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Indisciplina nas aulas de Educação Física: a família e o 

autoritarismo do professor interferindo na aprendizagem

e no comportamento dos adolescentes

Indisciplina em las clases de Educación Física: la familia y el autoritarismo 

del profesor interfiriendo en el aprendizaje y en el comportamiento de los adolescentes

 

*Autor. Estudante de Educação Física (ultimo semestre)

**Orientação. Mestre em Educação, Docente da Universidade Nove de Julho

Psicopedagoga Clínica e Pedagoga do Espaço Aprender

(Brasil)

Gleidson Rodrigues de Oliveira*

gleidson_rodrigues_oliveira@hotmail.com

Prof. Ms. Luciana Fernandes Duque**

luciana_alves_fernandes@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse trabalho foi verificar se a família e um professor autoritário podem de alguma forma interferir na aprendizagem e no comportamento dos adolescentes durante as aulas de Educação Física. Com isso realizou-se um trabalho de revisão de literatura visando um melhor entendimento a respeito do tema. Pôde-se dessa forma ter um maior conhecimento da situação desmotivada pela qual vem passando a maioria dos professores atuais e entender o por que do afastamento das famílias do ambiente escolar. Que se deve a princípio, pela falta de diálogo entre a direção da escola e os pais e em outras situações pelo descaso e o abandono dos filhos nas escolas por parte das famílias. Dessa forma foi possível levantar algumas hipóteses sobre a interferência da família e dos professores no comportamento e na aprendizagem dos alunos durante as aulas de Educação Física, já que os mesmos se encontrar envolvidos diariamente tanto com a família como com os professores. Evidenciou-se uma certa carência por parte dos adolescentes na sua relação com seus professores, tanto verbal como nas atividades que lhe são aplicadas. Por outro lado o relacionamento com os seus pais oscila bastante, esse fato ocorre geralmente em função da classe social que determinada família se encontra. Observou-se que a falta de dialogo, as ameaças, as imposições e as agressões se fazem comuns no dia-dia dos adolescentes, tanto nas escolas como nas residências, o que tudo indica não ser nada bom para o adolescente.

          Unitermos: Indisciplina. Relação professor/aluno. Família. Educação Física

 

Abstract

          The goal of this work was to ascertain whether the authoritarian family and professor can somehow interfering in learning and behavior of adolescents during physical education classes. This was a literature review work aimed at a better understanding about the theme. Was able to have a greater understanding of the situation which comes under fire by passing the most current teachers and understand the why of the remoteness of the families of the school environment. We should in principle, by the lack of dialogue between the direction of the school and parents and in other situations by rest and abandonment of children in schools by households. Thus unable to lift some hypotheses about the interference of the family and of teachers in behavior and learning of pupils during physical education classes, since they find involved every day with both the family as the teachers. Some praised by the grace of adolescents in their relationship with their teachers, both verbal and in activities that are applied. On the other hand the relationship with their parents varies considerably, this fact usually occurs depending on the particular social class is family. It was noted that the lack of dialogue, threats, coercion and acts of aggression are common on the day of adolescents, both in schools and in homes, everything indicates not be nothing good for teenagers.

          Keywords: Indiscipline. Teacher/student. Family. Physical Education

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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1.     Introdução

    Alunos comportados, educados, participativos, que respeitam os colegas e principalmente o professor, que não deixam a indisciplina transparecer mais do que à vontade de aprender ou professores preparados, comprometidos, que não deixam a autoridade e o descaso se sobrepor a um diálogo harmonioso com seus alunos é uma questão surreal em nossa sociedade.

    O natural é ver diariamente conflitos entre professores e alunos que quase sempre são rotulados de bagunceiros, desinteressados, que não respeitam nem mesmo as ordens do professor. Devido a essas atitudes, os professores acabam usando a autoridade como meio de intimidá-los, sem se dar conta de que isso pode ao invés de solucionar, aumentar ainda mais o problema.

