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Acessibilidade nas aulas de natação para pessoas com deficiência

Accesibilidad en las clases de natación para personas discapacitadas

Accessibility in the lessons of swimming for people with deficiency

 

*Professora de Educação Física, Mestranda em Ambiente e Desenvolvimento, UNIVATES

**Docente do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento, UNIVATES

(Brasil)

Taís Prinz Cordeiro*

Atos Prinz Falkenbach**

Jane Márcia Mazzarino**

atos@univates.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo caracteriza-se como um ensaio que surge da necessidade de reflexão sobre as questões de acessibilidade para as pessoas com deficiência no desenvolvimento de atividades de natação em piscinas. O objetivo do estudo é refletir acerca do referencial teórico presente na literatura da área sobre o tema da acessibilidade arquitetônica e pedagógica do ambiente para a prática da natação de pessoas com deficiência. O estudo é qualitativo na modalidade bibliográfica, uma vez que apresenta as produções acadêmicas e suas contribuições e limitações do tema. A busca bibliográfica se desenvolveu a partir da literatura específica do tema, legislação nacional vigente e artigos relacionados. O estudo permitiu compreender que há uma inclinação da literatura para a análise técnica da acessibilidade, bem como de que a acessibilidade pedagógica é o fator relevante para o sucesso da inclusão em natação.

          Unitermos: Pessoas com deficiência. Acessibilidade. Natação. Produção acadêmica

 

Abstract

          The present study is characterized as an assay that appears of the reflection necessity on the questions of accessibility for the people with deficiency in the development of swimming activities in swimming pools. The aims of the study is to reflect concerning the present theoretical referencial in the literature of the area on the subject of the accessibility pedagogical architectural and of the environment for the practical one of the swimming of people with deficiency. The study is qualitative in the bibliographical modality, a time that presents the academic productions and its contributions and limitations of the subject. The bibliographical search if developed from the specific literature of the subject, effective national legislation and related articles. The study it allowed to understand that it has an inclination of literature for the analysis technique of the accessibility, as well as of that the pedagogical accessibility is the excellent factor for the success of the inclusion in swimming.

          Keywords: People with deficiency. Accessibility. Swimming. Academic production

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 137 - Octubre de 2009

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Introdução

    Em todas as instâncias da atividade social, desportiva, laboral e outras, o exercício voltado para a inclusão de pessoas com deficiências representa um desafio. O desafio pode ser representado tanto no sentido de proporcionar uma equiparação de oportunidades, como também de compreensão e de tomada de consciência da inclusão a partir do olhar de pessoas sem deficiência. O esforço para a garantia destes espaços de igualdade para os cidadãos ampara-se nas leis e normas, já que estar em sociedade representa ter deveres e direitos que devem ser obedecidos e respeitados.

    A inclusão de pessoas com deficiência insere-se no conjunto do processo político, econômico e social, exigindo a formulação e o desenvolvimento de programas nos diferentes níveis de administração e a conjugação de esforços de todos os segmentos da organização social e da vida coletiva. É possível que as maiores dificuldades para a acessibilidade e a inclusão ainda estejam localizadas no preconceito e no desconhecimento que ferem a cidadania e afetam a organização da sociedade.

    Conforme Cohen (1998) leis e normas anunciam a conquista dos direitos das pessoas com deficiência à igualdade, mas a distância entre esta conquista e a realidade ainda é grande. A realidade das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo revela poucas oportunidades para engajamento em atividades esportivas, seja com objetivo de recuperação, lazer ou competição.

    Neste contexto surge a modalidade da natação, que pode constituir-se como uma possibilidade desportiva e atividade de lazer. Reis (2000) explica que a natação contribui eficazmente para o desenvolvimento motor e eficiência física de pessoas com deficiência. Capacita-o a ter experiências e realizações bem sucedidas, a ganhar confiança, a orgulhar-se dos seus êxitos e daquilo que está fazendo, realizando-o pessoalmente.

