Variáveis antropométricas e sua influência no desempenho de provas de 50 e 400 metros nado livre Variables antropométricas y su influencia en el desempeño de pruebas de natación de 50 a 400 metros libre |
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Mestrando(a) em Educação Física Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Adriana Garcia Pacheco Talita Grossl | Luana Mann Julio Francisco Kleinpaul |
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Resumo Introdução: Vários são os indicadores antropométricos que podem influenciar o desempenho na natação. Contudo, ainda não parece haver um consenso sobre as relações entre as variáveis antropométricas e o desempenho na natação. O objetivo deste estudo foi relacionar algumas variáveis antropométricas com a performance nas provas de 50m e 400m nado livre em atletas de natação. Método: Foram avaliados 12 nadadores de ambos os sexos, 6 homens e 6 mulheres, praticantes de natação. Resultados: A relação das variáveis antropométricas é dependente da prova que o atleta executa, possuindo assim valores distintos de contribuição para o rendimento. Conclusão: uma ótima performance geralmente não depende de um único fator, ou de apenas um tipo de variável. Unitermos: Natação. Antropometria. Desempenho
Abstract Introduction: There are several anthropometric indicators that can influence the performance in swimming. However, there is still no consensus on the relationship between anthropometric variables and performance in swimming. The aim of this study was relate some anthropometric variables with performance in proof of 50m and 400m crawl swim in the swimming athletes. Method: Are evaluated 12 swimmers of both sexes, 6 men and 6 women, practitioners of swimming. Results: The relationship of anthropometric variables is dependent on proof that the athlete executes, thus having different values of the contribution to income. Conclusion: A good performance generally does not depend on a single factor, or only one type of variable. Keywords: Swimming. Anthropometry. Performance |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 137 - Octubre de 2009 |
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Introdução
A natação é um esporte que vem sendo analisado sob diversos pontos de vista, como fisiológico, antropométrico, biomecânico e pedagógico (CASTRO, 2002), sendo que com o conhecimento dessas áreas, pode-se melhorar o desempenho, desenvolvendo programas de treinamento especifico e individualizado as características especificas do atleta (FRANKEN et al., 2008).
A forma e as funções corporais dos desportistas estão intimamente relacionadas, sendo decisivas na obtenção de um desempenho desportivo de alto nível. Dessa forma, os fatores antropométricos que caracterizam a população de nadadores e sua influência no desempenho, tem sido alvo freqüente de pesquisadores (THORLAND et al.,1983; CHATARD et al., 1990; FERNANDES; BARBOSA; VILAS-BOAS, 2002) devido a sua importância quando relacionados ao rendimento (FERNANDES; BARBOSA; VILAS-BOAS, 2002). Fernandes, Barbosa e Vilas-Boas (2002), apontam o peso, a altura, o índice envergadura/estatura (IEE), o índice diâmetro biacromial/bicristal, o comprimento e a superfície dos segmentos corporais, o somatotipo e a composição corporal, como sendo as variáveis determinantes do rendimento na natação.
Segundo Maglischo (1999) o desempenho pode ser influenciado pela capacidade de gerar força propulsora e minimizar a resistência ao avanço no meio líquido, que é maximizado com a melhora da técnica, das características biomecânicas e da condição física do nadador, que inclui a composição corporal e a força. Persyn et al. (1984) acrescentam que a forma, as dimensões do corpo e dimensões dos membros superiores (MS) do nadador, são aspectos que influenciam a capacidade propulsiva e a intensidade da força de arrasto hidrodinâmico de uma determinada velocidade de nado. O arrasto hidrodinâmico é dependente das características físicas do nadador como a altura e o peso, tendendo a gerar maior área de atrito frontal com a água (VILAS BOAS; FERNANDES e KOLMOGOROV, 2001).
Em provas de curta duração, em que a velocidade é considerada a variável determinante, as características físicas como estatura, envergadura, composição corporal e somatotipo podem determinar o resultado de uma prova (FERNANDES et al., 1995).
Contudo, ainda não parece haver um consenso sobre as relações entre as variáveis antropométricas e o desempenho na natação. Considerando as possíveis relações entre variáveis antropométricas e a performance da natação e ainda procurando contribuir para evolução dos estudos nessa área, este estudo teve como objetivo relacionar variáveis antropométricas altura, massa corporal, envergadura, comprimento de tronco e braço, circunferência de braço, antebraço, coxa medial e perna com a performance de 50m e 400m livre em atletas de natação.
