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Análise da incidência da obesidade infantil em crianças de 1ª a 3ª

séries do ensino fundamental I em uma escola particular da 

zona sul da cidade de São Paulo

Análisis de la incidencia de la obesidad infantil en niños de 1º a 3º grado de educación

primaria en una escuela privada de la zona del sur de la ciudad de San Pablo, Brasil

Analysis of the incidence of infantile obesity in children of 1ª to 3ª series of 

basic education in a particular school at south zone of São Paulo city

 

*Licenciada em Educação Física pela Universidade Adventista de São Paulo (UNASP-SP)

**Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutorando em Educação Física

pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Docente do Ensino Superior nas Faculdades Integradas Metropolitanas

de Campinas (Metrocamp/ Veris-IBTA); UniAnchieta (Jundiaí-SP) e

Universidade Adventista de São Paulo (UNASP- Campus SP)

***Bacharel, Licenciado, Mestre em Educação Física pela

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Doutorando em Educação pela UNICAMP

Docente do Ensino Superior e Coordenador dos cursos de graduação em Educação Física

na Universidade Adventista de São Paulo (UNASP- Campus SP)

Tatiana Miranda de Camargo*

Rubens Venditti Júnior**

Leonardo Tavares Martins***

rubensjrv@yahoo.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este trabalho mostra a análise da incidência da obesidade infantil, pesquisada em uma escola particular da zona sul da cidade de São Paulo, região sudeste do Brasil. Sabe-se hoje que a obesidade é um aspecto preocupante para a infância e a qualidade de vida da população. O papel da Educação Física escolar passa a ser fundamental no combate ao sedentarismo e obesidade, além de contribuir para a promoção da saúde, atividade física e hábitos de vida. O objetivo foi identificar o índice de crianças obesas e a prevalência da obesidade em escolares com idade entre 06 e 10 anos de idade, além de destacar a importância da identificação da obesidade em determinada fase da infância e suas e as relações com os contextos da EF escolar e do relacionamento dos pais com o filho, tendo em vista o estilo de vida familiar, costumes e comportamentos. A principal problemática dessa pesquisa foi a indagação: Como a obesidade pode influenciar na vida da criança e de seus familiares? Foram avaliadas 110 crianças de primeira a terceira série de uma escola particular da região sul do município de São Paulo- SP. Utilizamos um questionário de aspectos ligados à qualidade de vida e hábitos alimentares destes sujeitos e pudemos observar diversos aspectos relacionados a fatores ambientais, genéticos e sociais-psicológicos. Percebemos que o profissional de EF se faz uma figura fundamental para as novas mudanças de paradigmas, além das possibilidades de se discutir esta temática nas aulas de EF escolar.

          Unitermos: Obesidade infantil. Educação Física. Qualidade de vida

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009

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1.     Introdução

    A globalização, caracterizada pela integração econômica, trouxe a tecnologia, a informatização e, conseqüentemente o sedentarismo, que é caracterizado pela diminuição da atividade física, trazendo riscos à saúde. Sendo assim, os hábitos de vida saudáveis, como a prática de atividade física diária, boa alimentação, entre outros são cada vez menos praticados (CARVALHO, 1996).

    As crianças desta geração, por nascerem na era da informação, da tecnologia, do desenvolvimento, estão cada vez mais cedo dominando o mouse, os teclados, controles remotos, videocassetes e aparelhos de DVD. O contato com esses aparelhos eletrônicos acontece muito mais precocemente. Elas passam grande parte do dia na frente do computador ou do vídeo game. As horas destinadas ao uso do computador, quando bem usadas, podem ajudar nos deveres de casa, atualizando a criança dos acontecimentos cotidianos.

    Porém, caso os pais não coloquem limites nas informações e nos momentos de brincadeiras on-line, as crianças acabam perdendo o convívio social; ou seja, as atividades do dia-a-dia, como as brincadeiras de roda, o contato com os amigos e é claro as “raladas nos joelhos” e as diversas possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem oriundas das atividades corporais.

    No entanto, não são somente as crianças que estão aderindo ao sedentarismo: os pais que ainda não se atualizaram nessa era informatizada sentem a necessidade de aprender, mesmo que isso implique em algumas aulas particulares com os próprios filhos. (MERCONI e SAMPAIO, 2006).

    A demasiada importância dada à estética corporal é um excesso que preocupa. A década de vinte (1920-1930) teve um importante papel na definição do novo ideal de perfeição física, sendo influenciada diretamente pelas modelos cinematográficas.

    O cuidado com o corpo tem aumentado cada vez mais, tendo influências no vestuário, caracterizado pelo desnudamento e as transparências. Na alimentação, foi introduzida com grande força a “onda Diet”; na indústria de cosméticos, fórmulas milagrosas de rejuvenescimento e beleza; nas academias e clínicas de estética a corpolatria e a massificação das cirurgias plásticas e próteses de silicone, visando estética (LÜDORF, 2000).

    Dessa forma, o culto ao corpo pode ser visto de forma maléfica, e em exagero, pode causar neuroses, além de alterações orgânicas, que trazem diversas doenças graves, como presenciamos recentemente “a onda da anorexia”, onde meninas jovens deixam de comer para exibirem seus corpos magros e por isso pagam com a própria vida. (GUELLI, 2006; PY e JACQUES, 1998).

    A obesidade pode ser vista como o oposto do culto ao corpo. Ela é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura (tecido adiposo) no organismo, podendo causar danos à saúde. Sendo assim, é uma doença crônico-degenerativa, que, atualmente, atinge tanto adultos quanto crianças, sendo interessante identificá-la porque seus portadores apresentam riscos aumentados de morbidade e mortalidade, uma vez que ela aparece como uma das principais causas de várias doenças crônicas e não-infecciosas, como as cardiovasculares, gastrointestinais, hipertensão e certos tipos de câncer. Além de ser responsável por problemas respiratórios, dermatológicos, distúrbios do aparelho locomotor, dislipidemia, aumento da tendência à coagulação sangüínea, resistência a insulina, diabetes mielittus tipo 2, apnéia do sono, dentre outras (LEÃO e colaboradores, 2003; SIGULEM e colaboradores, 2001; UKKOLA e BOUCHARD, 2002; VILLARES e colaboradores, 2003).

