efdeportes.com

A percepção da liderança treinador-atleta em 

uma equipe de futebol da categoria júnior

Percepción del liderazgo entrenador-jugador en um equipo de fútbol categoría menores

Leadership view by both soccer athletes and the coach of a junior team

 

*Professor de Educação Física. Especialista em Futebol e Futsal

Monitor de Futebol da Escola Rubra do S. C. Internacional

**Professora Doutora da Faculdade de Educação Física e

Ciências do Desporto da PUCRS

(Brasil)

Rodolfo Rigonatti Sesti Paz*

rodolfopaz@bol.com.br

Aline Nogueira Haas**

ahaas@pucrs.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivos verificar como a liderança é percebida pelo treinador e atletas de futebol em uma equipe da categoria júnior e identificar se os mesmos percebem da mesma maneira a liderança existente em sua relação. A amostra foi composta por 13 jogadores e um treinador, todos do sexo masculino, com idades entre 18 e 20 anos, e, do treinador 32 anos, pertencentes à equipe de futebol da categoria júnior de um clube de Porto Alegre. Para a realização da coleta de dados, foi utilizado o instrumento “Leadership Scale for Sport” (LSS) desenvolvida por Chelladurai & Saleh (1978) apud Vilani (2004), em duas versões, auto-percepção para o treinador e percepção para os atletas, que avaliou a percepção da liderança dentro do ambiente do grupo de jogadores. Após análise de todas as dimensões, pode-se considerar que em sua maioria, as respostas dos atletas e do treinador aproximaram-se apresentando uma percepção semelhante sobre a liderança existente na relação treinador-atleta.

          Unitermos: Futebol. Liderança. Treinador. Atleta

 

Abstract

          The present study has the goal of veryfing how leadership is viewed by both soccer athletes and the coach of a junior team. Also it seeks to identify if the athletes and coach understand leadership in a similar way. The sample analyzed 13 players, aging between 18 and 20 years old, and the coach, who was 32, that were part of a junior team in a club in Porto Alegre. For the collection of the data, the questionnaire “Leadership Scale for Sport” (LSS) was used. This questionnaire was created by Chelladurai & Saleh (1978) apud Vilani (2004). This test consists of two parts; self-perception for the coach and perception for the athletes, which analyzed the perception of leadership within the group of athletes. After analyzing all the aspects, the majority of the athletes’ and coach’s answers were very similar when they were asked about the existing leadership between coach and athletes.

          Keywords: Soccer. Leadership. Coach. Athlete

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009

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1.     Introdução

    O esporte apresenta diferentes objetivos, dimensões e aplicabilidades. Contextualizado e inserido nas mais diversas camadas sociais em todo o mundo, o esporte apresenta-se como um dos principais exemplos de trabalho em equipe, em especial os coletivos, onde o seu desenvolvimento busca um objetivo comum.

    Na dimensão de esporte de competição, uma série de fatores, nos mais variados campos de atuação esportiva, pode influenciar no rendimento de uma equipe ou grupo de atletas. Associado a esses fatores, a cobrança por performance e resultados, expressados pela mídia, dirigentes, torcedores e companheiros de equipe podem abalar profundamente um atleta ou grupo de atletas e fazer com que as metas almejadas não sejam alcançadas.

    Dentre os esportes coletivos, o futebol sem dúvida, é o que melhor representa esta cobrança no alto rendimento, não só por sua ampla divulgação e difusão, mas pela importância econômica e social.

    Baseando-se nesta realidade o importante papel dos treinadores, especialmente quanto à liderança exercida em seus grupos de atletas, torna-se fundamental na construção de uma equipe vencedora. No mundo de hoje, globalizado, dinâmico e competitivo, os programas de treinamento e suas variáveis são conhecidos e compartilhados por todos, não representando um significativo diferencial competitivo, surgindo a cada dia, novos treinadores tentando implementar seus métodos de treinamento, especialmente nas categorias de base dos grandes e pequenos clubes de futebol.

