em Engenharia. Doutorando em Educação Física |
Karini Borges dos Santos* Larissa Rosa da Silva** Paulo Cesar Barauce Bento*** (Brasil) |
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Resumo A utilização da roupa de neoprene em provas de triathlon vem aumentando com a popularidade deste esporte. O objetivo desse estudo foi verificar os efeitos do uso da roupa de neoprene em triathletas, comparado ao uso de vestimentas convencionais nas variáveis cinemáticas e psicofisiológicas. Participaram do estudo 8 triathletas experientes, do sexo masculino, com idades entre 15 e 37 anos. Foram mensurados: peso, estatura e envergadura. Os atletas realizaram duas repetições máximas de 400 metros e duas submáximas, com e sem o uso da roupa de neoprene. Foram comparadas a velocidade média, comprimento de braçada, freqüência de braçada, índice de nado, percepção subjetiva de esforço, freqüência cardíaca, e concentração de lactato sanguíneo. Utilizou-se a estatística descritiva e inferencial (teste de Wilcoxon) significativo a 5%. Em prova máxima, os triathletas foram capazes de nadar a uma intensidade de 107% com o uso do material, com velocidade média e índice de nado significativamente aumentados em 6% e 15% respectivamente, sem diferenças na percepção subjetiva de esforço, freqüência cardíaca e concentração de lactato sanguíneo. Em intensidade submáxima os sujeitos, com o uso da roupa de neoprene, apresentaram uma menor freqüência de braçada e maior comprimento de braçada e índice de nado. Todas as variáveis psicofisiológicas apresentaram diminuição com o uso do material, mas somente para a percepção de esforço e concentração de lactato essas foram significativas (p<0,05). Os resultados sugerem efeitos positivos no desempenho dos nadadores, tanto em velocidade controlada, quanto em velocidade máxima, devido à utilização da roupa de neoprene. Unitermos: Neoprene. Rendimento. Triathleta |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009 |
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Introdução
Antes do surgimento das piscinas, a natação costumava ser praticada em praias, rios e lagos. Naquela época, a competição resumia-se em desafiar a natureza e superar os limites do homem (STURION, 2004). Sua evolução, no entanto, levou a modalidade, a fazer parte de um esporte competitivo bastante difundido nos dias de hoje, o chamado “Triathlon”. Desde então, práticas e estratégias cada vez mais específicas começaram a fazer parte deste contexto no intuito de alcançar os melhores índices de obtenção e superação de resultados.
Por se desenvolver em um meio físico com características mecânicas específicas, a natação acaba por colocar problemas igualmente específicos ao nadador. Caputo et al (2001) afirma, que fatores biomecânicos podem apresentar maior influencia no desempenho do atleta que sua própria capacidade de produção e liberação de energia para o deslocamento. Assim, é crescente o interesse em avaliações de variáveis determinantes do desempenho técnico do nado. Castro et al (2005) cita que as variáveis de avaliações objetivas mais utilizadas pelos treinadores e atletas são as de comprimento de braçada, freqüência média de braçada, velocidade média de nado, e índice médio de nado.
Outras formas válidas como meio de avaliação para o rendimento da modalidade, relacionam-se com fatores psíquicos, como “percepção subjetiva de esforço”, pela escala de Borg (2000), ou ainda, por fatores fisiológicos, como freqüência cardíaca máxima e lactato sanguíneo.
Vilas-Boas (2001), ao expor sobre o assunto, relata que além das questões relativas ao entendimento da mecânica propulsiva e resistiva, majoritariamente numa perspectiva de aperfeiçoamento das técnicas e de definição do morfotipo ideal do nadador, há outros fatores referentes às possibilidades de minimização do efeito de variáveis passivas (não dependentes da técnica) determinantes da intensidade de força de arrasto oposta ao deslocamento do nadador, como através da técnica de raspagem ou pela utilização dos equipamentos esportivos específicos para a modalidade.