    Diante dessa possibilidade a educação física e o desporto para pessoas com deficiência precisam tratar da importância dos recursos humanos, das instalações, dos materiais e equipamentos, bem como da necessidade de avaliação e da realização de pesquisas nesse campo educacional específico, uma vez que a precariedade pode dificultar e impedir o acesso a essas atividades.

    Para Mantoan (2006) qualquer restrição ao acesso a um ambiente, que reflita a sociedade em suas diferenças/diversidades, como meio de preparar a pessoa para a cidadania, seria uma diferenciação ou preferência, que estaria limitando em si mesma o direito à igualdade.

    As condições estruturais de um contexto podem se configurar como um dos fatores de impedimento para a participação efetiva e envolvida de pessoas com deficiências em atividades de ensino e, conseqüentemente, a aprendizagem da natação. A problemática esbarra em uma relação direta com problemas sócio-ambientais, uma vez que a precariedade das condições estruturais e pedagógicas impede o sucesso de adesão, manutenção e aprendizagem de pessoas com deficiência na prática da natação.

    Desta forma pode-se formular o problema do estudo na seguinte questão: Como os diferentes referenciais teóricos descrevem os problemas socioambientais das condições de acessibilidade e de barreiras para o processo de inclusão de pessoas com deficiências em atividades de natação?

    Assim, o presente estudo tem por objetivo apresentar e refletir o referencial teórico sobre a acessibilidade física e pedagógica do ambiente para a prática da natação por pessoas com deficiência.

Conceitos para refletir a acessibilidade

    Conforme a Lei 10098 de 23/03/1994 a acessibilidade trata a questão da possibilidade e condição de alcance para utilização com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação para pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida. As barreiras podem ser arquitetônicas ou de comunicação e são impedimentos para a mobilidade e também à participação, expressão ou recebimento de mensagens.

    Para Duarte e Cohen (2006) o conceito de exclusão espacial encara o espaço como ator que se relaciona com o usuário de forma a excluí-lo ou a incluí-lo no âmbito de uma inter-relação espacial. Esta exclusão acontece quando os espaços se transformam na materialização de práticas segregadoras. Trata-se de uma barreira ao relacionamento, que pode ser considerada maior que os obstáculos físicos do espaço. Por mais que a sociedade ofereça um discurso que condena a exclusão social, os espaços que ela cria contradizem o que proclama. A exclusão espacial passa, então, a significar também a exclusão social.

    A Lei 10098 descreve que qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, deve ser denominado de barreira. Elas são classificadas em:

  1. Barreiras arquitetônicas urbanísticas: existentes em vias públicas e espaços de uso público;

  2. Barreiras arquitetônicas na edificação: existentes no interior de edifícios públicos e privados;

  3. Barreiras nas comunicações: entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios de comunicação.

    A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) por meio NBR 9050 de 2004, estabelece critérios e parâmetros técnicos, a serem observados ao projeto, construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às condições de acessibilidade. A NBR 9050 visa proporcionar à maior quantidade possível de pessoas, independentemente de idade, estatura, ou limitação de mobilidade ou percepção, a utilização de maneira autônoma e segura do ambiente, edificações, mobiliário, equipamentos urbanos e elementos.

    Um conjunto de medidas e regulamentações se tornam necessárias. Conseguindo transpor as barreiras burocráticas e atitudinais, as medidas devem obedecer às normas de acessibilidade e serem acompanhadas de profissionais, abrigando a noção de que adaptações devem ser pensadas para presentes ou futuros usuários, com restrições físicas ou sensoriais.

Acessibilidade em ambientes aquáticos

    Pensando na inclusão de pessoas com deficiência na prática de atividades aquáticas, um conjunto de medidas coloca-se à tona, indo ao encontro das diversas necessidades destes alunos, que conseqüentemente farão uso das instalações.

    Lepore (2004) salienta que os locais e os equipamentos para a prática da natação de pessoas com deficiências devem ser acessíveis e seguros, prestando-se a atividades bem sucedidas e satisfatórias, tanto para os participantes quanto para os instrutores.

