Alimentação: come tudo direitinho! Um olhar interdisciplinar entre pedagogia e esporte Alimentación: come todo correctamente! Una mirada interdisciplinaria entre educación y deporte |
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*Professora, dos anos iniciais, do Colégio Santa Teresa de Jesus Porto Alegre, Rio Grande do Sul **Professor, Licenciado em Educação Física pelo IPA Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Doutorando em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS |
Luciana Aparecida Florentino* José Florentino** (Brasil) |
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Resumo Preocupados com o aumento da obesidade infantil juntamente com o interesse dos alunos em saber mais sobre a origem, função e a importância dos alimentos na saúde é que surgiu o Projeto Pedagógico Alimentação: Come tudo direitinho! Este trabalho foi realizado no colégio Santa Teresa de Jesus localizado na cidade de Porto Alegre, participaram do projeto doze alunos da turma Jardim A1 com idade entre quatro e cinco anos. O projeto teve como objetivo central propiciar uma aprendizagem significativa, buscando desenvolver a conduta humana por meio de brincadeiras, jogos e através do esporte durante as aulas de Educação Física; contação de histórias, experiências e muitas atividades lúdicas e prazerosas. Ao final do projeto pôde ser evidenciado por meio de observações e análise dos dados, bem como, pela avaliação descritiva das famílias, que, o projeto propiciou aos alunos a construção de conhecimentos relevantes a sua faixa etária; os desafiou a novas conquistas e lhes permitiu o envolvimento, a participação, a curiosidade e o prazer em aprender e a cuidar de seu corpo. Unitermos: Educação infantil. Esporte. Projetos pedagógicos. Alimentação saudável |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009 |
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Justificativa
A prevalência da obesidade está a aumentar em todo o mundo a um ritmo alarmante, justificando a designação de epidemia global, que lhe é atribuída pela Organização Pan-Americana de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS, 2003). Não obstante, a prevalência de excesso de peso em crianças parece estar aumentando em nossa sociedade e, isto se deve, muitas vezes, aos maus hábitos alimentares que acabam por levar a uma alimentação pobre em nutrientes.
Se perguntássemos as nossas crianças que alimentos elas mais preferem, as respostas mais comuns seriam essas: cachorro-quente, batata-frita, salgadinho, brigadeiro, refrigerante, etc... Percebemos que cada vez menos os pais delegam tempo para pensar numa alimentação de qualidade para seus filhos. Esta falta de tempo resulta, muitas vezes, em uma alimentação inadequada, fazendo com que a obesidade torne-se uma das doenças mais preocupantes em todo o mundo, principalmente no que tange a obesidade infantil.
A obesidade infantil está crescendo e atingindo níveis consideráveis. Estima-se que o número de crianças obesas no Brasil tenha aumentado 5 vezes nos últimos vinte anos, atingindo atualmente 10% das crianças no país (OPAS/OMS, 2003).
O problema traz sérios comprometimentos à saúde e, em especial, tem reflexos na aprendizagem; crianças obesas ou acima do peso são alvos muitas vezes de apelidos pejorativos, sendo vítimas, em casos mais graves, de bullying,1 o que acaba afetando sua autoestima e autoimagem, prejudicando a integração da criança com o grupo de colegas e, ainda, o seu próprio rendimento escolar.
A obesidade pode ser vista, portanto, como um dos grandes desafios de nossa saúde pública, sendo motivo de debates por diversos especialistas – nutricionistas, médicos, educadores físicos e pedagogos – preocupados com o seu agravamento. Podemos dizer que existem dois fatores muito importantes e que estão na base do crescimento da obesidade entre as crianças. Primeiro, as pessoas estão comendo mais alimentos de grande densidade calórica com altos teores de açúcar e gorduras saturadas, ou excessivamente salgados; e, segundo, essa falta de cuidado com a alimentação, aliada a um sedentarismo tem contribuído para o aumento da obesidade e, consequentemente, de doenças crônicas relacionadas ao excesso de peso (OPAS/OMS, 2003).
