Avaliação e intervenção neuropsicomotora para lactentes prematuros Evaluación e intervención neuropsicomotora con lactantes prematuros |
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*Fisioterapeuta, Mestranda em
Ciências do Movimento Humano, EFID/UDESC **Professor do Departamento de Ciências Biológicas, CEFID/UDESC. Coordenador do LADEHU Estudo vinculado ao Laboratório de Desenvolvimento Humano – LADEHU, Centro de Ciências da Saúde e do esporte
– CEFID, (Brasil) |
Cristiane da Silva* cristiane_silvacris@yahoo.com.br Sheila Brusamarello* Francisco Rosa Neto** |
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Resumo Objetivo: Avaliar o Desenvolvimento Neuropsicomotor de lactentes com histórico de prematuridade. Métodos: Pesquisa caracterizada como descritiva- diagnóstica, longitudinal e de campo, realizada no Ambulatório de Follow-Up da Divisão de Pediatria do HU da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, com lactentes de 4 a 24 meses, durante o período de agosto de 2007 a julho de 2008. A avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor deu-se através da Escala de Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância (BRUNET, LÉZINE, 1981), verificando as idades e quocientes de desenvolvimento nos aspectos Postural, Óculo-Motor, Linguagem, Social e Global. Para as crianças em que se verificou atraso no desenvolvimento, foi oferecida a intervenção por amostragem e orientações aos pais e responsáveis, sendo a criança reavaliada após as intervenções. Resultados: A amostra foi composta por 44 lactentes, e sete deles chegaram a receber 4 avaliações. Durante todas as avaliações, a média do quociente de desenvolvimento global manteve-se dentro da classificação normal média, sendo que a área postural apresentou os melhores resultados, chegando à normalidade alta. A área da linguagem e da coordenação óculo-motriz foram as que apresentaram os piores resultados, com um maior número de crianças dentro da classificação inferior ou muito inferior. Conclusão: Embora o desenvolvimento esteja dentro da normalidade é necessária atenção às áreas criticas, como a de coordenação óculo-motriz e linguagem, que foram as que menores escores obtiveram, deixando claro a necessidade de se intervir nesta população. Unitermos: Prematuridade. Desenvolvimento neuropsicomotor. Avaliação |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 137 - Octubre de 2009 |
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Introdução
A cada ano aumenta o número de bebês prematuros que nascem no Brasil. No ano 2000, 109.210 partos com menos de 36 semana de gestação foram feitos no País. Em 2005, segundo dados recentes do Ministério da Saúde, esse número passou para 123.569, um crescimento de 13%. Essas crianças nasceram com menos de 2,5 quilos e passaram até mais de três meses numa UTI. (SANT'ANNA, 2008)
Estes critérios enquadram-se na condição de alto risco, sobre a qual há vasta menção literária envolvendo fatores neurológicos, respiratórios, metabólicos, cardíacos e músculos-esqueléticos, bem como a ocorrência de prematuridade e de retardo no crescimento intra-uterino (SHEAHAN; BROCKWAY, 1999; FLEHMIG, 2000; CUNHA, 2000). A condição de alto risco engloba a presença de fatores biológicos e sociais que, incidentes no período pré, peri e/ou pós natal, proporcionam maior probabilidade à criança de manifestar déficits em seu desenvolvimento, podendo resultar em atraso neuropsicomotor, com anormalidades na aquisição de habilidades motoras, cognitivas e psicossociais (PÒO-ARGUELLES, CAMPISTOL-PLANA, IRIONDO-SANZ, 2000). Em referência aos fatores de alto risco, um dos mais abordados em estudos da área é a prematuridade (FRANÇOIS, et al. 1998; BURGUET, 2000; GREGÓRIO, et al. 2002; MANCINI, TEIXEIRA, ARAÚJO, 2002; WARD, BEACHY, 2003).
A prematuridade é um dos fatores mais abordados em estudos da área, e está associado com maior freqüência de seqüelas neurológicas (GOULART, 1998). Por definição tem-se que prematuro é todo o RN nascido antes de 37 semanas gestacionais completas (37 semanas e 6 dias), conforme os limites recomendados por Lubchenco et al., e endossado pelo Centro Nacional para estatística da saúde da Associação Americana de Pediatria. É considerado pré-termo extremo todo aquele nascido de 24 a 30 semanas gestacionais completas (SEGRE, 1995; BENZECRY, 2000).
