O esporte, que motiva o ser humano a superar-se e a buscar seus limites, e faz com que a sociedade o pratique em prol da saúde e bem-estar, é capaz de romper barreiras e fronteiras. Na Grécia antiga foi decretado o armistício para que fossem realizados os Jogos Olímpicos. E, em 1969, em função de um jogo da equipe do Santos Futebol Clube, cujo astro principal era o grande rei Pelé, foi interrompida uma guerra civil no continente africano.

    Conforme Coakley, citado por Gallahue e Ozmun (2001), o esporte auxilia no desenvolvimento do comportamento moral pelas diferentes emoções e situações imprevisíveis que proporciona.

    O esporte provoca no homem sentimento de superação, de ousadia, as vitórias elevam a moral e a auto-estima, a festa proporcionada após a conquista de um título é fenomenal, exemplos de batalhas no esporte tornam-se memoráveis e durante anos alimentam o ego do povo.

    No Brasil, o esporte mais popular é, sem dúvida alguma, o futebol, pois é largamente praticado por indivíduos de todas as classes sociais. Além de atuar como uma opção de lazer ele pode servir como elemento socializador.

    Sabe-se que o futebol, tanto praticado na rua como nas escolas formativas possui imensa procura de crianças e jovens, para Daolio (1998) o futebol é uma forma de a sociedade expressar suas mais profundas emoções, é uma forma de exercer cidadania, haja vista que em época de copa do mundo o futebol atualiza e renova o espírito de nação.

    O Brasil é reconhecido mundialmente como um grande celeiro de craques. Há jogadores e técnicos brasileiros trabalhando com o futebol em quase todos os lugares do mundo, bem como há uma idolatria mundial por nossos craques e clubes. Pelé e tantos outros jogadores são alguns exemplos de celebridades esportivas que divulgam o nosso maior produto nacional.

    A ginga, a técnica e o drible são marcas registradas do futebol brasileiro. A alegria de jogar, tão característica nos atletas do Brasil, pode estar relacionada ao seu estilo de viver. Ou seja, a alegria do povo, do seu “jeitinho brasileiro”, de sua cultura que é muito rica e diversificada, onde desde os tempos da escravidão o brasileiro já tinha uma especial manifestação corporal através da capoeira. Cabe destacar também a própria música, no caso o samba, como uma forma de expressar essa “brasilidade”.

    Em relação a popularidade do futebol no país, pode-se destacar como ponto principal a facilidade, simplicidade e acessibilidade na qual se pode praticá-lo e aplicar as regras. É muito comum crianças jogarem em qualquer lugar, como garagens, ruas, praias, corredores ou qualquer terreno baldio, para formar as goleiras, qualquer pedra, tênis ou mochila servem, e a bola pode ser de qualquer tamanho e peso. É impressionante o fascínio que esse esporte provoca ao verificar-se a fidelidade com que o torcedor mantém com seu clube, um laço muitas vezes eterno, onde mesmo nas armaguras dos maus resultados o torcedor acompanha seu clube, transformando as cores do clube em sua “segunda pele”.

    Dessa maneira o futebol torna-se o agente integrador na formação de círculos sociais e também possui papel fundamental na realização de sonhos e desejos, pois pode possibilitar a mudança de vida de muitas famílias. O fascínio provocado pelo esporte preferido dos brasileiros faz com que haja uma demanda muito grande de pais querendo fazer com que seus filhos joguem em escolas especializadas de futebol, a fim de serem melhor acompanhados no desenvolvimento deste maravilhoso esporte.

    Logo, o presente estudo tem por finalidades verificar (1) os motivos que mantém os atletas da categoria sub-13 praticando futebol na escolinha do C.E Aimoré e (2) também as razões que poderiam levá-los a desistir de jogar futebol na referida escolinha.

Metodologia

    O grupo de atletas onde foi efetuado o estudo é composto por 23 meninos de 13 anos de idade, participantes da categoria sub-13 (nascidos no ano de 1995), do Clube Esportivo Aimoré, da cidade de São Leopoldo, que treinam cerca de 3 vezes por semana. Todos são estudantes do ensino fundamental de São Leopoldo. O nível sócio-econômico dos pesquisados é diversificado, não havendo predominância de determinada classe social.