    Exatamente pelos métodos de treinamento estarem difundidos, observa-se que pela equivalência física entre as equipes, a abordagem mental do atleta tem uma grande influência no resultado final. A relação treinador–atleta torna-se a base de sustentação de uma equipe, sendo determinante para a relação de desempenho e satisfação entre o comando e os comandados em busca de um objetivo comum.

    Assim, este estudo pretende responder o seguinte questionamento: Como a liderança é percebida por treinadores e atletas de futebol em uma equipe da categoria júnior? Para responder esta questão o presente estudo tem como objetivos verificar como a liderança é percebida pelo treinador e atletas de futebol em uma equipe da categoria júnior e identificar se os mesmos percebem da mesma maneira a liderança existente em sua relação.

2.     Fundamentação teórica

2.1.     O treinador

    O empenho e a dedicação presentes na função do treinador esportivo exigem muitas horas de preparação, perseverança e sacrifício, mas também, podem tornar-se muito gratificantes. Especificamente no futebol, Prates (2005, p. 16) destaca que, “engolir sapos” faz parte da carreira e, “caberá ao treinador conviver com essas pessoas, pois o futebol é muito conhecido por suas glórias, mas também por suas ingratidões sempre presentes”. O papel do técnico influencia diretamente nos comportamentos dos atletas, onde a multiplicidade de suas funções, muitas vezes, o faz atuar sob as facetas de educador, conselheiro, pai, amigo, administrador e líder.

    Para Bernardinho (2006, p. 17), nas equipes ou na vida valem os mesmos princípios:

    Temos a necessidade de identificar talentos, de manter as pessoas motivadas, de se comprometer com o desenvolvimento de cada membro do grupo e, principalmente, de criar um espírito de equipe que torne o desempenho do time muito superior à mera soma dos talentos individuais.

    Na profissão de treinador, é preciso aliar a prática aos conhecimentos teóricos, visto que as mais diversas situações podem ocorrer quando se é o comandante de uma equipe. Não só o treinador, mas também os outros integrantes das comissões técnicas devem estar sempre disponíveis para o jogador, pois de acordo com Carraveta (2006, p. 53):

    Os jogadores de futebol apresentam, freqüentemente, dificuldades de adaptação e recuperação, deficiências físicas e técnicas, desequilíbrios de força muscular, falta de motivação, alterações metabólicas, carências nutricionais, desvios comportamentais, problemas familiares, períodos anímicos, dificuldades de aprendizagem e outros.

    Para isso é primordial que o treinador tenha um bom conhecimento sobre o atleta, não só dentro do campo, mas também fora dele, conhecendo os aspectos familiares, psicológicos e profissionais. O técnico Bernardinho, em entrevista, cita que para o treinador esportivo “a única coisa que vai lhe dar segurança é sua preparação”, por isso “a vontade de se preparar tem de ser maior do que a vontade de vencer” (FERES, 2007, p. 2). O conhecimento acerca de todas as variáveis envolvidas na preparação da equipe, torna-se de extrema importância para futuras conquistas.

    Voser (2003, p. 20) destaca ainda que: “Os treinadores sabem que muitas conquistas e vitórias caem no esquecimento, o que prova que não é o triunfo que conta, e sim a forma como foi obtido”. Cabe ao treinador a responsabilidade de treinar a equipe e cada um dos jogadores para encontrar soluções criativas para as ações do jogo. Percebe-se a importância de preparar-se adequadamente, para que os atletas sintam-se capazes de alcançarem os objetivos propostos e que as conquistas sejam conseqüências desta preparação. Ainda sobre a importância da preparação, Vidal (1991, p. 42), perguntado sobre os segredos de sua equipe respondeu:

    [...] insisto em dizer que, em nossa profissão, não é o segredo, mas sim o treinamento que é a alma do negócio. Mais: o treinamento é a síntese aplicada em quadra, visando à preparação ao jogo, de quase todo o conhecimento que o técnico acumulou ao longo de toda sua carreira, sofrendo diferenças de acordo com as condições específicas de cada equipe. O “quase” que sobra vai por conta do jogo, que é, para o técnico, o resultado aplicado do treinamento num ritmo muito mais rápido e mais intenso, de toda a experiência e de todo o conhecimento adquirido.

