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Notação do movimento: uma ferramenta eficaz na memória

da dança e preservação da informação coreográfica

Registro del movimiento: una herramienta eficaz en la memoria 

de la danza y la preservación de la información coreográfica

 

Bailarina, Coreógrafa e Profa. de Dança Clássica

ArtMóbile (Canoas) / ComPasso (Gravataí) /Alegretto (Cachoeirinha)

Pós-Graduada Especialização em Dança - PUCRS

Ana Lígia Trindade

ligia@ulbra.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Pensar a dança como patrimônio cultural é entendê-la passível de registro, inventário, tombamento, e necessitando de todas as salvaguardas para ser preservada. E quando partimos desta idéia nos deparamos imediatamente com um desafio paradoxal que ronda todos os bens imateriais e particularmente a dança, já que sabemos dos limites impostos pela especificidade desta linguagem que apesar de ter o corpo, tão palpável, como matéria-prima, tem o movimento, tão efêmero e fulgás, como idioma. O Direito Autoral protege a expressão de idéias nos trabalhos publicados e não publicados na área artística, reservando para seus autores o direito exclusivo de reproduzir seus trabalhos. O caso Graham ilustra como o direito autoral é importante para proteger coreógrafos na transmissão dos seus trabalhos coreográficos. Devido à natureza efêmera, exclusiva da coreografia, é essencial captar a dança em um determinado formulário de notação para registro de direitos autorais.

          Unitermos: Memória da dança. Direitos autorais. Notação coreográfica. Registro de propriedade intelectual

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009

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1.     Introdução

    A memória só existe quando cuidamos dela. Isso é fato. A memória é a referência. De onde partimos? Para onde vamos? O que aconteceu no meio do caminho? E por aí vai. Em toda área encontramos memorialistas, aqueles que se dedicam a não deixar a memória morrer, escapar, fugir, desaparecer...

    ”A memória é uma evocação do passado” (CHAUÍ, 2003, p. 138). Conforme Chauí, memória é a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará jamais. É nossa primeira e mais fundamental experiência do tempo.

    Como consciência da diferença temporal - passado, presente e futuro -, a memória é uma forma de percepção interna chamada introspecção, cujo objeto é interior ao sujeito do conhecimento: as coisas passadas lembradas, o próprio passado do sujeito e o passado relatado ou registrado por outros em narrativas orais e escritas.

    Além dessa dimensão pessoal e introspectiva (interior) da memória, é preciso mencionar sua dimensão coletiva ou social, isto é, a memória objetiva gravada nos monumentos, documentos e relatos da História de uma sociedade.

    Todo conhecimento que nos é transmitido é fruto do acúmulo de milhares de anos de trabalho, elaboração e transmissão de conhecimento humano, ou seja, muitas mentes pensaram e produziram muito para que tenhamos o volume de conhecimento gerado e acumulado até hoje, que é constantemente acrescido e retransmitido para as gerações futuras. Todo conhecimento deve ser transmitido, pois corre o risco de se deteriorar, perder-se no tempo. (TELLES, 2003, p. 83)

    É obrigação e responsabilidade de cada geração, á sua maneira, contribuir de alguma forma para o acréscimo do conhecimento humano.

    Em nossa sociedade, a memória é valorizada e desvalorizada. É valorizada com a multiplicação dos meios de registro e gravação dos fatos, acontecimentos e pessoas (computadores, filmes, vídeos, fitas cassetes, livros) e das instituições que os preservam (bibliotecas, museus, arquivos). É desvalorizada porque não é considerada uma atividade essencial para o conhecimento - podemos usar máquinas no lugar de nossa própria memória - e porque a publicidade e a propaganda nos fazem preferir o "novo", o "moderno", a "última moda", pois a indústria e o comércio só terão lucros se não conservarmos as coisas e quisermos sempre o "novo". A desvalorização da memória também aparece na proliferação de objetos descartáveis, na maneira como a indústria da construção civil destrói cidades inteiras para torná-las "modernas", destruindo a memória e a História dessas cidades.

2.     Memória: herança cultural

    A memória é “uma atualização do passado ou a presentificação do passado e é também registro do presente para que permaneça como lembrança” (CHAUÍ, 2003, p. 140).