Preocupados com essa situação que vem se agravando, juntamente com o interesse exposto pelas crianças em trabalhar os alimentos é que surgiu o Projeto Pedagógico Alimentação: come tudo direitinho! (Figura 1).
Figura 1. Configuração do Projeto
Por projetos pedagógicos entendemos as atividades desenvolvidas para cada grupo de crianças, visando o desenvolvimento integral das áreas de conhecimento, tendo como objeto de exploração assuntos que tenham algum significado para os alunos (HOFFMANN, 2000). O planejamento desenvolvido por meio de projetos pedagógicos na educação infantil, tem por fundamento uma aprendizagem significativa para as crianças. Os projetos podem se originar de brincadeiras, partirem da leitura de livro, de eventos, de áreas temáticas trabalhadas, das necessidades observadas pelo professor ao longo das aulas ou partir de um questionamento, de uma curiosidade espontânea da própria turma, como foi o nosso caso.
Em outros termos, os projetos pedagógicos buscam trabalhar a partir do desejo de conhecimento e de saber da turma, e que acaba por integrar estudos relevantes a várias áreas temáticas (corpo humano, alimentação e nutrientes, os rios e mares, etc...) de uma forma natural, divertida e prazerosa.
Buscamos, portanto, o encadeamento das atividades e o aprofundamento nos assuntos explorados a partir da observação das necessidades e do interesse das crianças por um determinado assunto. O espaço pedagógico, conforme Hoffmann (2000, p. 43) “se constitui em parceria, professor e crianças, a partir de um processo de reflexão docente sobre o cotidiano e de replanejamento constante”.
O projeto Alimentação: come tudo direitinho! Teve como objetivo principal possibilitar a interação dos alunos com o professor, a criatividade, a autoria e a interdisciplinaridade entre a Pedagogia e o Esporte. Buscamos, assim, despertar entusiasmo em nossos alunos, por meio da interação, busca e curiosidade. Ou, como salienta Hoffmann (2000, p. 43), o projeto pedagógico tem por objetivo “o desenvolvimento da criança ao articular o conhecimento científico com a realidade espontânea da criança, promovendo a cooperação e a interdisciplinaridade num contexto de jogo, trabalho e lazer”.
Em resumo, frente às dificuldades das famílias em escolher ou ter “criatividade” na escolha do lanche de seus filhos e de agir de forma conscientizadora e informativa no que diz respeito à importância de praticarmos esporte é que acreditamos na relevância desse projeto o qual procurou destacar a importância da alimentação saudável aliado a um estilo de vida mais ativo na vida das crianças.
É por tudo isso que se faz necessário que os pais estejam atentos a alimentação de seus filhos e os orientem a comerem alimentos saudáveis, incorporando, assim, novos hábitos alimentares. Mas, para que isso ocorra, se faz necessário um olhar diferenciado, enaltecendo a importância de uma alimentação correta, seus benefícios a saúde, enfatizando o cuidado com o corpo, a criatividade na preparação dos alimentos; o envolvimento das famílias e o quanto essa mudança de hábitos pode ser benéfica e proporcionar bem-estar a todos.
Objetivos
Conhecer os alimentos que são importantes para a manutenção da saúde, bem como oportunizar novas experiências alimentares ao longo do projeto;
Conscientizar sobre a importância da prática esportiva, bem como incentivar as crianças a terem uma alimentação saudável e nutritiva imprescindível para seu pleno desenvolvimento;
Estimular o raciocínio lógico matemático – seriação, classificação, correspondência termo a termo, resolução de problemas – a partir dos alimentos e das receitas realizadas na sala de aula;
Destacar através das receitas culinárias elaboradas as letras iniciais das palavras estudadas em sala de aula, destacando a importância do posicionamento e do conhecimento dos sons que produzem e o nome que recebem, isto é, a relação fonema- grafema.
Metodologia
O presente projeto foi realizado na Escola Santa Teresa de Jesus, localizada na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A escola assume como proposta filosófica o compromisso de promover a dignidade da pessoa humana e a defesa da vida em todas as suas formas, através da inclusão, solidariedade e justiça.
