O processo de avaliação em Educação Física no ensino fundamental, anos iniciais El proceso de evaluación en Educación Física en la enseñanza básica, años iniciales |
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*Professora de Educação Física pela Faculdade de Ensino Superior de São Miguel do Iguaçu - FAESI Especialista em Educação Física Escolar – FAESI Professor de Educação Física. Especialista em Psicopedagogia e Educação Especial Mestre em Educação Especial – Universidade Federal de São Carlos – SP Doutorando em Educação Especial – Universidade Federal de São Carlos – SP |
Eliane Mahl Amaral* Douglas Roberto Borella** (Brasil) |
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Resumo A disciplina de Educação Física, como todas as demais disciplinas do Currículo Escolar, tem como um dos principais objetivos contribuir com o aluno para a vida em sociedade, formando cidadãos críticos, autônomos, responsáveis, reflexivos e conscientes de seus atos, sendo que para isso é necessária a verificação do sucesso, ou não, deste objetivo através da avaliação escolar. Entretanto, ao chegar o momento de avaliar seus alunos o professor de Educação Física depara-se com muitos questionamentos em relação a este ato. Assim, o presente estudo teve por objetivo investigar como os professores de Educação Física da rede pública municipal de uma cidade do interior do Oeste do Paraná/Brasil tratam à temática da avaliação na disciplina de Educação Física no ensino fundamental - anos iniciais. Como instrumento utilizou-se de um roteiro de entrevista semi-estruturado com três temas geradores: biografia, experiências relacionadas ao processo de avaliação e caracterização das práticas avaliativas, adaptado do instrumento proposto por Mendes (2005). Sendo assim, tratou-se de uma pesquisa de caráter descritivo e de cunho qualitativo. Os resultados do estudo apontaram que os participantes não apresentam conhecimentos suficientes em relação ao processo de avaliação na disciplina de Educação Física, além de não utilizarem de nenhum instrumento fidedigno para apontar os progressos ou limitações dos alunos. Destaca-se que, a avaliação na disciplina de Educação Física em qualquer nível da educação básica é de suma importância, porém, deve ser conduzida com seriedade e discernimento pelos professores desta disciplina. Unitermos: Educação Física. Avaliação. Alunos |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009 |
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Introdução
Observa-se que a escola apresenta uma visão de mundo, de homem e de sociedade repleta de ideologias e valores, que são transmitidos e socializados pelo ser humano através da educação, distribuído nas mais diferentes disciplinas curriculares, buscando assim, preparar as pessoas para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.
Neste estudo tratar-se-á especificamente da disciplina de Educação Física, que manifestou-se praticamente junto com a escola e com os sistemas educacionais. Conseqüentemente, adquiriu resíduos das mesmas ideologias e valores, transmitindo através deles comportamentos socialmente esperados.
Entretanto, a Educação Física, diferentemente da educação, necessitou durante muitos anos de buscar sua legitimação perante a sociedade, provar a que veio, principalmente, a partir de sua inserção obrigatória nas instituições escolares.
De acordo com Bracht (1997, p. 37), “legitimar a Educação Física significa apresentar argumentos plausíveis para a sua permanência ou inclusão no currículo escolar.” Sendo assim, parece de suma importância, primeiramente, esclarecer o que é Educação Física.
Para isto, Bracht (1997, p. 15) apresenta duas concepções para o termo Educação Física, sendo que, Educação Física no sentido mais restrito abrange as atividades pedagógicas, tendo como tema o movimento corporal, porém, em seu sentido mais amplo tem sido utilizado para designar, inadequadamente, todas as manifestações culturais ligadas à ludomotricidade humana.
Já para Pimenta e Libâneo (1992, p. 50) “... a Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, lutas e ginástica”.
Freire (1997, p. 84) também contribui afirmando que “... Educação Física não é apenas educação do ou pelo movimento e sim educação de corpo inteiro, entendendo-se, por isso, um corpo em relação com outros corpos e objetos, no espaço”.
Entretanto, apesar da Educação Física ainda apresentar diversos conceitos e interpretações no âmbito escolar, sabe-se que esta disciplina tem uma função social a cumprir, que segundo Saviani (1991, p. 125), seria “... a transmissão do saber sistematizado, legado cultural da humanidade”.
Este saber sistematizado refere-se ao conhecimento sobre o corpo, construído no interior das relações entre as classes, sendo transmitido e socializado pela escola. Contudo, historicamente, atendeu a um modelo burguês e capitalista que impôs e ainda impõe sua cultura e seus valores como sendo universais a uma maioria dominada, e infelizmente a organização social tende predominantemente à conservação da situação dominante (SAVIANI, 1991).