    Segundo PY e JACQUES (1998), o peso corporal é regulado pelo organismo a partir de um valor especificado, chamado de ponto de equilíbrio (set point). Entretanto, existem diversos fatores que interferem e tornam custosa a manutenção do ponto de equilíbrio do peso corporal. Entre esses fatores destacam-se os genéticos, ambientais e emocionais.

Fatores genéticos

    A obesidade infantil, nas últimas décadas, tem aumentado significativamente em países ricos, em transição econômica e em desenvolvimento, sendo qualificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como epidemia (BRASIL, 2000). Esse aumento é preocupante porque crianças obesas podem se tornar adultos obesos. Essa afirmação sugere o envolvimento de fatores hereditários na predisposição à obesidade. No entanto, deve-se levar em conta o estilo de vida que a família leva, ou seja, os fatores ambientais, tais como hábitos alimentares e níveis de atividade física. Sendo assim, as características genéticas contribuem para a obesidade, sendo significativa a relação entre a gordura dos pais e a dos filhos, como mostra uma pesquisa realizada com Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças adotadas. Ela revela uma relação do IMC das crianças com o de seus pais biológicos e não com os de seus pais adotivos, confirmando a hipótese da hereditariedade ter uma interferência no controle do peso corporal. Todavia, poucos genes ligados à obesidade infantil foram estudados, deixando dúvidas se o determinante genético infantil é o mesmo que o do adulto. (GOLAN, 2002; KOLETZKO e KRIES, 2002; UKKOLA e BOUCHARD, 2002).

Fatores ambientais

    Sabe-se também que além de fatores genéticos, a obesidade pode ter intervenção direta dos fatores ambientais, sendo que intervenções feitas no núcleo familiar obtêm êxitos mais visíveis do que as feitas somente com a pessoa obesa (GOLAN, 2002).

    Segundo PY e JACQUES (1998), a família não só compartilha os genes, mas também a dieta e os hábitos de vida. Através do meio familiar que é determinado o equilíbrio energético da criança. Partindo desse pressuposto, uma criança predisposta à obesidade e que tenha uma alimentação de alta densidade energética e hábitos sedentários corre mais risco de ser obesa, do que outra criança que tenha a mesma disposição genética (GOLAN, 2002).

    Dessa maneira, a prática de hábitos de vida saudáveis, como não ingerir alimentos densos, ricos em gorduras, açúcares, refrigerante em grande quantidade, são costumes que devem ser praticados por toda a família. A disponibilidade de alimentos proeminentemente palatáveis, a quantidade disponível, a influência na preferência de certos alimentos pode afetar no equilíbrio energético. E também são afazeres desenvolvidos na infância, estabelecendo o convívio social e alterando outros padrões de comportamento.

    Outro hábito que deve ser incentivado pelos pais é a prática de exercícios físicos, combatendo o sedentarismo, pois a atividade física dá aos músculos elasticidade e resistência, tornando os movimentos ágeis e coordenados, além de reduzir, significativamente, o excesso de peso, potencializando o desempenho e a capacidade aeróbia. Os pais devem ter em mente que a atividade física é benéfica à saúde e que limitar o tempo para assistir televisão, jogar vídeo game ou no computador, auxiliará no controle à obesidade dos filhos.

    Sendo assim, a estrutura da família, o estilo de vida, as relações familiares e o apoio à criança, interferem na alimentação e na prática de atividade física. Os pais devem participar da reeducação alimentar da criança e da prática de exercícios diários, contribuindo para o bem físico dela e de si mesmos, servindo de modelo, de autoridade e de comportamento para a criança obesa (GOLAN, 2002; PELLATI e MONTI, 1999; PY e JACQUES, 1998; VILLARES e colaboradores, 2003).

Fatores emocionais

    A alimentação é utilizada como forma de comunicação com o meio em que vivemos, para participarmos de grupos específicos de pessoas e para realizarmos certos rituais culturais. Nosso cotidiano é marcado pelo consumo ou pela proibição de alimentos, para participarmos dessa comunicação. Portanto, o fato de comermos é algo público. No entanto, a desordem alimentar é algo que geralmente é secreto, sendo difícil de identificar (MIRANDA, 2006).

    Alguns exemplos sobre esses tipos de distúrbios alimentares são: a anorexia nervosa, que consiste em um jejum persistente, provocando grande emagrecimento; os distúrbios bulímicos, que ocorrem quando se ingere grande quantidade de alimentos de uma só vez, para posteriormente vomitá-los, podendo ocorrer simultaneamente com a anorexia nervosa; problemas relacionados à ansiedade, ocorrendo quando a criança está extremamente preocupada ou ansiosa, descarregando suas preocupações no excesso de comida ou na falta da mesma, sendo acompanhados por outros sinais de ansiedade, como a sudorese e calafrios, episódios de medo agudo, seguidos de tentativa de fuga, comparecimento irregular à escola e mau desempenho escolar; e, certos distúrbios alimentares ocasionados por doenças obsessivas; que em crianças são facilmente identificados e muito dramáticos (PELLATI e MONTI, 1999).

    A obesidade é uma desordem alimentar, porém segundo Pellati e Monti (1999), ela não pode ser considerada um distúrbio alimentar, exatamente por ser um comportamento que a criança adquiriu socialmente por influência e pelo comportamento e hábitos de vida dos pais. E o tratamento que se deve usar para evitar a obesidade é “educar” tanto os pais quanto a criança com respeito à alimentação, à real necessidade do corpo de energia e à prática de atividade física.

    No entanto, sabe-se que as crianças podem desenvolvê-la por pertencer a famílias onde prevaleceram uma ou mais das seguintes características: desagregação familiar; separação de mãe e filho; transferência dos cuidados da criança para outra pessoa; depressão materna; negação de anormalidade de crescimento; hostilidade para com profissionais de saúde e acompanhamento médico inadequado.