    Do ponto de vista da teoria do conhecimento, segundo Chauí (2003), a memória possui as seguintes funções:

  • retenção de um dado da percepção, da experiência ou de um conhecimento adquirido;

  • reconhecimento e produção do dado percebido, experimentado ou conhecido numa imagem, que, ao ser lembrada, permite estabelecer uma relação ou um nexo entre o já conhecido e novos conhecimentos;

  • recordação ou reminiscência de alguma coisa como pertencente ao tempo passado e, enquanto tal, diferente ou semelhante a alguma coisa presente;

  • capacidade para evocar o passado a partir do tempo presente ou de lembrar o que já não é, através do que é atualmente.

    Por essas funções, a memória é considerada essencial para a elaboração da experiência e do conhecimento científico, filosófico e técnico.

    A memória é retenção. Graças à lembrança e à prospecção, o conhecimento filosófico, técnico e científico pode elaborar a experiência e alcançar novos saberes e práticas.

    A memória não é um simples lembrar ou recordar, mas revela uma das formas fundamentais de nossa existência, que é a relação com o tempo, e, no tempo, com aquilo que está invisível, ausente e distante, isto é, o passado. A memória é o que confere sentido ao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo fazer parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo).

    Memória é tempo otimizado, sendo crucial para a evolução cultural de um país e para a afirmação de sua identidade. Memória é respeito, pois ao se identificar obras e seus criadores, produções e produtores, pensamentos e pensadores, garante-se a merecida perpetuação do trabalho de quem contribui vigorosamente para o engrandecimento da Cultura.

    Para Aristóteles, a memória é fruto da imagem. Fruto que, segundo ele, é ampliado pela reflexão e leva aos acontecimentos do passado que poderemos denominar de lembrança, recordação, memória (ARISTÓTELES, 1999 apud PEREIRA, 2006). Sendo assim esta MEMÓRIA auxiliará o homem contemporâneo a reconhecer fatos que aconteceram no passado, recuperando situações pessoais vividas ou históricas que através do imaginário viabilizará uma possível verbalização e até quem sabe uma representação cênica.

3.     Memória da arte: preservação da arte da dança

    Na comunidade que trabalha com arte contemporânea, é quase unânime a idéia de que a arte trata, antes de qualquer outra coisa, de si mesma. Raramente pensamos nas conseqüências disso para o conceito e a prática de uma herança cultural. Se a arte trata da arte, a obra de arte fala, ao mesmo tempo, de toda a história cultural, de toda a sua genealogia, e também, da maneira como se insere nesta história cultural. Isso pode parecer simples se pensamos em termos de um quadro, uma edificação, um livro, uma sinfonia, um filme. Torna-se problema quando chegamos a um espetáculo cênico, uma execução musical, uma recitação (AVELLAR, 2007).

    Qual seria a diferença na relação entre essas duas categorias de obras e a herança cultural? Segundo Avellar (2007), em relação à primeira, fica evidente que as próprias obras iluminam qualquer registro sobre elas. A construção teórica sobre um determinado quadro e seu pintor, o estudo de um movimento cinematográfico, ou a história da dramaturgia ocidental, giram em torno de objetos concretos e contemporâneos: o próprio quadro, a cópia do filme, o conjunto de peças de teatro. Em relação à segunda categoria, conforme Avellar, como temos obras que desaparecem no próprio ato de sua criação, podemos contar apenas com seu registro em outro meio, e com a memória dos que as presenciaram.

    Fácil perceber que se trata, então, de uma herança precária, ou até mesmo falsa: o vídeo que registra um espetáculo de dança pode ser dança mas não é um espetáculo, o disco contendo uma execução musical pode ser música mas não é uma execução musical, a memória sobre um espetáculo teatral é a memória do conjunto de sensações de um espectador ou um crítico, mas não é um espetáculo. O que temos na história dessas obras, então, é um conjunto de vestígios de que elas existiram, não a própria história (AVELLAR, 2007, p. 4).