Subentende-se assim, que ao longo da história da humanidade cada sociedade construiu um discurso sobre o corpo, com valores e conceitos diversificados, porém, a burguesia dominadora impôs o seu discurso e a grande maioria dominada acabou por adotá-lo sem muita relutância, sendo que isto ainda acontece atualmente.
Entretanto, mesmo que essa construção reflexiva acerca da Educação Física sendo lenta se faz necessária e deve ser transmitida a todas as pessoas, principalmente, transmitida pelos professores desta área a todas as crianças, desde o ingresso na educação básica,1 para que haja maior compreensão da necessidade de modificar a visão de mundo apresentada pela burguesia dominante, que detêm o poder.
Vasconcellos (1998) relata que diante deste processo de dominação das classes, de superação das desigualdades e tentativa de construção de uma cultura crítica, surgiu na educação à avaliação, classificando, constatando e promovendo os seres humanos, sendo que, a mesma tornou-se uma nova forma de controle da burguesia para com as classes dominadas.
O autor afirma ainda que, a partir da década de 60, a avaliação da aprendizagem escolar ganhou ênfase em função do avanço da reflexão crítica que apontava os enormes estragos da prática classificatória e excludente, tais como: elevadíssimos índices de reprovação, evasão escolar, baixíssimo nível de qualidade da educação em termos de apropriação do conhecimento e formação de uma cidadania ativa e crítica. Sendo assim, a avaliação educacional tornou-se uma preocupação constante dos professores, que passaram a questionar-se sobre o que avaliar, por que avaliar, como avaliar e quando avaliar?
Observa-se que, atualmente a avaliação educacional ainda é considerada, por alguns professores, um quebra cabeça, sendo vista como um problema escolar, devido a condicionar a entrada e a saída do aluno no sistema escolar, bem como, se está apto a prosseguir. Diante desta problemática, muitos professores, inclusive os de Educação Física, se perguntam quais os sentidos para a existência da avaliação da aprendizagem escolar? Qual seu real objetivo? Como avaliar a aprendizagem ou o desenvolvimento do aluno? Avaliar-se-ão quais critérios? Quais instrumentos avaliativos utilizar?
Neste sentido, o presente estudo teve por objetivo investigar como os professores de Educação Física da rede pública municipal de uma cidade do interior do Oeste do Paraná/Brasil tratam à temática da avaliação na disciplina de Educação Física no ensino fundamental anos iniciais.
Metodologia
A população foi composta por professores de Educação Física pertencentes a um município do interior do Oeste do Paraná, os quais ministram aulas de Educação Física na rede pública municipal de ensino.
Ressalta-se que, para responder os objetivos deste estudo, utilizou-se de um roteiro de entrevista semi-estruturado, com três temas geradores: biografia, experiências relacionadas ao processo de avaliação e caracterização das práticas avaliativas, adaptado para este estudo do instrumento proposto por Mendes (2005).
Os dados foram analisados de forma qualitativa, através de análise de conteúdo, que segundo Bardin,2 citado por Richardson & Col. (1999, p. 223) “é um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens”.
Apresentação e discussão dos resultados
O processo de estruturação das concepções de avaliação se inicia a partir das primeiras experiências pessoais vivenciadas na infância, especialmente aquelas advindas da família e da escola, sendo que, as mesmas deixam marcas para toda vida e podem influenciar na elaboração de conceitos e pontos de vista positivos ou negativos sobre os mais variados assuntos.
Diante disso, buscou-se verificar com os participantes deste estudo quais as experiências por eles vivenciadas no ensino fundamental e na formação inicial no que se refere à avaliação.
Em relação a este questionamento, os participantes afirmaram que o processo de avaliação no ensino fundamental em Educação Física por eles vivenciado causava-lhes certo receio, principalmente quando sabiam que estavam sendo avaliados, indiferentemente de ser através de provas práticas ou teóricas e as mesmas ainda eram realizadas como se todos os alunos fossem iguais, sem respeitar suas diferenças e peculiaridades, devido a isso não adquiriram boas recordações em relação como eram avaliados na disciplina de Educação Física quando pertencentes ao ensino fundamental.
Os participantes relataram ainda, que não apresentavam conhecimento sobre o porquê da existência das avaliações realizadas pelos seus professores de Educação Física, mas percebiam que suas experiências corporais não eram consideradas durante o processo ensino-aprendizagem, mas sim o resultado final, que no caso seria a aptidão física.