    Para Becker Jr. (2000) se fosse feita uma investigação para saber o que o treinador deve conhecer, as idéias girariam em torno de: noções táticas; noções técnicas; noções de treinamento e noções de psicologia. Assim, o treinador esportivo deve, acima de tudo, ser um estudioso e também estabelecer uma constante troca de idéias com a comissão técnica para auxiliá-lo na tomada de decisão. A participação em congressos e cursos, a leitura sobre novas tendências e a constante atualização com as novas tecnologias e estudos contribuem para o desenvolvimento da função. A comissão técnica deve estar sempre em contato e freqüente comunicação, procurando melhorar suas metodologias e buscar a solução dos problemas, mantendo todos os profissionais envolvidos, nutridos de informações para o crescimento técnico da equipe.

    A complexidade dos clubes de futebol exige um trabalho integrado entre especialistas de diferentes áreas do conhecimento. As melhores equipes contam com profissionais de psicologia, nutrição, preparação física, fisioterapia, medicina e gerenciamento para auxiliar o treinador.

    A liderança e a competência do treinador são imprescindíveis para dirigir grupos heterogêneos de pessoas e conduzi-los de maneira satisfatória, em busca de suas aspirações. A mesma versatilidade que se exige dos jogadores nas ações técnicas e táticas do jogo, para Rose Junior (2006, p. 136), “deve ser uma das prerrogativas do treinador de futebol responsável pela estratégia, sistema de jogo, escolha de jogadores e nas tomadas de decisão nos momentos cruciais da partida”.

2.2.     Liderança no esporte

    A liderança no esporte tem sido um assunto muito discutido, buscando melhoras significativas na conduta de comportamento na relação treinador-atleta. A Leadership Scale for Sports (LSS) é um instrumento bastante utilizado, mas não é o único, como se pode verificar neste capítulo.

    O estudo de Serpa, Pataco e Santos (1991), buscou analisar os estilos de liderança presente nas equipes de handebol participantes de campeonato mundial de 1998. Os autores aplicaram a Leadership Scale for Sports (LSS) em 87 atletas e 7 treinadores pertencentes a 7 equipes nacionais e verificaram que a tanto a percepção dos atletas quanto a auto-percepção do treinador na dimensão treino-instrução foi a predominante e a dimensão democrático a menos verificada. Foram encontradas diferenças significativas entre as equipes com maior e menor êxito, assim como entre os atletas e treinadores no que se refere à freqüência com que foram percebidas as dimensões do comportamento de liderança. Os autores concluíram, então, que existe um comportamento predominante por parte dos treinadores (treino-instrução) e que nas equipes com melhores e piores resultados se verificavam diferentes tipos de liderança.

    Em outro estudo com 12 professores e 162 estudantes, 11 treinadores e 125 atletas, Laughlin e Laughlin (1994) buscaram determinar se a congruência entre as respostas de alunos/atletas e professores/treinadores com relação ao comportamento de liderança eram mais favoráveis para a efetividade dos professores/treinadores. Os autores utilizaram a LSS e o IOQ (questionário de opinião sobre o instrutor). Os alunos cujas respostas foram parecidas com as dos professores nas dimensões treino-instrução, comportamento autocrático e reforço, avaliaram estes de forma mais favorável. Com os atletas e treinadores observou-se um padrão parecido, com a inclusão da dimensão comportamento democrático, as mesmas encontradas entre professor/aluno.

    Em sua dissertação de mestrado acerca da Liderança Situacional, Vilani (2004) utilizando a LSS em duas versões (percepção e auto-percepção) e o QSA-L (Questionário de Satisfação do Atleta, versão liderança) analisou 61 atletas e 10 treinadores do tênis de mesa brasileiro. Os resultados descreveram que os antecedentes da liderança, tanto de atletas como de treinadores, interferem na percepção do atleta sobre o comportamento do treinador. Atletas com níveis maiores de rendimento, experiência, tempo de prática e tempo em que atuam com o mesmo treinador apresentaram respostas mais semelhantes com as de seus treinadores em diferentes dimensões. Os atletas masculinos apresentaram maior congruência nas dimensões treino-instrução e democrática com os treinadores. As atletas femininas se mostraram mais satisfeitas com tratamento pessoal e comportamento democrático de seus treinadores.