Para o acompanhamento da saúde de crianças que, por sua história pregressa e/ou contemporânea, se encaixam nesse perfil, têm sido organizados serviços de Follow-up ou de Seguimento, atuando desde a humanização do atendimento em Unidades de Terapia Intensiva Neonatais (UTIN) até a detecção de anormalidades e devido encaminhamento terapêutico durante a infância (SILVA, 1995; PÒO-ARGUELLES, CAMPISTOL-PLANA, IRIONDO-SANZ, 2000), atuando preventivamente em relação a déficits futuros.
O recém-nascido pré-termo (RNPT), dependendo do seu grau de imaturidade ao nascimento, deverá continuar no período pós-natal o desenvolvimento e a maturação de diversos órgãos e sistemas, visando atingir sua capacitação plena para inserção no macroambiente, em um processo dinâmico de interação e até de defesa em relação a este (GRAZIANO; LEONE, 2005).
A expectativa quanto ao crescimento de recém-nascidos prematuros é que ocorra aceleração máxima entre 36 e 40 semanas de idade pós-concepção e que a maioria apresente catch-up, atingindo seu canal de crescimento entre os percentis de normalidade nas curvas de referência até os 2 anos de idade (RUGOLO, 2005). Por isso a intervenção deve ser intensa nesta etapa da vida de um prematuro.
No primeiro ano de vida, especial atenção deve ser dada à evolução motora do prematuro, com avaliação do tônus passivo, postura, mobilidade ativa e força muscular (RUGOLO, 2005), a fim de proporcionar aporte ao seu desenvolvimento com qualidade de vida. Considerando o impacto das aquisições motoras no prognóstico do desenvolvimento global da criança, como relata Mancini, Teixeira e Araújo (2002), o acompanhamento de tais aquisições nessa faixa etária é de grande importância em termos preventivos, assim como a intensidade do desenvolvimento lingüístico característico do segundo ano de vida justifica o acompanhamento evolutivo nesta faixa etária.
A importância do acompanhamento do desenvolvimento de crianças pré- termo neste período está relacionada com a possibilidade de identificar características específicas dessa população, além de possibilitar a estimulação essencial quando necessária. O objetivo de tratamento precoce é transmitir e integrar a maior quantidade possível de experiências sensório-motoras normais, de maneira ativa, antes que os padrões de movimentos anormais se tornem habituais. (ALBANUS, 2004). Existem evidências suficientes de que quanto mais precoces forem o diagnóstico de atraso no desenvolvimento e a intervenção, menor será o impacto desses problemas na vida futura da criança (HALPERN et al., 2000).
Dada a necessidade de se intervir no desenvolvimento das crianças de alto risco biológico, a fim de prevenir ou minimizar os efeitos da prematuridade, o presente trabalho busca avaliar o Desenvolvimento Neuropsicomotor de infantes de 4 a 24 meses com histórico de prematuridade, acompanhados junto ao Ambulatório de Alto Risco em Neonatologia do Hospital Universitário – HU, da Universidade Federal de Santa Catarina/ UFSC, buscando delinear seu perfil desenvolvimentista, e intervir precocemente no seu desenvolvimento.
Método
A pesquisa é caracterizada como descritiva- diagnóstica, do tipo longitudinal e de campo (CERVO, BERVIAN, 1996). A amostragem foi do tipo intencional e conveniente, a partir dos seguintes critérios de inclusão: comparecimento às consultas médicas do Ambulatório de Follow-Up da Divisão de Pediatria do HU, faixa etária variando de 4 a 24 meses durante período pré-estabelecido para a coleta de dados (agosto de 2007 e julho de 2008) e a autorização dos pais ou responsáveis para a participação das crianças. Foram excluídas do estudo crianças com diagnóstico fechado de distúrbios sensoriais (visuais ou auditivos), neurológicos ou ortopédicos, distúrbios cardíacos graves e infecções congênitas.