Métodos
Sujeitos do estudo
Participaram deste estudo 12 atletas de natação: seis homens (24 ± 2,4 anos; 78,1 ± 8,1 kg; 180,8 ± 11,3 cm) e seis mulheres (21 ± 6,0 anos; 57,0 ± 6,1 kg; 160,9 ± 7,6 cm), pertencentes a uma equipe competitiva a nível estadual de natação da cidade de Santa Maria, RS. A seleção foi realizada por meio de amostragem não-probabilística do tipo intencional, por se tratar da equipe de maior representatividade da cidade. Todos os atletas treinavam pelo menos três vezes por semana por pelo menos um ano, com volume de treino semanal médio de 8.500 ± 3.500 m.
Determinação das variáveis antropométricas
A avaliação antropométrica foi realizada com agendamento prévio antes do treinamento por um único avaliador, a fim de garantir a fidedignidade dos dados obtidos. A mediana entre as três medidas executadas em cada ponto anatômico foi adotada como valor de referência.
As variáveis antropométricas foram mensuradas de acordo com o protocolo brasileiro descrito por de Alvarez e Pavan (2003). A massa corporal (MC) foi mensurada com uma balança digital da marca Welmy com resolução de 10 g e para mensuração da estatura corporal foi utilizado um estadiômetro da marca Welmy com resolução de 0,5 mm. Para obtenção da medida de envergadura (correspondente a maior distância entre os extremos das mãos, estando os ombros à 90º de abdução, cotovelos, punhos e dedos em extensão) foi utilizada uma fita métrica (Cardiomed, Curitiba, Brasil) com resolução de 1 mm, fixada à parede. Uma fita antropométrica (Sanny) foi utilizada para obtenção das medidas de circunferência de braço, antebraço, coxa (medial) e perna. As medidas de comprimento de tronco e braço foram realizadas com uma fita métrica (Stanley) de 210 cm de comprimento e com precisão de 1 mm, conforme critério estabelecido por Martins e Lopes (2009).
Todas as medidas foram realizadas de forma rotacional e replicadas três vezes, sendo registradas por um anotador.
O IEE foi calculado por meio da razão entre a envergadura e a estatura dos sujeitos e não possui unidade, sendo expresso apenas pela sua grandeza numérica: IEE = envergadura/estatura.
Tratamento estatístico
Para realização de todos os testes estatísticos utilizou-se o pacote estatístico SPSS for Windows versão 11.5 (SPSS Inc., Chicago IL, EUA). Utilizou-se estatística descritiva de medidas de tendência central (média) e de variabilidade (desvio padrão e coeficiente de variação) para apresentação dos resultados. A fim de verificar se os dados possuíam distribuição normal, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk, o qual confirmou a normalidade dos mesmos. A comparação entre os sexos foi testada por meio do teste t de Student para amostras independentes. Para determinar a correlação entre os índices analisados, aplicou-se a correlação linear do produto momento de Pearson. Por último, a fim de verificar a contribuição das variáveis antropométricas independentes (altura, massa corporal, envergadura, IEE, comprimento de tronco e braço, circunferência de braço, antebraço, coxa medial e perna) na variável dependente (performance nas provas de 50m e 400m), realizou-se uma análise de regressão linear múltipla, utilizando o método Enter para seleção de variáveis. Os resultados de todas as análises foram considerados significativos quando p < 0,05.
Resultados
Os valores descritivos referentes a caracterização dos atletas quanto aos valores antropométricos e de performance (tempo obtido em cada prova) estão descritos na Tabela 1.
Tabela 1. Valores descritivos do tempo de prova (T50 e T400) apresentado pelos atletas
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T50 (s) |
T400 (s) |
Média ± DP |
32,55 ± 6,20 |
400,2 ± 65,4 |
Mínimo |
25,34 |
328,2 |
Máximo |
43,56 |
550,8 |
CV |
19,04 |
982,8 |
A Tabela 2 apresenta as características antropométricas pertinentes a cada sexo.
Tabela 2. Valores médios e DP das variáveis antropométricas, divididos por sexo
Sexo |
Masculino |
Feminino |
Altura (cm) |
180,8 ± 11,3 * |
160,9 ± 7,6 |
Envergadura (cm) |
1,8 ± 0,1 * |
1,6 ± 0,1 |
Massa corporal (kg) |
78,1 ± 8,1 * |
57,0 ± 6,1 |
Comprimento braço (cm) |
59,2 ± 3,2 * |
53,1± 2,0 |
Comprimento de perna (cm) |
93,0 ± 7,4 |
85,6 ± 5,4 |
Comprimento de tronco (cm) |
63,8 ± 3,6 * |
57,1 ± 4,0 |
Circunferência de braço (cm) |
34,0 ± 1,9 * |
25,8 ± 1,5 |
Circunferência de antebraço (cm) |
27,5 ± 1,0 * |
22,4 ± 0,9 |
Circunferência de coxa (cm) |
56,9 ± 2,0 |
56,5 ± 4,3 |
Circunferência de perna (cm) |
37,7 ± 2,0 * |
35,1 ± 2,1 |
* p £ 0,05 em relação ao sexo feminino
A Tabela 3 apresenta os valores da correlação linear de Pearson entre a performance na prova de 50m (T50) e performance na prova de 400m (T400) e as variáveis antropométricas aqui estudadas.