    Como manifestação artística, a dança é viva, tridimensional, singular e efêmera, acontece uma única vez. Parece, por um instante, que tudo é, ao mesmo tempo, transitório e eterno, no sentido de que cada ação sempre leva a uma nova possibilidade, mas nunca retorna ao que foi realizado. Segundo Paul Valéry, em sua obra “Philosophie de la Danse” (1980), a dança fascina pelo desafio que lança aos nossos olhos e a todos os sentidos, incapazes de fixar cada imagem que se define um momento e de súbito se transforma para não mais voltar: o instante gera a forma e a forma faz ver o instante (VALÉRY, 1980).

    No entanto, apesar de momentânea, deixa traços na memória, como sentimento, como experimentação ou como imagem. Imagem que deve ser captada, descrita, perpetuada. Manifestação artística que exige registro e disseminação.

    A dança contemporânea que acontece nos limites geopolíticos de um país é influenciada por diversos fatores já existentes neste lugar, que chegam a este lugar e que são inspiradas nas manifestações culturais, traduzindo assim de alguma forma a identidade deste país e suas memórias (PEREIRA, 2006).

    A dança é uma arte efêmera, isto é, no momento em que ela se realiza ela também se desfaz, só ficando presente na memória de quem teve a oportunidade de presenciá-la. A dança é diferente das artes visuais tradicionais que uma vez feitas ficam imortalizadas e preservadas nos museus. Por esta razão é importante que se investigue e registre a dança e seu contexto.

    Sendo assim, produção mais antiga da dança não é passível de reconstrução exata, uma vez que antigamente não havia a preocupação em manter a produção viva para a posteridade. A tradição da transmissão de conhecimentos da dança sempre foi, e ainda é, muito da prática, onde seu principal foco se encontra no fazer.

    No entanto, é possível realizar alguma compensação para essa perda constante? Ironicamente, a resposta nos vem do ballet. As criações da dança européia no século 19 permanecem vivas – no sentido de estarem à disposição imediata de espectadores contemporâneos, sem a necessidade de um registro bidimensional ou de fontes indiretas, como críticas e depoimentos.

    Desde que a dança é executada como uma arte, a sobrevivência de todo o trabalho da dança depende do que está sendo preservado com a tradição ou do que está sendo escrito em algum formulário. Onde a tradição é contínua e ininterrupta, onde se muda no estilo e a interpretação (inevitável quando bailarinos diferentes executam o mesmo material) pode ser corrigida e a dança será preservada em seu formulário original. Mas quando uma tradição é quebrada (se, por exemplo, as tradições culturais de um grupo étnico misturam-se nas de outro), as danças que seguem podem, não somente, mudar radicalmente, mas pode mesmo desaparecer. Por esta razão os métodos de registro da dança (notação coreográfica) são importantes na preservação de sua história.

4.     Preservação da memória da dança

    Hoje em dia já dispomos de mais recursos para preservação da memória de danças, assim como uma maior consciência da importância destes para a reconstrução posterior na manutenção do acervo histórico de nossa cultura artística do movimento humano. Há várias maneiras de se reconstruir uma dança. A forma mais antiga de aprender uma dança é através das memórias dos bailarinos, onde há a transmissão de geração para geração. Entretanto, os bailarinos perdem detalhes e tendem a incorporar seus próprios estilos no movimento. Este problema aumenta quando os bailarinos aprendem de pessoas que não participaram do processo coreográfico original. Há também hoje o registro audiovisual, que provê um acesso instantâneo e muito valioso para a dança. A imagem audiovisual é, entretanto, bidimensional, perde clareza e visibilidade, não indica todas as ações do espaço cênico simultaneamente. A vídeo-câmera requer luz especial e um cuidado extra na orientação da lente. Programas, figurinos originais, notação musical, entrevistas jornalísticas, desenho de luz, detalhes da produção, entre outras possibilidades são também fonte de pesquisa para uma reconstrução bem feita. Estas são algumas razões do porquê todos os tipos de documentos e registros são necessários para a dança, inclusive o desenvolvimento de seus sistemas de notações específicos.

    Quando verificamos o registro especificamente com o objetivo de ter um trabalho armazenado para perpetuação da informação, observamos a existência de vários tipos: gravação em vídeo, DVD, impressão de programas, reportagens em jornais e revistas, fotos, e até mesmo, o figurino do espetáculo é uma forma de registro da obra.

