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Relação entre oferta e demanda no campo

esportivo: impressões preliminares

 

*Aluna do programa de Mestrado em Educação Física

da Universidade Federal do Paraná. Bolsista REUNI

**Aluna do programa de Mestrado em Educação Física

da Universidade Federal do Paraná

***Bacharel e Licenciada em Educação Física pela Universidade Positivo

****Aluno do programa de Mestrado em Educação Física

da Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Suélen Barboza Eiras*

sueleneiras@hotmail.com

Marina Redekop Cassapian**

marinarc@ufpr.br

Talyta Danyelle Toledo***

talytatoledo@uol.com.br

Bruno Barth Pinto Tucunduva****

brunobarth@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Este trabalho, de caráter exploratório, tem como objetivo discutir a relação entre oferta e demanda no campo esportivo. Para isso, buscamos compreender a procura pelo esporte a partir das emoções; em seguida a oferta no campo esportivo através da indústria cultural; e, por fim, através da Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu, procuramos elucidar a relação entre oferta e demanda que envolve o campo esportivo. Conclui-se que a oferta e a demanda devem ser vistas de forma relacional, onde as mesmas estão diretamente relacionadas com as estruturas sociais, os capitais e o habitus.

          Unitermos: Esporte. Oferta e demanda. Emoções. Indústria cultural

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 137 - Octubre de 2009

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Introdução

    Tendo uma grande inserção em nossas vidas, o esporte é considerado hoje um fenômeno sociocultural. Ao olharmos ao nosso redor nos deparamos com pessoas de diferentes contextos sociais e em diferentes espaços que se mobilizam para a prática esportiva e para o consumo do espetáculo esportivo; diferentes meios de comunicação incorporam o esporte nas suas transmissões e notícias; diversos profissionais e saberes envolvem o campo esportivo; inúmeras empresas vinculam sua marca a determinadas equipes, atletas, campeonatos esportivos, projetos sócio-esportivos; lojas oferecem os mais variados produtos esportivos. Encontramos também uma reprodução de cortes de cabelo, tatuagens, roupas, calçados, expressões, gestos, apelidos de atletas famosos no dia-a-dia de praticantes do esporte. Vislumbradas com o sonho de se tornar um atleta famoso, inúmeras crianças se matriculam em escolinhas esportivas.

    Mas afinal, por que as pessoas procuram o esporte seja como espectador ou como praticante? Por que escolhem determinado esporte? E por que o esporte ocupa tamanho espaço nos meios de comunicação? Por que alguns esportes são ofertados através da mídia? Essas foram algumas das perguntas que nortearam o nosso trabalho.

    Portanto, este trabalho, de natureza exploratória, busca num primeiro momento, através da leitura do referencial teórico de Elias e Dunning (1992), analisar a procura pelo esporte no tempo de lazer, seja como espectador ou como praticante, através das emoções. Em seguida, procuramos entender a oferta do esporte como um espetáculo cada vez mais complexo através da indústria cultural. Por fim, baseando-nos na Teoria dos Campos de Pierre Bourdieu, buscaremos compreender a relação entre a oferta e a demanda no campo esportivo.

    De acordo com Bourdieu (1990), o espaço dos esportes, apesar de ser relativamente autônomo, como um espaço que não é fechado em si mesmo, estando este inserido em um sistema de práticas e consumos. Portanto, se quisermos compreender o esporte, bem como porque determinados esportes são ofertados e procurados, é preciso transcender a leitura simplista de regras e sistemas táticos e estudá-lo através de sua totalidade, observando as inter-relações intrínsecas e extrínsecas ao campo esportivo.