    Geralmente a aula de Educação Física é a mais aguardada por boa parte dos alunos, principalmente por aquelas turmas que o conteúdo predominante aplicado pelo professor é o futebol, é natural quando questionado, um aluno responder que a aula que mais gosta é a de Educação Física, isso porque é exatamente nessa aula que eles acreditam poder extravasar e gastar todas as suas energias sem serem incomodados, essa é uma realidade que dificulta bastante o trabalho do professor na quadra, havendo um grande risco de se iniciar aí um conflito entre o professor e os alunos.

    Ao tentar mudar essa cultura negativa que é unanimidade entre os alunos, de que uma aula de Educação Física se resume em jogar futebol, o professor que tem inúmeras responsabilidades na formação desses alunos, entre elas a de formar cidadãos cada vez melhores para compor a sociedade de amanhã, enfrenta uma série de dificuldades, isso porque, grande parte dos alunos não vê com bons olhos essas alterações.

    Embora seja necessário, é uma tarefa muito complexa para o professor apontar o porquê da indisciplina e onde ela nasce. Uma hipótese a ser levantada é o confronto entre as posturas apresentadas pelo professor e a família, de um lado um professor autoritário e do outro uma família liberal e vice versa ou ambos com as mesmas imposições.

    A família tem uma influência considerável na formação da personalidade do aluno, porém cada família age de uma forma diferente ao acompanhar o desempenho do filho na escola. Algumas acompanham de perto as notas, estão sempre presentes nas reuniões de pais e fazem questão de auxiliá-los nos deveres de casa, enquanto outras não dão muita importância para o que se passa com o filho dentro da escola.

    O grande desafio talvez seja entender o que se passa na cabeça desses alunos, como eles se relacionam com suas famílias. No primeiro exemplo citado acima existe a possibilidade do aluno se sentir fiscalizado, preso e não entender esse acompanhamento como necessário para a sua aprendizagem e até mesmo para que seja um aluno comportado e isso pode desencadear uma conduta nas aulas de Educação Física de extravaso, que geralmente é classificado como indisciplina pelos professores, isso porque dificilmente há dever de casa nessa disciplina o que pode significar para o aluno, não haver um acompanhamento dos pais em casa.

    Já no segundo exemplo o fato da família não interferir ou não se mostrar preocupada com o que se passa dentro da escola pode fazer com que o aluno não se preocupe com as possíveis conseqüências que virão se tomar determinadas atitudes como, por exemplo, ficar atrapalhando a aula do professor, não prestar atenção nas explicações ou até mesmo ficar tirando a atenção dos colegas.

2.     O professor autoritário em busca de respeito

    Entender o pensamento de um professor quando o mesmo sabe do seu dever como docente, das dificuldades apresentadas pelos seus alunos durante o ano letivo e mesmo assim ainda opta pela autoridade como forma de manter a ordem nas aulas de Educação Física e se sentir respeitado pelos alunos é o mesmo que ir contra todo o aprendizado que foi adquirido durante a sua formação.

    Segundo Freire (1996), acreditar que é possível ensinar com alegria e vivenciar junto com os alunos, experiências que independente das dificuldades serão proveitosas e marcantes para ambos, é fundamental para que se mantenha acesa a esperança de uma educação melhor.

    Mattos e Neira (2008), alertam que nas aulas de Educação Física é constante o desentendimento entre professores e alunos pelo fato de o primeiro tentar aplicar a aula que elaborou enquanto o segundo quer jogar apenas futebol, fazendo com que as aulas deixem de ser de Educação Física e passem a ser vistas como um ambiente de recreação e lazer.

    Darido e Júnior (2007:17) lembram que “a prática de “dar a bola” é bastante condenável, pois se desconsidera a importância dos procedimentos pedagógicos dos professores”.