A avaliação do Desenvolvimento Neuropsicomotor deu-se através da Escala de Desenvolvimento Psicomotor da Primeira Infância (BRUNET, LÉZINE, 1981), através da verificação das idades e quocientes de desenvolvimento nos aspectos Postural, Óculo-Motor, Linguagem, Social e Global. A metodologia referente às formas de aplicação prática dos testes, ao sistema de registro e de conversão das idades de desenvolvimento em pontos, aos cálculos dos quocientes de desenvolvimento e aos demais procedimentos da Escala de Brunet-Lézine foi realizada de acordo com as normas de seu manual.
Os dados biopsicossociais foram coletados através da utilização de um formulário padronizado respondido pelos pais ou responsáveis pela criança, complementado pela consulta ao prontuário hospitalar da mesma, permitindo a identificação de fatores de risco presentes.
Para as crianças em que se verificou atraso no desenvolvimento, foi oferecida a intervenção por amostragem e orientações aos pais e responsáveis, baseadas em um programa de intervenção neuropsicomotora estruturado na ludoterapia (terapia do brinquedo), com vistas à reorganização neurológica.
O programa de intervenção contou com a instrução e demonstração aos pais sobre como lidar com seu filho, favorecendo a aquisição de padrões motores, orientando-os a intervir através da ludoterapia, usando-se dos recursos domésticos, sendo os pais orientados mensalmente, quando do retorno ao ambulatório, sempre aconselhados sobre quaisquer providencias necessárias. As orientações foram passadas por uma fisioterapeuta vinculada ao projeto logo após a avaliação e constatação da necessidade de intervir, utilizando-se da demonstração com a própria criança.
Os dados foram analisados através da Estatística Descritiva, sendo apresentados em tabelas e gráficos nas funções de percentis, médias, medianas e desvios-padrão, ou análise qualitativa.
A proposta e os procedimentos deste estudo foram elaborados de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução 196/1996), do Conselho Nacional de Saúde, e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos, da Universidade do Estado de Santa Catarina, sob referência nº 040/2006.
Resultados
Durante o período de agosto de 2007 e julho de 2008, passaram pelo ambulatório 68 lactentes, porém, 7 destes foram excluídos por apresentarem quadro de infecção congênita, como toxoplasmose ou sífilis, e 17 ainda não apresentavam idade corrigida adequada (4 meses) para a avaliação. Dos 44 lactentes que participaram da pesquisa, 25 (56%) eram do sexo masculino, e o peso médio ao nascer foi de 1280 gramas, com mínimo de 515g e máximo de 3150g. A idade gestacional média foi 30 semanas, com mínimo de 24 semanas e máximo de 34 semanas. 68% foram classificados em extremos prematuros, apresentando menos de 32 semanas gestacionais.
Quanto à procedência, menos de 50% eram da região da grande Florianópolis, sendo as demais oriundas de outras cidades do Estado de Santa Catarina, encaminhadas ao HU/UFSC por não terem em suas cidades o suporte necessário à crianças de alto risco.
Das 44 crianças avaliadas, 75% (n=33) sofreram intercorrências pré-natais, dentre as quais 40% (n=14) apresentaram quadro de hipertensão/Pré-Eclampsia.
Figura 1. Principais intercorrências pré-natais
Evidenciou-se que o fumo esteve presente em apenas 7% das gestações, não apresentando correlação com o quociente de desenvolvimento global.
Cerca de 65% das gestações não foram planejadas, embora apenas 20% das mães possuíam menos de 20 anos no momento do parto. A maior parte das mães (60%) encontrava-se com idade entre 20 e 30 anos. Embora a grande maioria tenha realizado acompanhamento pré-natal, três mães realizaram menos de três consultas durante o período gestacional.
A necessidade de Ventilação mecânica esteve presente em 40% dos casos, que permaneceram em média até seis dias em ventilação, embora haja uma correlação negativa, fraca entre o tempo de ventilação mecânica e o quociente de desenvolvimento global, evidenciamos dois casos que ficaram 14 dias, 1 que ficou 19 dias e ainda 1 que permaneceu 22 dias em ventilação mecânica.