    A instituição C.E Aimoré é um clube de futebol tradicional do estado do RS, a fundação do clube é datada no dia 26 de março de 1936 e sua história sempre esteve ligada ao futebol. O C. E Aimoré é o único clube de futebol profissional da cidade de São Leopoldo e esse fator contribui para que o clube tenha enorme carinho e simpatia da sociedade leopoldense.

    O C. E. Aimoré com suas atividades voltadas ao futebol, proporciona a comunidade local uma opção de esporte e lazer, sendo as tardes de sábados e domingos um atrativo a mais oferecido a população. Atualmente o clube disputa o campeonato gaúcho da 2ª divisão na categoria profissional e as categorias de base disputam alguns torneios da região e município, todos na modalidade masculina.

Instrumento de coleta e análise de dados

    O instrumento utilizado para coleta de dados da pesquisa foi um questionário elaborado pelo professor Dr. Dietmar Samulski, responsável pelo laboratório de psicologia do esporte da Universidade Federal de Minas Gerais (PARASURAMAN, 1991).

    Este questionário está dividido em 03 (três ) partes: a primeira são 03 (três) questões abertas sobre os motivos que levam o aluno a iniciar no referido esporte; a segunda parte é onde está focado o objetivo da pesquisa, pois são 16 (dezesseis) fechadas sobre os motivos que as mantêm praticando o esporte e a terceira parte é composta por 18 (dezoito) questões fechadas correspondentes a possíveis motivos de abandono da modalidade esportiva.

    As questões fechadas estão caracterizadas por 04 (quatro) opções de resposta: (0) Sem Importância; (1) Pouca Importância; (2) Importante e (3) Decisivo.

    O questionário de questões fechadas é caracterizado por ser um instrumento na qual oportuniza algumas opções de resposta ao elemento pesquisado, dessa forma apenas uma opção de resposta pode ser validada (LAKATOS; MARCONE, 2000).

    O questionário foi aplicado aos 23 alunos para os alunos pertencentes a categoria sub-13 (nascidos no ano de 1995) da escolinha de futebol do C. E. Aimoré, que trouxeram a carta – consentimento devidamente assinada pelos pais e responsáveis. Os alunos responderam ao questionário no vestiário da categoria, durante o horário de treinamento.

    A seguir apresentam-se, a analise e a discussão dos resultados encontrados na pesquisa realizada através do Questionário de Motivação para Prática Esportiva.

    As questões em que encontraram-se as maiores médias, ou seja, as questões em que foram encontrados os maiores índices de motivação para continuarem praticando o futebol na escolinha foram: (1) o prazer pela prática esportiva com média de 2,65; (2) melhorar o desempenho esportivo com média de 2,60; (3) aprender novos movimentos e gostar de competir ambos com média de 2,43.

    As questões em que encontramos as menores médias, ou seja, as questões em que foram encontrados os menores índices de motivação para continuarem praticando o futebol na escolinha foram: (1) status social com média de 1,52; o reconhecimento por outras pessoas com a média de 1,78; e a questão para fazer novas amizades com a média de 1,95.

    Assim, conforme podemos observar na figura 01, os fatores motivacionais com valor médio de maior significado estão localizados à esquerda no gráfico e pela ordem de pontuação média em direção à direita os fatores de motivação vão diminuindo.

Gráfico 01. Fatores de motivos que mantém a prática esportiva

    Nesse gráfico pode se observar detalhadamente todas as médias de respostas dos 23 alunos, os valores com maior valor refletem os maiores índices de motivação para a prática do futebol por parte desses jovens atletas, enquanto os de menores valores demonstram os menores índices de motivação dos mesmos.

    Dessa forma é de suma importância ressaltar que os alunos desta categoria possuem como principal motivação nos treinamentos a busca pelo prazer da prática esportiva, esse item esta de acordo com o foco da escola, que visa em primeiro ponto a participação de forma prazerosa para o aluno. Conforme Scaglia (1995) o esporte quando praticado a nível de participação possibilita a aprendizagem em distinto nível técnico e físico.