    Dessa forma a maneira encontrada pelos atuais professores para obter respeito é muito semelhante com o método utilizado pelos educadores no passado:

    De acordo com Aquino (1998) as atitudes apresentadas por muitos docentes que trazem à tona algumas idéias das escolas antigas, ao serem colocadas em prática, reproduzem o professor autoritário e repressor onde para eles aquele que se mantém em silêncio deixando a aula fluir sem qualquer tipo de interrupção é considerado um bom aluno e isso fica evidente, por exemplo:

    “Casos em que o professor assume uma posição autoritária e acreditam que distanciamento hierárquico é sinônimo de respeito, não são raros dentro de uma sala de aula. Esse profissional, como um ”general”, geralmente intimida os discentes a prestarem atenção e ministra suas aulas sem se importar que haja alunos que não estão acompanhando o seu raciocínio”. (SIQUEIRA, 2003:99).

    O resultado de tanta autoridade e distanciamento acaba refletindo na relação do aluno com o seu próprio colega durante as atividades. Segundo Masetto (1997), o individualismo se faz cada vez mais presente durante as aulas por conta de atitudes desnecessárias tomadas por professores que de forma autoritária inibem a ação dos alunos de se ajudarem.

    Nérici (1977) alerta sobre o caminho que vem sendo percorrido por escolas e professores para obter disciplina e respeito dos alunos. A autoridade, o medo e a intimidação são métodos utilizados com freqüência no ambiente escolar, atitudes essas que não são as ideais para que seja estabelecida a ordem entre os alunos.

    Aquino (1998) explica que o professor sempre que necessário estabelece a ordem no ambiente em que se encontra (sala de aula ou quadra) e quase sempre o faz de forma agressiva e duvidosa fazendo com que os alunos se diferenciem e manifestem uma independência própria tanto para sua aprendizagem como para a sua própria vida.

    Nérici (1977) diz ser necessário que o aluno se sinta seguro para que sua personalidade se desenvolva de forma adequada e com isso facilite a sua aprendizagem. Segundo o autor, conviver diariamente dentro da escola com um sentimento de insegurança, fatalmente fará com que o aluno se sinta entediado, angustiado, podendo inclusive prejudicar o seu psicológico.

    “Todos os alunos precisam ouvir de seus professores: “Você pode!”. Incentivo este que não precisa ser expresso necessariamente por palavras, mas por atitudes e ajuda afetiva. Por sua posição, o professor exerce grande influência sobre os alunos: a forma como os vê interfere não só nas relações que estabelece com eles, mas também na construção da auto-imagem de cada estudante”. (DARIDO,; JÚNIOR, 2007:18).

    O problema não é estabelecer a ordem e sim de que forma isso é estabelecido, e do modo que está sendo feito percebe-se que o educador acaba se excedendo, gerando nos educandos os mais variados sentimentos, uns se sentem amedrontados, outros angustiados e dificilmente há algum aluno com um sentimento de admiração.

    Aquino (1998) explica que existem duas formas de se respeitar alguém, uma dessas formas é através do medo, de se sentir inferior, acuado e a outra por conta da admiração, do bem estar, do gostar da outra pessoa. O autor ainda coloca o respeito como uma conduta necessária para que haja um bom desenvolvimento no trabalho pedagógico, porém, não suficiente. Isso nos leva a entender que o respeito conquistado pelos professores mais exaltados, autoritários não é fruto de admiração, mas aparenta ser reflexo de uma relação que está longe da ideal.

    Geralmente os alunos sentem falta de uma relação mais próxima com os seus professores, como um simples bate papo antes da aula e isso nos indica que a amizade entre educadores e educandos parece ser fundamental para que haja um equilíbrio na relação. Dessa forma é importante que os professores apresentem alguma atividade que prenda suas atenções, e que os respeitem para que os mesmos possam ser respeitados.

    Um bom exemplo são as aulas de Educação Física, aonde praticam apenas vôlei, basquete, handebol e principalmente futebol durante todo o ano letivo. Dependendo da forma que esses conteúdos forem trabalhados esses alunos não terão suas atenções despertadas, além de não acrescentar nada para sua aprendizagem.

