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Análise biomecânica da componente vertical da força de reação

do solo em atividades de salto presentes na rotina das crianças

Análisis biomecánico del componente vertical de la fuerza de reacción del 

suelo en las actividades de salto presentes en la rutina de los niños

 

*Professora do Curso de Educação Física

Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC

(Brasil)

Ana Cláudia Kraeski* | Maria Helena Kraeski*

Daniel Kraeski | Evelise Garofalo Pinto

Kênyo da Silva Nunes

anakraeski@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Introdução: A habilidade motora de saltar está presente em várias modalidades esportivas e em tarefas motoras da vida diária das crianças. Devido às forças envolvidas nesta habilidade, cuidados quanto à prescrição da atividade e da manipulação de fatores externos, recomendados para o andar e o correr devem ser mais acentuados. Considerando que crianças de um modo geral são freqüentemente submetidas a atividades de impactos, tanto em atividades motoras especializadas presentes em modalidades esportivas quanto em habilidades motoras fundamentais presentes em brincadeiras e em atividades escolares, o objetivo deste estudo foi verificar o comportamento da componente vertical da força de reação do solo Fz, durante a fase de aterrissagem nas atividades motoras de pular amarelinha, pular corda e saltar a partir de uma altura. Materiais e Métodos: Participaram do estudo 09 crianças com idade de 12(±0,5) anos, os dados foram coletados utilizando uma plataforma de força 0R6-5 (AMTI mc). Resultados: Foi observado que o salto a partir de uma altura apresentou valores mais altos, entre 5,12 (PC) e 10,65 (PC). Sendo seguida pela atividade de pular corda 4,21 (PC) e 6,11 (PC). Pular amarelinha com aterrissagem em 2 pés 3,35(PC) e 4,53 (PC) e Pular amarelinha com aterrissagem em 1 pé 2,70 (PC) e 4,16 (PC). Após a análise de variância observou-se diferença significativa entre os valores da Fz entre as atividades de saltar a partir de uma altura e as demais atividades motoras. Conclusões: Os resultados encontrados no estudo chamam atenção aos cuidados que devem ser tomados na execução de tarefas de saltos por crianças além de dar suporte para adoção de diferenciadas metodologias de trabalho para técnicos esportivos e professores de Educação Física.

          Unitermos: Força de reação do solo. Saltos. Atividades motoras

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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Introdução

    O padrão amadurecido da habilidade de saltar depende do desenvolvimento eficiente da corrida (GALLAHUE & DONNELLY, 2008). Sendo assim, o desenvolvimento das habilidades motoras deve ser acompanhado pelos professores e profissionais da área do movimento humano visando alcançar o desenvolvimento adequado das habilidades fundamentais.    

    Esta habilidade está presente em várias modalidades esportivas e em tarefas motoras da vida diária das crianças. Segundo Gallahue & Donnelly (2008 p. 450), O ato de saltar é utilizado em jogos e atividades recreativas das crianças (pular amarelinha, atravessar um riacho), além de fazer parte de danças recreativas e atividades ginásticas, e é utilizado em combinação com várias atividades manipulativas.

    Nos estudos realizados na área da biomecânica Amadio (1996, p. 128), também ressalta a importância da habilidade de saltar, estando presente como modalidade atlética específica ou e até mesmo compondo outras modalidades, porém o foco das pesquisas está relacionado às forças que atuam no movimento.

    Em função de sua velocidade acentuada, marcadamente superior a do andar e do correr, durante o salto são produzidas forças de magnitudes que podem superar até 20 vezes o peso corporal do saltador, e que são geradas num intervalo de tempo muito pequeno (AMADIO, 1996, p. 128).

    Em virtude da magnitude da força e do pequeno tempo de contato, os saltos tendem a produzir um gradiente de crescimento da força vertical bastante expressivo. A força vertical máxima será gerada na fase passiva do movimento, portanto as forças geradas durante o salto são quase que exclusivamente transferidas para a estrutura ósteo-articular do aparelho locomotor. Dada esta característica, cuidados quanto à prescrição da atividade e da manipulação com fatores externos, recomendados para o andar e o correr devem ser ainda mais acentuados. A investigação da Força de reação do solo (FRS) bem como da distribuição de pressão dinâmica na superfície plantar, traz importantes conhecimentos sobre a forma e as características da sobrecarga mecânica sobre o aparelho locomotor humano e seu comportamento para movimentos selecionados (Amadio, 1996).