    A seguir, a discussão tem o propósito de fornecer informações gerais, delineando pontos principais sobre as piscinas utilizadas para as atividades de natação para as pessoas com deficiência. Estes principais fatores a serem considerados são: a) a piscina e suas dimensões; b) temperatura, ventilação, iluminação e ruídos; c) instalações e superfícies.

    As principais opções quanto aos tipos de piscinas são: piscinas abaixo do piso, abaixo do nível do piso do deque, semi-erguida e erguida. Campion (2000) que dedicou estudos com pessoas com deficiência, concluiu que a opção mais desejada é aquela abaixo do nível do piso, com ou sem a construção de um nível de deque.

    A piscina abaixo do nível do piso, sem a construção de um deque, deverá ter uma distância da superfície da água até a borda da piscina. Campion (2000) explica que isso significa uma distância de no máximo 6 polegadas (15,24 cm) e preferencialmente de 3 polegadas (7,62 cm). Pois grandes distâncias dificultam a entrada e saída das pessoas com deficiência pela lateral e aumentam as dificuldades de manejo em uma emergência.

    A construção de um deque também traz vantagens. As saídas das pessoas com deficiência da piscina podem ocorrer mais facilmente e haveria uma diminuição da turbulência. Mas, a não ser que os limites sejam adequadamente dispostos, o piso seria lavado pela água que sai da piscina, ocasionando muitas vezes o retorno de água suja. Também o acúmulo de água para fora da piscina comprometeria a segurança.

    Segundo Bates e Hanson (1998) existem vários métodos de entrada e saída das piscinas. Estes métodos dependem do tipo de piscina e das deficiências das pessoas que a freqüentam. Devido às diferenças de dificuldades entre os participantes, há a necessidade que os locais ofereçam mais de uma forma de entrada e saída da piscina.

    Pessoas que conseguem andar podem fazer o uso de rampas, degraus ou mesmo de escadas, que devem ser seguras com corrimãos e sinalizações de não-escorregadio. Rampas molhadas, rampas secas e degraus graduais são exemplos de métodos de transferência que são embutidos no ambiente. As bordas e degraus de acesso à água deverão ter acabamento arredondado.

    Conforme Lepore (2004) a rampa molhada faz conexão direta entre o deque e a água. Este tipo de rampa ocupa um espaço considerável e também tende a dispersar a água, aumentando a turbulência. Um muro construído delimitando as laterais da rampa soluciona grande parte do problema. As rampas secas são construídas no deque da piscina, fora da água, com um muro ou banco de transferência.

    Para a ABNT (2004) quando o acesso à água for realizado por meio do banco de transferência, ele deve ter a altura de 0,46m de altura, extensão de no mínimo 1,20m e profundidade de 0,45m. O nível da água deve estar no máximo a 0,10m abaixo do nível do assento do banco.

    Os degraus que conduzem as pessoas com deficiência para a piscina devem ser situados na extremidade mais rasa, ficando confinados neste local, de modo que a área de trabalho da piscina esteja livre. Estes degraus deverão ter uma inclinação gradual. Para a ABNT (2004) os degraus submersos devem ter piso de no mínimo 0,46m e espelho de no máximo 0,20m.

    As escadas ou rampas de acesso à piscina devem ter corrimãos em três alturas, de ambos os lados e nas seguintes alturas: 0,45m, 0,70m e 0,92m, a distância livre entre os corrimãos deverá ser de no mínimo 0,80 m e no máximo 1 m (ABNT, 2004).

    As pessoas que não conseguem andar devem usar cadeiras de rodas especialmente desenvolvidas para irem à água, com descida pela rampa ou elevadores. Os elevadores envolvem sistemas pneumáticos, movidos à água, elevadores mecânicos e elevadores elétricos totalmente automatizados. Segundo Campion (2000) os elevadores mecânicos não são muito utilizados atualmente. Os elevadores hidráulicos operados podem ser lentos para baixar ou suspender, o que pode ocasionar em alguma dificuldade em momentos de emergência.