De acordo com os resultados da Tabela 3, pode-se verificar que foi encontrada correlação significativa (p £ 0,05) entre o comprimento de braço, comprimento de tronco, envergadura, altura, massa corporal (MC) com a T50. Já para o T400, somente a circunferência do braço (CB) e circunferência de antebraço (CAB) apresentaram correlação significativa.
Tabela 3. Correlação entre as variáveis antropométricas com o T50 e T400
Variáveis Antropométricas |
T50 |
T400 |
Envergadura |
- 0,66 * |
- 0,51 |
Altura |
- 0,64 * |
- 0,55 |
Massa corporal |
- 0,68 * |
- 0,54 |
IEE |
- 0,05 |
0,11 |
Comprimento de braço |
- 0,65 * |
- 0,53 |
Comprimento de tronco |
- 0,60 * |
- 0,52 |
Comprimento de perna |
- 0,34 |
- 0,23 |
Circunferência de braço |
- 0,82 * |
- 0,71 * |
Circunferência de antebraço |
- 0,80 * |
- 0,67 * |
Circunferência de perna |
- 0,56 |
- 0,55 |
Circunferência de coxa |
0,12 |
0,16 |
* p £ 0,05
A correlação do produto momento de Pearson apontou uma tendência a correlações negativas, indicando possíveis relações com o tempo de prova. A circunferência de braço foi quem apresentou maior tendência de correlação com a prova de 400 m, seguida pela circunferência de antebraço.
A Tabela 4 apresenta a regressão múltipla das variáveis selecionadas pelo modelo para predizer o T50 e o T400.
Tabela 4. Regressão múltipla das variáveis antropométricas com o T50 e T400
Performance |
Variáveis antropométricas |
R² (%) |
T50 |
CB |
64 |
|
CB + MC |
84 |
T400 |
CB |
45 |
|
CB + MC |
74 |
|
CB + MC + altura |
84 |
De acordo com os resultados obtidos pela análise de regressão múltipla, verificou-se que o a circunferência do braço (CB) foi o índice que, sozinho, explicou a maior parte da variação do T50 (64%). E, quando somada a segunda variável selecionada pelo modelo, a massa corporal (MC), conseguiram explicar 84% da variação da performance T50.
Em relação a T400, a CB explicou 45% da variação da prova. Quando somada a MC aumentou o coeficiente de explicação para 74%. Por último, acrescentando a variável altura, o índice de explicação aumentou para 84% no T400.
Discussão
O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre variáveis antropométricas altura, MC, envergadura, comprimento de tronco, comprimento do braço, CB, CAB, circunferência da coxa medial e da perna com a performance nas provas de 50m e 400m nado livre em atletas de natação. O principal resultado foi que o tempo de prova é dependente das variáveis antropométricas, possuindo assim valores distintos de contribuição para o rendimento da prova que o atleta compete.
Os resultados do presente estudo apresentaram valores de MC (67,6 ± 12.9 kg), IMC (22.9 ± 1.80 kg.m-2), envergadura (173 ± 0,14cm) e altura (170,8 ± 13,9 cm) mais elevados que os reportados pela literatura consultada, porém nestes os atletas avaliados eram mais jovens (LIMA et al., 2001; SCHNEIDER; MEYER, 2005). Estes resultados do presente estudo vão ao encontro do estudo de Fernandes, Barbosa e Vilas-Boas (2005), que relatam que a MC e a estatura dos nadadores aumentam com a idade, ao passo que, nadadores mais velhos se mostram mais pesados e mais altos do que os mais jovens, estando estes aumentos relacionados com o desenvolvimento biológico associado à idade. Prestes et al. (2006) encontraram para a categoria Júnior (16 - 18 anos), valores de estatura de 165 cm e MC de 58,4 kg, sendo estes valores similares aos encontrados por Thorland et al. (1983), em nadadoras da mesma faixa etária (168 cm e 58,5 kg, respectivamente para estatura e MC).