Um destes equipamentos, a roupa de neoprene, vem sendo cada dia mais utilizado por triathletas, na etapa de natação. Segundo Lucas (2000), o neoprene começou a ser utilizado seguindo o exemplo das roupas vestidas pelos surfistas e mergulhadores, que desejavam proteger-se das águas frias, diminuindo a perda de calor corporal e conseqüentemente reduzindo o risco de hipotermia. Entretanto, na natação, em adição ao efeito de isolante térmico, alguns estudos, como os de Carvalho et al (2006), Cordain e Kopriva (1991), Lowdon et al (1992), Toussaint et al (1989) e Parsons e Day (1986), vêm mostrando que este equipamento pode melhorar o rendimento do nadador. Por este motivo, em diversas provas de natação em águas abertas, acabaram-se por estabelecer um limite na temperatura da água para que se possa fazer a utilização de tal equipamento. Muitas outras provas, no entanto, não têm definido regulamentações sobre o uso da indumentária.
Apesar de se aludir que a roupa possa trazer uma melhoria de resultados, são poucos os estudos que se dedicam em quantificar seu efeito em testes submáximos, além de não estar disposto na literatura comparação entre outras variáveis para além do tempo. Desta forma, o objetivo deste estudo foi de verificar os efeitos do uso da roupa de neoprene durante a natação, em triathletas de 15 a 37 anos, experientes, nas distâncias de 400 metros, comparados ao uso de vestimentas convencionais nas variáveis cinemáticas e psico-fisiológicas. A hipótese do estudo é a de que a utilização da roupa de neoprene proporciona uma melhora significativa no rendimento dos nadadores quando comparado ao traje convencional (sunga).
Metodologia
Característica da pesquisa
Estudo Pré-experimental quantitativo (composição de um único grupo submetido a diferentes condições), transversal (coleta dos dados num único instante de tempo, obtendo um recorte momentâneo do fenômeno investigado) (THOMAS E NELSON, 2002).
Sujeitos
A amostra foi composta por 8 triatletas profissionais do sexo masculino, com idades entre 15 a 37 anos. Para fazer parte do estudo os sujeitos tinham que:
ter experiência competitiva mínima de dois anos
estar federado
assinar termo de consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos e procedimentos
Medidas antropométricas
Foram mensurados peso (P), estatura (Est) e envergadura (E) e para tanto foi utilizado os seguintes instrumentos e métodos: O P foi aferido em quilogramas (kg) em uma balança mecânica, marca Filizola®, com precisão de 100 gramas. A mensuração foi feita antes da entrada do indivíduo na piscina, em traje de banho, com o avaliado descalço, no centro da plataforma, braços ao longo do corpo, posição ortostática, de frente para o avaliador (PETROSKI, 2003).
Para mensurar a Est foi utilizado um estadiômetro tipo trena com precisão de 0,1cm que foi afixado na parede a dois metros do solo. O avaliado teve que permanecer com os pés e calcanhares unidos e, nádegas e parte superior das costas encostadas na escala. A cabeça estava posicionada no plano de Frankfort. A mensuração se deu com o avaliado em apnéia inspiratória (NORTON e OLDS, 2005).
A E foi mensurada pela distância entre o ponto dáctilo das mãos esquerda e direita (terceiro dedo) com o indivíduo em ortostase, costas em uma parede, ombros em abdução de 90º, cotovelos, punhos e dedos em extensão (NORTON e OLDS, 2005). O material usado para obtenção da medida foi uma fita antropométrica flexível de material não extensível, escala 0,1cm marca Sanny® fixada à parede perpendicular ao solo.