    Alguns estudos como os de Bowling (1989), Gans (1985), trazem informações sobre a influência das técnicas de aterrissagem e a ocorrência de lesões com bailarinos. Mizrah e Barrier et al apud Simpson, Ciapponi & Wang, (2003) e Fantíni & Menzel (2001), também fazem referência à atenção que deve ser dirigida às técnicas de aterrissagem em esportes coletivos onde os saltos estão presentes.

    No estudo realizado por Sousa apud Soares (2002), no ballet clássico foram mensuradas forças de impacto com o solo da ordem de seis vezes o peso corporal durante a execução de determinados saltos.

    Kraeski et al. (2006) avaliaram a Fz máx durante a fase de aterrissagem nos saltos enjambée (abdução de membro inferior a 180°, e abdução de membro superior a 180°), corsa (abdução de membro inferior a 180° e durante o vôo do salto flexão máxima do membro inferior a frente) e vertical (salto vertical). Os valores da FRS vertical na fase de aterrissagem do salto enjambée foram entre 5,27 PC e 8,13 PC; na fase de aterrissagem do salto corsa entre 3,17 PC e 4,95 PC e; no salto vertical entre 3,57 PC a 8,36 PC. As ginastas com maior qualidade de movimento durante a fase aterrissagem dos saltos apresentaram menores valores na componente vertical da FRS, mostrando relação da técnica de aterrissagem com a diminuição dos valores de força.

    Enquanto são discutidas as interferências das técnicas de aterrissagem e das forças envolvidas nos saltos de modalidades esportivas, pouco evidente são ainda os estudos referentes às atividades motoras fundamentais.

    Considerando que crianças de um modo geral são freqüentemente submetidas a atividades de impactos, tanto em atividades motoras especializadas presentes em modalidades esportivas quanto em habilidades motoras fundamentais presentes em brincadeiras e em atividades escolares, o conhecimento do comportamento da componente vertical da força de reação do solo permitirá um aprimoramento das condições da prática em busca da diminuição da força de reação do solo diminuindo o risco de futuras lesões tanto no esporte quanto na vida diária das crianças,

    Diante do exposto este estudo teve como objetivo verificar o comportamento da componente vertical da força de reação do solo Fz, durante a fase de aterrissagem nas atividades motoras de pular amarelinha, pular corda e saltar a partir de uma altura.

Materiais e métodos

    Este estudo caracterizou-se como descritivo e diagnóstico onde buscou-se verificar e comparar o comportamento da componente vertical da força de reação do solo (FRS) durante a fase de aterrissagem nas atividades motoras de pular amarelinha, pular corda e saltar a partir de uma altura. Participaram do estudo 09 crianças do sexo feminino com idade de 12 (±0,5) anos, massa corporal 37(±6,1) kg, e estatura 146 (±7,8) cm. Os movimentos analisados foram: pular amarelinha (aterrissagem com um e dois pés), pular corda e saltar a partir de uma altura.

    Para aquisição dos dados cinéticos referentes a FRS foi utilizada uma plataforma de força 0R6-5 (AMTI mc.) com dimensões de 46,4 X 50,8 cm (PEAK PERFORMANCE TECHOLOGIES, 1998).

    A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Biomecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Os procedimentos adotados foram os seguintes: 

  1. comunicação prévia aos sujeitos e seus responsáveis dos procedimentos de avaliação, 

  2. assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido para participação do estudo, 

  3. pesagem dos sujeitos para normalização da força em função do peso corporal, 

  4. período de adaptação ao instrumento de medição, 

  5. coleta dos dados cinéticos na seguinte ordem: pular amarelinha com aterrissagem em 1 e 2 pés, pular corda, saltar a partir de uma altura (a partir de um plinto de ginástica de 52 cm de altura). Para cada atividade foram coletadas dez tentativas válidas, eram consideradas válidas as tentativas em que as crianças aterrissavam corretamente sobre a plataforma. 

