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O esporte nas aulas de Educação Física: desafios e conteúdos

El deporte en las clases de Educación Física: desafíos y contenidos

 

Mestre em Educação

Pós-graduado em Treinamento Desportivo

Professor estadual da rede pública do estado de São Paulo

Alan Rodrigo Antunes

alanantunes@ig.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O artigo tem como objetivo analisar os desafios encontrados pelos professores na utilização do esporte como conteúdo dentro do contexto escolar. A análise expõe uma discussão sobre a utilização do esporte como conteúdo das aulas de Educação Física escolar. O futsal, o voleibol, o handebol e o basquetebol, modalidades predominantes nos ambientes escolares, não devem ser deixados de lado, entendimento equívoco na aplicação de qualquer nova proposta, bem como a utilização de esportes comumente ausentes no ambiente escolar. A aplicabilidade do esporte, isto é, o seu uso nas aulas de Educação Física, deve ser adaptado as condições reais de sua escola. Essas modalidades usadas de forma similar ao modelo profissional, de alto rendimento, estão fadadas ao fracasso. Por isso, é enriquecedor incluir no conteúdo do esporte as características e conhecimentos prévios dos alunos.

          Unitermos: Esporte. Educação Física. Conteúdos

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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O esporte e a mídia

    Os adolescentes passam muitas horas na frente da televisão, do videogame, do computador ocupado, na maioria do tempo, com atividades ligadas ao esporte. Os jogos que assistem na televisão, as disputas com o amigo no videogame e na internet fazem parte do cotidiano dessas pessoas. Gebara (2007, p. 28) explana sobre a questão do esporte:

    Trata-se do desenvolvimento do sistema de comunicação no mundo contemporâneo. Esse fato implica a universalização dos espetáculos esportivos; qualquer resistência no mais remoto interior pode integrar-se nessa rede de espetáculos esportivos. Nesse sentido, os desportos enquanto jogos continuarão a ser um importante componente da Educação Física.

    O esporte espetáculo é uma realidade presente nas aulas de Educação Física. Os alunos relacionam suas práticas esportivas com o que vêem na televisão. Betti (2005) considera o repertório de conhecimentos intrínsecos ao aluno, que se relaciona com os conhecimentos prévios (o que o aluno traz consigo). O autor afirma que a televisão faz crianças tomarem contato precoce com as formas codificadas do esporte, ou seja, a Educação Física sofre muita influência da mídia. Para uma garota jogar voleibol, segundo o autor, é sacar "viagem" e "cortar" contra um bloqueio triplo, e no imaginário de um garoto ele é o Ronaldinho quando chuta uma bola. O professor de Educação Física que os recebe deve considerar essa informação e trabalhar valendo-se dela. O entendimento que o aluno faz de um jogo, isto é, o significado psicológico atribuído a determinado conteúdo, é um elemento valorizado pelo autor.

    Daolio (2007), com base na antropologia social, compreende a Educação Física como construção social, já que considera a existência do homem como natureza e cultura de forma indissociável – unidas e explícitas no corpo. Sendo assim, qualquer prática que se realize com, sobre e por meio do corpo pode ser compreendida ao se relacionar esses aspectos (natureza e cultura), isto é, a prática como produto da cultura (o esporte espetáculo), que varia com o tempo e a sociedade. O autor ainda acrescenta:

    Compreende-se, assim, que a própria idéia de uma Educação Física é uma construção social, tal como a noção de corpo que ela difunde por intermédio de seus profissionais. Em outras palavras, um trabalho com o corpo, de Educação Física ou não, que se preocupasse somente com a dimensão fisiológica que esse corpo inegavelmente possui, estaria desconsiderando que essa constituição orgânica, sendo a de um corpo humano, pudesse expressar, em termos de sentido, de formas absolutamente diferentes em grupos diversos. (DAOLIO, 2007, p. 80).

    Assim, contextualizar o esporte nas aulas de Educação Física é um desafio, já que existe uma expectativa – muito influenciada pelas mídias – pelos alunos de vivenciar a prática corporal presente no seu cotidiano. Kunz (1999) relata sobre a facilidade que os profissionais têm de recriar e redimensionar as suas práticas; contudo, apresentam dificuldade de interpretar e desvelar com maior profundidade os fundamentos teóricos dessa mesma prática, ou seja, de contextualizar. Dessa forma, segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1980) os conhecimentos prévios dos alunos, a disposição para aprender e o conteúdo devem ser considerados pelos profissionais na contextualização do conteúdo.

As possibilidades de contextualização do esporte

    O esporte apresenta muitas possibilidades de prática dentro do ambiente escolar. Faz-se necessário avaliar quais conhecimentos os alunos possuem – procedimentais e conceituais – sobre um determinado conteúdo. Por exemplo: o professor, na avaliação diagnóstica (debate e um jogo convencional) constata que os alunos (ensino médio) não dominam os fundamentos básicos do esporte e pouco conhecem sobre as regras e sistemas táticos. Assim, propõem um jogo baseado no esporte que pretende trabalhar. No caso do voleibol o jogo seria o “câmbio”, no qual não é necessário o uso dos gestos característicos do esporte (toque e manchete). Mesmo ausente esses fundamentos, o sistema tático pode ser trabalho (defesa, ataque, contra-ataque, posição dos jogadores na quadra).