    As dimensões da piscina referem-se ao tamanho, à forma e à profundidade. A piscina deve ser grande o suficiente para que os usuários possam nadar e ter um deslocamento. As dimensões geralmente são limitadas pelo tamanho do local, pela verba disponível e pelo tipo de atividade a ser realizada nela. A forma adequada da piscina deve ser a retangular, pois uma piscina quadrada deixa o indivíduo “sem ter para onde ir” e geralmente causa críticas por parte dos usuários. Piscinas que são desenhadas com curvas, por exemplo, com a forma de um rim, não são práticas para o tratamento e para a natação. Também produzem uma turbulência que pode causar desconfortos e comprometer o equilíbrio. Todos os movimentos na água produzem turbulência, mas qualquer item como as curvas, em que a água “pula”, torna a situação pior (CAMPION, 2000).

    Para se considerar a profundidade da piscina, é importante levar em consideração o equilíbrio vertical do aluno. Este equilíbrio ocorre ao nível de dois terços da altura de uma pessoa, sendo, neste ponto, possível de se estabilizar o corpo. A Association of Swimming Therapy (2000) estipula a profundidade ideal para a atividade de natação para pessoas com deficiência em 1,2m, pois nesta profundidade, tanto os nadadores quanto os professores terão estabilidade na água, cabendo aos últimos a função de sustentação de pessoas que necessitem de apoio.

    Reis (2000) salienta a necessidade de uma área de águas rasas (60 a 75cm de profundidade) e bastante rasas (30 a 45cm de profundidade) para o sucesso de programas de ensino da natação para pessoas com deficiência, sendo estas áreas necessárias para a adaptação dos alunos e de crianças, juntamente com a piscina funda.

    Se todas estas profundidades diferentes estiverem dispostas na mesma piscina, estas poderão ocorrer através de degraus ou de inclinação. A última fornece a situação mais satisfatória, pois mesmo que a borda de cada degrau seja marcada de forma clara, estas implicam em limitações, especialmente para a visão de uma pessoa com deficiência, pois existe o risco de pisar inadvertidamente, pisar para uma profundidade maior, ou ainda, ferir algum aluno quando este mergulhar (Campion, 2000).

    Para Burkhardt e Escobar (1985) o declive para as diferentes profundidades da piscina deverá ocorrer suavemente, evitando-se completamente a existência de degraus. É fundamental o fundo da piscina apresentar um declive gradual, com a profundidade da piscina nitidamente marcada com hastes para alcançar, cordas flutuantes separando a parte rasa da funda e objetos de segurança semelhantes, instalados e à disposição.

    Quando se leva em conta a temperatura da água da piscina para atividades de natação de pessoas com deficiências, deve-se ter em mente a intensidade da atividade física a ser desenvolvida, a duração desta e as condições termoclimáticas da região. Na água, os efeitos fisiológicos dos exercícios estão combinados com os efeitos que são decorrentes do calor da água. Quando o corpo está imerso na água, os mecanismos naturais de perda de calor, tais como evaporação, tornam-se ineficientes, uma vez que apenas aquelas partes do corpo que não estão submersas podem perder calor pela transpiração. Na medida em que o aluno se exercita, há um aumento do calor, que posteriormente será acrescentado ao problema da perda de calor (Campion, 2000).

    Campion (2000) explica que caso leve-se em consideração que em ambientes confortáveis a temperatura da pele, cabeça e tronco é de 33,3°C (92°F), e que este é o ponto de indiferença térmica da pele em relação à água, acredita-se, que a temperatura entre 30,5 e 33,3°C (87 - 92°F) seja a ideal para programas físicos gerais, que forneceriam tanto efeitos sedativos quanto estimulantes para pessoas com deficiência.

    A área da piscina é um ambiente controlado diretamente pelas instalações gerais, sendo que o acesso direto de fora para o local da piscina ou vice-versa não é aconselhado, pois é importante minimizar a perda de calor e prevenir golpes de ar. Bates e Hanson (1998) explicam que a manutenção da temperatura do ar na piscina e nas áreas vizinhas é importante para o conforto dos alunos e das pessoas que trabalham nela.