    Sendo assim, a obesidade acontece, pois algumas pessoas, por carências, ansiedade ou em resposta negativa a certas emoções (tais como tristeza, raiva, tédio, solidão e estresse), comem para compensá-las (GOLAN, 2002; PELLATI e MONTI, 1999; PY e JACQUES, 1998).

    Partindo desse pressuposto, é importante identificá-la devido aos danos que ela causa à saúde, mudar os hábitos de vida da família, não somente da criança, estimulando a prática de exercícios, jogos e brincadeiras que desenvolvam o gosto em sua prática (VILLARES e colaboradores, 2003).

2.     Justificativa

    O número de crianças e adolescentes que desenvolvem a obesidade vem aumentando nos últimos anos (VILLARES e colaboradores, 2003). Dessa maneira, a identificação desta doença é essencial para o seu tratamento e a Educação Física (EF) pode ser fundamental para a alteração do dramático quadro atual de obesidade infantil.

    Sabe-se que inúmeras pesquisas vêm sendo desenvolvidas para o estudo da obesidade. Entretanto, existem muitas desigualdades nos resultados devido aos diferentes métodos utilizados. Isso comprova que a obesidade infantil é vista como uma doença que causa danos à saúde física e emocional. Estudos mais amplos e padronizados nessa área são importantes para a aplicação de métodos corretos na prevenção e no combate (MIRANDA, 2006).

    “A obesidade em crianças é preocupante devido ao risco aumentado de sua persistência na idade adulta, e pelos riscos de doenças a ela relacionadas” (LEÃO e colaboradores, 2003, p. 151). Como é possível visualizar, a obesidade infantil não traz problemas somente nessa fase, ela pode persistir pela vida adulta. Sendo assim, problemas iniciados nessa fase, como a baixa auto-estima, a depressão e as doenças crônico-degenerativas, tendem a se agravarem na idade adulta, acarretando outros problemas e consequentemente maior ganho de peso.

    Partindo desse pressuposto, é importante tratá-la na infância sendo que intervenções em crianças de até 10 anos e em adolescentes diminuem a rigidez dos problemas dela decorrentes. No entanto, quando as mesmas intervenções são realizadas na idade adulta não correspondem aos mesmos resultados (LEÃO e colaboradores, 2003). Esse tratamento pode ser iniciado através das aulas de EF na escola, onde a criança aprende a gostar da prática de atividade física, levando para toda a vida o hábito de exercitar-se diariamente.

    Dessa maneira, o presente estudo pretende colaborar para a população que será avaliada, possibilitando a identificação dos índices de sobrepeso e de obesidade, tornando possíveis algumas propostas de mudanças na alimentação, como a diminuição de doces e alimentos ricos em gorduras; a prática de atividades físicas, sendo incentivada; em alguns hábitos familiares, como a quantidade de horas assistindo televisão e, até mesmo na maneira como as pessoas enxergam uma criança obesa.

    O grupo alvo da pesquisa foi de crianças de 1ª à 3ª séries do ensino fundamental I. Esse grupo foi escolhido, pois a primeira menstruação ou menarca tem ocorrido por volta dos 12 anos de idade. Porém, algumas meninas têm menstruado antes dessa idade.

    Sendo assim, a cultura corporal das meninas é diferente nos períodos pré e pós-púberes, pois algumas variações no desenvolvimento da massa corporal e estatura são controladas por hormônios que são fundamentais nas mudanças físicas das adolescentes (MIRANDA, 2006). Para não obter interferência nos resultados da pesquisa devido à menarca precoce e a grande quantidade de hormônios desse período, houve uma limitação no grupo alvo da pesquisa à 4ª série do ensino fundamental I (ALBERTINA, 2002; GANDOLFE e TAKAHASHI, 2003; POZZOBON e TREVISAN, 2003).

3.     Aspectos metodológicos

3.1.     Objetivos e problemática de pesquisa

    Os objetivos deste trabalho são:

  1. Identificar o índice de crianças obesas de 1ª à 3ª séries de uma escola particular da Zona Sul de São Paulo e observar a prevalência da obesidade em escolares com idade entre 06 e 10 anos de idade;

  2. Destacar a importância da identificação da obesidade em determinada fase da infância e suas e as relações com os contextos da EF escolar e do relacionamento dos pais com o filho, tendo em vista o estilo de vida familiar, costumes e comportamentos.

    A principal problemática dessa pesquisa foi a indagação: Como a obesidade pode influenciar na vida da criança e de seus familiares?

3.2.     Método

    Foi desenvolvida uma pesquisa de campo em uma escola particular da Zona Sul de São Paulo, que consistiu no envio de um pedido de autorização aos pais (Anexo 01). Logo após o recebimento das respostas, foi realizada a avaliação física (Anexo 02) nas crianças e um questionário estruturado (Anexo 03) foi enviado aos pais. E também, uma revisão bibliográfica, utilizando livros e artigos científicos publicados em Português, de 1981 até o presente ano, no acervo da biblioteca John Lipke, do Centro Universitário Unasp, no campus São Paulo.

    A avaliação física foi realizada na escola pesquisada – uma escola particular da Zona Sul de São Paulo, com aproximadamente 800 alunos em seu total geral, utilizando os materiais para a medição do peso, a balança digital Filizola e para a estatura, o estadiômetro com haste própria (MIRANDA, 2006). Os alunos foram pesados, em pé, descalços e com o uniforme da escola, utilizando uma única medição. Para medir a estatura, os alunos estavam descalços em pé sobre a plataforma do estadiômetro e o procedimento foi de medição dupla.

    Os resultados foram analisados em uma planilha do Microsoft Excel 2002 e, posteriormente em um gráfico de massa corporal do National Center for Health Statistics (NCHS, 2000).