Ferreira (2006) afirma que um aspecto a ser considerado na organização das atividades e na avaliação deve ser a diversidade existente entre os alunos, e esta diversidade inclui a facilidade e/ou a dificuldade para lidar com situações estratégicas, de simulação, de cooperação, entre outras.
No que diz respeito às oportunidades vivenciadas no curso de formação inicial em relação às aprendizagens em avaliação, os participantes do estudo relataram que não cursaram nenhuma disciplina destinada especificamente sobre a avaliação, mas cursaram as disciplinas de Didática e Estrutura que lhes proporcionaram noções do que seria a avaliação na Educação Física Escolar. Entretanto, acreditam que a temática da avaliação em Educação Física Escolar deveria ser mais abordada na formação inicial, devendo abranger outras disciplinas, não somente Estrutura e Didática, já que, atualmente apresentam muitas dúvidas e incertezas em relação ao processo avaliativo.
Logicamente que, a formação inicial, principalmente Licenciatura em Educação Física, fornece embasamento na diferentes áreas de atuação deste curso, mas como sua principal área de atuação é a educação, acredita-se que seria de extrema importância destinar-se um tempo maior a questão da avaliação em Educação Física Escolar.
Diante disso, buscou-se analisar de maneira integral o conhecimento apresentado pelos participantes deste estudo no que se refere aos conceitos de avaliação, objetivos da existência da avaliação, critérios avaliáveis, instrumentos de avaliação e dificuldades encontradas na implementação do sistema de avaliação em Educação Física.
Observou-se que o conceito de avaliação adquiriu diferentes significados ou interpretações para cada um dos participantes da pesquisa. Segundo eles avaliação é a verificação da aprendizagem do aluno no decorrer do ano letivo; é a confirmação ou não de que o aluno absorveu/aprendeu os conteúdos transmitidos; é a observação dos progressos do aluno; é averiguação das limitações dos alunos e é a verificação do trabalho do professor,
Para Luckesi (2003, p. 33) “a avaliação pode ser caracterizada como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto avaliado, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou para transformá-lo. (...) a avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão.”
Já Villas Boas (2004, p. 29) ao se reportar sobre os objetivos da avaliação declara que “a avaliação existe para que se conheça o que o aluno já aprendeu e o que ele ainda não aprendeu, para que se providenciem os meios para que ele aprenda o necessário para dar continuidade aos estudos.”
Para os participantes a avaliação apresenta os seguintes objetivos: verificação do trabalho pedagógico do professor, ou seja, se através de suas práticas pedagógicas o professor está alcançando os objetivos esperados na disciplina; prevenção e identificação de problemas relacionados à saúde do aluno; verificação do desenvolvimento cognitivo e motor do aluno, ou seja, constatar se o aluno realmente consegue compreender e realizar as atividades propostas durante as aulas, sendo que, se o professor perceber que o aluno apresenta alguma dificuldade, diga-se limitação, deverá retomar os conteúdos propostos para que o aluno supere a limitação em questão.
Notou-se que, todos os participantes mostraram-se preocupados com superação das limitações dos alunos e com a causa das mesmas, sejam elas, motoras, sócio-afetivas ou cognitivas.
Zabala3 (1997), citado por Mendes (2005, p. 27), relata que “a função das práticas avaliativas é interagir com os alunos com o intuito de compreender o processo de aprendizagem, identificando a origem das dificuldades, resistências e avanços”.
Compreende-se assim, que o objetivo ou a função da realização da avaliação em Educação Física é garantir a formação integral do aluno pela mediação da efetiva construção do conhecimento, contribuindo nas decisões de natureza educacional, tanto no que se refere ao ensino, a aprendizagem e ao próprio funcionamento do sistema escolar.
Em relação aos critérios que avaliam nas aulas de Educação Física os participantes afirmam avaliar a participação, o interesse, a dedicação, o comportamento/disciplina, a lateralidade, a impulsão, o equilíbrio, o desempenho cognitivo (compreensão) e o desempenho motor (execução dos movimentos). Ressaltaram que não avaliam a execução correta dos movimentos e sim se o aluno buscou realizar o movimento cobrado. Comentaram ainda que existe muito mais freqüência do que ausência dos alunos em suas aulas, mas caso fosse ao inverso então levariam em consideração a freqüência.