    “Em virtude da ênfase esportiva, a educação física tem deixado de lado importantes expressões da cultura corporal produzidas ao longo da história do homem, bem como o conhecimento sobre o próprio corpo. Tais expressões – as danças, as lutas, os esportes ligados à natureza, os jogos – e conhecimentos podem e devem constituir-se em objeto de ensino e aprendizagem. Por exemplo, as danças podem estar presentes com mais freqüência nas aulas de educação física”.(DARIDO; JUNIOR, 2007:19).

    Segundo Mattos e Neira (2008), uma das características da Educação Física é justamente proporcionar aos alunos através de movimentos, gestos e expressões uma vivência que fará com que os mesmos obtenham mais conhecimento sobre a cultura corporal, tirando o aluno da rotina de ficar apenas ouvindo o professor e o levando à prática da atividade.

    O ideal é que o respeito seja alcançado durante as aulas de Educação Física pelos professores de forma harmoniosa sem tentar impor a sua autoridade a todo custo, isso porque segundo Freire (1996) essas posturas rígidas, energéticas não vão apresentar nenhuma criatividade nos educandos, pelo contrário fazem com que os professores não esperem os alunos nem ao menos revelarem seus gostos.

    Pires (1999:183) diz que “o ideal é mostrar os limites, mas também as possibilidades, geralmente esquecidas. A educação por coação produz uma personalidade dependente, imatura e pouco criativa”.

    Para Freire (1997:53), “procurar conhecer a realidade em que vivem nossos alunos é um dever que a prática educativa nos impõe: sem isso não temos acesso à maneira como pensam, dificilmente então podemos perceber o que sabem e como sabem”.

    Aquino (1998) entende que atualmente o respeito não pode mais ser alcançado por conta dos alunos terem medo de possíveis punições como antigamente, mas sim de uma autoridade que seja compatível a sua imagem como docente fazendo com que esse respeito seja recíproco.

    Existem diversas formas de se alcançar o respeito dos adolescentes, porém se eles forem enxergados como objetos e não como seres humanos, como pessoas que merecem respeito e estão em uma fase de amadurecimento se torna praticamente impossível estabelecer um vínculo amigável e respeitoso entre ambos.

    “Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de experiência feitos” com que chegam à escola.” (FREIRE, 1996:64).

3.     Intimidação pra que, se pode existir diálogo?

    De acordo com Aquino (1998), imagina-se que os professores aguardam até que todos os alunos permaneçam em silêncio, se mostrem comportados, para que assim o seu trabalho tenha início.

    Trabalho esse que exige muitas vezes dos professores habilidades para que consigam conduzir a turma com harmonia e organizá-los na quadra sem conflitos ou discussões. Segundo Nérici (1977), o educador deve trabalhar suas aulas com o intuito de motivar e contagiar seus alunos, ganhando assim sua confiança e não afastá-los de si ou intimidá-los.

    Aquino (1998) diz que o medo, a intimidação, a falta de diálogo, ainda se encontram escondidos nas salas de aula, isso porque os professores ameaçam os alunos através das avaliações, deixando para eles a sensação de que as provas serão difíceis e conseqüentemente suas notas baixas.

    Fontana (2007:3) afirma que “o que ocorre normalmente é que a primeira ação dos professores é ameaçar com perda de nota. É comum ouvir nas salas de aula: “Fulano, se não ficares quieto vou te dar ponto negativo””.

    Com isso, os professores acabam se tornando figuras distantes dos alunos e a exigência por silêncio no momento em que se explica à atividade acaba se tornando cada vez mais freqüente. Segundo Masetto (1997), na visão de muitos professores, os alunos estão ali para fazer as atividades sem que sejam interrompidos ou percam suas atenções, qualquer conversa paralela entre os alunos ou atitude que possa tirar o foco deles é simplesmente proibida.

    O que nos leva a entender que ameaças e intimidações acontecem com freqüência nas escolas e altera de forma negativa para a aprendizagem dos alunos o ambiente onde ambos se encontram. Dessa forma o diálogo acaba ficando em segundo plano, fazendo com que as soluções encontradas pelos professores para sanar os problemas disciplinares sejam impostas.

