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Dança de salão e Cultura de Paz: apontamentos iniciais sobre

as possibilidades de investigação sob a perspectiva da 

Ciência da Motricidade Humana

Danza de salón y Cultura para la Paz: notas iniciales sobre las posibilidades 

de investigación bajo la perspectiva de la Ciencia de la Motricidad Humana

 

*Mestranda em Ciência da Motricidade Humana - Universidade Castelo Branco

LABESPORTE e Professora da UNISUAM

**Mestre em Ciência da Motricidade Humana - Universidade Castelo Branco

LABESPORTE e Professor Substituto da EEFD da UFRJ

***Doutora em Educação Física - Universidade Gama Filho

Professora da UNISUAM

(Brasil)

Thaís Jordão Da Silva*

thathajordao@hotmail.com

Ricardo Martins Porto Lussac**

ricardolussac@yahoo.com.br

Monique Ribeiro Assis***

monique_assis@uol.com.br

 

 

 

Resumo

          A Dança de Salão pode ser vista como uma fonte de preservação de características culturais populares, e sua prática pode interferir positivamente no comportamento social de seus praticantes, levando-os a um comportamento pacifico, por estar desenvolvendo neles, valores humanos e universais, por estar desenvolvendo a Cultura de Paz. Deste modo, as sociedades podem ter um recurso a mais para a promoção da Cultura de Paz a partir da transformação do Homem e, conseqüentemente, da sociedade através da Dança de Salão. A elaboração deste artigo foi motivada pela verificação da carência de estudos que relacionem a prática da Dança de Salão, como prática esportiva, e a Cultura de Paz sob a perspectiva da Ciência da Motricidade Humana. Concluiu-se que o impacto científico de estudos sob a perspectiva desta Ciência pode colaborar para suprir as necessidades de informações relativas ao objeto de investigação aludido.

          Unitermos: Dança de Salão. Cultura de Paz. Motricidade humana. Educação Física. Educação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    Durante o processo de evolução, o Homem foi, de certa forma, prejudicado como Ser Humano, vivendo diversos conflitos por ter referenciado e pautado suas condutas e comportamentos em valores que somente supriam carências humanas primárias, materiais. A conduta e o comportamento social e afetivo também ficaram carentes de valores positivos e nobres, mais aprofundados e subjetivos, devido à evolução hodierna da ciência e de tecnologias dos tempos modernos.

    Insatisfações e discórdias, de âmbitos nacionais e internacional, promoveram e recriaram uma cultura de guerra hodierna, no caminho inverso ao da Cultura da Paz necessária aos tempos atuais. Compreendendo o Homem como ser principal do processo de evolução e a necessidade de promover a Cultura de Paz, deve-se resgatá-lo na sua dimensão humana, objetivando minimizar os diversos conflitos existentes atualmente. A prática da Dança de Salão pode interferir positivamente no comportamento social de seus praticantes, levando-os a um comportamento pacifico, por estar desenvolvendo neles, valores humanos e universais. Deste modo, as sociedades podem ter um recurso a mais para a promoção da Cultura de Paz a partir da transformação do Homem e, conseqüentemente, da sociedade através da Dança de Salão.

Contextualizando historicamente a Dança de Salão

    A Dança de Salão foi originada nos bailes da nobreza européia, especialmente a Valsa, dançada em casais, o que era um avanço comportamental em sua época. A forma de dança em casal, como mero entretenimento, era realizada em ambiente fechado (salões), que foi levada pelos colonizadores para as diversas regiões das Américas, onde deu origem às muitas variedades à medida que se mesclava às formas populares locais, tais como: Tango na Argentina; Maxixe, que deu origem ao Samba de Gafieira, no Brasil; Habanera, que deu origem a diversos ritmos cubanos, como Salsa, Bolero, Rumba etc, e até mesmo o Swing americano, que ainda hoje é preservado na sua forma original por grupos de dançarinos nos Estados Unidos e Europa. O Swing iniciou com o "Lindy Hop", que mais tarde se desdobrou como "West Coast Swing" e "East Coast Swing". Existe uma versão brasileira mais assemelhada ao "East Coast Swing" denominada Soltinho.