O projeto – de cunho interdisciplinar – teve por objetivo propiciar uma aprendizagem significativa para as crianças da turma do Jardim A1.2 A partir da curiosidade e do interesse do grupo de alunos pretendeu-se por meio de brincadeiras, jogos e experiências torná-los conhecedores dos alimentos e da importância do esporte para uma vida saudável.
Participaram do projeto 12 alunos, sendo 7 meninas e 5 meninos, com faixa etária entre 4 e 5 anos de idade.
Para a execução do projeto foram utilizados diversos materiais que consistiram em livros sobre alimentação, sucatas (embalagens de alimentos), alimentos trazidos de casa pelos alunos para a preparação e a confecção de sucos, bolos e tortas. Além disso, para tais atividades foram utilizados espaços da escola, como a cozinha para a preparação dos alimentos, sala de artes para a realização de atividades artísticas (desenho, pintura, recorte e colagem), a biblioteca da escola para pesquisa e empréstimo de livros relacionados ao assunto do projeto e, claro, o próprio ginásio da escola onde foram realizadas as aulas de educação física.
Os materiais constituem um instrumento importante para o desenvolvimento da tarefa educativa, uma vez que são um meio que auxilia a ação das crianças. As crianças exploram os objetos, conhecem suas propriedades e funções e, além disso, transformam-nos nas suas brincadeiras, atribuindo-lhes novos significados (BRASIL, 1999).
Os procedimentos adotados foram inúmeros, observando o período de duração do projeto que foi de aproximadamente 1 mês. Cabe ressaltar que as atividades ao longo do projeto foram registradas por meio do diário de aula e por fotos.
Tudo começou com o plantio de uma pequena horta no jardim da escola. O projeto horta é uma proposta da escola que ocorre todo o ano com o intuito de desenvolver nos pequeninos a prática do cuidado consigo e preservação do meio ambiente. No início do ano letivo as famílias enviaram mudas e sementes de verduras, legumes e flores. A turma mexeu na terra, divertiu-se com o plantio e, durante o momento em que estava trabalhando na horta, refletia sobre a ação que realizava. Entretanto, durante a atividade ouviu-se o comentário de um aluno:
- Eu não vou comer isso não! Eca! Isso é ruim!
A professora logo interviu.
- Isso é alface, não é ruim, nós devemos provar antes de falar sobre ele. Ah! E faz bem à saúde.
O mesmo aluno questionou:
- Bem para quê?
Então, surgiu uma chuva de perguntas, o grupo todo parecia estar interessado no assunto em questão. No retorno à sala de aula as conversas entre eles eram observadas. O momento era oportuno para a proposta de um novo projeto. Pois, “os projetos pedagógicos surgem na medida em que o professor é capaz de atribuir significado à curiosidade despertada por atividades ou assuntos, às perguntas feitas, ao que necessário no seu momento de desenvolvimento” (HOFFMANN, 2000, p. 44).
Na semana seguinte as observações na horta eram sistemáticas e então iniciamos a realização do projeto a partir da escolha do seu nome – Alimentação: come tudo direitinho! – escolhido por votação. Demos, assim, início ao trabalho com uma contação de história.
A turma foi surpreendida pela primeira contação de história que possuía um título bastante oportuno, “Alimentação: porque não podemos comer só batata frita?” de Françoise Faugeron (2004). Após as reflexões sobre a obra lida os alunos assistiram a slides sobre a pirâmide alimentar – adequada à faixa etária dos alunos –, destacando a importância de cada grupo de alimentos para a saúde de nosso organismo e, claro, não deixando de ressaltar o quanto importante é a prática de uma atividade física (Figura 2a e 2b).
Figura 2a. A importância dos alimentos para a saúde de nosso corpo
Figura 2b. Os alunos fazem a ginástica na aula de Educação Física
No retorno à sala de aula o grupo foi convidado a refletir e a sistematizar o que ouviu e assistiu nas duas intervenções e, logo depois, recortaram figuras de alimentos e construíram uma pirâmide alimentar (figura 3) com o objetivo de estabelecer relações entre a importância dos alimentos e as quantidades que devem ser ingeridas de cada grupo alimentar.