Índice de Massa Corporal (IMC): expresso em kg por m2 e calculado pela seguinte fórmula:
IMC (kg/m2) = ___Peso (kg)___
Estatura2 (m)
Análise cinemática
Cada participante realizou quatro simulações de provas, com distâncias de 400m, uma com intensidade máxima em traje de natação convencional (sunga), uma submáxima com o mesmo traje, e outras duas, máxima e submáxima, com a utilização da roupa de Neoprene (modelo full). O período de aquecimento foi de 10 a 15 minutos, em uma piscina de 25m, coberta e aquecida com água controlada em 29º C. Para o controle da velocidade do segundo teste submáximo, que deveria ser igual ou similar ao primeiro, utilizou-se plaquetas indicativas de tempo para cada 50m, ou seja, o atleta era orientado a nadar em determinado tempo a cada 50m, e ao realizar a passagem por essa distância, visualizava uma placa com informações dos segundos que ele realmente havia passado, possibilitando ao nadador, um reajuste de velocidade a cada parcela da prova, para no final conseguir resultado de velocidade semelhante ao da prova submáxima com traje convencional. Ficou admitido como intervalo mínimo o tempo de 20 minutos entre a realização das provas máxima e submáxima com o traje convencional e para garantia da recuperação realizou-se dosagem de lactato, só permitindo a execução do novo teste para aqueles que apresentassem concentrações menores que 4mmol/l. Para repetição das mesmas simulações com a roupa de neoprene o tempo estabelecido como mínimo foi de 24h. O intervalo pré-estabelecido como máximo foi de 40 minutos para os testes máximos e submáximos e de duas semanas entre as repetições com o equipamento. Os sujeitos foram orientados a realizar uma prova em velocidade máxima com sunga (a qual ficou padronizada como o referencial de 100%), com saídas de dentro da piscina e os tempos parciais (a cada 25m) e total, foram controlados por um cronômetro da marca Casio com precisão de centésimos de segundo e anotados posteriormente em uma ficha protocolo (Anexo 3). Foi realizado contagem manual de 3 ciclos de braçadas para posterior calculo do CB e da FB.
Determinação da freqüência de braçada (FB), comprimento de braçada (CB) e índice do nado (IN)
A FB foi calculada pelo tempo necessário para se realizarem 03 ciclos completos de braçadas (MAGLISCHO, 1999) e ficou expressa em braçadas por minuto.
De acordo com Maglischo (1999) o CB é considerado como a distância horizontal média percorrida durante a execução de um ciclo completo dos braços do nadador, sendo definido como ciclo de braçada o momento da entrada de uma mão na água até a próxima entrada da mesma mão.
Dado que a VM = FB x CB, o CB foi obtido pela divisão da VM pela FB (CAPUTO et al. 2000).
O IN foi obtido pelo produto do CB pela VM (CAPUTO et al. 2000)..
Avaliações psicofisiológicas
Percepção subjetiva de esforço (PSE)
Para avaliação da PSE os participantes foram orientados a indicar no final da prova o nível subjetivo de esforço realizado, qualificando assim, a dificuldade de realização da prova. Para tanto se utilizou à escala de Borg (2000) de 6 a 20 compreendendo, portanto 15 unidades. O índice 6 foi ancorado por Borg à expressão “sem nenhum esforço”, o 13 como um exercício “um pouco intenso” e o 20 como um tipo de esforço “máximo absoluto”.
Freqüência cardíaca (FC)
Durante a realização das provas foi realizado a mensuração da FC por um monitor de FC da marca Polar modelo F1.
Análise do lactato sanguíneo (LAC)
Foram considerados os procedimentos indicados por Maglischo (1999), através da coleta de uma amostra de 5 a 25 microlitros de sangue, retirada da ponta do dedo. Esta coleta foi realizada um minuto após cada prova e analisada em analisador portátil de lactato modelo Acusport. Para a coleta de sangue foi utilizado um lancetador (modelo caneta), lancetas descartáveis e tiras reagentes para dosagem de LAC.
Análise estatística
Este estudo teve como variável independente a utilização da roupa de Neoprene e como variáveis dependentes as respostas para CB, FB, IN, escala de Borg, FC e LAC.
Foi realizada estatística descritiva (médias e desvios-padrão) e estatística inferêncial (comparação entre as médias) pela utilização do teste de Wilcoxon com nível de significância em 0,05.