4.1.     Preservação da informação digital

    A utilização das novas tecnologias no universo da dança vem sendo experienciada desde meados da década de ‘60. A primeira pesquisa conhecida no uso do computador como assistente coreográfico data de 1964, realizada por Jeanne Beaman e Paul Lê Vasser.

    Entretanto existem dúvidas quanto á preservação da informação armazenada em meios eletrônicos. No momento, é preocupação da comunidade científica garantir o acesso as informações armazenadas nesses meios eletrônicos, já que existem muitas controvérsias quanto à longevidade dos dados neste tipo de suporte.

    Conforme profissionais da área da tecnologia da informação, se não houver preservação de suas fontes originais de informação perde-se o que temos de mais importante, o conhecimento. Preservar é uma medida de segurança que permite a transferência da informação para gerações futuras.

    Ressaltamos neste contexto que não existe uma solução única e final para a preservação digital. Assim sendo, podemos dizer que a preservação da informação, ainda é um dos calcanhares de Aquiles da informação digital (Cunha, 1999).

    Pesquisas indicam que a vida média de uma mídia óptica é de 30 anos, mas o seu equipamento de leitura estará obsoleto em dez anos.

    A informação digital é muito mais sujeita à adulteração, vandalismo, e perdas acidentais do que sua contraparte analógica; e seus suportes são frágeis e perecíveis. Mais grave do que isso: devido ao fato dos dados de computador dependerem, para serem visualizados, de complexos sistemas cooperantes de hardware e software, a rápida obsolescência dos componentes torna-se uma ameaça constante de perda de acesso aos acervos. Considerando isoladamente a questão da conservação, os dados digitais oferecem dificuldades muito mais severas do que os convencionais.

    O fato de a tecnologia digital ser ao mesmo tempo tão recente, tão ubíqua e estar evoluindo com tanta rapidez traz severas conseqüências para a preservação dos documentos que são criados sob sua égide.

    Talvez por causa das campanhas publicitárias das grandes empresas de tecnologias, as pessoas tendem a acreditar que tanto os suportes magnéticos (fitas e discos) quanto os ópticos (CD-ROMs, DVDs) são muito mais longevos do que a realidade aponta. Ao contrário do que diz o bordão acerca dos compact discs — “Som Perfeito, Para Sempre” — estudos apontam que a maioria das mídias digitais, em condições especiais, têm uma vida útil máxima de 10 ou 20 anos (CONWAY, 1997 apud VALLE JR., 2003). Em condições mais comuns, a vida útil pode ser tão baixa quanto 5 anos (VAN BOGART, 1995 apud VALLE JR., 2003).

    Os suportes digitais são frágeis por natureza. Dadas as enormes densidades de gravação, pequenos defeitos nas mídias podem tornar grandes massas de informação indisponíveis. Essa alta densidade, aliada à delicadeza dos processos de leitura e gravação, faz com que os suportes físicos da informação digital tenham uma expectativa de vida média de no máximo umas poucas décadas.

    O maior problema da preservação dos dados digitais não é a fragilidade dos suportes de armazenamento e sim a rápida mudança de tecnologia. Não basta garantir a sobrevivência e longevidade das mídias: é necessário garantir que as informações possam ser recuperadas e entendidas.

    Ao contrário de uma página de papel, que pode ser lido diretamente, ou de um microfilme, que na pior das hipóteses irá necessitar de uma vela e uma lupa, arquivos digitais requerem sofisticados sistemas cooperantes de hardware e software para tornar a informação inteligível. Considerando a velocidade com que esses sistemas são superados e abandonados por seus fabricantes, deixando de receber qualquer suporte, é possível chegar a uma situação em que vastos acervos digitais sejam perdidos, não sendo mais possível encontrar os equipamentos e programas necessários para acessá-los (DOLLAR, 1992 apud VALLE JR., 2003).

