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Programa de atividades de vida diária como terapia em hemiplégicos

Programa de actividades de la vida diaria como terapia en hemiplégicos

 

*Graduação em Fisioterapia

** Pós-Graduação em Fisioterapia Clínica

*** Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(Brasil)

Aline Carniel*

Nayara Corrêa Farias**

Franciele dos Santos*

Carlos Eduardo de Albuquerque***

Silvia Maria Tessaro**

nayaracf@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Programa de reabilitação é necessário para ajudar o paciente a se adaptar às suas deficiências, favorecer sua recuperação funcional, motora e neuropsicológica, e promover sua integração familiar, social e profissional. Este trabalho tem por finalidade promover uma forma de terapia orientada as atividades de vida diária como base em um processo de recuperação funcional e integração social aos portadores de seqüela de AVE, seus familiares e cuidadores. Foram acompanhados 3 pacientes, durante dois meses, duas vezes por semana, em atendimentos de sessenta minutos cada. Foram avaliados realizando tarefas antes e após os atendimentos. Pode ser observado neste estudo benefícios como melhora na qualidade de vida e retorno às atividades de acordo com as possibilidades.

          Unitermos: Acidente Vascular Encefálico. Reabilitação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    O termo Acidente Vascular Encefálico (AVE), significa o comprometimento súbito da função cerebral causado por inúmeras alterações histopatológicas que envolvem um ou vários vasos sangüíneos intracranianos ou extracranianos.

    Aproximadamente 80% dos AVE's são causados por um baixo fluxo sanguíneo cerebral (isquemia) e outros 20% por hemorragias, tanto intraparenquimatosas como subaracnóideas (O’SULIVAN, 1993; UMPHED, 1994; DE LISA, 2002). O grande problema em relação ao AVE não se encontra apenas na mortalidade, mas sim na perda funcional que impõe ao indivíduo dificuldades em alimentar-se ou locomover-se, além dos problemas sociais.

    Conhecido popularmente como "derrame cerebral", o AVE é a terceira causa de morte em vários países do mundo e a principal causa de incapacitação física e mental (O’SULIVAN , 1993; STOKES, 2000).

    Dados de 2004 da Organização Mundial de Saúde afirmam que o AVE é a causa mais freqüente de óbito em faixas etárias mais elevadas da população brasileira, apresentando cerca de 129.000 mortes/ano e terceira principal causa de morte em toda a população (Mackay e Mensah, 2004).

    A hemiparesia afeta cerca de 70% a 80% dos indivíduos acometidos, e mesmo 6 meses após o episódio,apenas 60% dos indivíduos hemiparéticos conseguem desempenhar atividades funcionais básicas, como ir ao banheiro e caminhar curtas distâncias (DOBKIN, 2002).

    Para a maioria das pessoas que sobrevivem a um AVE, a reabilitação é uma das partes mais importantes do tratamento. A reabilitação deve ter início em fases precoces, nos primeiros dias após o AVE, tanto na fase hospitalar, como na continuidade em unidade especializada em reabilitação de pacientes com doenças vasculares cerebrais (DAVIES, 1996).

    No primeiro ano pós AVE se concentra período mais importante na aprendizagem da recuperação motora, ocorrendo um declínio com o passar do tempo, assim na fase crônica o processo de reabilitação deve ser intensificado. Devido a isso, a importância de se investigar o potencial do indivíduo com o uso de avaliações precisas para a função e assim planejar a melhor forma de otimizá-la no processo de treinamento da reabilitação, obtendo resultados que permitam uma maior independência (Kwakkel et al., 2006).

    O objetivo fundamental do programa de reabilitação é ajudar o paciente a se adaptar às suas deficiências, favorecer sua recuperação funcional, motora e neuropsicológica, e promover sua integração familiar, social e profissional. Um programa de reabilitação adequado contribui para a recuperação da auto-estima (BOBATH, 1978; DAVIES, 1997).

    A função é definida como uma atividade complexa de todo o organismo, direcionada ao desempenho de uma tarefa comportamental (STOKES, 2000; DAVIES,1996). A conclusão de uma tarefa em ambiente relevante indica capacidade de função.

    A recuperação da função perdida é descrita como a capacidade de cumprir tarefas antes possíveis, utilizando processos anteriores ou estratégias eficientes e eficazes desenvolvidas após a lesão.

Objetivo

    Este trabalho tem como objetivo promover uma forma de terapia orientada as atividades de vida diária como base em um processo de recuperação funcional e integração social aos portadores de seqüela de AVE, seus familiares e cuidadores.

Metodologia

    Este estudo realizou-se na clínica de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus Cascavel, setor de Neurologia, participante do Projeto de Extensão: Fisioterapia Orientada à Tarefas em portadores de seqüela de AVE – Acidente Vascular Encefálico. Os pacientes receberam orientação sobre os objetivos do estudo.

    Foram acompanhados 3 pacientes de 57, 44 e 51 anos, sendo um homem e duas mulheres, os quais os AVEs ocorreram há 3 meses, 1 mês e 7 anos, respectivamente. Os pacientes foram acompanhados durante dois meses, duas vezes por semana, em atendimentos de sessenta minutos cada.

    Foram avaliados realizando tarefas antes e após os atendimentos. Neste trabalho as atividades treinadas eram as de interesse do paciente para cada sessão. Então foram escolhidas tarefas da vida real, que, por definição, envolvem a resolução de problemas de maior ou menor grau de complexidade. As posturas durante a realização das tarefas foram documentadas em fotos, em máquina digital, de vista anterior, posterior e lateral com paciente sentado e em pé. As imagens foram analisadas qualitativamente verificando-se a qualidade da postura com base em estética, dificuldade na execução, amplitude da base de suporte, nível de segurança da execução, sinais de esforço e sobrecarga postural.

