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Introdução

    A análise de características antropométricas e/ou estudos da dimensão morfológica, tornaram-se imprescindíveis à medida que o desempenho esportivo observa um processo de evolução, a ponto de serem consideradas como variáveis importantes para o alcance do ápice da performance em atletas e equipes de alto rendimento. As inferências sobre o impacto, influência ou interferência da quantidade e distribuição de componentes da massa corporal (massa corporal magra e gorda) em esportistas de vários níveis e a variabilidade desta distribuição de acordo com os vários esportes e entre categorias de um mesmo esporte vem sendo objeto de estudos de vários autores (SANTOS, 1999; FOSS; KETEYIAN, 2000; PRADO, 2006).

    O futebol como esporte de alta performance exige de seus atletas perfis específicos que também estão relacionados a características antropométricas. Alguns autores (FOSS; KETEYIAN, 2000; PRADO, 2006) defendem que existem dificuldades de se definir cientificamente parâmetros seguros para se determinar pontos de corte relacionados à quantidade de massa corporal magra, massa gorda e percentual de gordura. Estes atestam que os cuidados adotados durante todo o desenvolvimento do ciclo de treinamento para o controle das variáveis de composição corporal são importantes, e que a ênfase em atividade de baixa intensidade e de longa duração (exercícios aeróbicos), adesão a dietas direcionadas para a modalidade mesmo fora da temporada de jogo, ajuda a manter o peso desejado.

    Esta modalidade esportiva exibe características de dimensão de aleatoriedade em relação ao escalão competitivo, pois permite que no confronto entre equipes de diferentes categorias de competição, haja resultados positivos para as equipes de menor nível. Prado (2000) afirma que o percentual de resultados positivos para as equipes de menor nível competitivo no futebol é superior em relação a outras modalidades. Teoricamente as equipes participantes de campeonatos considerados de primeiro escalão poderiam exibir melhores níveis de componentes que se relacionam diretamente com o melhor desempenho em jogo, e dentre estas a composição corporal, proporcionando o objetivo principal em situações de competição que é a vitória.

    A partir desta perspectiva levantou-se as seguinte questão: será que as variáveis de ordem antropométrica apresentam-se diferentes em atletas de futebol que participam de campeonatos com de níveis competitivos diferentes? Desta forma tornou-se objetivo deste estudo analisar e comparar variáveis de antropometria em jogadores profissionais de futebol atuantes em clubes da primeira e segunda divisão de um campeonato estadual de futebol.

Material e métodos

Caracterização da pesquisa

    Esta pesquisa decorre de um estudo de caráter descritivo, transversal e de campo.

População e amostra

    A população foi composta por atletas profissionais de futebol. A amostra foi composta por 155 atletas com média de idade de 23,9+4,11dp anos, atuantes em três clubes de futebol da região do Cariri, no sul do estado do Ceará, sendo 76 da primeira divisão e 79 da segunda divisão, todos participantes do campeonato cearense do ano de 2008.

Instrumentos

    Utilizou-se para a aferição da medida de massa corporal (kg) uma balança antropométrica analógica da marca Balmak® com precisão de 100g. A medida de estatura (m) foi verificada em estadiômetro analógico portátil da marca Sanny Medical® com precisão de 0,1 cm. Um adipômetro Cescorf® com precisão de 0,1mm foi utilizado para mensurar 05 pontos de pregas de adiposidade subcutânea (triciptal, subescapular, supra-iliaca, abdominal e coxa medial). Utilizou-se também material de expediente, como pranchetas e fichas de registro de dados, entre outros.

Procedimentos

    O primeiro contato deu-se através de uma reunião com a diretoria e comissão técnica dos clubes de futebol para explicação dos objetivos da pesquisa e consentimento sobre a inclusão dos seus atletas no estudo. A partir daí, fez uma reunião com os jogadores para participação destes na pesquisa e direcionamento para assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) conforme o Conselho Nacional da Saúde Lei 196/96 (BRASIL, 2001) para pesquisa com seres humanos. Nesta ocasião explicou-se sobre os objetivos, procedimentos, recomendações referentes à coleta de dados, agendando o horário e dia da avaliação/coleta.