    Os alunos foram classificados da seguinte maneira: peso excessivamente baixo (índice de 3-10%); baixo peso (10-25%); para o peso aceitável em relação à idade usamos o índice de 25-75%. Classificamos como excesso de peso os índices 75-85%, 85-90% e 90-95%. As crianças com índice acima de 95% estão excessivamente acima do peso, com alto risco à saúde, gerando grande preocupação (CHIARA e colaboradores, 2003; JAMES, 2002).

    O questionário aplicado é composto de vinte e sete questões, elaboradas e adaptadas dos estudos de Miranda (2006), com base na bibliografia estudada. Neste, são tratados os fatores que interferem na obesidade. As questões abordaram temas da vida cotidiana do aluno e sua família, tais como: o estilo de vida da família, tratando da amamentação, alimentação familiar e atividade física; e o relacionamento interfamiliar, questionando sobre o lazer, recompensas com alimentos, com quem a criança mora, dentre outras perguntas. Esse questionário foi elaborado para comparar os resultados obtidos na pesquisa, com livros e artigos que comentam a influência dos fatores ambientais e genéticos sobre a criança.

3.3.     Questionário aplicado

    O questionário foi elaborado pela necessidade de conhecer a vida da criança fora da escola, pois necessitávamos delinear mais especificamente quais são os hábitos de vida que os alunos têm, juntamente com o de seus familiares, para compararmos com os dados obtidos na avaliação física. Para isso, elaborou-se um questionário com vinte e sete questões (MIRANDA, 2006) sobre obesidade infantil e os tipos de interferência que a família pode ter no desenvolvimento do sobrepeso. Os critérios e as etapas de elaboração dos instrumentos seguiram as normas e padrões propostos pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Adventista de São Paulo, sendo seus participantes e os responsáveis esclarecidos dos procedimentos, objetivos e resultados do trabalho científico, ficando isentos de qualquer tipo de discriminação, podendo decidir participar voluntariamente da pesquisa e abandoná-la a qualquer momento. Os dados coletados apenas constariam do banco de dados e não exporiam a identidade dos participantes.

    As questões foram direcionadas aos fatores determinantes da obesidade: genético, ambiental e emocional. A maioria das questões englobava os fatores ambientais e emocionais. As questões relacionadas com o fator genético são citadas somente em uma questão, pois para analisarmos esse fator, deveríamos realizar uma avaliação e um questionário diferenciados com os pais.

    Elas abordavam temas como aleitamento materno, refeições, ingestão de água, refrigerantes e sobremesas, idas a fast food’s, reeducação alimentar, recompensas com alimentos, traumas, brincadeiras excessivas com o peso da criança, com quem elas moram e com quem ficam depois do período escolar, quantidade de horas com aparelhos eletrônicos por dia e atividade física (MIRANDA, 2006).

3.4.     Procedimentos de coleta

    Primeiramente, efetuamos um contato, via telefone em uma Escola Adventista da zona sul da cidade de São Paulo. Conversamos com a secretária do colégio, solicitando uma reunião com o diretor. Marcamos para a semana seguinte. Durante a reunião, discutimos os problemas da obesidade infantil e a preocupação que deveríamos ter em combatê-la e preveni-la. Logo após, solicitou-se a autorização para realizar uma avaliação física com as crianças de 1ª à 3ª séries e enviar um questionário para os pais, comprometendo-nos a enviar o resultado dos dados obtidos. Fomos autorizados e iniciou-se a pesquisa. Combinou-se uma data com os professores de EF, para realizarmos a avaliação em uma das aulas.

    Após esses procedimentos, xerocamos a quantidade necessária de questionários e autorizações (110 instrumentos). Organizou-se tudo, em um prazo de um mês, sendo que a partir de então tivemos os contatos com as crianças da pesquisa. Elas deveriam trazer a autorização e o questionário preenchidos (quinze dias) para após realizarmos as avaliações no colégio, no período da manhã e da tarde, com a ajuda dos professores de EF da própria instituição, que foram instruídos e capacitados previamente.

    Os alunos eram divididos em dois grupos, meninos e meninas e fazíamos uma fila. Ao chegarem na mesa, anotávamos o nome e a série, e pedíamos que eles tirassem o tênis e continuassem numa fila para pesarem e medirem a altura. Após isso, eram liberados para a aula, que foi recreativa, com brincadeiras de roda, petecas, tênis de mesa e damas.

4.     Resultados

4.1.     Análise de dados

    Os dados foram analisados, sendo estimada a prevalência da obesidade infantil quanto ao sexo, atividade física e hábitos familiares. Utilizou-se uma planilha de dados do Microsoft Excel 2002 V.10.2614.2625 para realizar as estimativas de proporções e gráficos de curva de massa corporal do National Center for Health Statistics (NCHS, 2000), onde os indivíduos com índice de 25 – 75% estão com peso aceitável para a idade. Abaixo desse percentil, a criança está com peso considerado baixo ou excessivamente baixo para a idade (índices de 5-10% e 10-25%) e, acima desse percentil (índices de 75-85%, 85-90% e 90-95%) a criança se encontra com excesso de peso. Porém, a preocupação é com o índice acima de 95%, pois são classificados como excessivamente acima do peso, sendo necessária uma grande atenção, segundo Chiara e colaboradores (2003).

    Foram analisadas 110 crianças, em setembro de 2006, nos períodos da manhã e da tarde, com idade entre 06 e 10 anos, de ambos os sexos.

    Das meninas, foram avaliadas 58 alunas: 04 (quatro) com 06 anos; 15 (quinze) com 07 anos; 15 (quinze) com 08 anos; 16 (dezesseis) com 09 anos e 09 (nove) com 10 anos. Dos meninos, avaliamos 52 alunos: 05 (cinco) tinham 06 anos; 16 (dezesseis) com 07 anos; 15 (quinze) com 08 anos; 13 (treze) tinham 09 anos e 03 (três) com 10 anos. Como podemos observar na tabela 01 abaixo, encontramos as seguintes porcentagens para a classificação >95% acima do percentil em relação à idade, dos meninos e das meninas:

Tabela 01. Classificação de excessivamente acima do peso de acordo 

com o gráfico da National Center for Health Statistics (NCHS, 2000).