    Campion (2000) salienta que a temperatura do ar deva ser mantida levemente inferior a da água, de modo a permitir um ligeiro resfriamento do corpo. A taxa de resfriamento do corpo em um dado período de tempo é proporcional à diferença de temperatura entre o corpo e as suas adjacências. Para a autora, quanto maior for a diferença de temperatura, maior será a taxa de resfriamento. Desta forma, a temperatura do ar na área da piscina geralmente deve ser mantida em 25°C e a dos vestiários 4°C mais baixa.

    Ainda para a mesma autora a ventilação deve evitar a formação da condensação excessiva e deve assegurar a manutenção da umidade relativa do ar em 50%. Os condicionadores de ar do tipo desumidificador são a melhor solução para a ventilação e o controle da condensação que, caso seja excessiva, afeta o corpo, dificultando a perda de calor, bem como as paredes, teto e equipamentos, a não ser que estes tenham sido construídos de materiais que não são afetados pela umidade (CAMPION, 2000). A constante evaporação da água da piscina requer um sistema de ventilação eficiente, que seja capaz de completar de 10 a 12 trocas de ar por hora (BATES e HANSON, 1998).

    Com relação à iluminação, deve-se levar em consideração a refração e a reflexão tanto com a luz artificial quanto natural. A visibilidade de toda a área da piscina, assim como também de sua profundidade são fundamentais para seu tratamento e segurança. As janelas devem estar situadas de modo a evitar a reflexão de luz na água, sendo que o posicionamento das janelas ao alto das paredes se configura em uma solução para este problema.

    Campion (2000) defende o uso da iluminação artificial adequadamente posicionada de modo a produzir uma distribuição indireta e uniforme. Caso essa iluminação esteja posicionada diretamente sobre a piscina, deve-se construir um acesso pelo teto para a manutenção.

    Como as piscinas tendem a ser locais barulhentos, com os sons da água e da conversa, durante a construção e o planejamento desta devem ser utilizados materiais acústicos para as paredes e teto, que segundo Campion (2000), ajudam a evitar o barulho excessivo, que pode produzir ansiedade e tensão em crianças e adultos, e tornam mais fácil o trabalho do professor, especialmente quando este estiver conduzindo uma aula em grande grupo.

    Com relação à estrutura do local, as primeiras recomendações devem se referir à eliminação de barreiras arquitetônicas, representadas por escadas e batentes que impeçam o acesso de cadeiras de rodas e que dificultem o deslocamento de pessoas com deficiência visual, dependentes de muletas e próteses.

    A pessoa com deficiência deve ter condições de chegar até a borda da piscina sem esforços desnecessários e sem perigo de sofrer acidentes. Para isto, escadas e batentes devem ser substituídos por rampas de declives suaves e de material antiderrapante (Burkhardt e Escobar, 1985).

    Segundo a ABNT (2004) as portas existentes na rota acessível destinadas à circulação de praticantes de esportes, que utilizem cadeiras de rodas do tipo “cambadas”, devem possuir vão livre de no mínimo 1 m, incluindo as portas dos vestiários e sanitários. Para Bates e Hanson (1998) as portas devem abrir facilmente e permanecer abertas para permitir aos utentes com muletas ou cadeiras de rodas entrarem na área da piscina com segurança.

    A área que circunda a piscina e também os corredores deve ser larga o suficiente para comportar cadeiras de rodas. Portanto, corrimãos nas paredes dos corredores próximos são benéficos para alunos com pouco equilíbrio ou coordenação e para aqueles que necessitem de muletas ou andadores.

    O número de chuveiros, vestiários e sanitários é determinado pelas necessidades dos usuários e também pelo número total de pessoas que passam pelas instalações. Os chuveiros, vestiários e sanitários necessitam de um acesso fácil e devem ser suficientemente grandes de modo a receber as cadeiras de rodas. Tanto na área dos sanitários, dos chuveiros e dos vestiários não podem faltar itens como os corrimãos (CAMPION, 2000).