Os dados da primeira avaliação evidenciaram que 15% (n=6), apresentam desenvolvimento postural inferior ao esperado para a idade. Para a coordenação óculo-motriz, 20% apresentam atrasos importantes, classificando-se como inferior, e 15% encontram-se em zona limite para a inferioridade. Na área da linguagem e sociabilidade, 18% das crianças foram classificadas em inferior ou muito inferior e cerca de 15% ficaram na zona limite, classificadas em normalidade baixa.
A correlação de Sperman entre os quocientes de desenvolvimento global, nas avaliações das diferentes áreas foi positivamente moderado a forte, com significância estatística (s=0,01).
A média do quociente de desenvolvimento global nesta primeira avaliação enquadra-se na classificação normal média, como se pode ver na tabela 1.
Tabela 1. Quocientes de desenvolvimento global nas 4 avaliações
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Quociente de Desenvolvimento Global 1 |
Quociente de Desenvolvimento Global 2 |
Quociente de Desenvolvimento Global 3 |
Quociente de Desenvolvimento Global 4 |
N |
44 |
30 |
18 |
7 |
Média |
98,355 |
103,053 |
105,733 |
104,114 |
Mediana |
102,35 |
102,75 |
106,55 |
109 |
Desvio Padrão |
19,5735 |
15,8772 |
14,92 |
13,0602 |
Variância |
383,121 |
252,085 |
222,606 |
170,568 |
Mínimo |
43,4 |
71,5 |
70,8 |
82,3 |
Máximo |
129,5 |
127,5 |
132,2 |
117,4 |
A média de idade cronológica(IC) na data da primeira avaliação foi de 10,6 meses, e a idade cronologica corrigida (ICC) foi de 8,4 meses. Apenas as áreas de coordenação óculo-motriz e linguagem apresentaram idade negativa de desenvolvimento, e a idade de desenvolvimento postural foi a que apresentou melhores escores, sendo a menos abalada pelos efeitos da prematuridade.
Figura 2. Quocientes de desenvolvimento global nas quatro diferentes avaliações
Após intervenção realizada pelos pais ou responsáveis em suas residências segundo orientações das fisioterapeutas do projeto, a criança foi submetida à uma segunda avaliação. Esta, ocorreu em apenas 30 crianças, em média 3 meses após a primeira, apresentando IC média de 13,3 meses, e ICC de 11,1 meses. Nesta avaliação nenhuma área apresentou idade de desenvolvimento negativa, e, embora a área da linguagem tenha apresentado entre as demais, o menor escore (QDL=98), manteve-se ainda classificado em Normalidade.
Pode-se observar que na segunda avaliação a área postural foi a que apresentou maior média, porém classificando-se apenas como normalidade média. 34% obtiveram classificação inferior ou muito inferior para a linguagem. O desenvolvimento nas áreas coordenação óculo-motriz e sociabilidade apresentaram escore médio dentro da classificação da normalidade média (QDC=102 e QDS=101).
Dezoito crianças ainda receberam uma terceira avaliação fortalecendo o seguimento, e sete chegaram a uma quarta avaliação, antes da alta do ambulatório.
Na terceira avaliação a IC foi de 15,2 meses, e a ICC foi de 12,9 meses, apresentando uma idade positiva de desenvolvimento de 0,8 meses para a área postural, chegando esta à classificação de normalidade alta. As demais áreas apresentaram classificação média dentro da normalidade média, sendo a linguagem ainda a que apresentou o menor escore, porém agora apenas 17% (n=3) das crianças obtiveram classifcação inferior ou muito inferior.
As 7 crianças que realizaram uma quarta avaliação apresentaram IC média de 17,5 meses e ICC média de 15,3 meses. Nesta última avaliação todas as áreas apresentaram escore médio dentro da normalidade média, e apenas a linguagem apresentou escores classificados como Inferior (n=2)
Salienta-se que a grande maioria (90%) apresentam a mãe como principal cuidadora, podendo receber a atenção e os cuidado necessários, assim como intervenções diárias, conforme orientadas no dia da avaliação.
Discussão
As aquisições motoras no primeiro ano de vida são fator relevante no prognóstico do desenvolvimento global da criança, pois o período compreendido entre o nascimento e o final do primeiro ano de vida é considerado como um dos mais críticos no desenvolvimento infantil (MANCINI, TEIXEIRA, ARAÚJO, 2002).