Idade (Anos)

Masculino

Feminino

6

33,33%

33,33%

7

31,25%

26,67%

8

15,38%

20%

9

45,45%

7,69%

10

-

25%

    Sendo assim, concluímos que há uma incidência maior de meninos com peso excessivamente acima do nível do que as meninas, principalmente na faixa dos 09 anos.

    Para compreendermos as questões relacionadas às diferenças com relação a gênero, faremos inicialmente uma análise com o grupo de meninas e depois com os meninos da pesquisa.

Sujeitos do sexo feminino

    Segundo o questionário que enviamos, pudemos analisar, isoladamente o seguinte: das meninas avaliadas, 51,8% têm lazeres como o shopping e cinema; sendo que, 12,7% preferem ficar em casa ou na casa de familiares e assistir televisão. Somente 10,9% preferem viajar ou ir ao clube. É possível examinar esses dados nos gráficos abaixo:

    Relacionando a quantidade de tempo usufruindo aparelhos eletrônicos com a atividade física, 49,1% dos alunos ficam de 1 a 4 horas por dia e 40,9% não praticam nenhuma atividade física extra escolar.

    Nos gráficos abaixo, nota-se esses dados:

    Analisando os hábitos de vida, mais da metade tem o hábito de beber água, realiza as refeições no mesmo horário e em quantidades variadas durante o dia, não comem sobremesas, consomem pouca quantidade de refrigerantes e vão a fast foods raramente ou uma vez por semana. Contudo, 38,20% ingerem líquido durante as refeições. E, encontramos 26,36% das alunas tentando fazer uma reeducação alimentar contra 24,55% que não estão fazendo, como visualizamos no gráfico 5 abaixo:

Sujeitos do sexo masculino

    Analisando o questionário respondido pelos pais dos alunos do sexo masculino, constatamos as seguintes informações, que podem ser visualizadas nos gráficos 6 e 7 a seguir: 46,36% preferem passear em shopping e cinema durante os finais de semana; dado que 18,38% escolhem estar em casa ou com familiares e assistir televisão. Somente 5,45% viajam ou freqüentam clubes.

    Confrontando a quantidade de horas desfrutando do computador, vídeo game, televisão com a prática de atividade física extra escolar, 38,18% dos meninos passam entre 1 e 4 horas nessas atividades e 29,10% não se exercitam diariamente.

    Observe os gráficos 8 e 9 abaixo:

    Assim como as meninas, a maior parte dos meninos costuma beber água, alimentar-se nas horas certas, não comem sobremesas, não tomam refrigerantes e não costumam ir freqüentemente a fast foods. Porém, 38,18% tomam algum líquido durante as refeições. E do total de alunos, a maior parte, 25,45%, não se interessam pela reeducação alimentar e não a praticam, como atentamos para o gráfico 10, abaixo:

4.2.     Sedentarismo

    O sedentarismo vem crescendo enormemente nos dias de hoje introduzido pelos confortos da vida moderna. Devido ao grande desenvolvimento da tecnologia, ocorre a substituição de atividades com gasto energético por atividades facilitadas e automatizadas (BARROS, 2006). O sedentarismo acarreta a obesidade, pois além de ingerir grande quantidade de alimentos, a maioria deles tem grande quantidade de açúcares e gorduras (ROSA, 2005).

Figura 01. Criança assistindo televisão e comendo. Fonte Furlaneto (2006). Acesso: www.cienciahoje.uol.com.br

    Os dados obtidos na pesquisa oferecem subsídios que comprovam esse crescimento, pois os alunos avaliados, em geral, nos finais de semana, passeiam em shopping e cinema. No primeiro, há grande quantidade de atrativos alimentícios que chamam a atenção das crianças e fazem com que elas ingiram mais calorias do que gastam. Como diversão, encontramos atrativas casas de jogos, com máquinas e computadores. Analisando separadamente os gêneros, dos meninos, sabemos que 13 deles estão classificados com peso excessivamente alto para a idade. Desses, 07 alunos (53,85% daqueles com peso excessivamente alto para a idade) preferem ir ao cinema e 06 alunos (46,15% daqueles com peso excessivamente alto para a idade) gostam de ficar em casa nos finais de semana. Das 10 meninas classificadas nesse mesmo índice, 07 alunas (70% das meninas com peso excessivamente alto para a idade) preferem ir ao cinema; local este onde o consumo energético geralmente é mais alto do que o comum e não há gasto do mesmo.

    Foi constatado também, que algumas crianças gostam de ficar em casa nos finais de semana. Sabemos que uma das maiores atrações é a televisão, tanto para assistir filmes quanto para jogar videogame. De acordo com Furlaneto (2006), a obesidade pode estar relacionada com a quantidade de horas assistindo televisão. Isso é derivado de um estudo neozelandês com cerca de mil crianças, onde constatamos que as mais saudáveis eram as que assistiam no máximo uma hora de TV por dia. Podemos compreender também que esse entretenimento gera a oportunidade de comer bolachas recheadas, pipoca, doces, como balas e chicletes, suco industrializado e muito refrigerante.

    Vale ressaltar que, em nossa pesquisa, o índice de consumo de refrigerantes foi pequeno. A porcentagem de crianças que ingerem pelo menos uma vez por semana é 20,9% para as meninas e 18,18% para os meninos. E então, pode-se deduzir que esse consumo seja feito no final de semana, onde nem sempre há um controle da quantidade ingerida.

    Segundo Golan (2002, p.34):

    A família fornece amplo campo de aprendizagem social à criança. Os pais e outros membros da família estabelecem um ambiente partilhado em que o convívio pode ser propício à alimentação excessiva ou a um estilo de vida sedentário. Certos comportamentos, hábitos alimentares, atividade e lazer, que estão associados ao desenvolvimento e persistência da obesidade são freqüentemente reforçados por pais e irmãos.