    Os boxes para os chuveiros devem ser providos de barras de apoio verticais, horizontais ou em “L”. Na parede de fixação do banco deve ser instalada uma barra vertical com altura de 0,75 m do piso acabado e comprimento mínimo de 0,70 m, a uma distância de 0,85 m da parede lateral ao banco. Na parede lateral ao banco devem ser instaladas duas barras de apoio, uma vertical e outra horizontal ou, alternativamente, uma única barra em “L” (ABNT, 2004).

    Também é necessário que os chuveiros sejam ajustáveis, que possam ser segurados com a mão, e que as torneiras sejam acessíveis para o controle total e termostático, possuindo uma temperatura máxima de 43°C.

    Para Campion (2000) todas as superfícies precisam ser anti-deslizantes, não-abrasivas e de fácil limpeza. A superfície dos pisos dos vestiários e sob os chuveiros necessitam de uma atenção especial. Deverão existir áreas secas e molhadas, sendo essencial serem mantidas separadas. Os pisos precisam demonstrar segurança aos usuários. É necessário também considerar a facilidade de limpeza e o acesso para cadeiras de rodas aos vestiários, chuveiros e banheiros.

    Para além dos destaques técnicos que são relevantes à acessibilidade, Geremia e Falkenbach (2009) apresentam um estudo sobre o paradesporto natação e a questão da acessibilidade. No estudo são apresentados argumentos dos próprios atletas com deficiência física e sensorial sobre a acessibilidade que são participantes. As descrições apontam para a presença de escadas e falta de rampas que auxiliam no acesso à piscina. Também destacam a felicidade e os avanços em qualidade de vida que os participantes expressam nas entrevistas. Tal fato implica em pensar que apesar da acessibilidade ser um obstáculo as pessoas com deficiências se esforçam para a participação em atividades esportivas e compreendem sua relevância.

Acessibilidade pedagógica

    É grande a importância da mediação do professor na promoção e na ajuda para a formação do educando, na medida em que proporciona suporte social e institucional que favorece a cooperação. É nesse sentido que o contato e o convívio entre os alunos com e sem deficiência é um meio insubstituível de normalização dos comportamentos. É uma grande oportunidade de construção de laços, de relações afetivas, que podem vir a revelar-se, ao longo de anos, como suporte emocional importante para a construção da personalidade.

    Para Gutierres (2003) quando se consegue fazer o meio aquático ser um ambiente facilitador e não limitador, a fusão de acontecimentos concretos e criativos com as coisas e/ou situações encontradas é exteriorizada com mais facilidade, autenticidade e espontaneidade pela pessoa com deficiência, por meio da sua expressividade motriz. Se esse ambiente aquático for considerado facilitador, a pessoa com deficiência sentir-se-á mais segura e confiante para ir em busca de novos desafios, conquistas e descobertas.

    A água pode ser um meio extremamente liberador e reflexivo para a exploração. Possui propriedades excitantes e incomuns. Por exemplo, a capacidade de flutuar permite sentir o máximo de ausência de peso corporal possível. A fluidez possibilita obter sensações singularmente agradáveis.

    A água possui propriedades físicas que alteram a posição do corpo no meio, dependendo do movimento que cada um realiza, além das sensações causadas pela ação da gravidade, da temperatura e da turbulência. O corpo imerso no meio líquido está em estado de rompimento do equilíbrio. Nesse caso o indivíduo descobre diferentes formas de flutuar, deslizar e respirar.

    Para Shaw e D’Angour (2001) estar à vontade na água é uma questão de confiança, de confiar no fato de que a água ampara o corpo, sem que se precise fazer qualquer esforço para isso. Essa confiança vem por meio do entendimento e da familiaridade. Precisa ser cultivada e, positivamente, reforçada por meio da experiência.

    Portanto, com um ambiente adequado, junto com seus colegas e com um professor que o encoraje, o aluno contemplará o novo elemento como um desafio, como uma nova situação a superar. Pouco a pouco, ao ver que vai dominando um meio que no início lhe era estranho e inacessível, sentirá toda a satisfação, que indubitavelmente o estimulará a continuar experimentando.