A busca pelas emoções no esporte

    Para entendermos a procura pelo esporte nos atentaremos para as formulações teóricas de Norbert Elias e Eric Dunning, mais especificamente para as suas contribuições feitas através do livro “A Busca da Excitação”. Mas antes de focarmos nossa atenção sobre o esporte, torna-se imprescindível a compreensão da teoria do processo civilizador, pois se queremos compreender as posições destes autores é preciso compreender o desenvolvimento das formas e dos significados do esporte moderno como parte do processo civilizador (GEBARA, 2002). Para Elias e Dunning (1992), pensar no surgimento do esporte moderno implica necessariamente em analisar a consolidação dos Estados e o surgimento de novas formas de comportamento e participação na sociedade. Os autores declaram:

    Que espécie de sociedade é esta onde as pessoas, em número cada vez maior, e em quase todo mundo, sentem prazer, quer como actores ou espectadores, em provas físicas e confrontos de tensões entre indivíduos ou equipas, e na excitação criada por estas competições, realizados sob condições onde não se verifica derrame de sangue, nem são provocados ferimentos sérios nos jogadores? (ELIAS & DUNNING, 1992 p. 40).

    De acordo com os referidos autores, a sociedade vem passando por um processo civilizador de longa duração empiricamente evidente, entretanto não planejado. Este processo, apesar de diferentes seqüências, parece seguir uma mesma tendência em várias partes do mundo (BARBOSA, 2003), sendo considerado como uma característica universal das sociedades humanas (GOUDSBLOM, 2001), pois a centralização política e administrativa e uma maior interdependência entre os indivíduos exigem um controle das pulsões e das paixões dos indivíduos.

    A aprendizagem deste autodomínio fica tão automática que se torna estrutura profunda de sua personalidade (ELIAS & DUNNING, 1992), havendo assim uma transformação global do código de conduta e um aumento do grau de sensibilidade em relação à violência nos indivíduos. As soluções dos conflitos passaram a ser dirigidas de maneiras distintivas em relação ao uso imediato da força/violência. Os conflitos são resolvidos através de regras concertadas entre ambas as partes e de uma forma não violenta. Segundo Elias e Dunning (1992, p. 59), “as técnicas militares deram lugar às técnicas verbais do debate feitas de retórica e persuasão.” Seria o processo de cortenização ou parlamentarização dos guerreiros medievais, quando a violência presente no cotidiano dos guerreiros medievais cede lugar à disputa e ao refinamento de conduta dos cortesãos (GEBARA, 2002). De acordo com Elias e Dunning (1992), estas alterações de comportamentos fazem com que a sociedade fique monótona não sendo capaz de gerar excitações nos indivíduos.

    Portanto, baseados na busca por uma excitação agradável é que Elias e Dunning (1992) desenvolvem suas assertivas sobre as atividades de lazer, e dentro disto o esporte. Diferentemente do que é apresentado por outras formulações teóricas de um lazer como compensação para o trabalho, os autores atestam que o lazer está ligado com a criação de tensão ao invés do simples alívio da mesma.

    Através das atividades miméticas, ou seja, atividades de lazer que despertam emoções relacionadas com as emoções sentidas na chamada parte “séria” da vida, os indivíduos poderiam exteriorizar emoções que, fora deste contexto, são reprovadas. Seria uma espécie de transposição das emoções para um espaço em que estas não colocam em risco a ordem da vida social, possuem aprovação social e da consciência do indivíduo, e que, mesmo sentimentos longe de serem agradáveis como o medo, ódio, raiva, podem ser associados a sentimentos de prazer. Além disso, o despertar das emoções é capaz de proporcionar uma função de desrotinização (DUNNING, 1999).

    Portanto, visto que a vida em sociedade proporciona uma vida sem emoções, exige um grau de rotinas e necessita de um autodomínio dos indivíduos, os autores acreditam que as atividades miméticas e/ou o jogo proporcionam um descontrole controlado das emoções e também a destruição da rotina, sendo assim um antídoto para as rotinas da vida (ELIAS; DUNNING, 1992).

    Após a leitura de Elias e Dunning percebemos a existência de uma busca pela “quebra” da rotina e pelo descontrole controlado das emoções através da prática esportiva, e assim, percebemos uma demanda nos indivíduos. Entretanto, o que tem sido oferecido hoje no campo esportivo?

    Encontrando na tecnologia um fortíssimo aliado, os espetáculos esportivos estão cada vez mais elaborados, mais espetaculares e, ao mesmo tempo, mais ajustados ao formato exigido pela mídia. Portanto, o que tem sido oferecido hoje no campo esportivo através da indústria cultural? No próximo capítulo buscaremos elucidar algumas relações da oferta do esporte através da indústria cultural.