    Portanto, a quantidade de horas utilizando aparelhos eletrônicos, considerada uma atividade sedentária, pode influenciar no ganho ou na perda de peso. Na pesquisa, constatamos que 87,20% do total geral de alunos ficam várias horas por dia vendo televisão, jogando videogame ou no computador. Em contrapartida, a quantidade total de crianças que não praticam atividade física extra-escolar é de 70%. Separadamente, dos alunos classificados excessivamente acima do peso, 46,15% dos meninos não praticam nenhuma atividade nos finais de semana e para as meninas a porcentagem é de 80%.

    Segundo Golan (2002), o incentivo do aumento da atividade física e a redução de atividades sedentárias auxiliam significativamente na redução do peso e da gordura corporal. Concomitantemente, Sabia (2004) complementa que o exercício físico ajuda no tratamento da obesidade, pois o gasto energético vindo deste favorece a perda de massa corporal, além de ampliar a aptidão física.

4.3.     Nutrição

    Vimos que a obesidade é causada pela ingestão de grande quantidade energética, sem haver consumo de energia posteriormente. Sendo assim, a alimentação é um importante fator no desenvolvimento do sobrepeso.

Figura 02. Hábitos de vida saudáveis desde a infância. 

Fonte Coutinho (2006). Acesso em: www.emagrecimento.com.br

    Golan (2002, p. 33), aponta que:

    [...] o ambiente doméstico pode afetar o equilíbrio energético da criança de várias maneiras. Este ambiente afeta a composição das dietas pela disponibilidade de alimentos, influencia na preferência de certos alimentos, ajuda a formar os hábitos alimentares na infância, estabelece o aprendizado de um hábito social e altera outros padrões de comportamento.

    Concomitantemente Villares e colaboradores (2003, [s.p.]), complementam que:

    O ambiente familiar influencia o desenvolvimento da obesidade na criança. Hábitos de ingerir “fast-food”, modificações da composição dos alimentos com ingestão de alimentos densos, ricos em gorduras, refrigerantes, porções de alimentos ricos em açúcar com altos índices glicêmicos e aumento da porção das refeições são hábitos da família que podem levar à obesidade infantil.

    Através do presente estudo, analisamos que existe um controle no horário das refeições, da quantidade das mesmas e dos alimentos; a grande maioria das crianças tem o hábito de beber água, que é indispensável e deve ser ingerida em quantidades que compensem a eliminação diária, conforme afirma Pellati e Monti (1984).

    Analisamos também que a ingestão de sobremesas e refrigerantes não é realizada freqüentemente. Porém há o consumo desses alimentos, principalmente nos finais de semana. Conforme Pellati e Monti (1984), ingerir açúcares é indispensável para o organismo, pois o mesmo se transforma em energia para realizar suas exigências comuns, no entanto, o consumo excessivo é transformado em gordura e armazenado.

    Sendo assim, o excesso causa o aumento do tecido adiposo. Analisamos ainda que 5,4% dos pais costumam estimular seus filhos a fazerem algo e, em troca recebem alimentos como recompensa.

    Segundo Golan (2002, p.34), [...] as crianças aprendem a sentir aversão por alimentos quando são estimuladas a comer em troca de recompensa, [...] e aprendem a preferir alimentos apresentados como recompensa em contexto social positivo [...]; por exemplo, “você só irá jogar com os amigos na rua hoje se comer toda a comida, ou então, guarde toda a sua roupa e faça o dever de casa que depois vamos ao McDonald’s”.

    Em vista disso, a estrutura, o estilo de vida e as relações da família podem ter grande influência na preferência e na capacidade de controle da comida. Logo, uma alimentação e estilo de vida saudável e, que envolvam toda a família, facilita no controle do sobrepeso, colabora na reeducação alimentar das crianças e reduz os problemas à saúde causados pela obesidade infantil.

Considerações finais

    A ligação da obesidade infantil com os fatores que interferem no equilíbrio do peso corporal tem sido muito especulada nos últimos anos. Principalmente depois que a OMS (Organização Mundial de Saúde) reconheceu a obesidade como uma doença e, que tem se espalhado como uma epidemia por vários países. No entanto, é difícil associar os estudos, pois não existem metodologias padronizadas para caracterizá-la, submetendo a comparação de dados a supostos erros.

    No entanto, foi possível visualizar certas ligações dos resultados obtidos em nossa pesquisa com os dados da literatura. Observamos a prevalência da obesidade nos alunos do sexo masculino, principalmente nos alunos com 09 anos de idade, com porcentagem de 45,45%. Porém, a OMS destaca o sexo feminino com maior incidência, principalmente porque as mulheres acumulam energia em forma de gordura e não de proteínas, como os homens. No entanto, foi possível visualizar esse mesmo resultado em uma pesquisa realizada em Santos-SP; onde o índice de obesidade foi constatado maior no sexo masculino do que no feminino (COSTA e colaboradores, 2006).

    [...] “A obesidade em crianças é preocupante devido ao risco aumentado de sua persistência na idade adulta, e pelos riscos de doenças a ela relacionadas” (LEÃO e colaboradores, 2003, p. 151). É importante que a partir dos resultados da avaliação física, o professor de educação física se reúna com os pais e comente sobre as implicações que a obesidade trará à criança. Traçar, juntamente com eles um plano de ação para que as devidas intervenções sejam tomadas no tempo certo, pois assim, a criança terá chances de controlar o peso e não levar para a vida adulta traumas e doenças decorrentes da obesidade. Exatamente por perseverar pela idade adulta, sua identificação tem extrema importância. Porém, seu controle, combate e prevenção são tão essenciais quanto.

    Existe consistente relação entre a obesidade constatada em nossa pesquisa com os fatores ambientais descritos acima, pois fatores como a alimentação e a prática de atividade física, interferiram no peso das crianças. Quanto à alimentação, as crianças se alimentam no mesmo horário e realizam várias refeições por dia, não tendo muita relevância sobre o sobrepeso dos alunos em geral, mesmo ela sendo inteiramente indispensável no controle da obesidade.

    No entanto, a atividade física não é incentivada pela maioria dos pais, podendo ser notada a partir da porcentagem de 80% para as meninas e 46,15% dos meninos que não tem o costume de se exercitarem sem ser na escola.