Na comparação entre os gêneros (Tabela 2), os homens apresentaram valores superiores em todas as variáveis antropométricas, corroborando com dados da literatura que demonstram que o pico no desenvolvimento físico das mulheres é atingido por volta dos 14 anos, posteriormente a este período os homens passam a demonstrar maior evolução nas variáveis antropométricas em relação às mulheres (PRESTES et al., 2006). De acordo com Tucher, Gomes e Dantas (2009), os indivíduos mais velhos, de ambos os sexos, apresentam maiores valores para as variáveis antropométricas em relação aos mais novos.
Os resultados de MC e estatura encontrados para o sexo masculino (Tabela 2) foram similares aos reportados pela literatura, com nadadores de idades similares (NOVAK et al. 1968; FRANKEN et al., 2008). Analisando os resultados destas variáveis para o sexo feminino, os valores foram similares aos de Maia; Vilas-boas (1987) que avaliaram atletas de mesmo nível de performance as do atual estudo e encontraram para MC valores de 57, 5 ± 5,5 e para estatura de 163,4 ± 5,7. Segundo Mazza et al. (1994) quanto mais alto o nível das atletas, maiores são os valores de estatura encontrados.
Damsgaard et al. (2000) destacam que as características antropométricas constituem-se como fatores intervenientes na escolha das modalidades desportivas. Grimston e Hay (1986) observaram que os segmentos corporais apresentam uma importância significativa na performance de nadadores, visto que, maiores medidas de envergadura permitem desenvolver maior força propulsiva, sendo este um fator primordial para performance na natação. Grimston e Hay (1986) observaram que os segmentos corporais apresentam uma importância significativa na performance de nadadores, visto que maiores medidas de envergadura permitem desenvolver maior força propulsiva, o qual é um fator primordial para performance na natação.
No atual estudo, foi encontrada alta correlação entre estatura e envergadura (r = 0,94), porém os valores médios de estatura (170,8 cm) e envergadura (170 cm) são inferiores a outros estudos citados (FRANKEN et al., 2008; TUCHER; GOMES; DANTAS, 2009). Essas diferenças podem ser justificadas pelo diferente nível de performance dos atletas (estes dados são a média de homens e mulheres, o que também diminui a estatura do grupo), Tabela 3.
O IEE é um índice muito utilizado para comparar diversas populações e para Boulgakova (1990), aliada ao comprimento dos membros, está relacionada à eficiência mecânica do nadador, pois quanto maior for o comprimento dos segmentos e da estatura, menor o número de ações motoras necessárias para percorrer uma mesma distância. O IEE tem sido considerado como referência para natação competitiva. Com relação aos valores de IEE encontrados no presente estudo, estes foram inferiores, com valores de 1,01 ± 0,05 para o sexo masculino e de 1,0 ± 0,03 para o sexo feminino, quando comparados aos valores apresentados por Lavoie e Montpetit (1986) e Mazza et al. (1994) que são valores considerados como referências em Natação Pura Desportiva (valores médios de 1,05 para o sexo masculino e de 1,03 para o sexo feminino). Este fato sugere uma vantagem hidrodinâmica para os nadadores de ambos os sexos, juntamente com o comprimento dos membros superiores (FERNANDES; BARBOSA; VILAS-BOAS, 2002).
A importância do comprimento e da superfície dos segmentos corporais do nadador é salientada por diversos autores (PRESTES et al., 2006; FRANKEN et al., 2008). Boulgakova (1990) refere que a eficiência do nadador depende, em grande medida, das superfícies do antebraço, da mão, da perna e do pé. Assim, quanto maior for o comprimento desses segmentos, mais eficiente será o sujeito e menor o número de ações motoras necessárias para percorrer uma mesma distância. De acordo com a Tabela 3 pode-se observar que no presente estudo, as características de comprimento de braço e tronco, CB, CAB e envergadura foram de grande importância para a T50. Contudo, pode-se verificar que a altura e a envergadura foram significativas para a T50, o que não ocorreu para a T400.
Os achados deste estudo corroboram em partes com os resultados encontrados por Pelayo et al. (1996), que demonstraram que estatura e envergadura apresentam correlação significativa e positiva com o tempo de nadadores durante a execução de teste em máxima velocidade. Os resultados do atual estudo mostram uma correlação da estatura e envergadura com a T50, porém negativa, ou seja, quanto melhor a performance na prova, maiores foram os valores de envergadura e estatura dos nadadores.