    O futebol quando é desenvolvido na perspectiva da participação não exclui os alunos menos favorecidos tecnicamente. E, não há predominância específica de treinamentos sistemáticos como no esporte de rendimento, onde há predominância em relação a parte tática visando resultado, fato que muitas vezes acaba por criar diferenças de níveis de desenvolvimento técnico entre os alunos que acaba excluindo alguns. Certamente os alunos que procuram o futebol pelo prazer de praticar não querem participar de aulas onde haja predominância exercícios repetitivos e monótonos. Estes alunos querem ter uma aula mais dinâmica e jogada.

    Outros pontos relevantes que possuem papel importante em relação a motivação dos alunos é melhorar o desempenho esportivo, a aprendizagem de novos movimentos e o gostar de competir. O interesse pela qualificação da melhora do desempenho e a aprendizagem por novos movimentos relacionam-se entre si. E, mesmo aulas centradas no jogo, tem condições de melhorarem o desempenho esportivo dos alunos através de uma forma mais prazerosa. Cabe ressaltar também que nesta faixa etária as crianças estão envolvidas em um período de curiosidades e busca por novidades.

    Em relação ao gosto pela competição destaca-se conforme Estigarriba (2005 citado por Nunes, 2008) na qual afirma que a criança quando está envolvida no âmbito esportivo está vivenciando o espírito de grupo, a cooperação, a participação e outras mais ações positivas que o esporte proporciona.

    Entre os motivos de menor atenção motivacional, status social, reconhecimento de outras pessoas e fazer novas amizades, notamos que o grupo estudado não direciona suas atenções para os fatores relacionados a socialização através do esporte, nesse caso cabe recordar Meinberg (1990) na qual alerta que alguns críticos receiam pela privação da verdadeira infância por parte de crianças praticantes de esporte.

    As questões em que encontramos as maiores médias, ou seja, as questões em que foram encontrados os maiores índices de motivação para o abandono do futebol na escolinha foram: (1) Monotonia nos treinos, com média de 1,78; (2) a falta de apoio da federação com média de 1,73; (3) a falta de talento com média de 1,69.

    As questões em que encontramos as menores médias, ou seja, as questões em que foram encontrados os menores índices de motivação relacionados para o abandono da escolinha de futebol foram: (1) Falta de tempo para sair com amigos, com média de 0,82; (2) problemas de saúde, pressão para vencer: pais e treinadores e falta de segurança econômica com média de 1,13; (3) a falta de apoio familiar aparece com a média de 1,17.

Gráfico 02. Fatores de motivos de abandono do esporte

    No gráfico acima se observa em detalhe todas as média de respostas dos 23 alunos, os resultados com maior valor refletem os maiores índices de motivação para o abandono do futebol por parte dos jovens atletas, enquanto os de menores valores demonstram os menores índices de motivação para o abandono dos mesmos.

    Com base no gráfico nota-se que a monotonia nos treinos foi o item de maior poder de decisão em relação ao abandono da prática de futebol do grupo estudado. E este dado vai ao encontro do fator que mais motiva este mesmo grupo a praticar o futebol que é o prazer pela prática. Logo, os alunos demonstraram que desejam aulas dinâmicas, atrativas e prazerosas.

    Os itens Falta de apoio da federação/confederação, Falta de talento também revelam o perfil do grupo estudado, em relação a esse primeiro item podemos notar que os alunos sentem a necessidade de sentir-se apoiados em relação a organização de campeonatos e torneios, dessa forma há uma ponte com o fator de motivação em relação ao gostar de competir. De acordo com Korkansas (2002) as práticas esportivas oferecidas às crianças e jovens são manejadas por ações de adultos, havendo dessa forma ação da federação e confederações.

    Em referência a Falta de Talento cabe destacar que o baixo desempenho influi significativamente na motivação, pois ela está relacionada diretamente na direção de nossos esforços, energia e atitudes (VOSER 2000).

    Em relação as mais baixas médias de motivos para o abandono. Os fatores Falta de tempo para sair com amigos, problemas de saúde, pressão para vencer de pais e professores e falta de segurança econômica refletem de certa maneira uma despreocupação em relação a vida social, possuindo dessa forma uma relação direta com os baixos motivos que as mantêm praticando o esporte. Uma vez diagnosticado que o principal motivo que faz com que meus alunos continuem a praticar futebol na escolinha é o prazer pela prática, fica claro que minhas aulas devem continuar sendo bem dinâmicas e prazerosas. Ou seja, meus alunos gostam e sentem prazer em jogar futebol e isto me leva a crer que o modelo pedagógico a ser utilizado nas aulas deva ser o modelo centrado no jogo.