    Segundo Masetto (1997) é fundamental que haja respeito e conseqüentemente um bom relacionamento entre os professores, os alunos e toda a atmosfera que os acerca para que seja possível uma boa aprendizagem.

    Freire (1996) segue o mesmo raciocínio e enfatiza que ter liberdade para dialogar sem nenhum tipo de barreira ou inibição é fundamental na postura do professor e dos alunos, permitindo dessa forma que um possa explorar ao máximo o conhecimento do outro.

    O que, no entanto parece não estar acontecendo. É necessário que os professores consigam prender suas atenções com conteúdos interessantes e não intimidá-los através de imposições.

    De acordo com Freire (1979), os alunos estão se tornando verdadeiros depósitos para os educadores, os professores não estão ensinando e sim depositando conhecimento para que os educandos de forma passiva os arquivem como se tivessem aprendido algo.

    “Assim sendo, podemos dizer que a atitude deste professor, assim como o de muitos outros que encontramos no nosso dia-dia, reflete um profissional não comprometido com o seu trabalho, que não investe suficientemente na sua formação e que, dessa forma, torna-se apenas uma projeção do que foram seus professores, repetindo o mesmo currículo de seus antecessores, resistente a mudanças e um praticante de aulas expositivas monótonas e repetitivas repletas de muita “falação”, distantes das reais necessidades dos alunos, e que, portanto, os induz a desmotivação, a falta de interesse, à indisciplina, à incapacidade de refletir, criar e problematizar situações que poderiam auxiliar na construção de seu conhecimento e caráter”. (SIQUEIRA, 2003:99).

    Porém, faz-se necessária certa dose de humildade por parte dos educadores em assumir que os alunos podem muito bem em determinados momentos da sua aula, dependendo do assunto em pauta, ter um conhecimento maior que eles próprios e isso só pode ser diagnosticado a partir do momento em que ambos tenham total liberdade para expressar-se.

    Freire (1979) lembra que o professor não pode em hipótese alguma se achar o dono de todo o saber, mas sim de forma humilde passar todo o seu conhecimento para aquele aluno que já possui o seu próprio saber.

    Tudo indica que através do diálogo, professores e alunos podem chegar a um denominador comum e fatalmente melhorar seus relacionamentos.

    Freire (1987) diz que se não houver humildade também não haverá diálogo.

    Segundo Gomes (1993), a partir do momento em que há diálogo, o respeito mútuo e a consciência de igualdade também se fazem presentes.

    “É ouvindo o educando, tarefa inaceitável pela educadora autoritária, que a professora democrática se prepara cada vez mais para ser ouvida pelo educando. Mas, ao aprender com o educando a falar com ele porque o ouviu, ensina o educando a ouvi-la também”. (FREIRE, 1997:59).

    Dessa forma é importante que os professores se mostrem mais flexíveis para que assim possam encontrar com maior facilidade, soluções para possíveis contra tempos que venham a ter com os alunos e se questionarem sobre o porquê de intimidá-los, se existe diálogo.

    “Para exercer sua real função, o professor precisa aprender a combinar autoridade, respeito e afetividade; isto é, ao mesmo tempo que estabelece normas, deixando bem claro o que espera dos alunos, deve respeitar a individualidade e a liberdade que esses trazem com eles (...)”. (SIQUEIRA, 2003:99).

3.     A proximidade dos pais com o ambiente escolar

    “A escola e a família são dois sistemas que, tradicionalmente, têm estado bastante afastados, apesar de possuírem freqüentes relações ou interações, seja em nível institucional (associação de pais, conselho escolar, etc.) ou em nível individual (relação família/professor)”. (SANTOS.; NUNES, 2006:17).

    Segundo Carvalho (2000), geralmente a família tem sido apontada como uma das responsáveis pelo bom desempenho que é alcançado por uma escola e coincidentemente é também sobre a família que recai o titulo de vilã caso esses resultados sejam adversos.