    A relação de confiança, de segurança e afetividade entre professor e aluno, no decorrer das aulas, conseqüentemente se aprofunda. Para Lobo (2002):

    “O contato corporal do professor com o aluno deve marcar a atitude pedagógica. Para tanto é necessário que ele esteja sempre dentro da água durante a sessão e com o corpo disponível, para tocar e ser tocado. (...) Os contatos corporais entre professor e aluno é uma forma de estreitar vínculos e essa aproximação favorece a exteriorização do aluno e fortalece as relações interpessoais” (p. 219).

    Falkenbach (1999) descreve que:

    “(...) é importante para as relações de segurança que devem ser instauradas entre o professor e o aluno, para que possa existir uma disponibilidade de ajuda em sentido de evolução, ao mesmo tempo que se tem clareza das dificuldades que deverão necessariamente se atenuar e desaparecer para que se consiga a confiança relacional” (p. 70).

    Falkenbach (2005) também salienta que o professor, durante as aulas, deve oportunizar ao aluno vivenciar espontaneamente manifestações e interações como o estímulo, mantendo posição de escuta, de ajuda, de compreensão e toque, o qual é elemento fundamental no que se refere à segurança e à afetividade, sentimentos importantes que vêm qualificar o desenvolvimento do aluno com deficiência.

    Os professores deverão lembrar-se de que não só estão continuamente avaliando seus alunos, mas também que os mesmos, por sua vez, os avaliam. Professores que não conseguem se comunicar oferecem ajuda de forma incorreta ou impedem o progresso do aluno rumo à sua independência, não ganham a confiança do aluno. Isso pode fechar a porta para inúmeras atividades sociais e de mobilidade que suas limitações tenham-no impossibilitado de prosseguir (Association of Swimming Therapy, 2000).

    Segundo Marchand (1985) afetividade é, indiscutivelmente, a mola propulsora da educação, pois a primeira relação que se estabelece, entre professor e aluno, é a afetiva. Sem afetividade não se estabelece uma interação entre quem ensina e quem aprende. Assim, uma relação segura, de ajuda, de compreensão e afetiva é fundamental para se permitir um ambiente acessível e para, conseqüentemente, alavancar novas aprendizagens.

Conclusão

    A prática de atividade física e/ou esportiva para pessoas com deficiências pode proporcionar dentre todos os benefícios da prática regular de uma atividade física, também a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência e promover a integração social do indivíduo. Não temos dúvidas da necessidade da atividade física e do acesso de pessoas com deficiência ao exercício regular da atividade física, principalmente a natação.

    Conforme Duarte e Cohen (2006) a acessibilidade ao espaço construído não deve ser constituída como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas as pessoas com deficiência, o que poderia até aumentar a exclusão espacial e a segregação destes grupos, mas sim medidas técnico-sociais destinadas a acolher todos os usuários em potencial.

    Podemos destacar a partir do estudo realizado que a literatura explora o conteúdo técnico da acessibilidade para o exercício da prática da natação. Trata-se de um conteúdo relevante e esclarecedor que permite compreender que há bons avanços na área em razão do nível técnico e do detalhamento descrito que leva a perceber estudos criteriosos para essa finalidade.

    No estudo de Geremia e Falkenbach (2009) também ficou destacada a participação de pessoas com deficiência independentemente da acessibilidade ou das barreiras. Os praticantes, nadadores com deficiência optam pela realização da natação porque reconhecem na atividade física a satisfação e o crescimento pessoal. Nessas condições inclusive as barreiras são superadas, apesar de manterem firme a necessidade do aprimoramento da acessibilidade.

    Por sua vez a acessibilidade pedagógica dos professores e no grupo social das atividades realizadas é um importante fator de acessibilidade, porque favorece a participação e a inclusão das pessoas com deficiências. Assim os professores e o contexto se destacam como a acessibilidade relevante ao processo de inclusão de pessoas com deficiências no esporte.

Referências

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