    Ao final das terapias era avaliada a satisfação pessoal do paciente através de questionário. As respostas foram avaliadas qualitativamente para encontrar um conceito entre ruim, regular ou bom.

Resultados

    Os resultados encontrados foram amplamente satisfatórios tanto aos pacientes quanto aos terapeutas, com uma evolução clínica evidente através dos questionários e fotografias analisadas no decorrer dos atendimentos.

    Benefícios como melhora na qualidade de vida, retorno às atividades de acordo com as possibilidades e a redução da desorientação da família foram relatados ao longo do programa. As respostas ao questionamento ao final dos atendimentos foram todas melhores em relação à inicial, para os pacientes acompanhados.

    A avaliação das fotos mostrou melhoras subjetivas e de qualidade de execução da maioria das posturas dos pacientes estudados.

Discussão

    Este programa obteve êxito e através de linguagem de fácil acesso esclareceu aos familiares e cuidadores dúvidas segundo os relatos obtidos.

    O aprendizado motor pode ser considerado como resultante de um aumento no conhecimento acerca do ambiente em que o movimento ocorre, e a representação motora é concebida como consistindo de unidades de conhecimento de interações entre o indivíduo e o ambiente, em esquemas perceptivos e motores (BOBATH, 1978; DAVIES, 1997).

    Para que ocorra o aprendizado no sistema nervoso, o que é adquirido deve ter algum significado ou grau de importância para o organismo que está realizando o aprendizado; tem pouco valor fazer com que um paciente flexione, estenda ou rotacione uma parte isolada de uma extremidade interminavelmente, na tentativa de readquirir o funcionamento, porque o sistema nervoso não está organizado dessa maneira (DAVIES, 1996; LUNDY-EKMAN, 1999).

    Para que o aprendizado seja facilitado o programa terapêutico deve ser organizado em tarefas, com metas e alvos bem identificados desde o início do tratamento. Pois, mesmo os processos motores mais elementares podem ser influenciados por estados cognitivo específicos, como expectativa, objetivo ou conhecimento dos resultados (BOBATH, 1978; DAVIES, 1996; DAVIES, 1997).

    Gibson (1986) admite que existe uma relação direta e recíproca entre os vários organismos e o envolvimento que os rodeia. O ambiente fornece oportunidades, informações e recursos que, posteriormente, possibilitam a ação dos organismos de acordo com as suas próprias características. O envolvimento oferece ao indivíduo diversas possibilidades de ação ou affordances.

    No estudo de Wolf et al., (2008) foi realizado um programa de 2 semanas de incentivo ao uso do membro superior parético, obtendo favorável resultado após avaliação das habilidades através do WMFT. No mesmo estudo ficou explicito que os benefícios adquiridos nas AVDs possuem forte ligação com a qualidade de vida, pois a melhora física favoreceu a participação social nesses indivíduos.

    Normalmente, durante o dia de uma pessoa, desde o momento de despertar até deitar-se à noite para dormir, são tomadas decisões e resolvidos problemas, de modo que não seria justo com a reabilitação tentar eliminar os problemas da vida do paciente, porque eles são uma parte indiscutível de sua vida real (UMPHED, 1994; DAVIES, 1996; DAVIES, 1997).

Conclusão

    Embora não seja possível determinar uma efetiva superioridade desta intervenção terapêutica sobre outras técnicas de reabilitação, os resultados encontrados neste trabalho foram significantes e agradaram terapeutas, pacientes e cuidadores, evidenciando o maior envolvimento de todos para alcançar os objetivos traçados em cada terapia.

Referências bibliográficas

  • BOBATH, B. Atividade Postural Reflexa Anormal Causada por Lesões Cerebrais, São Paulo, Manole, 1978.

  • BOBATH, B. Hemiplegia no Adulto Avaliação e Tratamento, São Paulo, Manole, 1978.

  • DAVIES, P. M. Exatamente no Centro Atividade Seletiva do Tronco no Tratamento da Hemiplegia no Adulto, São Paulo, Manole, 1996.

  • DAVIES, P. M. Passos a Seguir Um Manual para Tratamento da Hemiplegia no Adulto, São Paulo, Manole, 1996.

  • DAVIES, P. M. Recomeçando Outra Vez: Reabilitação Precoce Após Lesão Cerebral Traumática, São Paulo, Manole, 1997.

  • DELISA, J. A. Medicina de Reabilitação, São Paulo, Manole, 2002.

  • Dobkin BH. Brain–computer interface technology as a tool to augment plasticity and outcomes for neurological rehabilitation. J Physiol. 2002; 579.3: 637–642.

  • Gibson, JJ. The ecological approach to visual perception. Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 1986.

  • Kwakkel G,Kollen B, Twisk J. Impact of Time on Improvement of Outcome After Stroke. Stroke 2006;37;2348-2353.

  • LUNDY-EKMAN L. Neurociências: fundamentos para a Reabilitação Rio de Janeiro Guanabara Koogan, 1999.

  • Mackay J, Mensah G.The atlas of heart disease and stroke.World Health Organization. Genebra; 2004. p-84-90.

  • O’SULIVAN, S. B. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento 2ª ed., São Paulo, Manole, 1993.

  • STOKES, M., Neurologia para fisioterapeutas São Paulo: Editorial Premier, 2000.

  • UMPHED, D.A. Fisioterapia neurológica 2a ed. São Paulo: Editora Manole, 1994.

  • Wolf SL, Winstein CJ, Miller JP, Thompson PA, Taub E, Uswatte, G, Morris D, Blanton S, Nichols-Larsen D. The EXCITE Trial: Retention of Improved Upper Extremity Function Among Stroke Survivors Receiving CI Movement Therapy. Lancet Neurol. 2008 January ; 7(1): 33–40.

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