    Para a avaliação das variáveis antropométricas foram coletadas as medidas de massa corporal total (MC) em quilogramas, estatura (EST) em metros, pontos de dobras cutâneas em milímetros (mm): subescapular (SB), triciptal (TR), supra-ilíaca (SI), abdominal (ABD), coxa (CX), panturrilha (PM), estimativa de percentual de gordura (% GORD) equacionada a partir da fórmula matemática preconizada por Jackson e Pollock (1978) citada em Fernandes Filho (2003):

    e cálculo do peso de massa magra (PMM) a partir da subtração dos valores de massa gorda (MG) (em kg) e massa corporal total: PMM=MC-MG. Os valores de massa gorda forma obtidos a partir do produto da massa corporal total pelo percentual de gordura estimado dividido por 100 (cem):

MG=MC*(% GORD/100) [Eq. 2]

Plano analítico

    Após a coleta confeccionou-se um banco de dados em pacote estatístico e software de formatação de planilhas para aplicação de estatística descritiva com medidas de tendência central e dispersão, e para a estatística inferencial, com “t” de student para amostras independentes. Nível de significância adotado foi de 5%.

Apresentação dos resultados e discussão

    O futebol como esporte de alto rendimento exige de seus atletas perfis específicos que também estão relacionados a características de ordem antropométrica. Os valores médios encontrados para as medidas de massa corporal, estatura, de acordo com as inserções nos níveis das competições são demonstrados na tabela 01 abaixo. Percebe-se que as médias dos valores para a estatura foram de 1,73 (m) para a 1ª divisão e 1,73 (m) para os atletas da 2ª divisão. A massa corporal apresentou valores médios de 71,69 (kg) nos jogadores da primeira divisão e de 71,68 (kg) para os atletas do segundo escalão competitivo. Estas variáveis analisadas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois níveis competitivos. Ver tabela 01 abaixo:

Tabela 01. Valores de média, desvio padrão, máximo e mínimo das variáveis antropométricas do grupo dividido por nível competitivo (N=45)

Variáveis	Nível Competitivo
	1ª divisão (n=76)				2ª divisão (n=79)
	X	Dp	Máx	Mín	X	Dp	Max	Mín
Idade	24,26	4,35	19,00	34,00	23,42	3,81	33,00	19,00
Estatura (m)	1,73	0,05	1,64	1,84	1,73	0,061	1,84	1,60
Massa Corporal (kg)	71,69	7,11	59,40	82,30	71,68	5,48	82,00	61,20

Legenda: X – média; Dp – desvio padrão; Máx – valor máximo; Mín. – Valor mínimo

    Em estudo realizado por Cometti et al (2001) com atletas franceses de futebol, atuantes em campeonatos de primeiro e segundo escalão da França, percebeu-se que a média do componente massa corporal no primeiro grupo foi de 74,5 kg e a do grupo atuante na segunda divisão foi de 73,5 kg. A estatura dos indivíduos que atuam na primeira divisão apresentou-se em valores médios de 179,0 cm, enquanto que no segundo grupo encontrou-se escores de 178,0 cm. Estes valores podem demonstrar relação de equiparidade destas variáveis analisadas independentemente do nível de competitividade no qual os atletas de futebol atuam. Este fato também pode ser visto no estudo ora realizado quando os valores de massa corporal e estatura apresentaram-se similares nos dois grupos.

    A tabela 02 abaixo demonstra a estatística descritiva das variáveis de composição corporal (percentuais de gordura e peso de massa magra) e as espessuras das dobras cutâneas avaliadas. Percebe-se que a média dos valores de percentual de gordura do grupo da primeira divisão apontou um valor de 11,76%. No grupo de atletas da segunda divisão, a média para esta variável apresentou valor similar ao primeiro grupo (11,10%). A massa magra indicou escores similares entre os jogadores dos dois escalões competitivos (71,57 para a primeira divisão e 71,23 para a segunda divisão). Novamente, não foram apontadas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos.

Tabela 02. Estatística descritiva das variáveis de composição corporal e das dobras cutâneas do grupo, dividido por nível competitivo (N=45)

Variáveis	Nível Competitivo
	1ª divisão (N=76)				2ª divisão (N=79)
Massa Magra (kg)	71,57	7,10	59,32	82,16	71,23	5,47	81,90	61,09
% Gordura (%)	11,76	2,38	8,17	17,24	11,10	1,75	14,50	8,60
TR (mm)	5,36	1,75	2,30	9,10	6,21	2,192	11,60	3,10
SB (mm)	11,72	4,50	6,50	20,30	11,16	2,973	17,50	7,10
SI (mm)	9,51	4,98	2,80	22,20	7,30	2,72	13,70	3,20
ABD (mm)	12,48	5,94	3,10	25,40	10,15	5,30	21,50	4,30
CX (mm)	8,85	4,44	3,00	20,30	8,76	4,52	19,50	3,90
PM (mm)	4,73	1,75	3,10	9,80	5,15	2,47	2,70	11,50