    A preservação digital é um assunto complexo e recente e não se atem somente ao estudo das mídias, técnicas de backup, técnicas de migração, técnicas de autenticação etc. Este assunto deve ser estudado de forma interdisciplinar e institucionalmente, cabendo aos profissionais da informação a garantia da preservação e manutenção do documento digital de forma íntegra e autêntica. “Temos muito mais a discutir sobre documento digital antes de chegarmos a qualquer fórmula ou resultado, porém, é assustador imaginar que enquanto discutimos, muitos documentos foram e estão sendo perdidos” (INNARELLI, 2004, p. 19).

    Desta forma, talvez ainda o papel e a escrita sejam o meio mais seguro de preservação da memória.

4.2.     A notação do movimento na preservação da informação coreográfica

    Quanto á dança, a notação do movimento nos traz a certeza de registro e preservação das informações coreográficas necessárias para a construção da memória desta arte. Contudo a notação coreográfica pode ser utilizada com outros objetivos como o auxílio ao coreógrafo profissional na criação coreográfica, na transmissão da obra ao corpo de baile e na reposição de coreografias de outros profissionais. Embora as gravações de vídeos e DVDs também auxiliem nos dois últimos objetivos, a notação coreográfica deveria apresentar a pura intenção do coreógrafo criador, sem as intervenções interpretativas dos bailarinos executantes.

    Uma notação coreográfica parece ser a forma mais completa de representar uma seqüência de movimentos. A maneira mais original de representação, sem intervenções ou influências externas. A obra exata, como o autor originalmente a criou.

    O debate sobre a necessidade da notação da dança é pertinente em uma época onde se prova ser mais rápido e mais barato gravar um desempenho em uma fita de vídeo. Entretanto, o papel da notação da dança foi sempre controverso, sua posição marginal quando considerado de encontro à tradição oral de difusão do ballet. Isto deve, em parte, ser atribuído ao desenvolvimento esporádico de um sistema executável, apropriado às flutuações da dança como arte na cultura ocidental.

4.3.     O caso Graham

    Há alguns anos, o legado coreográfico de Martha Graham foi ameaçado quando seu herdeiro Ron Protas, se afirmou proprietário dos direitos autorais sobre todos os trabalhos de Graham. Se isso fosse correto, todas as empresas e as escolas, incluindo a Escola, a Fundação e a Companhia de Martha Graham teriam de, necessariamente, solicitar permissão para executar alguma obra coreográfica de Graham, muito provavelmente sob a forma de taxas monetária, que a maioria das companhias de dança não tem verbas para arcar. Martha Graham (1894-1991) foi coreógrafa, professora e famosa bailarina estadunidense que, com suas inovações técnicas, exerceu enorme influência no mundo inteiro e revolucionou a dança moderna, tornando-se conhecida como a mãe da dança moderna.

    Em 2000, Protas entrou em litígio com os diretores da companhia, impedindo que o repertório de Graham fosse dançado. A briga na Justiça se estende desde então, e a companhia ficou sem poder dançar peças de Graham.

Figura 1. Martha Graham. Fonte: THE MARTHA Graham Legacy. Londondance, 2005. 

http://www.londondance.com/content.asp?CategoryID=1300

    No entanto, a justiça americana considerou a Fundação como legítimo proprietário dos direitos autorais desses trabalhos e poderia continuar a exercê-los e permitir que outras companhias de dança as executassem, poupando, assim, o legado coreográfico de Graham. Em 2002, depois de uma crise financeira e lidando com esta pendenga judicial, a respeitada companhia criada por Martha Graham conseguiu a permissão para voltar a dançar o repertório da sua criadora e líder do movimento revolucionário da dança moderna nos Estados Unidos.

    O caso Graham ilustra como o direito autoral é importante para proteger coreógrafos na transmissão dos seus trabalhos coreográficos.

    Graham parece não ter protegido muito dos seus trabalhos mais importantes. No direito americano, notação é uma condição essencial do direito de autor. Entretanto Graham tinha resistido á notação de seus bailados, sobre o motivo de que estavam inacabados e eram modificáveis para diferentes bailarinos.

    Para realmente entender o quanto foi importante esta vitória para a dança, e não apenas para a Martha Graham's Company, é importante compreender a forma como a dança é preservada, e como pode ser desafiadora tentar conservá-la.