    Já a permanência dos filhos em casa é explorada, talvez decorrente da violência, os pais escolhem que seus filhos fiquem na segurança do lar ao invés de brincarem na rua ou na casa de amigos. Conforme afirma Golan (2002), a família tem extrema importância no desenvolvimento de hábitos saudáveis, servindo de modelo e criando regras para uma vida salutar.

    Quanto aos fatores genéticos, soubemos que 20% das meninas e 15,38% dos meninos não são vistos de maneira geral com excesso de peso. A família de um modo geral, também, não se vê com excesso de peso. Mesmo com esses índices, não foi possível relacionar o excesso de peso dos filhos com o de seus pais. Porém, em outros estudos, com um número abundante de pessoas, foi possível visualizar uma ligação, entre o peso dos pais, principalmente o da mãe, com o do filho. Entretanto, ainda não foram realizadas muitas pesquisas para saber se os genes determinantes da obesidade infantil são os mesmos da obesidade adulta (UKKOLA e BOUCHARS, 2002).

    Por conseguinte, a realização de estudos que identifiquem e definam essa relação dos genes é importante, pois ajudaria na determinação das crianças com risco de adiposidade precoce, possibilitando a prevenção.

    Os fatores emocionais envolvem fenômenos cognitivos, desenvolvimento social e emocional. Sabe-se que crianças obesas podem apresentar distúrbios psicossociais, resultantes de tristeza, discriminação, dor, traumas, raiva, estresse, ansiedade (MIRANDA, 2006). Em nossa pesquisa, constatamos alguns traumas recentes como, separação dos pais e assaltos. Porém, o índice é muito pequeno, não sendo relevante para determinarmos sua ligação com a obesidade dos alunos (KOLETZKO e KRIES, 2002).

    A somatória desses fatores pode interferir na obesidade, porém ainda são necessários estudos específicos e métodos mais padronizados sobre cada um deles, tornando mais fácil sua identificação, para posteriormente realizar as intervenções específicas.

    Sabe-se que o professor de educação física tem grande responsabilidade no desenvolvimento pelos hábitos e adesão pela atividade física. É relevante que ele ensine aos alunos como se movimentar e qual a importância de realizar esses movimentos. Para chamar mais atenção dos alunos e dinamizar as aulas, é necessário que ele incremente suas aulas com discussões de temas atuais incentivando a elaboração de conceitos, valores e fatores relacionados à qualidade de vida das crianças.

    Portanto, as aulas de educação física podem proporcionar ao aluno momentos de prazer e descontração, juntamente com exercícios, possibilitando o interesse pela atividade física e sua prática fora da escola e, o prolongamento desses hábitos para toda a vida. Possíveis discussões a respeito de alimentação, hábitos saudáveis, prevenção de doenças e cuidados com o corpo poderiam ser mais trabalhados e envolvidos no contexto das aulas de EF escolar.

    A partir dessa responsabilidade, o professor poderia realizar atividades diferentes em suas aulas como: brincadeiras de roda, folclóricas, estimulando o raciocínio, a concentração e visão crítica de determinadas situações propostas. Fazer avaliações físicas para constatar o sobrepeso em seus alunos e, desenvolver atividades que eles consumam mais energia, como aulas de condicionamento físico, alongamentos e jogos desportivos. Além disso, pode-se trabalhar com a alimentação das crianças, pedindo trabalhos práticos e fáceis de fazer. Realizar palestras para os pais informando os resultados da avaliação e informando a importância da realização de exercícios físicos combinados com uma boa alimentação e dos hábitos saudáveis na vida de todos, também deveriam ser mais pensados.

    Uma estratégia que pode ser usada para essa faixa etária é a proposta de desafios: “desafio vocês a não comerem balas e chicletes antes das refeições ou desafio vocês a comerem 03 tipos de frutas diferentes durante essa semana”. Para controlar as atividades desafiadas, seria enviado aos pais, um convite da proposta de incentivar a boa alimentação e uma ficha de relatório para os pais descreverem o andamento do desafio e entregarem na semana seguinte. Uma continuidade é fazer com que os pais se unam no desafio, promovendo uma interação familiar maior e desenvolvendo o habito saudável em toda a família.

    O desenvolvimento dos costumes saudáveis em toda a família é indispensável, pois além de todos aumentarem o estilo de vida, ocorrerá uma integração maior dentro do lar, abrindo portas para diálogos, sugestões de alimentação e a união na hora das refeições.

    Concluindo, o profissional de educação física deve atuar na vida das crianças, influenciando-as de forma que elas aprendam um estilo de vida e hábitos de vida cotidianos saudáveis e os pratiquem. Quanto à obesidade infantil, doença que preocupa e que deve ser identificada rapidamente, combatida e prevenida para evitar transtornos físicos e emocionais, se faz necessário o desenvolvimento de métodos e espaços de discussão a respeito desta temática, ajudando sobremaneira para o crescimento dos conhecimentos sobre a obesidade infantil.

    Finalizamos este trabalho com uma máxima popular vista ainda estes dias, enquanto estávamos finalizando este paper: “Com esta crescente preocupação com o futuro da Terra e as questões ambientais, sempre nos deparamos com as frases de efeito de que devemos deixar um mundo melhor às futuras gerações. Mas por que não pensarmos em deixar filhos e gerações melhores para este planeta?”. Com estas reflexões, finalizamos o texto, esperando que as mesmas gerem mais espaços para que discutamos as questões inerentes ao hábitos, valores e padrões de comportamento vigentes em nossa sociedade atual. E o profissional de EF se faz uma figura fundamental para as novas mudanças de paradigmas.

Referências bibliográficas

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  • SIGULEM, D. M. e colaboradores. Obesidade na infância e na adolescência. Compacta Nutrição, vol. 2, nº 1, Junho 2001. 7 – 18 p.

  • UKKOLA, O.; BOUCHARD, C. Fatores genéticos e obesidade infantil. Anais Nestlé, vol. 62, 2002. 12 – 21 p.