    Ainda para este autor existem os casos das famílias de classe média, alta e escolas particulares onde os pais fazem um acompanhamento rigoroso nos estudos dos filhos verificando diariamente os deveres de casa, se comunicando constantemente com os professores e participando freqüentemente das reuniões de pais e mestres. E há também as classes menos favorecidas onde os filhos estudam em escolas públicas e o relacionamento entre pais e mestres é extremamente escasso, os professores são na grande maioria desmotivados e a relação dos mesmos com os alunos encontra-se totalmente fora de sintonia.

    A proximidade dos pais com as escolas mostra-se distante também devido o tratamento que lhes é dado. Segundo Carvalho (2000), atualmente, classe econômica, raça e gênero influenciam de forma negativa na atuação dessas famílias, isso porque é direcionado aos pais que apresentam um poder aquisitivo menor as tarefas como: fazer reformas na instituição, servir merenda aos alunos, lavar o pátio, entre outras, enquanto os que apresentam uma condição financeira mais favorável limitam-se a participar dos conselhos.

    Segundo Gomes (1993), a família só é acionada pela escola quando é necessário que os mesmos fiquem cientes da situação delicada em que os filhos se encontram por conta de notas baixas, por comportamentos considerados inadequados ou até mesmo quando apresentam sintomas de alguma doença.

    “A família e a escola mudaram muito. Antes, a família era cúmplice da escola. Hoje deposita suas funções e delega suas responsabilidades a ela, porém a critica. Cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites trabalhados pela família”.(PIRES, 1999:182).

    Para Nérici (1977), a escola precisa conscientizar as famílias de que sua ausência no acompanhamento escolar dos seus filhos pode significar sérios problemas no futuro.

    Porém, essa conscientização deve ser feita com cuidado, isso porque os pais, principalmente os de classe social menos favorecida, se tornam agressivos com os filhos ao serem convocados pela escola.

    Segundo Gomes (1993), nas escolas públicas a relação entre pais e professores não é nada amigável, ao serem comunicados que deverão comparecer na escola através de um bilhete, suas atitudes são imediatas, condenam seus filhos como causadores de problemas e encontram nessas convocações a justificativa para espancá-los e colocá-los de castigo.

    Ainda para este autor essa mesma situação quando é enfrentada por uma família de classe alta, apresenta um resultado contrário ao relatado acima, isso porque os pais também comparecem à escola, porém, se mostram a favor de seus filhos e como defesa questionam a qualidade da instituição.

    Nérici (1977) afirma que na maioria das vezes as famílias começam a demonstrar preocupação com os seus filhos apenas no final do ano letivo, quando percebem que os mesmos serão reprovados, daí então seguem dois caminhos, uns voltam-se contra a escola enquanto outros ameaçam seus próprios filhos.

    Com esse relacionamento tão conturbado e distante, professores, alunos, escolas e famílias estão perdendo seus valores de forma preocupante.

    “Essas relações mostram-se alienadas. O professor espera que a classe faça silêncio para poder dar aula; o aluno quer logo ir embora e receber a nota; a direção não quer problemas e os pais querem que o filho seja aprovado objetivando a ascensão social”.(PIRES, 1999:183).

4.     Trabalhando com adolescentes nas aulas de Educação Física

    Parece que aplicar a Educação Física nos adolescentes atuais não é uma tarefa das mais fáceis para os professores, pelo fato de enfrentarem a tão temida e citada indisciplina, além de precisarem entender as transformações pelas quais esses alunos passam nessa fase.

    Ferreira (1986:938) define a indisciplina como “procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião”.

    Já Marigo (2007), define a indisciplina como uma conduta de desrespeito a algo que foi acordado, intolerância, não seguir as normas.

    Mattos e Neira (2008:107) lembram que “entre os 13 e os 18 anos, aproximadamente, os jovens sofrem modificações que os transformam, passando a agir de maneira diferente tanto individualmente quanto nos grupos dos quais começam a participar”.