Figura 1. Aula de Dança de Salão na Academia Jaime Arôxa. Rio de Janeiro, agosto de 2009

    A Dança de Salão pode ser vista como uma fonte de preservação de características culturais populares. No entanto, não se deve considerá-la como mero entretenimento, apesar de poder sê-lo e de alta qualidade. Tem-se cristalizado no Brasil a diferenciação entre Dança de Salão e Dança de Competição, o Ballroom, muito em voga na Europa mas pouco conhecido no Brasil.

    As Danças de Salão de competição Ballroom são dez, cinco clássicas e cinco latinas: No Brasil, sete ritmos são os mais praticados, tanto nos bailes quanto nas escolas especializadas, sendo eles: Bolero; Soltinho; Samba; Forró Lambada/Zouk; Salsa e Tango.

Cultura de Paz, Dança de Salão e Ciência da Motricidade Humana

    Conforme Beresford (2002), a Ciência da Motricidade Humana, numa tentativa de interpretação e explicação da natureza e dos fenômenos que a regem, ocupa-se com o estudo da conduta motora intencional do Homem, expresso através de um código léxico particular. É possuidora de peculiaridades tais como a ‘forma interdisciplinar’, apontando para a integração de áreas pertinentes que possuam em comum o Homem como objeto de estudo teórico e formal e o movimento por ele realizado como objeto de estudo teórico e prático; e a ‘forma transdisciplinar’ mostrando que, por mais que algumas das áreas de estudo, inseridas na Motricidade Humana, consigam uma total interdisciplinaridade com a Ciência da Motricidade Humana, tal área não conseguirá abranger toda a identidade desta última, porquê haverá sempre múltiplas intencionalidades. A produção de um novo conhecimento em uma das áreas do saber relacionadas à Motricidade Humana gera um novo saber comum às demais áreas interligadas.

    Para a Ciência da Motricidade Humana, o Ser do Homem é o objetivo; o meio e o fim do processo de estudo, devendo-se ter em mente que também é o início, pois “a vida, a existência, a corporeidade e a motricidade do ser do Homem, com um Ser ou um ente, em permanente estado de carência, privação ou vacuidade” (BERESFORD, 2002). Sendo assim, é ele o objeto teórico e formal do estudo.

    Antecipando a compreensão e a explicação do conhecimento, pode-se dizer que, muitas vezes o individuo tende à melancolia, levando a uma vida de doenças e limitações, podendo ser também ocasionado por um cotidiano atribulado pelas varias questões sociais interagidas com a violência, que leva à redução e/ou perda de suas funções, da fragilidade física e emocional, e conseqüentemente, à dependência de outras pessoas para ajudá-lo em tarefas cotidianas no plano físico e/ou psicológico.

    Tendo-se uma compreensão axiológica, que é o ato de compreender o objeto teórico e formal de estudo sob o ponto de vista dos valores com causas e conseqüências mediatas, a Ciência da Motricidade Humana determina como objetivo reintegrar ao convívio com a sociedade, de maneira saudável, por meio da valorização sócio-cultural e da Dança de Salão, sendo esta um instrumento de possível promoção da saúde a nível emocional e afetivo que reflete no aspecto físico como um todo.

    Para suprir a carência, privação ou vacuidade, o Ser Humano como “ente” tende a valorar interesses que tenham verdadeiro significado para sua vida pessoal, pois, sendo o valor de qualidade sócio-cultural abstrata, esse ato presume a total compreensão do Ser (BERESFORD, 2000).

    “A vida ou o viver do homem é um comprometer-se com a inteligência e situando-se com uma realidade radical enquanto um processo sucessivo e infinito de auto-preencher ou completar e, portanto, não pode ser reduzido ao Ser”, assim definiu Merleau-Ponty (1994, p. 45). Deste modo, as suas transcendências levam-no a necessidade e/ou carências de natureza físico, biológica, psicológica, emocional, moral e sócio-cultural, transcendente cósmica e Humana ou como Pessoa Humana, na procura de novas tendências pelo aspecto do sentimento e pelo aspecto da vontade que possam valorar a sua conduta motora (CUNHA, 1977, p. 154), que é interpretado pela Ciência da Motricidade Humana como sendo o meio do processo, ou seja, o objeto teórico e prático do estudo.

