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Aspectos fisiológicos do treinamento do tênis de campo

Aspectos fisiológicos del entrenamiento de tenis

 

*Mestrando em Ciências do Movimento Humano - UDESC

**Graduando em Educação Física – UDESC

(Brasil)

Leonardo De Lucca*

Mateus De Lucca**

leodelucca85@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O tênis de campo é uma modalidade individual com grande complexidade de exigências físicas. A presente revisão pretende apresentar aspectos fisiológicos do treinamento da modalidade e algumas tendências recentes quanto às caracterizações dos atletas, partidas e valências físicas requeridas para a performance. Para tal, buscamos estudos da modalidade de tênis de campo publicados nos periódicos de maior relevância das ciências do esporte. Os estudos sugerem a prescrição de treinamento de acordo com as ações específicas e respostas fisiológicas durante a partida e intervalos de recuperação. Além disso, valências como a força devem ser trabalhadas para melhora da performance e redução do risco de lesões.

          Unitermos: Tênis de campo. Aspectos fisiológicos. Treinamento

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 136 - Septiembre de 2009

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Introdução

    O tênis é um esporte baseado na imprevisibilidade. A imprevisibilidade da duração do ponto, seleção do golpe, estratégia, tempo de jogo, clima e o oponente influenciam as demandas fisiológicas da modalidade. O planejamento e orientação para o treinamento do tênis exigem o entendimento das variáveis fisiológicas determinantes da performance durante a partida. O tênis é composto de diversas ações que exigem energia de forma explosiva repetida dezenas, se não centenas de vezes durante o jogo. Ao contrário de outros esportes, o tênis não tem tempo limite para o seu término. Isso resulta na ocorrência de jogos que duram menos de uma hora e outros que duram mais de 5 horas. Portanto, essas variações requerem que o tenista de sucesso seja altamente treinado anaerobiamente para a realização das atividades durante o jogo e aerobiamente para melhorar a recuperação durante e após as partidas.

    Embora o tênis seja uma das modalidades mais populares do mundo, poucos estudos de revisão em língua portuguesa foram feitos para fornecer a cientistas do tênis, treinadores e jogadores um resumo das pesquisas recentes realizadas no contexto da modalidade. Esses estudos podem auxiliar na criação de programas de treinamento com o intuito de otimizar a performance e reduzir o risco de lesões.

    No presente trabalho utilizamos como base para o referencial teórico, artigos publicados em revistas internacionais com grande repercussão no meio do esporte. Abordamos separadamente as capacidades físicas exigidas, respostas fisiológicas e aspectos que influenciam tais respostas.

Análise da partida e duração dos pontos

    A maioria dos tenistas compete na forma onde o primeiro jogador a vencer dois sets vence a partida. No entanto, a duração desses sets é variável sendo em média 1 hora e meia. O tempo médio de duração dos rallies também varia substancialmente dependendo de vários fatores como: superfície da quadra, estratégia, estilo de jogo, ambiente, nível do jogo, velocidade do golpe e motivação. Os intervalos de recuperação durante partidas de alto nível têm sido analisados e mostraram grande variação (KOVACS, 2004)

    A maioria das partidas de alto nível apresenta razão entre trabalho e intervalo de recuperação de 1:2 e 1:5, com os pontos tendo duração média de 8 segundos e valores variando entre 3 e 15s nas superfícies mais rápidas como a grama, carpet e indoor (CHRISTMASS et al. 1998; HUGHES e CLARK, 1995). Para os autores esses valores podem ajudar na prescrição de treinamento dentro e fora de quadra para os tenistas.

    O estilo de jogo do tenista pode ter um grande impacto na duração dos pontos no tênis. O estudo de Bernardi, Devito e Falvo (1998) caracteriza os jogadores e fornece dados interessantes. Quando o jogador que tem o controle do rally for um atacante (bate forte na bola e tenta subir à rede consistentemente), a duração média dos pontos foi 4,8s. A duração do rally variou entre 6 e 11 segundos quando o jogador no controle do rally era um jogador de quadra inteira (que joga na linha de base mas vai à rede constantemente). Os pontos terminaram em media dentro de 15,7s quando o jogador controlador do rally era jogador de linha de base (joga a maioria dos pontos na linha de base e prefere não ir à rede). O percentual de tempo de bola em jogo em relação ao tempo total de jogo foi de aproximadamente 21% para os atacantes, 28,6% para os de quadra inteira e 38,5% para os de linha de base. Em um estudo mais recente, o percentual de tempo jogado durante a partida, em quadras pesadas, foi aproximadamente 20% (DOCHERTY, 1982). Os dados de Konig et al.(2001) e Faff et al. (2000) indicam que o tempo total jogado está somente entre 20% e 30% do tempo total da partida na maioria das ocasiões.