    Menezes (2008) afirma que a manifestação de indisciplina trazida pelos adolescentes é uma forma de ganhar status entre os grupos existentes na escola, fazendo com que se torne conhecido no ambiente escolar.

    Segundo Lopes (1988), o que os integrantes desses grupos falam, se transforma em lei entre eles. Não se trabalha com adolescente sem antes criar um vincula de amizade com eles.

    Para Menezes (2008), os grupos pelos quais os adolescentes se aliam é muito importante para o processo de aprendizagem e de sociabilização que estão passando, a influência desses grupos serve para explicar os comportamentos que são adotados por esses jovens que geralmente se deve a imitações de outros membros do grupo.

    Percebe-se que essas características que foram citadas acima estão sempre presentes na maioria dos adolescentes e precisam ser trabalhados com o intuito de amenizar os comportamentos que são considerados inadequados pelos professores.

    A aula de Educação Física através do seu vasto leque de conteúdos, passa a ser uma disciplina importantíssima no desenvolvimento desses adolescentes.

    De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006), a Educação Física no que diz respeito a escola, tem um diferencial em relação aos demais componentes curriculares. Trata-se de um método que auxilia para a formação do cidadão com conteúdos e conhecimentos que fogem da rotina daqueles chamados tradicionais no mundo escolar.

    De acordo com os PCN’s (1998) a partir do Decreto nº 69.450, de 1971, a disciplina de Educação Física passou a ser responsável por trabalhar, desenvolver e aprimorar nos alunos as forças físicas, cívicas, psíquicas, morais e sociais, através dos seus conteúdos e técnicas.

    “Muitos educadores justificam a inclusão da Educação Física nos currículos escolares através da contribuição da atividade esportiva na socialização dos alunos. Nesse sentido, o adolescente e o jovem, através do esporte, aprendem que entre eles e o mundo existem os outros, aprendem a conviver com as vitórias e derrotas, aprendem a vencer através do esforço pessoal, desenvolvem a independência e a confiança em si mesmos, o sentido da responsabilidade e etc”. (MATTOS.; NEIRA, 2008:94).

    Segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006), a Educação Física tem que garantir aos alunos do ensino médio: a vivência das praticas corporais, conceder-lhes conhecimento do corpo em relação ao trabalho no que diz respeito ao seu próprio esforço e do direito a descanso e lazer, iniciativa própria para atividades corporais comunitárias, autonomia para inventar, planejar, além de adquirir orientações para suas práticas corporais e intervenção política diante das iniciativas públicas do esporte, lazer e organização da comunidade nas manifestações, experiência e na produção de cultura.

    De acordo com Libâneo (1994) através de conteúdos que desperta o interesse dos alunos, os professores conseguem aumentar a atenção e concentração dos mesmos durante a atividade, elevando consideravelmente sua motivação para a aprendizagem.

    Mattos e Neira (2008) lembram o quanto é importante que durante a organização das atividades haja um dialogo com os alunos para que juntos possam superar possíveis conflitos durante a aula.

    “Uma das dificuldades mais comuns enfrentadas pelo professor é o que se costuma chamar de “controle da disciplina”. Dizendo assim dá a impressão de que existe uma chave milagrosa que o professor manipula para manter a disciplina. Não é assim. A disciplina da classe está diretamente ligada ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional, moral e técnica do professor”. (LIBÂNEO, 1994:252).

    Segundo Santos e Nunes (2006), a função do professor é importante não como centro das atenções, mas como coordenador educativo, pois através de uma autoridade democrática estimula os alunos de forma desafiadora, fazendo com que obtenham uma aprendizagem significativa.

    Libâneo (1994) lembra que se os alunos estiverem participando das atividades diminuirão os momentos de desatenção e conseqüentemente a indisciplina.

    Darido e Júnior (2007) explicam que existem diversas maneiras de se estimular a autonomia dos alunos, por exemplo, quando os alunos tem a liberdade de escolherem seus times para praticarem a atividade, quando podem se deslocar na quadra livremente, quando podem modificar as regras do jogo, etc.