Resultados e discussões
Os dados apresentados na tabela 1 caracterizam a amostra. Observa-se uma média de envergadura (175,62 cm) um pouco maior que a da estatura (174,75 cm), acarretando em um índice para razão E/Est maior que 1, característica importante para o desempenho na natação, visto que, maiores medidas de envergadura permitem um maior desenvolvimento de força propulsiva (PRESTES et al, 2006), e um índice de massa corporal dentro dos preditos normais (ACSM, 2006).
Tabela 1. Médias e desvios padrão de massa corporal total, estatura, envergadura e índice de massa corporal
|
P (kg) n=8 |
Est (cm) n=8 |
E (cm) n=8 |
IMC n=8 |
Média |
67 |
174,75 |
175,62 |
21,87 |
DP |
± 9,05 |
± 4,80 |
± 5,73 |
± 2,04 |
Peso (P), Estatura (Est), E (envergadura)
A tabela 2 apresenta as médias e devios padrão da intensidade relativa do esforço. A intensidade máxima com a utilização da sunga de lycra ficou padronizada como o referencial, intensidade de 100%. O resultado obtido para o teste máximo com a utilização da roupa de neoprene apresentou intensidade de aproximadamente 107% do referencial, enquanto que os testes submaximo com lycra e submáximo com o neoprene foram realizados respectivamente a 91,2% ± 1,87 e 91,58% ± 1,98 em relação ao máximo estabelecido.
A diferença percentual entre os testes máximos correspondeu em média a uma diminuição de 19 segundos no tempo total de realização da prova. Outros achados como os de Carvalho et al (2006), Cordain e Kopriva (1991) e Lowdon et al (1992) já vinham apontando uma melhoria de resultado com o incremento da roupa. No estudo do Carvalho et al (2006) ficou verificado uma diferença em média de 7,4% no tempo total de triatletas com menor eficiência mecânica e 4,7% para os de maior. Cordain e Kopriva (1991) encontraram uma redução correspondente a 4,96% em prova de 400m e 3,23% em prova de 1.500m. Lowdon et al (1992) detectou resultados ainda mais expressivos, apontando uma melhoria em torno dos 10% no desempenho entre os testes.
Nos estudos citados o efeito da roupa ficou atribuido ao aumento da flutuabilidade e a redução do arrasto de fricção.
Em contra partida Chatard et al (1995) não acusaram influências de resultado de tempo para nadadores de elite em distância de 400m. Porém, quando submeterem 8 triatletas as mesmas condições de teste, diagnosticaram uma redução de 19 segundos (± 6%) para o tempo total de realização da prova. Tais dados os permitiram concluir que a roupa exerce efeito sob forma de melhora de desempenho principalmente para aqueles que apresentam menor nível de eficiência.
Tabela 2. Médias e desvios padrão para a intensidade relativa de esforço (percentual de esforço realizado) nas duas situações, uso da lycra e uso da roupa de neoprene
Teste |
Lycra |
Neoprene |
Máximo |
100% ± 0,00 |
106,86% ± 1,68 |
Submáximo |
91,2% ± 1,87 |
91,58% ± 1,98 |
Quanto aos parâmetros cinemáticos (Tabela 3), somente a Vm e IN apresentaram resultados significativamente diferentes (p<0,05). A Vm aumentou em aproximadamente 6%, enquanto o IN aumentou em média 15%. O aumento do IN neste caso ocorreu em maior parte devido ao aumento da Vm, já que seu valor é obtido pela multiplicação das variáveis Vm e CB, e dentre essas somente a Vm revelou diferença estatisticamente significativa.
O aumento encontrado para Vm é corroborado pelo estudo de Parsons e Day (1986) que ao proporem duas séries de 30 minutos de nado a 16 voluntários com e sem a utilização da indumentária, observaram um aumento de 7% na velocidade de realização do nado com o material.