    Case (1987) em seu estudo que utilizou o Questionário Descritivo do Comportamento de Liderança do Líder (LBDQ) como instrumento, em 40 treinadores e 399 atletas de basquete, destacou diferenças de comportamento do treinador (comportamento de tarefa e comportamento de relacionamento) em praticamente todas as quatro faixas etárias (categorias) pesquisadas. Os dados obtidos, porém, não foram coerentes com a teoria de liderança situacional, onde foram observados estilos de comportamento de tarefa baixo para a categoria de menor faixa etária e para a de maior faixa etária e valores altos para categorias de faixa etária intermediária. O inverso deste resultado ocorreu com relação ao comportamento de relacionamento.

    Utilizando o mesmo instrumento acima citado (LBDQ), Simões (1994) analisou 22 técnicos de handebol de diferentes equipes masculinas do Brasil, perante as dimensões Execução de Tarefas e Relações Sociais. O estudo realizado em diferentes estados do país indicou que existe correlação entre as dimensões Execução de Tarefas e Relações Sociais no comportamento de liderança dos técnicos. 27,48% dos atletas identificaram o comportamento dos técnicos com ênfase maior em nível da dimensão Execução de Tarefas e 8,56% dos mesmos atribuíram maior valor para a dimensão Relações Sociais. Entretanto, 42,79% dos atletas atribuíram aos seus técnicos altos valores comportamentais nas duas dimensões e por outro lado, 21,17% atribuíram baixos resultados nas duas dimensões para seus técnicos.

    No estudo realizado por Turman (2001), utilizando a LSS como instrumento, o autor buscou incluir o tempo de treino como uma variável importante para o estudo por acreditar que estudos anteriores falhavam neste aspecto. Neste estudo participaram 155 lutadores de wrestler e 17 treinadores que responderam aos instrumentos três vezes durante a temporada competitiva. O autor encontrou diferenças significativas entre uma aplicação e outra. Analisando o impacto do nível de experiência do atleta, percebeu que apenas a dimensão suporte social era afetada pela experiência adquirida com o tempo pelo atleta. Além disso, na dimensão de comportamento autocrático, as respostas dos times vencedores para os perdedores ao final da temporada foi significativamente diferente.

    Ao realizar seu estudo sobre a percepção de atletas adolescentes sobre o comportamento de liderança de seus técnicos esportivos, Rocha e Cavalli (2006), utilizando como instrumento de pesquisa o CBQ baseado no Coaching Behavior Questionnaire de Kenow e Williams (1992), analisaram 29 atletas de voleibol de três equipes diferentes e os três técnicos das equipes testadas. Os resultados da pesquisa parecem indicar que existe uma relação inversamente proporcional entre a performance das equipes e a concordância de percepções entre técnico e atletas acerca dos comportamentos de liderança desses. Isto é, quanto melhor colocada estava a equipe mais distante estava a opinião do técnico em relação à das atletas no que concerne aos seus comportamentos de suporte, de ativação e à qualidade da sua comunicação.

    O estudo de Murray (2006) sobre o comportamento do treinador, coesão e de alto desempenho de equipes no desporto escolar analisou nove equipes de futebol e nove equipes de basebol de diferentes escolas, totalizando 320 atletas. Utilizou como instrumentos o GEQ (Group Environment Questionnaire) e a versão percepção da LSS. Os resultados indicaram que os treinadores de basebol e futebol que tinham altos índices de respostas nas dimensões treino-instrução e reforço e associaram estes resultados com os obtidos no GEQ.

    Em sua tese de doutorado, utilizando a LSS e o Questionário de Satisfação do Atleta (QSA), Altahayneh (2003) estudou atletas universitários de diversos esportes na Jordânia. Os resultados encontrados demonstram que os atletas que percebem seus treinadores com maiores índices de respostas nas dimensões treino-instrução, reforço e suporte social, além de um maior comportamento na dimensão democrático e um menor comportamento na dimensão autocrático, apresentam maior satisfação. Foram encontradas correlação entre todas as dimensões da LSS e do QSA.