    Ainda para este autor a independência dos alunos é facilmente atingida quando os professores conseguem estimular os alunos a refletirem e discutirem sobre a atividade desenvolvida.

    Mattos e Neira (2008) complementam dizendo que caso os alunos não concordem com algo que esteja acontecendo durante a atividade, a conduta do professor não deve ser a de colocar mais regras, mais sim explicar o problema para eles, através de um diálogo, fazendo com que possam conhecer as regras através dos seus significados.

    De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) uma das funções da Educação Física é entender e debater junto aos alunos os valores e significados que essas práticas corporais trazem consigo.

    Dessa forma entende-se ser necessário que se tome muito cuidado na hora de decidir os conteúdos que serão desenvolvidos com os alunos, isso porque não pode haver exclusão.

    Segundo Darido e Júnior (2007), para facilitar a inclusão de todos os alunos durante a aula é importante diversificar as atividades desenvolvidas com a turma, além dos conteúdos tradicionais como o futebol, vôlei ou basquetebol deve-se proporcionar aos alunos a oportunidade de vivenciarem a ginástica, as brincadeiras, as danças, etc.

    Mattos e Neira (2008) explicam que o professor de Educação Física que é comprometido com o seus trabalho irá reconhecer quando um método de ensino apresenta melhores resultados.

    Através do profissionalismo e de um trabalho sério espera-se que os professores consigam mudar os conceitos que a sociedade tem em relação a Educação Física.

    Darido e Júnior (2007:18) afirmam que “transformar opiniões preconceituosas sobre a Educação Física constitui um enorme desafio para os professores da disciplina”.

5.     Conclusão

    O distanciamento que há entre pais e professores acabou se tornando um agravante para tentar diagnosticar de onde parte o estímulo para a indisciplina apresentada pelos adolescentes no ambiente escolar.

    Porém, diante dessa situação concluiu-se através desse trabalho que os professores, principalmente os autoritários e as famílias em especial as mais ausentes no acompanhamento escolar dos filhos, estão interferindo na aprendizagem e no comportamento dos adolescentes durante as aulas de Educação Física. O medo, a intimidação e a falta de diálogo se mostraram bastante comuns no ambiente escolar.

    Portanto, professores e pais precisam o quanto antes mudar suas condutas em relação aos adolescentes. Agindo de forma autoritária se torna inevitável os conflitos durante as aulas. O diálogo que se mostrou pouco utilizado por ambas as partes também é uma ferramenta fundamental no combate a indisciplina, porém, infelizmente deixada de lado. Mas deve ser utilizada tanto por professores como pelos pais para que assim consigam entender melhor o que se passa na cabeça desses adolescentes, quais problemas que eles estão enfrentando e quais são as suas dificuldades.

    Os professores não estão conseguindo atingir a curiosidade dos seus alunos através dos conteúdos que estão sendo aplicados e com isso os mesmos estão ficando desmotivados e sem estímulos.

    Por outro lado, a família se faz muito ausente no ambiente escolar e isso vêm representando para os alunos uma sensação de total liberdade para fazer o que bem entender dentro da escola. É por isso que a família e os professores devem estar atentos e trabalhando em conjunto, com o intuito de orientar esses alunos através de um diálogo harmonioso. Até porque estão na fase da adolescência e passam por uma série de transformações, tanto físicas como mentais, além de trazerem consigo a cultura de que na aula de Educação Física apenas se joga futebol.

    Deve-se repensar com urgência na atual relação que há entre os pais e os professores, isso porque os pais estão delegando a responsabilidades de educar seus filhos para escola, já a escola vem encontrando dificuldades para lidar com o comportamento dos adolescentes e os alunos estão perdendo a noção dos seus limites por conta da falta de sintonia que há entre os seus pais e a escola.

Referências Bibliográficas

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revista digital · Año 14 · N° 138 | Buenos Aires, Noviembre de 2009  
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