Quando nos reportamos aos critérios de avaliação escolar, San’tanna (1995, p. 79) afirma que “os critérios de avaliação são geralmente estabelecidos pelo sistema ou subsistema, embora o mais comum é que cada escola, através de seu regimento interno, registre os critérios ou normas a serem observados pelos responsáveis das diferentes disciplinas curriculares.”
A este respeito, unanimemente, os participantes comentaram em seus relatos que os critérios que avaliam na disciplina de Educação Física no ensino fundamental séries iniciais foram elaborados em conjunto com todos os professores da rede pública municipal e constam na ficha individual dos alunos, que é preenchida no final de cada bimestre, porém, os instrumentos utilizados para a avaliação dos critérios estabelecidos ficam a escolha do professor de Educação Física, bem como, sua prática pedagógica.
De modo geral, pôde-se perceber que todos os participantes realmente avaliam critérios semelhantes baseados nos aspectos motor, cognitivo e sócio-afetivo do desenvolvimento humano. Assim, pode-se dizer que todos os participantes têm clareza do que querem avaliar na disciplina de Educação Física, ou seja, os critérios que julgam importantes.
Questionou-se então, quais instrumentos utilizavam em suas práticas avaliativas e todos não apresentavam clareza do que seriam esses instrumentos. Em tal situação foi elucidado, de acordo com dois estudiosos, o que são instrumentos avaliativos.
Vasconcellos (1998, p. 64) define instrumentos de avaliação como sendo as formas de avaliar que o professor utiliza em sua prática pedagógica, tais como: provas, testes, trabalhos, pesquisas, questionários, relatórios, roteiro de observações, entre outros.
Diante deste esclarecimento, os participantes relataram realizar testes motores com as turmas de 1º, 2º e 3º anos. Já com as turmas de 4º e 5º anos são realizados trabalhos teóricos, seminários e provas teóricas.
Quando questionados quais testes motores aplicavam com os alunos, os participantes responderam que aplicavam testes de corrida, de equilíbrio, lateralidade, de impulsão, entre outros. Perguntou-se então o nome destes testes e que autores da literatura os propuseram. A resposta dos participantes foi à mesma, ou seja, não se baseavam em nenhum autor e não sabiam o nome específico dos testes que aplicavam. Alegam que para a aplicação dos testes, bem como escolha dos critérios que julgavam importantes para a avaliação, baseavam-se nos conhecimentos que adquiriam na formação inicial, em cursos que participaram ou na própria experiência profissional adquirida durante o tempo que lecionavam.
Já em relação aos seminários, as provas e trabalhos teóricos que os alunos realizavam, eram pesquisados pelo professor e pelos alunos na internet e em livros dispostos na biblioteca da escola.
Parece que todos os critérios citados pelos participantes podem sim ser avaliados, porém, estes testes devem ser embasados em estudiosos que validaram sua aplicação (o que não acontece com os testes propostos pelos participantes), sendo ainda de suma importância o professor de Educação Física conhecer e entender habilmente sobre sua aplicação, bem como, sobre o desenvolvimento e o comportamento do ser humano, no caso, do aluno.
Diante disto, questiona-se então como avaliar em Educação Física?
Sant’anna (1995, p. 17) contribui afirmando que “para avaliar podemos usar instrumentos que testem e/ou meçam, mas é muito mais do que atribuir valor quantitativo e/ou qualitativo; é, acima de tudo, confirmar a validade de um empreendimento. É constatar se a estratégia escolhida, na busca de algo, funcionou, se era a mais adequada a situação e se compensou, isto é, satisfez nossas expectativas.”
Partindo do princípio de que o desenvolvimento integral da criança resulta das diferentes experiências vivenciadas e de que para cada uma isso acontece em ritmo próprio, o processo avaliativo deveria apenas ser valorizado enquanto comparar cada criança com ela mesma, independente de qual aspecto esteja sendo avaliado, verificando assim sua evolução no decorrer do tempo ou do período letivo.
Aquilo que uma criança compreende, aprende e realiza não pode servir de parâmetro (critério) para a avaliação de outras, embora da mesma idade cronológica, ou seja, se uma criança apresentou maior habilidade em realizar determinada tarefa, não significa que todas deverão também o fazer. O mesmo se procede também quanto às limitações. Cada qual buscará maneiras diferentes para apropriar-se do conhecimento proposto, o importante é que tentem alcançar o resultado esperado pelo professor de Educação Física.