    Em outro estudo, desenvolvido por Çakioğlu (2003), utilizando os mesmos instrumentos do estudo acima citado, analisou 138 atletas masculinos de futebol universitário da Turquia. Sua intenção era verificar a existência de diferenças de preferência e percepção da liderança de acordo com a posição em que jogava o atleta. Os resultados indicaram que a satisfação dos atletas independe da correlação entre os comportamentos de liderança preferidos e percebidos. Além disso, os resultados indicaram que não existem diferenças entre as posições dos jogadores no que diz respeito à liderança preferida, liderança percebida e satisfação de liderança.

3.     Metodologia

    O estudo caracterizou-se por ser do tipo descritivo e de análise quantitativa, no qual foi realizada uma pesquisa de campo que tinha como objetivo adquirir informações e conhecimentos acerca do problema estudado.

    A amostra, do tipo intencional, foi composta por 13 jogadores e um treinador, todos do sexo masculino, com idades entre 18 e 20 anos, e, do treinador 32 anos, pertencentes à equipe de futebol da categoria júnior de um clube de Porto Alegre.

    Para a realização da coleta de dados, foi utilizado o instrumento “Leadership Scale for Sport” (LSS) desenvolvida por Chelladurai & Saleh (1978) apud Vilani (2004), em duas versões, percepção para os atletas e auto-percepção para o treinador, que avaliou a percepção da liderança dentro do ambiente do grupo de jogadores.

    O “Leardership Scale for Sport” – LSS, traduzido e validado para língua portuguesa por Serpa et al. (1988) apud Vilani (2004), é um questionário com 40 itens autopreenchíveis, que representam cinco dimensões de comportamento do treinador/líder dispostos aleatoriamente. Em cada item, o respondente deve escolher uma entre as cinco opções de respostas em uma escala do tipo Likert: 1) “nunca” (0% das vezes), 2) “raramente” (25% das vezes), 3) “ocasionalmente” (50% das vezes), 4) “frequentemente (75% das vezes)”, 5) “sempre” (100% das vezes). Na primeira versão, o atleta deve responder as questões avaliando a sua percepção do comportamento de liderança do treinador (versão percepção). Na segunda versão, o treinador responde as questões de acordo com sua própria percepção acerca de seu comportamento de liderança (versão auto-percepção). Os 40 itens de cada uma das versões apresentam questões idênticas alterando somente o tempo verbal em que as perguntas de apresentam.

    No presente estudo utilizou-se duas versões da LSS (percepção e auto-percepção). As dimensões que os grupos de perguntas abrangem apresentam-se da seguinte forma: Treino-Instrução (TI) com um total de 13 itens (perguntas 1, 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23, 26, 29, 32, 35, 38); Suporte Social (SS) com um total de 8 itens (perguntas 3, 7, 13, 19, 22,25, 31, 36); Reforço (RF) com um total de 5 itens (perguntas 4, 10, 16, 28, 37); Democrático (DEM) com um total de 9 itens (perguntas 2, 9, 15, 18, 21, 24, 30, 33, 39); e, Autocrático (AUT) com um total de 5 itens (perguntas 6, 12, 27, 34, 40).

    Para a análise dos dados foi realizado o calculo da média e do desvio padrão (estatística descritiva) das respostas obtidas em cada das dimensões estabelecidas na Tabela 1 para o treinador e para os atletas. As médias das respostas foram apresentadas em forma de percentual.

4.     Análise e discussão dos resultados

Tabela 1. Média e desvio padrão na dimensão TI

 

atleta

treinador

 

Média %

DP

Média %

DP

Sempre

43,23

2,93

62,00

0,51

Frequentemente

35,54

2,43

38,00

0,51

Ocasionalmente

13,62

1,01

0

0

Raramente

5,92

0,83

0

0

Nunca

1,77

0,44

0

0

Fonte: O Autor (2008).

    Tanto nos atletas como no treinador, as maiores médias corresponderam aos itens Sempre e Frequentemente demonstrando haver uma congruência de respostas na dimensão Treino-Instrução. Estes dados indicam que os resultados obtidos na amostra concordam com os dados obtidos por Altahayneh (2003), Murray (2006), Vilani (2004), Laughlin e Laughlin (1994) e Serpa, Pataco e Santos (1991) onde tanto a percepção dos atletas quanto a auto-percepção do treinador na dimensão treino-instrução foi percebida da mesma maneira.