    No referido estudo também chamou a atenção que os status social e reconhecimento de outras pessoas, não foram predominantes. Acredito que isso demonstra que os alunos estão focados em melhorarem seus desempenhos e aprenderem novos movimentos para terem mais prazer em jogar futebol e não para buscarem algum tipo de ascensão social através do futebol.

    É notório que os alunos de futebol desde o momento que ingressam nas escolinhas buscam medir-se, auto–avaliarem-se através de jogos, torneios e campeonatos. Ficou também claro o gosto por competição e desafios. Dessa maneira caberá ao quadro de professores do C. E. Aimoré proporcionar condições e situações para que os alunos disputem torneios e campeonatos de futebol, a fim de mantê-los interessados e motivados.

    Sabe-se que para que uma escolinha de futebol tenha sucesso é necessário que os alunos participem de jogos e campeonatos. Ou seja, uma escolinha de futebol que não proporcione jogos e torneios para seus alunos está fadada ao insucesso.

    O objetivo principal de nossa escolinha do C. E. Aimoré é a formação e a participação dos alunos em um ambiente sadio e propício para a prática do futebol. Sabemos que devemos respeitar as faixas etária dos alunos, suas capacidades e limites. Enfim, devemos nos preocupar em evitar que o esporte possa trazer estresse e transtornos aos alunos.

    Foi possível observar através deste estudo os motivos que mantém os alunos da categoria sub-13 da escolinha do Aimoré a continuarem em sua prática esportiva, bem como os possíveis fatores que podem levá-los a abandonar o futebol.

    O principal fator de motivação encontrado entre os alunos da escolinha para que continuem a praticar o futebol foi o prazer pela prática do esporte. Os outros dois fatores mais citados foram a melhora do desempenho motor e a aprendizagem de novos movimentos. Entre os de menor relevância destacam-se os fatores status social, reconhecimento de outras pessoas e fazer novas amizades.

    Entre os possíveis fatores motivacionais referentes ao abandono por parte dos alunos, destacou-se o item monotonia nos treinos como principal fator, seguidos pela falta de apoio da federação/confederação e falta de talento como os principais. No que tange aos fatores motivacionais de menores médias referentes ao abandono destacaram-se os itens falta de tempo para sair com os amigos, problemas de saúde, pressão para vencer e a falta de segurança econômica com as menores médias.

    Através deste estudo pode-se certificar que o fazer profissional enquanto professor de futebol vai ao encontro dos objetivos dos alunos. E que, através do futebol voltado para a participação têm-se condições de educar e formar cidadãos utilizando o futebol como ferramenta principal.

• DAOLIO, Jucemar. Las contradicciones del fútbol brasileño. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 10, 1998. http://www.efdeportes.com/efd10/daolioe.htm

• LAKATOS, Eva maria; MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia Cientifica. 3. Ed São Paulo: Atlas. 2000. 289 p.

• MEINBERG, E. Para uma nova ética no esporte. In: BENTO, J.; MARQUES, A. (Orgs) Desporto, Ética, Sociedade. Porto: Universidade do Porto, 1990.

• NUNES, Juliana Bôdo. Especialização precoce no futsal: vantagens e desvantagens. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 120, 2008. http://www.efdeportes.com/efd120/especializacao-precoce-no-futsal.htm

• SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. Barueri – SP: Manole, 2002.

• SCAGLIA, Alcides José. Escolas de Esporte: uma questão pedagógica. Campinas, 1995. trabalho conclusão de curso (licenciado em Educação Física) – Faculdade de Educação Física, UNICAMP, 1995.

• VOSER, Rogério da Cunha. Futsal: Príncipios Técnicos e Táticos. Canoas: Ed Ulbra, 2003. 172 p.

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revista digital · Año 14 · N° 136 | Buenos Aires, Septiembre de 2009   © 1997-2009 Derechos reservados