Além do aumento da Vm a FB e o CB se mantiveram inalterados, cabe salientar que são resultados interessantes se pensarmos que mesmo com a manutenção dos valores destas variáveis os nadadores conseguiram atingir Vm e IN maiores, nadando por tanto com maior eficiência (SMITH et al, 2002; CASTRO et al, 2005; CAPUTO et al, 2001).
Tabela 3. Média e desvios padrão dos parametros cinematicos do nado em teste de esforço máximo com e sem o uso da roupa de neoprene.
Variáveis Cinemáticas |
Teste máximo Lycra |
Teste máximo Neoprene |
P |
Vm |
1,32 ± 0,08 |
1,40± 0,1 |
0,0115* |
FB |
36 ± 2,72 |
35 ± 3,96 |
0,5271 |
CB |
2,22 ± 0,12 |
2,33 ± 0,2 |
0,3621 |
IN |
2,94 ± 0,26 |
3,37 ± 0,25 |
0,0172* |
Velocidade Média (Vm), Frequencia de braçada (FB), Comprimento de braçada (CB), Índice médio de nado (IN); *p<0,05
Entre as variáveis psicofisiológicas não foi detectado nenhuma diferença significativa nos testes máximos realizados (Tabela 4).
Assim como para a FB e o CB, aqui também observa-se a importância do melhor rendimento do nado com a matutenção dos parametros psicofisiológicos. Ou seja, a roupa trouxe vantagem para os nadadores por proporcionar para uma mesma frequência cardíaca, concentração de lactato sanguíneo e percepção subjetiva de esforço, um desempenho melhor (maior Vm e IN).
Tabela 4. Média e desvios padrão dos parametros psicofisiológicos do nado em teste de esforço máximo com e sem o uso da roupa de neoprene
Variáveis Psicofisiológicas |
Teste máximo Lycra |
Teste máximo Neoprene |
P |
FC |
171 ± 6,18 |
164 ± 14,16 |
0,484 |
LAC |
9,36 ± 2,58 |
9,86 ± 3,06 |
0,674 |
PSE |
18 ± 0,99 |
18 ± 1,20 |
0,654 |
Frequencia cardiaca (Fc), Lactato sanguineo (LAC) e Percepção subjetiva de esforço (PSE);*p<0.05
O resultado entre a comparação das médias da velocidade em esforço submáximo com e sem o uso da roupa de neoprene (Tabela 5) não foi estatisticamente significante (p>0,05), o que possibilita a comparação entre as demais variaveis. A FB teve uma alteração de 3 ciclos por minuto entre o testes (de 31 ± 1,67 com lycra para 28 ± 2,32 com neoprene), uma diferença de 20cm por ciclo para o CB ( de 2,36m ± 0,11 para 2,56m ± 0,13) e um IN aumentado em 0,26 quando adicionado o traje neoprene.
Diferentemente do teste máximo, aqui a alteração do IN deveu-se em maior parte a mudança ocorrida no CB. O aumento do CB, assim como a diminuição da FB para uma mesma velocidade, serve como um indicativo de uma adequação técnica mais apurada, enquadrando-se nas indicações de Caputo et al 2001.
Sharp e Costill (1989) já haviam evidenciado um aumento no CB em nados submáximos em estudo realizado com nadadores que haviam se depilado, com o objetivo de reduzir o atrito, porém neste caso as respostas foram ainda mais evidentes, passando de um CB de 2,07m/ciclo para um de 2,31 (24 cm, correspondentes a um aumento de aproximadamente 11%, frente ao presente estudo que encontrou uma diferença de aproximadamente 8%).