Tabela 2. Média e desvio padrão na dimensão SS

  

atleta

treinador

  

Média %

DP

Média %

DP

Sempre

23,08

2,33

13,00

0,35

Frequentemente

20,23

1,85

13,00

0,35

Ocasionalmente

22,15

2,30

25,00

0,46

Raramente

15,38

1,60

38,00

0,52

Nunca

19,23

4,04

13,00

0,35

Fonte: O Autor (2008).

    Comparando-se as respostas do treinador e dos atletas verifica-se uma divergência entre as médias dos itens mais assinalados (Tabela 2). Enquanto para os atletas as maiores médias ficaram respectivamente nos itens Sempre, Ocasionalmente e Frequentemente, para o treinador os itens de maiores médias foram Raramente e Ocasionalmente. Estes dados podem indicar que a dimensão Suporte Social não é a que apresenta uma maior atenção por parte do treinador e é a que apresenta uma maior carência por parte dos atletas. Os resultados encontrados divergem do estudo de Altahayneh (2003), que verificou um alto índice de congruência na dimensão Suporte Social, podendo indicar o que ressalta o estudo de Turman (2001) que percebeu que apenas essa dimensão era afetada pela experiência adquirida com o tempo pelo atleta na relação com o treinador. Acredita-se que esta situação aconteça, pois o treinador da categoria júnior analisado é o que define a ascensão, ou não, de um jogador para o time profissional. Isso faz com que o trabalho do treinador seja bastante difícil, pois ele é quem decide quem seguirá carreira profissional e atingirá o seu sonho de infância ou destruirá este sonho. Por isso, acredita-se que é mais fácil não desenvolver vínculos sociais com os atletas para não dificultar esse processo. Apesar disso, os resultados obtidos na amostra sobre o comportamento do treinador divergem de todo o referencial teórico no qual autores (PRATES, 2005; FERES, 2007) citam que o treinador deve conhecer e gerenciar todos os aspectos que cercam o jogador e inclusive, fornecer-lhe suporte social adequado.

Tabela 3. Média e desvio padrão na dimensão RE

 

atleta

treinador

 

Média %

DP

Média %

DP

Sempre

47,69

2,86

0

0

Frequentemente

33,85

1,82

100

0

Ocasionalmente

15,38

1,22

0

0

Raramente

3,08

0,55

0

0

Nunca

0

0

0

0

Fonte: O Autor (2008).

    Comparando-se as respostas dos atletas com as do treinador, pode-se verificar que as maiores médias dos atletas pertencem aos Itens Sempre (47,69%) e Freqüentemente (33,85%) e a do treinador corresponde ao item Frequentemente (100% das respostas). Com isso, pode-se perceber uma uniformidade dentro da equipe com relação à dimensão Reforço, concordando com a literatura pesquisada (MURRAY, 2006 e LAUGHLIN E LAUGHLIN, 1994) que também apresenta altos índices de respostas na dimensão reforço.

Tabela 4. Média e desvio padrão na dimensão DEM

 

atleta

treinador

 

Média %

DP

Média %

DP

Sempre

16,23

1,05

0

0

Frequentemente

24,77

2,05

11,00

0,33

Ocasionalmente

28,23

1,66

56,00

0,53

Raramente

19,69

1,24

33,00

0,5

Nunca

11,08

1,67

0

0

Fonte: O Autor (2008).

    Verificando-se as respostas obtidas na Tabela 4, pelos dois grupos analisados, na dimensão Democrático, tanto os atletas como o treinador, assinalaram com maior freqüência o item Ocasionalmente, representando a maior média em ambos. Os outros dois itens mais assinalados correspondem a Frequentemente e Raramente para os atletas e Raramente e Frequentemente para o treinador, demonstrando um mesmo entendimento nesta dimensão mesmo que ela não seja a de maior atenção por parte do treinador. Os resultados obtidos vão de encontro aos estudos de Altahayneh (2003), Vilani (2004) e Laughlin e Laughlin (1994) que encontraram congruência positiva na dimensão Democrático, assim como no presente estudo.

