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Lutas e Artes Marciais na Educação Física escolar: 

a produção científica no CONPEFE 2009

Luchas y Artes Marciales en la Educación Física escolar: la producción científica en CONPEFE 2009

 

Licenciatura em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas

Mestre em Ciências do Esporte pela Universidade Estadual de Campinas

(Brasil)

Fabiano Filier Cazetto

fabianocazetto@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          No ano de 2009 aconteceu o CONPEFE com o tema: saberes docentes e cotidiano escolar. Com o objetivo de analisar a repercussão do conteúdo lutas e artes marciais foram agrupados em seis categorias os conteúdos e contados o número de trabalhos em cada grupo nas apresentações orais. A importância do estudo está em sinalizar o valor que vem sendo dada atualmente para o conteúdo na área escolar. Os resultados indicam que as lutas e artes marciais tiveram o mesmo número de trabalhos que o esporte, e tiveram mais trabalhos do que temas clássicos da educação física como o jogo e a ginástica. Trabalhar lutas e artes marciais na escola significa ensinar símbolos diferenciados possibilitando além de conhecimentos diferenciados, valores para serem levados por toda a vida. As lutas e as artes marciais começam a fazer parte das discussões acadêmicas no cenário escolar, porém ainda é necessário discutir qual seu papel e especificidade na escola.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Produção científica. Lutas e Artes Marciais

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    Em julho de 2009 foi realizado o CONPEFE (Congresso Paulistano de Educação Física Escolar) na cidade de Caraguatatuba litoral norte do Estado de São Paulo. O evento representa um dos poucos no estado e abordar especificamente essa área e sua temática neste ano foi: saberes docentes e cotidiano escolar.

    No decorrer do congresso os participantes puderam se deparar com uma grande quantidade de conhecimento através de conferências, pôsteres, oficinas e apresentações orais. O número de conferências era de duas por períodos e chegava a seis por dia, desta maneira os participantes tiveram uma vivência rica que possibilita intervenções pedagógicas renovadas em suas escolas.

    Notadamente o tema cultura foi recorrente, sendo citado por inúmeros congressistas, Suraya Darido1 e Mauro Betti2 citaram o tema cultura como uma convergência na educação física escolar. Nesta perspectiva este artigo discute a produção científica em Lutas e Artes Marciais no sentido quantitativo em sua relação com as demais pesquisas e questiona o qualitativamente o que efetivamente se modificou nas práticas pedagógicas sobre o tema.

    Cazetto e Paes (2004) defendem que o Judô e a Educação Física no Brasil tiveram histórias relativamente autônomas. Neste caso específico podemos estender a afirmação para as demais lutas e artes marciais destacando a importância do conteúdo ser inserido, discutido e valorizado neste contexto. Através de uma produção acadêmica de qualidade pode-se possibilitar um melhor aproveitamento e um tratamento digno a esse conteúdo.

Material e métodos

    Na conferência de abertura do congresso foi entregue uma programação com todas as apresentações orais a serem apresentadas durante o congresso. De posse desse documento foi possível analisar e agrupar através dos títulos os assuntos aos quais “pertenciam” cada um dos trabalhos.

    Primeiramente foi feita uma pré-leitura de todos os títulos para que se executa-se uma divisão em categorias que possibilita-se uma análise numérica inspirada na análise de conteúdo descrita por Bardin (2002). As categorias se basearam no clássico da área COLETIVO DE AUTORES (1992), na perspectiva de novos conteúdos proposta por Darido (2008), e na perspectiva de Lutas e Artes Marciais proposta por Cazetto e Montagner (2009).

    Foram agrupados assim em 6 categorias os artigos que continham especificamente um dos conteúdos: Lutas e Artes Marciais, Circo, Ginástica, Dança, Esporte, Jogo. Diversas outras possibilidades são possíveis, por exemplo, juntar Circo e Ginástica, ou dividir Atletismo e Esporte. Porém optamos por utilizar essa divisão que atendeu bem aos trabalhos que foram apresentados.

Resultados

    O gráfico abaixo mostra o número de trabalhos apresentados no CONPEFE 2009 agrupados em seis categorias interpretadas através de seus títulos:

Grafico 1. Conteúdos da Educação Física nas apresentações orais do CONPEFE 2009

    As duas categorias com maior número de trabalhos foram: Lutas e Artes Marciais e Esporte. Cada uma das duas teve sete trabalhos apresentados. O Jogo aparece com quatros trabalhos. A ginástica com dois. O Circo e a Dança com um trabalho cada.

Discussão

    O esporte continua a ser um elemento marcante na educação física escolar, representando um número significativo do total de trabalhos do congresso. Já a dança e o circo ficaram, pelo menos neste evento, com um número bem pouco significativo de apresentações. A ginástica também teve um número pequeno de apresentações. O jogo foi o terceiro conteúdo mais citado.