    O exemplo acima proporciona, também, a discussão sobre valores como cooperação e competição. Brotto (1999, p. 168) considera o jogo essencial, no qual as pessoas estão envolvidas, “onde cada pequeno passo pessoal é sempre um extraordinário compasso partilhado por todos”. O autor acredita que por meio do jogo e do esporte a cooperação possa ser utilizada valendo-se do exercício da convivência “para ajudar a solucionar problemas, harmonizar conflitos, superar desafios e realizar objetivos comuns a toda a humanidade” (BROTTO, 1999, p. 169). Assim, a ausência de habilidade pode ser superada através da cooperação. No jogo os alunos com mais habilidades têm a possibilidade de utilizar os gestos do esporte (toque, manchete, saque) e os com menos habilidades seguram a bola como no jogo “câmbio”.

    A inclusão de esportes menos convencionais, como o Beisebol, é um desafio no ambiente escolar, já que esse esporte é pouco televisionado no Brasil. Darido (2005) defende a utilização de conteúdos não restritos a fatos e conceitos, mas a seleção de vários saberes culturais. Cool et al. (apud DARIDO, 2005, p. 64) apresentam a seguinte definição de conteúdo:

    [...] uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos de conduta etc. cuja assimilação é considerada essencial para que se produzam desenvolvimento e socialização adequados no aluno.

    Para interagir com a realidade dos alunos esta prática corporal pode ser relacionada com o Taco (Betes), no qual algumas características do Beisebol estão presentes: o arremesso, o lançamento, a corrida, a recepção, as bases. A visita a algum local de treinamento do esporte ou a observação de vídeos é de grande importância no trabalho. Assim, após a relação do esporte com o Taco e a observação do esporte, o professor propor o jogo “Base 4” que se assemelha com o Beisebol. Os materiais necessários podem ser adaptados facilmente. Para o taco ou bastão utiliza-se o mesmo do Taco, as bases podem ser feitas com garrafas pets ou cones, e a bola ser construídas com meias ou bolas murchas de outros esportes.

    Contudo, além da técnica e tática, do fazer e das razões do fazer, outras dimensões são possíveis de ser trabalhadas. Uma delas está na relação com as capacidades físicas presentes nos esportes: força, velocidade, resistência, agilidade, flexibilidade, potência. E a interação dessas com a saúde e o condicionamento físico: aptidão física, a obesidade, o diabetes, o aumento de massa muscular, a anorexia, a bulimia etc. Isto é, as práticas fora do ambiente escolar, que possibilitam uma prática consciente das atividades físicas. Guedes e Guedes (1998) tecem críticas às escolas por não promoverem ações educativas para a aquisição de hábitos que contribuam para o controle do peso corporal. Os autores acreditam que o ambiente escolar se constitui numa oportunidade de prevenção e controle do excesso de peso corporal já que os jovens dedicam boa parte do seu tempo, nas duas primeiras décadas de vida, às atividades escolares. Nesta perspectiva, a Educação Física contribuiria para que os jovens adotassem atitudes favoráveis à prática de exercícios que favoreceriam o equilíbrio energético.

Considerações

    Não podemos deixar de lado, ao pensar em mudanças exigidas pelos novos tempos, a realidade em que vivemos. Para isso, é necessária uma avaliação diagnóstica da nossa escola, dos nossos alunos e da comunidade em que estamos inseridos. Talvez pequemos ao desconsiderar o que foi construído e optar por mudanças radicais, e sofrer com o não aproveitamento de todo um trabalhado já realizado. Dessa forma, o jogo, o esporte, a competição, a cooperação, o local, o global, o simples, o espetáculo possam conviver no ambiente escolar.

Referências

  • AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.

  • BARBANTI, V. J. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo: Manole, 1994.

  • BETTI, M. Sobre teoria e prática: manifesto pela redescoberta da educação física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, a. 10, n. 91, dez. 2005b. http://www.efdeportes.com/efd91/ef.htm

  • BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. 1999, 197 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Campinas, 1999.

  • DAOLIO, J. Da cultura do corpo. 11. ed. Campinas: Papirus, 2007.

  • DARIDO, S. C. Os conteúdos da educação física na escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. (Coords.). Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 64-79.

  • GEBARA, A. Educação física e esportes no brasil: perspectivas (na história) para o século XXI. In: MOREIRA, W. W. (Org.). Educação física & esportes: perspectivas para o século XXI. 14. ed. Campinas: Papirus, 2007. p. 13-31.

  • GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Controle do peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Londrina: Midiograf, 1998.

  • KUNZ, E. Esclarecimento e emancipação: pressupostos de uma teoria educacional crítica para a educação física. Movimento, Rio Grande do Sul, v. 5, n. 10, 1999.

  • MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 24. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.

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