Quanto ao gênero, Saigal (2000), afirma a existência de significância em termos de gênero, com maior razão de chances para apresentar maiores áreas de atraso no gênero masculino quando comparado com o feminino, numa proporção de 60% a 32%, respectivamente. O mesmo não foi evidenciado em nosso estudo onde 25 (56%) eram do sexo masculino, porém não foi verificado significância estatística, quanto a atrasos no desenvolvimento.
Nosso estudo evidenciou peso médio ao nascer de 1280 gramas, com mínimo de 515g. Em relação ao peso ao nascer, a literatura aponta que 50% das crianças com peso inferior a 1500g tem maior chance de apresentar avaliação neurológica alterada nos primeiros meses de vida (ZANINI et al., 2002). No estudo de Sobolewski et. al (1996) , com 75 crianças nascidas no Hospital da USP e acompanhadas ambulatorialmente por 2 anos com o objetivo de identificar as alterações neurológicas em recém-nascidos (RN) de baixo peso e os seus fatores de risco, a incidência de alteração de desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) foi de 34,6%.
O estudo exploratório de Castro et al. (2007), que avaliou o desenvolvimento de 55 lactentes com ICC entre quatro e cinco meses, nascidos pré-termo no Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (IMIP) e acompanhados no Ambulatório de Egressos do Programa Mãe Canguru, no período de março a agosto de 2004, verificou que, em relação ao desenvolvimento motor, os lactentes com menor IG ao nascer apresentaram um maior percentual de escore da escala utilizada abaixo do percentil 10 (26%), quando comparado com os nascidos com maior IG (4%) (p = 0,009).
Já Goto et al (2005) compararam o neurodesenvolvimento de 67 lactentes nascidos a termo, 43 com peso adequado (AIG) e 24 pequenos para a idade gestacional (PIG), no 2º mês de vida, e verificaram que o Index Score (IS) nas Escalas Mental e Motora foi significativamente menor no grupo PIG. Nosso estudo não apresentou correlação significativa, entre a classificação de peso ao nascer e alterações no desenvolvimento, sendo que 70% foram classificados em AIG, e apenas 20% foram PIG.
O estudo de Halpern et al (1996), verificou que crianças de baixo peso apresentam um risco três vezes maior para atrasos no desenvolvimento, do que aquelas com peso ao nascer igual ou superior a 2.500g (p<0,001). O mesmo autor, ainda salienta em seu estudo em 2000, que as crianças que tinham maior risco de suspeita de atraso em seu desenvolvimento foram: as mais pobres, as que haviam nascido com mais baixo peso e as que apresentaram idade gestacional menor do que 37 semanas.
Este estudo não evidenciou atrasos expressivos para o desenvolvimento de crianças prematuras, observando que quando corrigida a idade gestacional, o desenvolvimento pode assimilar-se ao de uma criança a termo. O mesmo sugere Mancini et al (2002), em um estudo que comparou o desenvolvimento da função motora de crianças nascidas pré-termo com crianças nascidas a termo. Avaliando 32 crianças aos 8 e 12 meses de idade (16 nascidas pré-termo (grupo de risco) e 16 nascidas a termo (grupo controle)) que freqüentam o Ambulatório de Acompanhamento da Criança de Risco (ACRIAR) no complexo do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), através de testes infantis padronizados (AIMS e PEDI), concluindo que na ausência de outros distúrbios e com correção da idade em pré-termos, o desenvolvimento motor pode ser semelhante ao de crianças nascidas a termo.
Outro estudo realizado por Rosa Neto et al (2006), onde avaliou-se o perfil desenvolvimentista de 18 crianças de 3 a 24 meses, de alto risco neurológico, em acompanhamento em ambulatório de follow-up, através da Escala de desenvolvimento psicomotor da primeira infância de Brunet-Lèzine, verificou que a média das idades de desenvolvimento ficaram acima (áreas postural, linguagem, social e global) ou equivaleram seu valor (área de coordenação óculo-motriz) ao da idade cronológica (IC), corroborando com o presente estudo.
Os estudos de Silva (2005), avaliando população semelhante, e de Goyen e Lui (2002), avaliando crianças de alto risco neurológico, observaram déficits principalmente na área da Coordenação Óculomotriz, a qual apresentou os menores escores na classificação do desenvolvimento. Verificou ainda ao comparar grupo de prematuros moderados e extremos prematuros, que quanto maior o índice de prematuridade, menores os quocientes de desenvolvimento, em especifico o da coordenação.