No estudo de Grimston e Hay (1986), com doze nadadores competitivos de uma equipe universitária norte-americana, a fim de desenvolver um modelo teórico capaz de identificar a relevância de variáveis antropométricas para o sucesso na natação competitiva, relacionaram o comprimento de braçadas, freqüência de braçadas e velocidade de nado de provas de nado livre com diversos dados antropométricos. De maneira específica, os resultados encontrados indicaram que comprimento de braço, comprimento de perna e tamanho de mãos e pés relacionam-se significativamente ao comprimento e freqüência de braçadas utilizadas, geralmente, por nadadores de crawl muito bem treinados.
Kherif et al. (1994), estudando 159 nadadores e 169 nadadoras, encontraram correlação entre comprimento de braçada e envergadura entre os atletas do sexo feminino, mas não entre os atletas do sexo masculino. Pelayo et al. (1996), relacionando características da braçada do nado crawl com dados antropométricos, incluindo envergadura, de 303 nadadores e 325 nadadoras de nível nacional e internacional, relataram não haver encontrado diferenças nas características antropométricas entre os atletas do sexo masculino de diferentes especialidades, mas entre os atletas do sexo feminino nas provas de 50m e 100m, estatura e envergadura correlacionaram-se com comprimento de braçada.
No presente estudo, as variáveis que melhor explicaram a T50 foram CB e a MC, pois juntas obtiveram um poder de explicação de 84%. Corroborando com Boulgakova (1990), quando refere que a eficiência do nadador depende, em grande medida, das superfícies do antebraço, como pode-se observar na Tabela 3. Assim, quanto maior for o comprimento desses segmentos, mais eficiente será o sujeito e menor o número de ações motoras necessárias para percorrer uma mesma distância (FERNANDES; BARBOSA; VILAS-BOAS, 2002). A eficiência propulsora aumenta com o tamanho do membro propulsor (tamanho do braço e largura das mãos) e se correlaciona muito bem com a altura (KJENDLIE et al., 2004).
De acordo com Tucher, Gomes e Dantas (2009), o arrasto hidrodinâmico (que a água opõe ao deslocamento) é menos dependente da técnica (se comparado a potência mecânica) e fortemente determinada por fatores constitucionais (VILAS-BOAS, 2000; VILAS-BOAS; FERNANDES; KOLMOGOROV, 2001).
Apesar de não controlada a amplitude de braçadas no presente estudo, e, sabendo de sua correlação com a altura corporal e comprimento do braço, era esperado que os nadadores mais altos, com maior envergadura e comprimento de braço, obtivessem melhores performances nas provas. Porém a estatura e comprimento de braço mostraram correlação apenas em T50. Já as CB (r= 0,82 e r = 0,70) e CAB (r = 0,80 e r= 0,66) apresentaram alta correlação em ambas as provas T50 e T400, respectivamente. Os achados desse estudo (Tabela 3), corroboram com o estudo de Doré et al. (2001) quando mostra que as diferenças na performance em eventos anaeróbios dependem primariamente das dimensões corporais. Para a T400, não foi encontrada grandes correlações, sendo explicada apenas pelas variáveis CB e CAB (R2 = 0,50). Corroborando com outros estudos que também não encontraram essa relação, porém os estudos foram realizados em provas de 550 jardas e 800m (CHATARD et al. 1990).
Mazza et al. (1994) sugerem que as características antropométricas parecem ter maior significância no desempenho, quando os atletas são especialistas em determinada distância e nado, e se encontram em nível mais alto (olímpico). Talvez pela razão do atual estudo ter sido realizado com os mesmos nadadores percorrendo ambas as provas (50m e 400m), ou seja, não eram especialistas nas provas, as correlações antropométricas com os tempos de prova apresentaram relações inferiores as encontradas na literatura consultada (MAZZA et al., 1994).
Conclusão
Os resultados do presente estudo sugerem que existe uma maior influência das variáveis antropométricas sobre a T50 em relação a T400. Para a T50, os valores de CB e MC mostraram elevado grau de predição de performance (84%); e para a T400, ao somar a CB, MC e estatura, encontrou-se o mesmo valor de predição de performance.
Assim, vale ressaltar que na natação e no esporte em geral uma ótima performance geralmente não depende de um único fator, ou de apenas um tipo de variável, porém as variáveis antropométricas apresentam elevado valor de predição de performance nas provas estudadas.
Diante do exposto, aponta-se que as variáveis antropométricas são de grande importância para a determinação do nível técnico de um nadador. Considerando que podem ser obtidos de modo indireto, sem a utilização de equipamentos sofisticados e são capazes de predizer o desempenho e servir ainda de ferramenta para avaliar possíveis efeitos do treinamento.
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digital · Año 14 · N° 137 | Buenos Aires,
Octubre de 2009 |