Figura 3. Construção da pirâmide alimentar pelos alunos
O interesse e a participação dos alunos já eram destaques nos primeiros dias de projeto. Sendo assim, entendeu-se que a realização de uma experiência seria uma primeira proposta avaliativa. As crianças foram estimuladas a criar um suco saudável para tomarmos. Um dos alunos trouxe a proposta de laranja com mamão; a professora os desafiou a experimentar um suco com os seguintes ingredientes: laranja, cenoura, mamão e beterraba.
No dia seguinte, com a parceria das famílias – que contribuíram com os ingredientes – o suco foi realizado (FIGURA 4). Após a preparação do suco a receita era registrada, em forma de desenho, no caderno de receitas que cada aluno construiu durante o projeto.
As medidas estão presentes em grande parte das atividades cotidianas e as crianças, desde muito cedo, têm contato com certos aspectos das medidas. O fato de que as coisas têm tamanhos, pesos, volumes e temperaturas diferentes permitem que elas informalmente estabeleçam esse contato, fazendo comparações de tamanhos, estabelecendo relações, construindo algumas representações nesse campo, atribuindo significado e fazendo uso das expressões que costumam ouvir (BRASIL, 1999).
Figura 4. A turma degustando o “suco saudável”.
A fim de desenvolver o gosto pela leitura e o trabalho com a linguagem foi realizada outra contação de história bastante apreciada por professores e crianças, a obra “O Grande Rabanete” de Tatiana Belink (1999). As crianças após a contação realizaram o reconto com a professora, pois se tratava de uma narrativa seriada.3 Anteriormente, foi confeccionado um jogo para a sistematização da obra; trata-se de um painel com três tamanhos de rabanete onde as crianças deveriam estabelecer uma relação de tamanho entre os personagens e os rabanetes, assim como, seriar, colocando os personagens na ordem dos acontecimentos. Ao final dessa atividade a professora ainda estabeleceu relações de tamanhos (altura) entre os próprios alunos, proporcionando a reflexão e reconstrução de conceitos.
Ao longo do projeto buscou-se trabalhar também com a proposta de resolução de problemas. Para tal, foi proposto para a turma o seguinte problema:
O vovô da história resolveu plantar uma beterraba mas não conseguia puxá-la. E agora? Quem será que ele vai chamar para ajudá-lo?
A este respeito Smole e Diniz (2001, p. 92) ressaltam que “a perspectiva da Resolução de Problemas caracteriza-se por uma postura de inconformismo diante dos obstáculos e do que foi estabelecido por outros, sendo um exercício contínuo de desenvolvimento do senso crítico e da criatividade [...]”.
A turma, então, fez colocações sobre o desconhecimento do legume rabanete; dessa forma, se propôs que realizássemos uma degustação do rabanete. A proposta foi bem aceita e, no outro dia, muitas “caras e bocas” eram vistas no momento em que cada um comia um pequeno pedaço de rabanete temperado e outro sem tempero. A proposta seguinte foi a construção de um gráfico onde cada aluno marcava em um quadrinho a opção de sua preferência, a) com tempero, b) sem tempero, c) não gostou.
Percebemos no grupo muitas transformações com o Projeto, como também a “explosão” de inúmeros interesses e questionamentos. Por esse motivo ocorreu a proposta do álbum dos alimentos, levando em consideração aquilo que a turma trazia para sala de aula como curiosidade, no caso, as letras e o mundo alfabético.
Montamos um álbum de A a Z sobre os alimentos e junto com ele um cartaz na sala de aula. A cada dia uma letra era trabalhada e alimentos que iniciavam com essa letra eram explorados (alguns o grupo degustava, outros explorávamos pegando e olhando e, outros, por desenhos). A professora colava os desenhos no cartaz e escrevia o nome do alimento e cada criança registrava em seu álbum.