4.4.     Registro do movimento: porque (a)notar a dança?

    O uso primário de anotação de dança é a documentação, análise e reconstrução de coreografia e formas de dança ou exercícios técnicos. A notação da dança é uma ferramenta que pode ser utilizada para ajudar bailarinos a aprender um balé mais rápido e precisamente. Outro propósito de anotação de dança é a documentação e análise da dança em etnologia da dança. Aqui a anotação não é usada para planejar uma nova coreografia, mas para documentar uma dança existente.

    A dança tem de ser registrada com precisão, para que possa ser transmitida de geração em geração. Written descriptions are cumbersome and easy to misinterpret. A escrita descritiva é morosa e fácil de interpretar mal. Video can be very useful, but even video can only show a dance in two dimensions, and is not completely reliable. Vídeo pode ser muito útil, mas mesmo vídeo só pode mostrar uma dança em duas dimensões, e não é totalmente confiável. In addition video gives one particular interpretation of a ballet rather than a record of the choreographer’s intent. Além disso, o vídeo dá uma determinada interpretação de um balé, em vez de um registro das intenções do coreógrafo. Dance notation is one tool that can be used to help dancers learn a ballet more quickly and accurately. A anotação da dança é uma representação simbólica de movimento de dança, é análogo a anotação de movimento mas pode ser limitado a representar movimento humano e formas específicas de dançar. Vários métodos representavam visualmente movimentos de dança incluindo: símbolos abstratos de representação figurativa ou traçando o caminho de sistemas de anotação de música, anotação numérica, anotação gráfica e anotações de palavra.

    Historicamente tem havido vários sistemas desenvolvidos para tentar gravar com precisão a circulação em espaço e tempo. Many dance companies, including the Royal Ballet, use dance notation to record their repertory so that it can be accurately revived in the future. Muitas companhias de dança, incluindo o Royal Ballet, utilizam a notação da dança gravar seu repertório, a fim de que ela possa ser recuperada com precisão no futuro.

    No século XV, os primeiros notadores de dança tentaram dar nomes para cada movimento e escrevê-la abaixo das notas musicais. Mas muitas características, incluindo a direção do movimento, que não poderia ser mostrado. It took nearly 300 years before French choreographers began drawing stick figures directly on a musical stave. Demorou quase 300 anos antes de coreógrafos franceses começarem a desenhar diretamente sobre uma pauta musical. Another approach, developed by the Russian Vladimir Stepanov in 1892, used modified musical notes to represent the movement of the body - many of the Royal Ballet’s greatest masterpieces, including Swan Lake, came here from St Petersburg in Stepanov notation. Outra abordagem, desenvolvida pelo russo Vladimir Stepanov em 1892, modificou notas musicais usadas para representar o movimento do corpo. Muitas das maiores obras levadas ao palco pelo Royal Ballet, incluindo O Lago dos Cisnes, vieram de São Petersburgo em notação de Stepanov.

    Vários sistemas de anotação são usados só para formas específicas de dança, por exemplo, Taquigrafia Dança Anotação (danças de Israel), Morris Dança Anotação (dança de Morris), e anotação de Beauchamp-Feuillet (dança Barroca). Guest em sua obra Choreographics (1989), compara treze sistemas de anotação de dança, históricos e atuais (com exemplos visuais) e analisa cada um com comparações ilustrando as vantagens, e desvantagens de cada sistema. Today, however, the Royal Ballet records its dances in Benesh notation, which was invented in the 1950s by Rudolf Benesh.Muitas formas diferentes de anotação de dança foram criadas mas os dois sistemas principais usados na cultura Ocidental são Labanotation (também conhecido como Kinetography Laban) e Benesh Movement Notation. O Eshkol-Wachman e o DanceWriting são também utilizados, mas nem tanto.

    Sistemas de notação de dança desenvolvidos para a descrição de dança européia freqüentemente não são aplicável e não são apropriadas para a descrição de danças de outras culturas, por exemplo, as danças policêntricas de muitas culturas africanas, onde o movimento do corpo no espaço externo é menos importante do que a grande quantidade de movimentos que acontece no centro do corpo. Foram feitas tentativas de desenvolver sistemas específicos de anotação, com tal propósito, por etnomusicologistas e etnologistas de dança. O primeiro sistema computadorizado de anotação, que exibiu uma figura animada na tela que executou os movimentos de dança especificados pelo coreógrafo, era o sistema de anotação de dança de DOM, criado por Eddie Dombrower no computador pessoal Appel II em 1982.