Contribuindo neste sentido, Piaget4 (1979), citado por Thiessen & Beal (1995, p. 192) assegura que “a aprendizagem é sempre e necessariamente individual ainda que as técnicas utilizadas sejam grupais”. Sendo assim, ao avaliar a criança deve-se partir sempre de como eram seus aspectos antes do início do ano letivo ou bimestre, para daí sim conceituar sua evolução.
Conforme os relatos apresentados pelos participantes, observa-se que os instrumentos avaliativos provas e trabalhos teóricos, seminários fundamentam-se em livros e na internet. Entretanto, em relação à avaliação dos aspectos sócio-afetivo, motor e cognitivo, nenhum dos participantes apresenta instrumentos fidedignos ou baseados em algum autor da área da educação ou da Educação Física. O que fazem são observações a respeito do aluno, nestes aspectos, sendo que unanimemente, atribuem valor ou expressões aos mesmos.
De acordo com Haydt (2002, p. 123) “a observação é uma das técnicas de que o professor dispõe para melhor conhecer o comportamento de seus alunos, identificando suas dificuldades e avaliando o desempenho nas várias atividades realizadas e seu progresso na aprendizagem.” Sendo assim, a observação tão utilizada pelos participantes desta pesquisa nada mais é do que um instrumento para a avaliação e não a avaliação em si.
Todavia, salienta-se que estas observações realizadas pelos participantes a respeito dos alunos, só poderiam ser consideradas autênticas se fossem registradas continuamente, pois assim observar-se-iam as mudanças nos aspectos avaliados. Para isto, Haydt (2002, p. 123) acrescenta que “através da observação direta dos alunos no contexto das atividades cotidianas (...), onde eles agem espontaneamente, sem pressão externa que altere sua conduta (como no caso de uma situação de prova), o professor pode colher e registrar muitas informações úteis sobre o rendimento escolar, complementando dados fornecidos por provas e testes.”
Neste sentido, nota-se que da maneira que os participantes relatam realizar suas avaliações acabam tornando-as artificiais, sem sentido algum para o aluno, além de não poder-se afirmar com segurança que o instrumento roteiro de observação é válido na disciplina de Educação Física Escolar.
Diante disso, volta-se a repetir, uma avaliação que realiza-se informalmente, através de observação, no mínimo dever ter um registro, ser anotado, à medida que ocorram alguns fatos considerados relevantes para o professor, diante do que tais fatos podem vir a apontar particularidades de cada criança, tais como: agressões físicas e verbais, dificuldade em respeitar regras, isolamento, sentimentos depreciativos, pouco interesse na maioria das atividades, comentários referente à família, timidez excessiva, nervosismo diante de instrumentos como provas teóricas e práticas, seminários ou trabalhos em grupo, entre outros.
Já em relação ao aspecto motor, percebe-se que testes motores podem ser aplicados, porém, com objetivo de o professor diagnosticar quais as limitações e facilidades que o aluno apresenta, para em seguida buscar metodologias a fim de sanar ou minimizar as limitações e aperfeiçoar as facilidades de cada aluno.
Todavia, se o professor de Educação Física utilizar-se do instrumento teste motor, para avaliar os alunos, deve pelo menos conhecer o nome do teste, quem o propôs, bem como, sua utilidade e o que fazer com os resultados. Ressalta-se que, testes motores não devem de maneira alguma ser o único instrumento de avaliação utilizado pelo professor de Educação Física.
Considera-se de suma importância salientar que os instrumentos utilizados pelos professores de Educação Física em suas práticas avaliativas tem por objetivo coletar dados a respeito do aluno, independente dos aspectos a que se referem, para que posteriormente realizem-se atividades a fim de suprir as necessidades próprias do aluno individualmente, mesmo que as atividades sejam grupais, o professor pode direcionar especificamente a quem gostaria de atingir. Assim, a avaliação torna-se um meio para a aquisição de conhecimentos.
Ao serem questionados se existe alguma dificuldade na implementação de um sistema de avaliação na disciplina de Educação Física, os participantes foram unânimes em afirmar que não.
Quanto à unanimidade em relatar que não encontram dificuldades em avaliar, é um tanto curioso, já que nas Diretrizes Curriculares da rede pública de educação básica do estado do Paraná – Educação Física (2006, p. 46), consta que a avaliação em Educação Física tem gerado muitas dificuldades, devido, principalmente, às limitações apresentadas nas explicações teóricas por se buscar entendimentos à luz de paradigmas tradicionais, insuficientes para a compreensão deste fenômeno educativo. E mesmo com a literatura existente, a avaliação em Educação Física mostra claramente os aspectos quantitativos de mensuração do rendimento do aluno, em gestos técnicos, destrezas motoras e qualidades físicas, visando principalmente à seleção e a classificação.