Certo dia o grupo assistiu a contação de história na biblioteca infantil “Saladinha de Queixas” de Tatiana Belink (1991). No retorno a sala de aula cada aluno recebeu uma folha com figuras de alimentos (frutas, verduras e legumes) para pintar e recortar. Após, as crianças reuniram-se em roda, com os alimentos recortados no centro junto com um dado grande de quantidades numéricas. Cada aluno jogava o dado e comprava do meio da roda a quantidade expressa no dado e colava em uma folha onde havia o desenho de uma cesta.
A participação das famílias foi muito importante durante a realização do Projeto, com esta parceria realizamos a experiência do supermercado. Utilizando a sala multiuso da escola organizamos as prateleiras com os alimentos. Cada criança recebeu dez pequenas notas de dinheiro (feitas de papel) no valor de R$ 1,00 e uma sacola de supermercado. Antes de dar início a atividade ficou estabelecida que cada nota de R$ 1,00 valia um alimento e que não era necessário gastar todo seu dinheiro. A turma, então, dividiu-se, primeiramente, em dois grupos; um grupo era os compradores e o outro grupo seria responsável pelos “caixas” do supermercado que tinham como tarefas contar os alimentos comprados, receber o dinheiro e fornecer o troco, assim como, alertavam aqueles que passaram do valor estipulado. Após, os grupos trocaram suas funções.
Essa atividade teve caráter avaliativo de grande importância na compreensão da realidade social, uma vez que seu objetivo – além dos conhecimentos matemáticos em questão – estava ligado às questões sobre uma alimentação saudável. Em outras palavras, a realidade social é o conteúdo mesmo de Integração Social. “E a escola deve possibilitar a leitura dessa realidade, o aprendizado de seus códigos, isto é, dos conceitos que essa leitura envolve, relacionados com tempo, espaço e grupos sociais” (ANTUNES; MENANDRO; PAGANELLI, 1993, p. 5). Desse modo, a criança passa a compreender melhor a sociedade em que vive, podendo agir nela, motivada a participar de sua transformação.
Como última proposta de trabalho do projeto, foi realizada uma entrevista com os funcionários da própria escola. Os alunos receberam uma folha onde marcariam as respostas. Foram colocados dez quadrados próximos a palavra “Sim” e na outra parte da folha (dividida ao meio) outros dez com a palavra “Não”.
As crianças saíram pela escola visitando os setores (audiovisual, secretaria, recepção, tesouraria, direção) e fizeram a seguinte pergunta: Como foi seu almoço hoje? Após a resposta do entrevistado os alunos refletiam se aquela refeição foi saudável ou não; as crianças construíam as respostas juntas e pintavam um quadradinho da folha, para “SIM” ou para “NÃO”. No retorno à sala de aula fizemos a tabulação das respostas e construímos um gráfico com palitos de picolé e, logo após, cada aluno registrou em uma folha o gráfico individualmente.
A reflexão veio durante a atividade em que os pequeninos perceberam que os adultos estavam cuidando da sua alimentação; e, para aqueles funcionários que tiveram um almoço considerado “não saudável” as crianças fizeram a proposta de colocarmos um cartaz-lembrete no seu setor de trabalho.
A culminância do Projeto foi preparada de modo muito especial pelos pequenos. Organizamos uma Mostra de trabalhos com degustação de receitas que aprendemos e pesquisamos. Quanto às aulas de Educação Física, as crianças apresentaram em forma de teatro a importância do cuidado com o corpo e, os benefícios da prática esportiva.
Com todo carinho durante dois dias, vestidos com aventais que decoramos na sala de aula, preparamos as receitas. Fizemos bolo de casca de laranja, torta de legumes, mousse de maracujá, suco de couve com limão, além do Buffet com vários tipos de frutas.
As famílias foram acolhidas pelos alunos e eles foram fazendo exclamações sobre as atividades expostas, entregaram seus portfólios e convidaram todos para saborear as delícias que preparamos.
E, assim, com muita alegria encerramos o Projeto Alimentação: Come tudo direitinho!