No estudo de Magalhães et al. (1999), das 22 crianças prematuras acompanhadas do nascimento à idade pré-escolar, 63% (n=14) apresentaram desempenho inconsistente ou nitidamente abaixo do esperado para a idade, em testes motores e perceptuais. Crianças com histórico de prematuridade apresentam escores mais baixos nos testes de desenvolvimento mental e inteligência do que crianças nascidas a termo, documentando um numero maior de casos de distúrbios de aprendizagem, problemas emocionais e de comportamento, dificuldades perceptuais visomotoras, de linguagem, e de aprendizagem em crianças pré-termo. (MAGALHÃES et al. , 1999).
Embora vastas literaturas enfatizem a atenção a linguagem, afirmando que quanto menor o peso de nascimento e a idade gestacional, maior a probabilidade de atraso nos vários estágios de desenvolvimento da linguagem (RUGOLO, 2005), nosso estudo evidenciou escores dentro da normalidade.
Observa-se que os prematuros são mais dispersos, menos atentos e persistentes, e isto pode comprometer seu desenvolvimento cognitivo futuro (Sajanieme apud RUGOLO, 2005).
Ao analisar a evolução do seguimento verificamos que os lactentes apresentam uma evolução normal de desenvolvimento, melhorando os escores de quociente de desenvolvimento ao longo das avaliações. Manacero e Nunes (2008), também verificaram esta seqüência progressiva de aparecimento de habilidades motoras em todas as posturas estudadas a qual apresenta-se de forma variável mas dentro dos limites de normalidade, ao avaliarem o desempenho motor de neonatos prematuros, verificaram a influência do peso de nascimento nas aquisições motoras, de 44 recém-nascidos prematuros com idade gestacional entre 32 e 34 semanas, sem distúrbios neurológicos, selecionados na unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital São Lucas do Rio Grande do Sul.
Quando abordamos a proposta de intervenção salientamos que cerca de 50% da amostra era proveniente de outras cidades do estado, não sendo possível a intervenção semanal no hospital onde o programa é realizado. Alem disso, sendo a maioria das famílias, de baixa renda, havia dificuldade para o deslocamento e para que houvesse alguém com tempo disponível para levar a criança á intervenção.
O estudo de Formiga, Pedrazzani e Tudella (2004), para avaliar a evolução do desenvolvimento motor de lactentes pré-termo participantes de um programa de intervenção precoce com e sem treinamentos dos pais, vem de encontro a nossa proposta, enfatizando a importância dos pais participarem da intervenção neuropsicomotor. Participaram do estudo 8 lactentes pré-termo e suas famílias, divididos em dois grupos, avaliados pela Alberta Infant Motor Scale durante quatro meses. Os resultados demonstraram que os bebês do grupo intervenção com orientação e treinamento dos pais obtiveram melhor evolução dos comportamentos avaliados em relação ao grupo de intervenção sem orientação e treinamento dos pais. Pode-se afirmar que a participação dos pais, associada ao programa de intervenção fisioterapêutica aplicado, beneficiou significativamente o desenvolvimento motor dos bebês estudados.
O fato de a grande maioria (90%) dos casos apresentarem a mãe como principal cuidadora, podendo receber a atenção e os cuidado necessários, assim como intervenções diárias, conforme orientadas no dia da avaliação, tornando desnecessário a inserção desta em creches, o que somaria para atraso no desenvolvimento, como sugere o estudo de Souza (2003) e Mansur (2004). Após as orientações, os pais saiam satisfeitos e amparados, tendo onde tirar suas duvidas e anseios.
Conclusão
Nosso estudo observou que embora o desenvolvimento esteja dentro da normalidade é necessária atenção às áreas criticas, como a de coordenação óculomotriz e linguagem, que foram as que menores escores obtiveram, deixando claro a necessidade de se intervir nesta população, evitando assim, que afetem negativamente o desenvolvimento futuro destas crianças.
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digital · Año 14 · N° 137 | Buenos Aires,
Octubre de 2009 |