    Assim, concebe-se como particularidade do objeto de estudo, formal e prático, a representação operacional através do comportamento motor vinculado também no aspecto sócio-afetivo do ente. Fica estabelecido, como objeto teórico e formal, uma investigação e representação do Ser do homem como indivíduo praticante da Dança de Salão no contexto da Cultura de Paz, que pode ter influenciado, direta e indiretamente, sua compreensão fenomenológica e axiológica. Já o objetivo teórico e prático, representa a análise dos ganhos positivos nos aspectos sociais e psicológicos devido à atividade proposta.

    Para evidenciar uma explicação fenomênica do objetivo de estudo, devem ser estabelecidos em torno das causas do problema, nexos de antecedência e conseqüência. Já a manifestação acadêmica e profissional do comportamento motor deve ser estabelecida através de indicadores de eficácia e eficiência biológica que representam uma perspectiva da ergomotricidade. Eles são caracterizados pelos padrões amplamente reconhecidos e pela aceitação da comunidade acadêmica nacional e internacional que os considera válidos para analisar cientificamente a prática da Dança de Salão em forma de Cultura de Paz. Sendo assim, deve-se verificar se os praticantes de Dança de Salão, em suas atitudes e valores sócio-afetivos podem contribuir na construção da Cultura de Paz, interferindo positivamente no comportamento social.

    Existe uma visão reducionista e limitada da Dança de Salão. Portanto, há a necessidade de substituir essa visão por outra mais ampla no contexto positivo inserido nos valores sociais e afetivos, ou seja, sendo uma ferramenta a mais na contribuição da Cultura e Paz. Certamente, novos rumos e problemas em torno do tema podem ser discutidos, questionados e analisados, levando a novas reflexões, estabelecendo a ligação da Dança de Salão e a Cultura de Paz, contribuindo para o desenvolvimento de novas teorias da Cultura de Paz por meio da pratica da Dança de Salão. Neste sentido, investigações sob a perspectiva da Ciência da Motricidade Humana podem oferecer substanciais avanços. Esta perspectiva pode ser ratificada por autores como Tubino & Lussac (2008), os quais afirmam que:

    Sob um novo paradigma epistemológico e como uma ciência de caráter interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, a Ciência da Motricidade Humana vem somar esforços acadêmicos a partir de novos olhares e perspectivas em problemáticas encaradas através de um suporte epistemológico próprio. Umas das áreas mais beneficiadas por este novo olhar da ciência é a dos esportes, das práticas corporais e das atividades físicas (TUBINO & LUSSAC, 2008).

Conclusão

    A necessidade da Cultura de Paz direcionou os cientistas sociais para estudos relacionados com as carências atuais do ser humano, que promoveram diversos distúrbios sociais. Desta forma, estes estudos poderiam demonstrar estas carências e direcionar outros estudos para a obtenção de recursos para supri-las. Atualmente, existem diversos estudos sobre a Cultura de Paz e suas influências nas atitudes e comportamentos do Homem. Porém existe uma relevante carência de estudos, de caráter científico, que relacionem a prática da Dança de Salão, como prática esportiva, e a Cultura de Paz. Logo, o impacto científico de estudos sob a perspectiva da Ciência da Motricidade Humana pode colaborar para suprir as necessidades de informações relativas ao objeto de investigação aludido.

Referências bibliográficas

  • BERESFORD, Heron in BELTRÂO, Fernanda. Produção em Ciência da Motricidade Humana. Rio de Janeiro: Shape, 2002.

  • _________. Valor Saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape, 2000.

  • CUNHA, R. M. Criatividade e processos cognitivos. Petrópolis: Vozes, 1977.

  • MERLEAU–PONTY, M.: Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

  • TUBINO, Manoel José Gomes; LUSSAC, Ricardo Martins Porto. Pesquisando a capoeira sob a perspectiva da ciência da motricidade humana. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 13, n. 124, sept. 2008. HTTP://www.efdeportes.com/efd124/pesquisando-a-capoeira-sob-a-perspectiva-da-ciencia-da-motricidade-humana.htm

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