A oferta através da indústria cultural

    Para iniciar o tema sobre indústria cultural faz-se necessário compreender que este conceito foi introduzido pela primeira vez em 1947 pelos teóricos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer da escola de Frankfurt. A Escola de Frankfurt é o nome dado à institucionalização dos trabalhos de um grupo de filósofos e cientistas sociais de tendências marxistas não ortodoxas, que se encontram no final dos anos 1920.

    O termo indústria cultural foi utilizado para substituir o termo de cultura em massa e tinha como objetivo evitar confusões entre a cultura produzida popularmente e a cultura produzida segundo os mecanismos industriais e baseados na comercialização de produtos (BASSANI; VAZ, 2005). Para Adorno e Horkheimer (1985), diante deste processo de mercantilização, os espectadores não possuem uma consciência crítica e autônoma, recebendo as informações de forma passiva. A indústria cultural ao mesmo em que transmite informações também transmite símbolos e significados sociais compartilhados na cultura contemporânea, que geram uma maneira homogenia de agir. Os autores afirmam que:

    O espectador não deve ter necessidade de nenhum pensamento próprio, o produto prescreve toda reação: não por sua estrutura temática – que desmorona na medida em que exige o pensamento – mas através de sinais. Toda ligação lógica que pressuponha um esforço intelectual é escrupulosamente evitada. Os desenvolvimentos devem resultar tanto quanto possível da situação imediatamente anterior, e não da idéia do todo (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.128-129).

    Apesar de a indústria cultural ser composta pelos meios de produção e difusão como os livros, cinema, imprensa, rádio, fotografia, reprodução da arte e outros meios de comunicação que vão surgindo com a inovação tecnológica, a televisão tende a tornar-se dominante. A mesma pode mostrar fatos diferentes da realidade, dramatizar ou aumentar a importância destes. Assim conforme Bourdieu (2001):

    a televisão procura espetacularizar todas as suas imagens veiculadas, age desta forma, para poder vendê-las, ou seja, para ter um retorno financeiro para as suas ações. Esse meio comunicacional expressa-se através da imagem, os textos são auxiliares na compreensão da mensagem e desta forma cria o impacto através da imagem espetacular para conseguir grandes audiências e depois dar continuidade ou concluir a mensagem veiculada ( p. 93).

    A ligação do esporte com a televisão iniciou na década de 70, entretanto, a relação do esporte com a indústria cultural é antiga. A massificação dos esportes teve marcos durante a história: na década de 50 com a união do futebol de campo com o rádio; na década de 70 com a televisão; e na década de 90 com a internet. Não há mais como se falar em esporte sem o relacionar com a televisão como um importante veículo de oferta esportiva. Um exemplo é o futebol. Após sua transmissão pela televisão, Escher (2007, p. 43) aponta que, o futebol, “deixa de ser prioritariamente voltado para os espectadores que estão dentro dos estádios para voltar-se aos telespectadores que estão em casa”. Ou seja, o espetáculo esportivo transmitido pela televisão é muito mais amplo do que a competição em si. O público presente ao estádio, na perspectiva do telespectador, também faz parte do conjunto do espetáculo (KENSKI, 1995).

    Outro exemplo são os Jogos Olímpicos. De acordo com dados da Folha Online (2008) em Atenas, em 2004, a audiência global atingiu 4,2 bilhões de espectadores, sendo ainda superado em Pequim, que rendeu uma audiência televisiva recorde de 4,7 bilhões de telespectadores, ou seja, cerca de 70% da população da Terra. Bourdieu (1997, p.125) expõe que, “as pressões da difusão televisiva afetam também cada vez mais a escolha dos esportes olímpicos, dos lugares e dos momentos que lhes são concedidos, e o próprio transcurso das provas e das cerimônias”. O esporte espetáculo, portanto, aparece como uma mercadoria de massa e a organização do mesmo como um ramo do show business (BOURDIEU, 1983). Assim o autor diz que:

    tanto mensagens televisadas como livros, filmes ou jogos, global e indistintamente assimilado sob o nome de informação, seja considerado como uma mercadoria qualquer, portanto tratado como qualquer produto e submetido às leis do lucro (BOURDIEU, 2001, p. 82).