Além de que, muitas vezes, o único critério para aprovação ou reprovação na disciplina de Educação Física é o de assiduidade dos alunos nas aulas. Entretanto, observa-se que a assiduidade nas aulas de Educação Física no ensino fundamental anos iniciais é freqüente. Dificilmente encontram-se alunos faltosos, pois as crianças demonstram gostar das aulas de Educação Física, mostrando-se ativas, desejando conhecer e experimentar tudo, inclusive qualquer movimento.
Neste contexto, nenhum aluno reprovaria nesta disciplina, pois se o professor propiciar aulas que aproveitem toda essa energia e motivação, enriquecendo e estimulando as habilidades motoras, cognitivas e sócio-afetivas, através da participação em atividades corporais, de relações equilibradas e construtivas com colegas, bem como, valorização de atitudes de respeito mútuo, além da transmissão de informações sobre hábitos saudáveis, não existe o porquê da reprovação neste nível da educação básica.
Diante disso, concorda-se fielmente com Barbosa (1999, p. 21) ao relatar que “o principal objetivo da Educação Física Escolar, incluída num contexto mais amplo, que é a educação, é de formar cidadãos críticos, autônomos e conscientes de seus atos, visando à transformação social”.
O importante na disciplina de Educação Física Escolar em qualquer nível da educação básica, mas principalmente nos anos iniciais, é fazer com que o aluno apresente a capacidade de compreender e realizar atividades sempre mais complexas, conhecendo, respeitando e dominando seu próprio corpo, além de conseguir fazer uma leitura crítica a respeito da realidade em que se insere, buscando com dignidade e caráter modificá-la.
Sendo assim, também acredita-se que a reprovação no ensino fundamental anos iniciais se faz dispensável, porém, a avaliação não. Como já explicitado anteriormente, a avaliação em Educação Física tem por objetivo garantir a formação integral do aluno pela mediação da efetiva construção do conhecimento, contribuindo nas decisões de natureza educacional no que se refere ao processo ensino-aprendizagem e ao próprio funcionamento do sistema escolar.
Considerações finais
Toda e qualquer disciplina do Currículo Escolar deve estar orientada à formação integral do ser humano, independente dos conteúdos e conhecimentos que venham a abordar. Como a disciplina de Educação Física é obrigatoriedade na educação básica deve, também, visar à formação integral do ser humano através das dimensões cognitiva, sócio-afetiva e motora.
Todavia, para perceber se os alunos estão apropriando-se dos conhecimentos transmitidos na disciplina de Educação Física, e conseqüentemente, desenvolvendo-se, os professores desta disciplina devem utilizar-se da avaliação escolar, ou seja, devem procurar identificar, aferir, investigar e analisar as modificações do comportamento e rendimento do aluno através da avaliação, sendo que, para isto sugere-se a utilização de diversos instrumentos avaliativos, tais como: provas objetivas e subjetivas, trabalhos, seminários, relatórios de observação, pesquisas, entre outros.
Destaca-se que, um dos principais objetivos da existência da avaliação na disciplina de Educação Física é fazer com que os alunos conheçam seus limites e possibilidades, traçando metas para melhorar seu desempenho escolar, porém, o professor deve considerar a diversidade que os alunos apresentam em relação às competências corporais, além de interagir com seus alunos a fim de compreender o processo de aprendizagem, identificando a origem dos progressos, das dificuldades e resistências.
Diante disso, acredita-se que, a avaliação na disciplina de Educação Física em qualquer nível da educação básica é de suma importância, porém, deve ser conduzida com seriedade e discernimento pelos professores desta disciplina, justificando sua existência através de conteúdos que visam à formação de cidadãos críticos, autônomos, responsáveis, reflexivos e consciente de seus próprios atos, sendo que, se o aluno tiver conhecimento sobre o que esta sendo avaliado (critérios), como está sendo avaliado (instrumentos) e porque está sendo avaliado (objetivos) acabará tornando-se responsável pela sua própria aprendizagem.
Notas
A educação básica compreende a educação infantil, o ensino fundamental séries iniciais (1ª a 4ª série), o ensino fundamental séries finais (5ª a 8ª série) e o ensino médio. (BRASIL, 1996, Lei nº 9.394/96).
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