Legenda: X – média; Dp – desvio padrão; Máx – valor máximo; Mín. – Valor mínimo

    Santos (1999) quando realizou estudo de caracterização comparativa de variáveis fisiológicas, antropométricas e motoras de atletas atuantes em equipes de futebol profissional que competiam nas quatro divisões do campeonato nacional de Portugal, verificou que a média do percentual de gordura encontrada foi de 11,4% para atletas da primeira divisão, 12,6% para atletas da segunda divisão, 10,3% na terceira e 11,6% na quarta divisão. Notou-se que os maiores valores obtidos para a porcentagem de gordura corporal foram em jogadores da 2ª divisão, não havendo, portanto, diferenças maiores entre as outras categorias.

    No presente estudo, todas as variáveis antropométricas analisadas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas verificadas através de teste de diferença entre médias. Reportando-se novamente ao estudo de Santos (1999), pôde-se verificar que as características antropométricas analisadas (massa corporal, estatura e percentual de gordura) também não apresentaram diferenças significativas entre as quatro equipes de categorias competitivas diferentes corroborando com o estudo aqui realizado.

    O fato de que não houve diferenças significativas entre as características antropométricas analisadas nos dois grupos, sugere a idéia de que estas parecem não influenciar decisivamente para uma melhor atuação ou desempenho ou como instrumento que favorecera a vitória, quando equipes de categorias diferentes se confrontam, já que os atletas mantêm o mesmo patamar para os componentes antropométricos, independentemente em qual nível de competitividade estes atuem.

Considerações finais

    O estudo com base na amostra permitiu emitir as seguintes considerações finais: as variáveis antropométricas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os atletas de futebol analisados que atuam na primeira e segunda divisão do campeonato cearense. De fato, os componentes de antropometria apresentados pelos atletas analisados neste estudo podem não se constituir um fator que exerça forte influência de sobreposição no desempenho e consequentemente no melhor rendimento quando em jogos de equipes que participam de diferentes graus de competição. Estes achados sugerem a idéia de que estas parecem não influenciar decisivamente, quando equipes de categorias diferentes se confrontam, já que os atletas mantêm o mesmo patamar para os componentes antropométricos, independentemente em qual nível de competitividade estes atuem.

    Pode-se também visualizar que outros fatores não relacionados a características antropométricas como as capacidades ligadas à aptidão física no desempenho esportivo como velocidade, força, agilidade, flexibilidade, resistência aeróbia, fatores de caráter psicológico/administrativos, nutricional, entre outros, possam afetar mais decisivamente ou têm papéis mais importantes nos resultados encontrados e consequentemente na determinação do sucesso esportivo, em partidas de equipes que se apresentem em diferentes categorias competitivas.

    Sugere-se que outros estudos sejam realizados, enfocando também variáveis que não foram analisadas neste estudo, com o intuito de determinar quais, e se possível em que proporções, outras variáveis atuam na determinação do sucesso esportivo em equipes que atuam em diferentes patamares competitivos. É importante evidenciar também a grande dificuldade para encontrar e referenciar-se estudos desta natureza com atletas brasileiros.

Referências

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• SANTOS, José Augusto Rodrigues dos. Estudo comparativo, fisiológico, antropométrico e motor entre futebolistas de diferente nível competitivo. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 13(2): 146-59 jul./dez. 1999.

• SOUSA, Maria do Socorro Cirilo de; SOUSA, Sólon José Gonçalves de. Evolução e Dimensões da cineantropometria nas ciências do esporte: Anais do VII Simpósio Nordestino de Atividade física e Saúde. João Pessoa, PB. 2006

• TRITSCHLER, Katheer A. Medida e avaliação em educação física e esporte. 5. ed. Barueri: Mande, 2003.

• VIANA, A. R.; GUEDES, D. P.; LEITE, P. F. et al. Futebol: Bases Científicas do Treinamento Físico. Rio de Janeiro: Sprint, 1987.

• WILMORE, Jack H. & COSTILL, David L. Fisiologia do esporte e do exercício. 2ª ed. São Paulo: Manole, 2001.

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