  • VILLARES, S. M. F. e colaboradores. Obesidade infantil e exercício. Revista Abeso, Ano IV, nº 13, Abril 2003.

Anexos

Anexo 1 – Autorização enviada aos pais

Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP

Estrada de Itapecerica, nº 5859 – Jd. IAE - São Paulo – SP / Brasil - CEP: 05858-001

Senhores Pais:

    Eu, Tatiana Miranda de Camargo, formada em Educação Física, estou realizando uma pesquisa com o objetivo de verificar a incidência de crianças obesas ou com sobrepeso que freqüentam a Escola XXXXXXXXX, e gostaria de contar com a participação de seus filhos.

    Essa participação se dará através de uma avaliação física que consistirá na medição da altura, do peso e da circunferência da cintura do aluno, e através de um questionário (anexo) para preenchimento dos pais. Esta é uma boa oportunidade para avaliar a saúde de seu filho. Sua participação e dos seus filhos será muito importante e trará grandes benefícios.

    Essa pesquisa não tem caráter discriminatório e seus dados são confidenciais.

    Após análise comprometemo-nos a devolver os resultados àqueles que devolverem a autorização e o questionário devidamente preenchido até o dia 15/09/2006 (sexta-feira).

Agradecemos desde já.

Tatiana M. de Camargo e Rubens Venditti Jr.

 

AUTORIZAÇÃO

 

    Eu, __________________________________________________________________________________________________________,

(nome do responsável)

aceito de maneira livre e esclarecida que o aluno ________________________série ______________________, participe desta pesquisa, orientada pelo professor doutorando Rubens Venditti Junior.

 

__________________________________

(assinatura)

 

Anexo 2 – Ficha de Avaliação

Ficha de Controle – Avaliação Física

Nome: _________________________________________________ Série: _________

Data de Nascimento: ____/____/____

Idade:_________________________

Dados Avaliados

Estatura: ____________________

Peso: _____________________

Circunferência da Cintura: ____________________________

Ficha de Controle – Avaliação Física

Nome: _________________________________________________ Série: _________

Data de Nascimento: ____/____/____

Idade:_________________________

Dados Avaliados

Estatura: ____________________

Peso: _____________________

Circunferência da Cintura: ____________________________

Ficha de Controle – Avaliação Física

Nome: _________________________________________________ Série: _________

Data de Nascimento: ____/____/____

Idade:_________________________

Dados Avaliados

Estatura: ____________________

Peso: _____________________

Circunferência da Cintura: ____________________________

Anexo 3 – Questionário (MIRANDA, 2006)

    Esse questionário tem como objetivo complementar os dados obtidos na avaliação física que será feita na escola. Por favor, preencham com sinceridade, tentando lembrar as situações que seu filho, juntamente com toda a família tem vivido.

Nome:_____________________________________________________________ Sexo: _________________________________ Idade:___________________

1) Com quantos anos seu filho(a) foi desmamado?

( ) Menos de 6 meses ( ) Mais de 1 ano ( ) De 6 meses à 1 ano ( ) Não foi amamentado

2) Você considera que seu(a) filho(a) está acima do peso?

( ) Sim ( ) Não

3) A Família, visualizando de uma forma geral, está acima do peso?

( ) Sim ( ) Não

4) Seu filho(a) tem o hábito de beber água?

( ) Sim ( ) Não

5) Seu filho(a) costuma realizar as refeições no mesmo horário?

( ) Sim ( ) Não

6) Ele(a) durante as refeições ingere liquido?

( ) Sim ( ) Não

7) Quantas refeições seu(a) filho(a) realiza durante o dia, incluindo lanches?

( ) 2 refeições ( ) 3 refeições ( ) 4 refeições ( ) Outros_____________

8) Após as refeições ele(a) costuma comer sobremesas?

( ) Sim ( ) Não

9) Quantas vezes por semana seu(a) filho toma refrigerante?

( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) Outros_____________

10) Quantas vezes por semana seu filho(a) come fora ( Fast Food’s)?

( ) 1 vez ( ) 2 vezes ( ) 3 vezes ( ) Outros_____________

11) Seu(a) filho(a), juntamente com a família tem tentado fazer uma reeducação alimentar?

( ) Sim ( ) Não

11) Na dinâmica da família há o costume de recompensar a criança com comida?

( ) Sim ( ) Não

12) Com quem a criança mora?

( ) Pai e mãe ( ) Madrasta e pai ( ) Somente mãe

( ) Padrasto e mãe ( ) Somente pai ( ) Outros___________________

13) Os pais trabalham fora?

( ) só o pai ( ) só a mãe ( ) os dois

14) Quando os dois trabalham fora, com quem os filhos(as) ficam?

( ) sozinhos ( ) empregada ( ) avós ( ) Outros______________

15) Durante as atividades da família, são constantes certas brincadeiras com o peso do seu(a) filho?

( ) Sim ( ) Não

16) Você já notou, alguma vez, os amigos de seu(a) filho(a) fazendo alguma brincadeira com respeito a seu peso, deixando-o(a) com vergonha ou até sofrendo alguma discriminação?

( ) Sim ( ) Não

17) Seu filho sofreu algum trauma recente?

( ) Sim ( ) Não

18) Com a família, que tipo de lazer costuma fazer nos finais de semana?

( ) Cinema ( ) Parque de Diversão ( ) Outros___________________

( ) Teatro ( ) Shopping

19) Quanto tempo, por dia, ele(a) assiste televisão, joga vídeo game ou fica no computador?

( ) De 1 à 2 horas ( ) De 3 à 4 horas ( ) De 5 à 6 horas ( ) Mais de 7 horas

20) Seu filho(a) sofreu algum trauma recente?

( ) Sim ( ) Não

21) Seu(a) filho(a) faz alguma atividade física, acompanhada, extra escolar?

( ) Sim ( ) Não

22) Se sim, qual

( ) Natação ( ) Ginástica Olímpica ( ) Dança ( ) Outras_____________

( ) Futebol ( ) Tênis ( ) Handebol

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