  6. avaliação motora dos padrões de movimento: para controlar os padrões de execução dos movimentos foi realizada uma avaliação a partir do matriz proposta por Gallahue & Ozmun (2000).

    O processamento dos dados foi realizado a partir do software da própria plataforma, através do sistema Peak Performance 4.1. Para o tratamento estatístico foram utilizados os softwares Statisica versão 6.0 for Windows. Mesmo sendo a amostra reduzida, através do teste Shapiro-Wilk, constatou-se que os dados estavam normalmente distribuídos, permitindo assim a adoção de medidas paramétricas. Para a comparação da componente vertical da força de reação do solo entre as atividades motoras, utilizou-se análise de variância “One-way” com teste “post-hoc” de Sheffé. Para todas as análises adotou-se o nível de significância de 0,05.

Resultados

    Em relação ao padrão de movimento durante as habilidades de saltos coletas foi observado que nas habilidades de saltar amarelinha e pular corda todos os sujeitos do estudo aprestavam padrão de movimento maduro, no salto em profundidade 04 sujeitos apresentaram um padrão elementar de desenvolvimento para esta habilidade como pode ser visto na tabela abaixo.

Tabela 1. Avaliação do padrão motor das atividades motoras

Sujeitos

Amarelinha

Pular corda

Salto a partir de uma altura

01

M

M

M

02

M

M

E

03

M

M

E

04

M

M

M

05

M

M

M

06

M

M

M

07

M

M

E

08

M

M

E

09

M

M

M

Legenda: (E) Elementar, (M) Maduro

    Os valores encontrados para a componente vertical (Fz) da força de reação do solo para cada uma das atividades motoras estão descritas nas tabelas abaixo, os valores foram normalizados pelo peso corporal de cada sujeito.

Tabela 2. Valores da Fz no a atividade motora amarelinha: aterrissagem em 2 pés

Sujeitos

(±EP)

DP

Suj. 1

6,24(±0,41)

1,30

Suj. 2

4,16(±0,17)

0,53

Suj. 3

3,35(±0,12)

0,37

Suj. 4

4,34(±0,22)

0,68

Suj. 5

3,95(±0,12)

0,39

Suj. 6

3,66(±0,17)

0,53

Suj. 7

4,13(±0,25)

0,79

Suj. 8

4,53(±0,15)

0,48

Suj. 9

4,35(±0,26)

0,84

 

Tabela 3. Valores da Fz no a atividade motora amarelinha: aterrissagem em 1 pé

Sujeitos

(±EP)

DP

Suj. 1

3,33(±0,14)

0,45

Suj. 2

3,47(±0,10)

0,31

Suj. 3

2,70(±0,18)

0,58

Suj. 4

3,47(±0,25)

0,80

Suj. 5

3,18(±0,11)

0,36

Suj. 6

3,01(±0,09)

0,27

Suj. 7

4,06(±0,31)

0,97

Suj. 8

4,16(±0,20)

0,65

Suj. 9

4,14(±0,22)

0,70

 

Tabela 4. Valores da Fz no a atividade motora de pular corda

Sujeitos

(±EP)

DP

Suj. 1

5,69(±0,08)

0,27

Suj. 2

4,90(±0,09)

0,29

Suj. 3

4,38(±0,07)

0,21

Suj. 4

4,74(±0,09)

0,29

Suj. 5

4,82(±0,08)

0,26

Suj. 6

4,91(±0,07)

0,23

Suj. 7

4,86(±0,10)

0,33

Suj. 8

6,11(±0,38)

1,21

Suj. 9

4,21(±0,27)

0,85

 

Tabela 5. Valores da Fz no a atividade motora de saltar a partir de uma altura

Sujeitos

(±EP)

DP

Suj. 1

6,03 (±0,34)