Tabela 5. Média e desvio padrão na dimensão AUT

  

atleta

Treinador

  

Média %

DP

Média %

DP

Sempre

4,62

0,89

20,00

0,45

Frequentemente

24,62

2,28

0

0

Ocasionalmente

33,85

1,52

60,00

0,55

Raramente

16,92

1,30

0

0

Nunca

20,00

1,52

20,00

0,45

Fonte: O Autor (2008).

    Observa-se na Tabela 5 que as maiores médias tanto do técnico como dos atletas deu-se no item Ocasionalmente demonstrando um mesmo entendimento entre o grupo e seu técnico neste item. Mas, curiosamente os itens Frequentemente e Raramente com a segunda e quarta maior média entre os atletas não foi sequer assinalada pelo treinador. O item Nunca teve mesma média entre os dois grupos de 20%, entretanto o treinador assinalou os mesmos 20% para o item Sempre, enquanto os jogadores assinalaram apenas 4,62% nesse item. Percebe-se que as maiores médias correspondem ao item Ocasionalmente, mas em outros três itens (Sempre, Frequentemente e Raramente) existem discordâncias entre a percepção dos atletas e do treinador. Os resultados obtidos vão de encontro aos estudos de Altahayneh (2003) e Turman (2001), que encontraram diferenças de percepção na dimensão Autocrático e vão contra os resultados obtido por Laughlin e Laughlin (1994) que encontraram respostas positivas nessa dimensão.

    Após análise de todas as dimensões, pode-se considerar que em sua maioria, as respostas dos atletas e do treinador aproximaram-se apresentando uma percepção semelhante sobre a liderança existente na relação treinador-atleta. Pode-se afirmar que nas dimensões Treino-Instrução (TI), Reforço (RE) e Democrático (DEM) foi encontrado um alto índice de congruência nas respostas do treinador e dos atletas, significando haver um mesmo entendimento sobre estes aspectos. Com relação às dimensões Suporte Social (SS) e Autocrático (AUT) ocorreram diferenças nas duas percepções encontradas, significando que estes podem ser aspectos de menor importância para o treinador e de maior carência por parte dos atletas.

5.     Considerações finais

    Após a análise e discussão dos resultados podem ser apresentadas importantes considerações finais. O presente estudo verificou como a liderança é percebida pelo treinador e atletas de futebol em uma equipe da categoria júnior, onde, na maioria dos aspectos analisados houve concordância na percepção da liderança. Independentemente do índice de concordância de respostas, verificou-se que tanto os atletas como o treinador percebem e identificam de alguma maneira a liderança em sua relação.

    O presente estudo também, em sua busca para identificar se treinador e os atletas percebem da mesma maneira a liderança existente em sua relação, constatou que em três das cinco dimensões analisadas, existia congruência de respostas; enquanto que, nas outras duas, a percepção da liderança foi divergente na visão treinador-atleta. Verifica-se ainda que tanto atletas como o treinador percebem e discordam simultaneamente com relação as suas percepções da liderança dentro do grupo, demonstrando perceber da mesma maneira algumas dimensões (TI, RE e DEM) e percebendo de maneiras diferentes outras dimensões (SS e AUT).

    Ao finalizar esta pesquisa, fica a certeza de que ela é apenas um começo, já que o futebol e as relações treinador-atleta abordadas por este estudo fazem parte de um universo extremamente grande que oferece inúmeras possibilidades de investigação. Espera-se que a partir deste estudo, outros sejam gerados, abordando outras indagações e questionamentos, de forma a proporcionar maiores esclarecimentos sobre o futebol e as relações existentes entre os grupos de atletas e seus treinadores.

Referências

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  • ÇAKIOĞLU, A. Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position. 2003, 78 p. Dissertation (Master of Science

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  • MURRAY, N. P. The differential effect of team cohesion and leadership behavior in high school sports. Individual Differences Research, v. 4, n. 4, p. 216-225.

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revista digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires, Septiembre de 2009  
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