    Algumas especulações poderiam ser feitas sobre esses dados, por exemplo, será que o esporte continuará sendo sempre o elemento hegemônico da Educação Física escolar? Será que a ginástica que em outros momentos (métodos ginásticos) era hegemônica está em desuso na área escolar? Será que a dança não conquistará o seu devido espaço? Todas essas perguntas são pertinente, importantes e podem ser extraídas do gráfico, porém existe um conteúdo que chama atenção: lutas e artes marciais. Conteúdo que nunca foi hegemônico na educação física escolar no Brasil, ao contrário da ginástica e do esporte, aparece acima da ginástica e se igualando com o esporte em número de apresentações.

    Neste sentido os dados indicam que este conteúdo atualmente tem recebido atenção nas publicações especificamente no cenário escolar. Este fato pode representar um crescimento para a área no geral e para o conteúdo especificamente.

    Constatando que o conteúdo Lutas e Artes Marciais passa a fazer parte da produção acadêmica voltada para o cenário escolar deve-se começar a discutir qual sua especificidade e importância dentro do ensino sistematizado. Ou seja, qual a função específica desse conteúdo para a vida das pessoas, em uma perspectiva cultural quais são os símbolos e significados que são construídos e transmitidos ao se trabalhar com o tema.

Considerações finais

    O tema do congresso “saberes docentes e cotidiano escolar”, sugere que os trabalhos deveriam ser voltados para o conhecimento pertinente aos docentes e como lidar com os mesmos no dia a dia de sua atividade laboral. Pensando na separação histórica entre o conteúdo (lutas e artes marciais) e a disciplina (educação física) configura-se um novo desafio e uma nova perspectiva para a área.

    Apesar do grande número de trabalhos apresentados oralmente, não houve em nenhuma das onze conferências um tema específico sobre lutas e artes marciais, apesar do tema ter sido recorrente na maioria dos discursos.

    Pode-se especular os motivos do aumento de produção nesta área: modificações sociais (aumento social do interesse); vinda de representantes desse área para a educação física; aceitação da educação física por novas áreas; mudanças na legislação escolar; migração de pessoas de outras áreas da educação física para a área escolar ocupando novas possibilidades.

    Tudo isso precisa ser considerado no quadro de inserção das lutas e das artes marciais, porém é necessário entender o que significa inserir esse conteúdo em uma perspectiva cultural. Correia (2009) alerta que houve um reducionismo ao tratar de um conteúdo tão vasto apenas como sendo jogos de desequilíbrio e cabo de guerra. Neste sentido cabe ressaltar a importância de expandir as perspectivas do trabalho de lutas e artes marciais para além do movimento ou de jogos envolvendo movimento, chegando ao que realmente é a grande importância das lutas e artes marciais em uma perspectiva cultural: o entendimento de seu significado social. Trabalhar lutas e artes marciais na escola significa ensinar símbolos diferenciados, possibilitando além de conhecimentos diversos, também valores para serem levados por toda a vida.

Conclusão

    As lutas e as artes marciais começam a fazer parte das discussões acadêmicas no cenário escolar, porém ainda é necessário discutir qual seu papel e especificidade na escola.

Notas

  1. Referência à professora e congressista Suraya Cristina Darido que é graduada em Educação Física pela Universidade de São Paulo, tem Mestrado em Educação Física Universidade de São Paulo e Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano Universidade de São Paulo, além de ser Livre-Docência Universidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

  2. Referência ao professor e congressista Mauro Betti que é Licenciado em Educação Física pela Universidade de São Paulo (1978), Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo (1988), Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1997), Livre-Docência pela Universidade Estadual Paulista (2003) e Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006).

Referências bibliográficas

  • BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa : 70, 2002.

  • CAZETTO, F. F.; PAES, R.R. Ensaio provisório sobre alguns aspetos relevantes para o entendimento tático do judô tendo em vista a formação global do indivíduo. 2004. 160f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.

  • CAZETTO, F. F.; MONTAGNER, P.C.. A influência do esporte espetáculo sobre o modelo de competição dos mais jovens no Judô. 2009. 210 f. (Dissertação) - Unicamp, Campinas, 2009.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • DARIDO, S.C. Educação Física na Escola: realidade e possibilidades. [Curso ministra pela professora doutora e livre docente Suraya Darido no Colégio Visconde de Porto Seguro. Duração: 9 horas. Teórico e prático.] 2008.

  • CORREIA, W. R. Educação Física no Ensino Médio: questões impertinentes. [Conferência apresentada no CONPEFE 2009], 2009.

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