1,07

Suj. 2

10,65 (±1,00)

3,16

Suj. 3

9,23 (±0,47)

1,49

Suj. 4

5,71 (±0,48)

1,52

Suj. 5

9,66 (±0,43)

1,35

Suj. 6

5,33 (±0,24)

0,76

Suj. 7

9,74 (±0,64)

2,01

Suj. 8

9,87 (±0,59)

1,87

Suj. 9

5,12 (±0,26)

0,82

    Analisando os valores médios da Fz dos sujeitos para cada um das atividades motoras, observou-se que o salto a partir de uma altura apresentou valores mais altos, entre 5,12 (PC) e 10,65 (PC). Sendo seguida pela atividade de pular corda 4,21 (PC) e 6,11 (PC). Pular amarelinha com aterrissagem em 2 pés 3,35(PC) e 4,53 (PC) e Pular amarelinha com aterrissagem em 1 pé 2,70 (PC) e 4,16 (PC). Após a análise de variância observou-se diferença significativa entre os valores da Fz entre as atividades de saltar a partir de uma altura e as demais atividades motoras. Entre as demais atividades não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas.

Conclusão

    A partir deste estudo obteve-se conhecimento sobre o comportamento da componente vertical da força de reação do solo (Fz) durante atividades motoras presentes na rotina diária das crianças, momentos de lazer e em atividades curriculares nas aulas de Educação Física.

    Verificou-se uma relação entre os valores mais altos da Fz na atividade de saltar em profundidade com o padrão de movimento das crianças, os sujeitos que apresentaram um padrão elementar de movimento para esta atividade foram os mesmos em que a Fz apresentou maior magnitude.

    Os valores da componente vertical da FRS encontrados para as atividades motoras apresentaram em algumas situações valores semelhantes aos encontrados na literatura para habilidades específicas de modalidades esportivas, apontando uma possibilidade para professores e técnicos esportivos de utilizarem atividades menos específicas e com caráter lúdico na preparação do sistema músculo-esquelético na recepção de cargas externas ao corpo e a aprendizagem das técnicas mais eficientes de aterrissagem. Chamando atenção também para os cuidados que devem ser tomados quando as crianças brincam sozinhas, sem orientação, muitas vezes em locais não apropriados e sem proteção de um calçado adequado para execução de saltos.

Referências bibliográficas

  • AMADIO, Alberto Carlos. Fundamentos biomecânicos para a análise do movimento. São Paulo: Laboratório de Biomecânica /EEFUSP, 1996.

  • BOWLING, A. Injuries to Dancers: Prevalence, Treatment, and Perceptions of Causes. Br Med, 1989

  • BIOMECÂNICA, IX, 2001, Gramado.Anais... Sociedade Brasileira de Biomecânica, 2001 p. 89 a 99.

  • FANTINI, Cíntia, MENZEL, Hans Joaquim. Análise de impactos em aterrissagens após saltos máximos em diferentes atletas e não-atletas 

  • GALLAHUE, David L., OZMUN, John C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2003.

  • GALLAHUE, D. L.; DONNELLY, F. Educação física desenvolvimentista para todas as crianças. 4. ed. São Paulo: Phorte, 2008.

  • KRAESKI, A.C.; ÁVILA, A.O.V.; GOULART, M.C.; KRAESKI, M.H. Análise biomecânica de saltos ginásticos executados por ginastas da categoria infantil. In: 58ª Reunião Anual da SBPC. Anais... Florianópolis, 2006.

  • PEAK PERFORMANCE TECHOLOGIIES, Inc. Using Peak Motus. Englewood,1998.

  • SIMPSON,Kathy J., CIAPPONI, Teri & WANG, He. Biomecânica da Aterrissagem. In: GARRET Jr, W. E , KIRKENDALL, D.T. A Ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre , Artmed, 2003.( p 572 a 585)

  • SOARES , Denise et al. Força articular e trabalho mecânico muscular em saltos elementares do ballet clássico. 2002. Disponível em: htp:homepage/livrosalao/artigo_denise.htm. Acesso em: março de 2004

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