    Portanto, a televisão e o esporte não podem ser vistos de maneira separada, havendo uma relação de interdependência entre eles pelos aspectos mercadológicos, políticos e sociais que permeiam esses dois objetos (CAMARGO, 2001). Entretanto, por que um determinado esporte é transmitido e outro não? Por que determinados esportes constantemente modificam suas regras? Ou ainda, conforme alguns questionamentos levantados por Bourdieu (1983):

    como se produz a demanda dos ‘produtos esportivos’, como as pessoas passam a ter gosto pelo esporte e justamente por um determinado esporte mais do que por outro, enquanto prática ou enquanto espetáculo? Mais precisamente, segundo que princípios os agentes escolhem entre as diferentes práticas ou consumos esportivos que lhes são oferecidos como possibilidade em um dado momento? (p. 136).

    Buscaremos então nos basear na Teoria dos Campos, formulada por Pierre Bourdieu, para compreender a relação entre oferta e demanda que envolve o campo esportivo.

Sobre a relação entre oferta e demanda no campo esportivo

    Portanto, retomando as perguntas iniciais de nosso trabalho: por que as pessoas procuram determinados esportes? Por que a mídia oferta determinados esportes? Antes de discutirmos a relação da oferta e demanda esportiva, torna-se necessário entender alguns conceitos apresentados por Pierre Bourdieu.

Conceitos da Teoria dos Campos

    Começaremos com o conceito de campo que segundo Bourdieu, pode ser entendido como um espaço social estruturado que possui autonomia relativa e leis próprias. Este microcosmo da sociedade se caracteriza por agentes dotados de um mesmo habitus. A existência de um campo e de seus limites é determinada pelos interesses específicos, os investimentos feitos pelos agentes dotados de um habitus e pelas instituições. O que dá vida ao campo são as relações de força dos agentes e grupos cujo retorno é específico de cada campo (THIRY-CHERQUES, 2006). O campo está em constante processo de estruturação (MARCHI JR., 2004) e em constante conflito. De acordo com o autor, espaço do esporte deve ser visto como campo que está em constante disputa pela imposição de uma prática legítima, ou seja, segundo Bourdieu (1983):

    O campo das práticas esportivas é o lugar que, entre outras coisas, disputam o monopólio de imposição da definição legítima da prática esportiva, amadorismo contra profissionalismo, esporte-prática contra esporte-espetáculo, esporte distintivo – de elite – e esporte popular –de massa – etc. (p. 142).

    Por habitus, Bourdieu entende como percepções, pensamentos, ações adquiridas e que se traduzem por predisposições duráveis. O habitus é considerado como uma segunda natureza humana, cujo conjunto de referências e disposições sociais guia as ações dos sujeitos. Este conceito se refere tanto ao individual quanto ao coletivo. Thiry-Cherques (2006, s/p) afirma que o habitus, “é um sistema de disposições, modos de perceber, de sentir, de fazer, de pensar, que nos levam a agir de determinada forma em uma circunstância dada”. O habitus é adquirido mediante a interação social ao mesmo tempo em que organiza esta interação. É condicionante e condicionador, é estrutura e estruturante, um conjunto de disposições flexíveis e uma interiorização da objetividade social capaz de produzir uma exteriorização do que é interiorizado (THIRY-CHERQUES, 2006). Assim habitus e campo estão intimamente relacionados, onde o campo estrutura o habitus e o habitus constitui o campo

    Outro conceito utilizado por Bourdieu é “capital”. O mesmo se refere a um conjunto de referências conquistadas e necessárias para a inserção em um determinado campo. O capital pode ser, por exemplo, econômico, social, simbólico, físico, cultural, sendo que as formas de capital podem se converter umas nas outras. Em todo campo a distribuição do capital é desigual, o que geram os conflitos dentro dos campos.