Discussão
Durante o Projeto foram utilizados como instrumentos de avaliação, observações sistemáticas – tanto nas atividades em sala de aula quanto nas aulas de Educação Física – experiências e a participação das famílias. As observações e análise dos dados levaram a conclusão de que os objetivos propostos foram construídos e atingidos ao final do processo. Os alunos demonstraram grande interesse com a alimentação e acompanharam a horta manifestando grande alegria e prazer. Nas aulas de Educação Física mostraram-se empolgados com as atividades recreativas propostas, bem como, com a prática de determinados esporte (adequados e adaptados para sua faixa etária) (FIGURA 5).
Figura 5. Alunos na prática esportiva, o basquete
A construção do número se deu a partir dos conceitos matemáticos de observação, classificação e seriação e foi percebida durante as atividades. Os alunos estabeleceram relações com o concreto e seu dia-a-dia, e demonstraram crescimento nesta área, aprendendo significativamente (SMOLE e DINIZ, 2001).
As relações fonema e grafema foram observados no cotidiano do grupo. Os alunos verbalizavam e traziam para a aula nomes de alimentos destacando as letras iniciais, refletiam sobre os sons iniciais e finais das palavras, como também, relacionavam as letras iniciais de seus nomes e de seus familiares com as letras do alfabeto.
A resolução de problemas foi destaque neste Projeto. As crianças problematizavam as situações, refletiam sobre as decisões e construíam conceitos por meio da autoria de suas respostas.
Nas atividades culinárias pôde ser observado um cuidado com o corpo. O grupo fazia exclamações constantemente sobre os hábitos de higiene que estavam sendo construídos. Enalteço a participação nas experiências de degustação, onde todos aceitaram provar e, para nossa maior surpresa, todos também gostaram das novas propostas, aderindo a utilização em suas casas.
Durante a atividade de compras as crianças compreenderam e estabeleceram a correspondência biunívoca comprando alimentos e pagando da forma correta, também se observou que os alimentos comprados respeitavam equilíbrio na dieta contendo vitaminas e ingredientes importantes para nossa saúde.
Sendo assim, concluímos que as crianças aprenderam construtivamente e com significado, o que é muito importante. Ao final, ficou evidenciado por meio das observações, bem como, pela avaliação descritiva das famílias que o Projeto propiciou aos alunos a construção de conhecimentos relevantes a sua faixa etária, os desafiou a novas conquistas e lhes permitiu o envolvimento, a participação, a curiosidade e o prazer em aprender.
Notas
A palavra "Bully" é de origem inglesa e significa "valentão". O bullying consiste na prática de atribuir apelidos pejorativos às pessoas. No ambiente escolar, grande parte das agressões é psicológica, ocasionada principalmente pelo uso negativo de apelidos e expressões pejorativas, podendo chegar, em alguns casos, ao uso de violência física.
Nomenclatura utilizada pela escola para distinguir as mais de duas turmas de jardim com faixa etária de 4 anos – Jardim A, Jardim A1, Jardim A2.
História que estabelece ordem dos acontecimentos ou personagens, neste caso os personagens são ordenados para auxiliar a puxar o rabanete.
Referências
ANTUNES, Aracy do Rego; MENANDRO, Heloísa Fesch; PAGANELLI, Tomoko Lyda. Estudos sociais: teoria e prática. Rio de Janeiro: ACCESS, 1993.
BELINK, Tatiana. O grande rabanete. São Paulo: Editora Moderna, 1999.
_______. Saladinha de queixas. São Paulo: Editora Moderna, 1991.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1999.
FAUGERON, Françoise Rastoin. Alimentação: porque não podemos comer só batata frita? São Paulo: Editora Ática, 2004.
HOFFMANN, Jussara. Avaliação na pré-escola: um olhar reflexivo sobre a criança. Cadernos Educação Infantil: Mediação, 2000.
OPAS/OMS. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação saudável e atividade física e saúde. Brasília, 2003.
SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.
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digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires,
Septiembre de 2009 |