Marianela Nuñez e Yohei Sasaki em posição de 'O Lago dos Cisnes' Acto I pas de três e os Benesh notação para a mesma posição

Figura 2. Marianela Nuñez e Yohei Sasaki em posição de 'O Lago dos Cisnes'

Pás-de-trois do 1° ato e uma notação de Benesh para a mesma posição

    Hoje o Royal Ballet, por exemplo, grava suas danças no sistema de notação de Benesh, que foi inventada na década de 1950 por Rudolf Benesh. This uses a five-line musical stave, but instead of modified notes or stick figures, each line of the stave represents a different part of the body, and abstract symbols show how each part moves during the dance. Este utiliza um pentagrama (pauta), mas em vez de notas ou números, cada linha da pauta representa uma parte do corpo, e símbolos mostram como cada parte se move durante a dança. Benesh is not the only notation system in use today. Contudo Benesh não é o único sistema de notação em uso hoje. Another widely used system is Labanotation, invented by the Hungarian Rudolf von Laban in 1928,and further developed by others.

    Royal Ballet tem uma equipe de três notadores que têm dois principais papéis na Companhia. O primeiro é a anotar os bailados, atuando como assistentes para o coreógrafo. Eles devem registrar os bailados como eles são criados ou ensinados.  Isto implica em assistir todos os ensaios e manter controle de todas as mudanças que foram feitas.  A partir deste trabalho de notadores, os registros serão produzidos, para que seja mantida uma referência futura. Outra função dos notadores é a remontagem de bailados usando os registros existentes. Isto envolve ensinar o bailado a novos bailarinos, certificando-se de que a coreografia é exatamente como o coreógrafo pretendia. Notadores podem ser provenientes de várias origens, mas, a fim de trabalhar com uma companhia de balé, um notador tem geralmente de ter a dança na sua formação profissional, além de concluir um curso de notação da dança.

5.     Considerações finais

    Como toda arte de execução, a dança é essencialmente efêmera, existindo somente na altura de seu desempenho. Pode nunca corretamente ser gravada ou preservada, pois sempre dependerá também da maneira com que os bailarinos interpretam um trabalho, seus estilos, habilidades técnicas, e mudança física, dando nova forma e aparência a cada vez em que o trabalho é executado.

    O uso primário de anotação de dança é a documentação, análise e reconstrução de coreografia e formas de dança ou exercícios técnicos. A notação da dança é uma ferramenta que pode ser utilizada para ajudar bailarinos a aprender um balé mais rápido e precisamente. Outro propósito de anotação de dança é a documentação e análise da dança em etnologia da dança. Aqui a anotação não é usada para planejar uma nova coreografia, mas para documentar uma dança existente.

    A dança tem de ser registrada com precisão, para que possa ser transmitida de geração em geração. Written descriptions are cumbersome and easy to misinterpret. A escrita descritiva é morosa e fácil de interpretar mal. Video can be very useful, but even video can only show a dance in two dimensions, and is not completely reliable. Vídeo pode ser muito útil, mas mesmo vídeo só pode mostrar uma dança em duas dimensões, e não é totalmente confiável. In addition video gives one particular interpretation of a ballet rather than a record of the choreographer’s intent. Além disso, o vídeo dá uma determinada interpretação de um balé, em vez de um registro das intenções do coreógrafo. Dance notation is one tool that can be used to help dancers learn a ballet more quickly and accurately.

    A preservação, a documentação e a transmissão da herança da dança estão tornando-se mais e mais vitais. A dança se move rapidamente para o século XXI, e o legado de algumas companhias está se tornando cada vez mais desobstruídos, cientes da necessidade de documentar e preservar seu passado, para assim, estarem conectadas intimamente ao seu futuro.

Referências

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revista digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires, Septiembre de 2009  
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