    O último conceito a ser aqui apresentado é oferta e demanda. Segundo Bourdieu, a relação entre oferta e demanda é considerada como mecanismos sociais de constituição e de geração de necessidades e consumos. Estão diretamente relacionadas com as estruturas sociais, os capitais e o habitus. De acordo com Silva e Marchi Jr. (2007, p. 04), “este espaço define, cria e comercializa não somente produtos, mas também representa a concretização de idéia, perfis e gostos.” Assim, o gosto simboliza o encaixe dos interesses de quem consome e de quem produz.

Oferta e demanda no campo esportivo

    Apesar da indústria cultural contribui para gerar a necessidade de suas práticas e consumo do esporte, é preciso, no entanto, compreender de que forma os agentes adotam determinadas práticas esportivas e determinadas maneiras de fazê-las, levando em consideração as disposições dos agentes para tal prática. Para Bourdieu (1990), o universo das práticas esportivas é resultante da relação entre uma oferta historicamente produzida e uma procura inscrita nas disposições. O conjunto de práticas esportivas ofertadas está destinado a encontrar certa demanda social da mesma forma que a demanda social está destinada a encontrar uma certa oferta. Ou seja:

    Supor que a probabilidade de praticar diferentes esportes depende, em graus diversos para cada esporte, do capital econômico e, de forma secundária, do capital cultural e do tempo livre; isto por intermédio da afinidade que se estabelece entre as disposições éticas e estéticas associadas a uma posição determinada no espaço social e os lucros em função destas disposições parecem prometidos para os diferentes esportes (BOURDIEU, 1983, p. 150).

    Portanto, encontramos a oferta, ou seja, o revestimento de uma prática ou consumo esportivo, e a demanda, ou seja, as expectativas, interesses e valores dos praticantes. Assim as transformações ocorridas nas práticas e consumos esportivos estão relacionadas com as transformações da oferta e da demanda. Marchi Jr. (2006), ao estudar o desenvolvimento da modalidade do voleibol no Brasil, conclui que

    estruturas estruturadas que originariamente comportavam-se como estruturadas passaram, em benefício dos interesses e disposições (habitus) de determinados agentes sociais, a intervir no conjunto das relações sociais, econômicas e culturais como estruturantes na forma de pensar, agir e, principalmente consumir. (MARCHI JR., 2006, p. 180).

    O mesmo autor também declara que as modificações ocorridas no voleibol buscavam constituir a modalidade num produto televisivo direcionados para telespectadores com potencial de consumo. Ainda utilizando o exemplo do voleibol, Santos Neto (2004) relata que:

    Em 1947 surge a FIVB que, começa a vislumbrar o voleibol como um espetáculo rentável e, com isso, visa tornar o jogo mais dinâmico. A partir da década de 80 o voleibol torna-se rentável financeiramente através das parcerias com a TV e, a FIVB começa a se preocupar em tornar o voleibol mais adequado ao formato televisivo e, assim, garantindo a popularização do esporte perante as grandes massas ( s/p).

    Portanto, tanto a autonomia do campo esportivo e quanto do campo midiático estão ameaçados em relação à cultura, já que a lucratividade é o que rege a transmissão dos eventos esportivos. Domingues (2006, p. 40) afirma que, “os efeitos gerados pelo campo econômico traduzem condutas e adaptações dos agentes sociais, na mesma medida em que as leis de funcionamento destes campos possibilitam (ou exigem) a reestruturação dos outros campos e do habitus de seus agentes.”

Considerações finais

    Baseando-nos em Elias e Dunning (1992) compreendemos a busca pelo esporte no tempo de lazer como uma forma de quebra de rotina e também pelo descontrole controlado das restrições das emoções. A partir do conceito de indústria cultural podemos perceber um processo de mercantilização do esporte que segue a lógica do mercado: lucro. Entretanto, entendemos que se faz necessário relacionar a busca pelo esporte - a demanda - à veiculação do mesmo pela mídia - a oferta - com as estruturas e os agentes envolvidos, pois dessa forma, se tornam claros determinados caminhos tomados pelo esporte moderno e algumas de suas influências na sociedade. Sendo assim, é de extrema importância que o profissional de Educação Física perceba o campo esportivo não como fechado em si mesmo, mas numa perspectiva relacional.

Referências

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