Tabela 5. Média e desvios padrão dos parametros cinemáticos do nado em teste de esforço submáximo com e sem o uso da roupa de neoprene
Variáveis Cinemáticas |
Teste submáximo Lycra |
Teste submáximo Neoprene |
P |
Vm |
1,20 ± 0,07 |
1,21 ± 0,07 |
0,276 |
FB |
31 ± 1,67 |
28 ± 2,32 |
0,017* |
CB |
2,36 ± 0,11 |
2,56 ± 0,13 |
0,017* |
IN |
2,83 ± 0,23 |
3,09 ± 0,19 |
0,018* |
Velocidade Média (Vm), Frequencia de braçada (FB), Comprimento de braçada (CB), Índice médio de nado (IN); *p<0,05
Apesar de ter ocorrido uma diminuição de 16 batimentos cardiacos entre a média do primeiro para o segundo teste em velocidade controlada, não foi verificado diferença significativa entre a FC (p>0,05). Diferentemente dos dados de LAC e PSE que apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) entre os testes, com diminuição de 34% e 15% para cada variavel respectivamente (Tabela 6). Ou seja, para uma mesma intensidade de esforço, os atletas obtiveram um desgaste menor, como uma percepção de esforço também diminuida.
Tabela 6. Média e desvios padrão dos parametros psicofisiológicos do nado em teste de esforço submáximo com e sem o uso da roupa de neoprene
Variáveis Psicofisiológicas |
Teste submáximo Lycra |
Teste submáximo Neoprene |
p |
FC |
141 ± 17,20 |
125 ± 18,81 |
0,093 |
LAC |
5,98 ± 1,83 |
3,94 ± 0,92 |
0,012* |
PSE |
13 ± 0,74 |
11 ± 1,46 |
0,017* |
Frequencia cardiaca (Fc), Lactato sanguineo (LAC) e Percepção subjetiva de esforço (PSE);*p<0.05
Estes resultados, juntamente com os outros expostos, nos permitem atribuir uma real melhora de desempenho com o uso da roupa de neoprene. Ao realizar um apanhado da revisão de literatura atual sobre o assunto, salvo o trabalho de Toussaint et al (1989) que verificou o arrasto hidrodinâmico em velocidades pré-estabelecidas, não se encontrou nenhum trabalho que estudasse o efeito da roupa de neoprene em testes submáximos (todos se limitaram a comparação do tempo total em provas máximas), nem tão pouco a comparação de variveis cinemáticas e psicofisiológicas em ambos os testes (máximo e submáximo). Dessa forma, os achados deste estudo, veêm contribuir com exposição de dados até então não desponíveis, para a comprovação e quantificação da vantagem do uso do material de neoprene perante ao material lycra.
Conclusão
O presente estudo objetivou verificar os efeitos do uso da roupa de neoprene em triathletas experientes, comparados ao uso de vestimentas convencionais nas variáveis cinemáticas e psico-fisiológicas. Dessa forma, os objetivos foram atingidos e a hipótese proposta ficou aceita como verdadeira.
De modo geral, os resultados indicaram ter a roupa, um efeito positivo sobre o desempenho dos triathletas. Em intensidade máxima, com o uso do material, os participantes foram capazes de nadar 7% mais rápidos, com uma Vm aumentada em 6% e um IN em 15%. Além disto, a FB e o CB não se alteraram indicando maior eficiência de nado com a roupa de neoprene.
Em teste submáximo observou-se uma melhora técnica de nado (menor FB e maior CB para uma mesma velocidade e consequentemente um maior IN), com um desgaste menor e uma percepção subjetiva de esforço também diminuída.
Estes achados, juntamente com a literatura disponível, nos permitem atribuir e quantificar de forma mais objetiva os efeitos proporcionados pelo uso da roupa de neoprene. Porém alguns cuidados devem ser tomados na hora da generalizar estes resultados, visto algumas limitações do estudo. Referimo-nos certamente ao número reduzido da amostra e a dificuldade de encontrar outros estudos com metodologia semelhante para comparação. Sendo assim, estudos futuros devem ser realizados, tanto para suprir as limitações desse como para preencher outras lacunas existentes na literatura sobre o assunto, como a falta de estudos que avaliem outros atletas que utilizam este equipamento, como nadadores que participam de travessias.
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