Respostas e requerimentos cardiorrespiratórios

    O consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx) é tipicamente utilizado como o melhor marcador da potência aeróbia e aptidão cardiorrespiratória. Nas partidas de tênis existe uma tendência de aumento do VO2 e Freqüência Cardíaca (FC) com o prosseguimento do jogo e diminuição durante os períodos de recuperação. Os valores de VO2máx de tenistas de alto nível competitivo tem variado entre 44 e 69m ml/kg/min, com a maioria dos valores maiores que 50 ml/kg/min (CHRISTMAS et al., 1994; CHRSTMAS et al., 1998). Esses valores de VO2máx classificariam os tenistas como sendo altamente treinados anaerobiamente. É interessante que os tenistas considerados como atacantes agressivos tiveram valores mais baixos de VO2 que os jogadores de linha de base (BERNARDI, DE VITO e FALVO, 1998). Essas informações podem ser aplicadas na elaboração de programas de treinamento especialmente para diferentes estilos de jogo.

    A FC é um método prático de monitorar a intensidade durante a prática. Durante 85 minutos de jogo, a FC de um grupo de tenistas colegiais foi registrada como sendo 144 ± 13.2 bpm (BERGERON, 1991) A FC e Frequência Cardíaca máxima de reserva (FCMaxres) foi consistente com o resultado de outros estudos, (Ellliott, Dawson e Pyke, 1985; Morgans et al., 1987) os quais indicam que a FC permanece significativamente aumentada acima dos níveis pré-exercício devido à variação de intensidade e natureza intermitente do esporte. Embora a FC seja um índice de fácil mensuração da intensidade do exercício, não se recomenda utilizá-la como uma única mensuração do metabolismo, pois poderia não representar a natureza fisiológica de um esporte intermitente como o tênis. A variação da FC e amplitude durante um jogo são devidas aos movimentos contínuos de parada e aceleração e à natureza explosiva do esporte.

    Alguns pesquisadores sugeriram que o tênis é um esporte aeróbio devido à longa duração e valores de FC média moderados durante o jogo (BERGERON et al. 1991). Entretanto, a natureza explosiva do saque e dos golpes, as mudanças rápidas de direção que requerem capacidade anaeróbia, e o requerimento de um alto percentual de fibras de contração rápida não representam atividades aeróbias. Autores como Kovacs (2006), tratam como equívoco a afirmação que o tênis é um esporte predominantemente aeróbio.e o classifica como uma atividade predominantemente anaeróbia requerendo alto nível de aptidão aeróbia para evitar a fadiga e auxiliar na recuperação entre os pontos.

Respostas perceptivas e metabólicas

    A análise do lactato sanguíneo fornece informações sensíveis acerca da demanda glicolítica e dos domínios fisiológicos de determinada intensidade de esforço. Mendes-Villanueva et al., (2009) analisaram a relação entre a resposta metabólica (através da concentração de lactato sanguíneo ([La]) e o esforço percebido (EP) e sua associação com variáveis que descrevem o jogo de tênis (duração do rally, tempo de recuperação, tempo de jogo efetivo e golpes por rally obtidas através de filmagem). Foram encontradas correlações entre [La] e EP além de correlação entre essas variáveis e golpes por rally e duração do rally no game de serviço. O EP e a [La] foram mais altos no game onde o tenista sacou do que no game onde recebia o saque adversário.

    Em outro delineamento de estudo, Reid et al., (2008) determinaram as respostas fisiológicas e características de golpes comuns em quadra através de exercícios de treinamento de tênis. Jogadores altamente treinados executaram 1 x 6 repetições de quatro exercícios que fazem parte da rotina de treinamento em duas ocasiões diferentes; 30:30 segundos (trabalho:descanso) e uma vez com 60:30 segundos. A FC, [La], distância percorrida pelo o jogador (GPS) e EP foram medidos antes do início de cada sessão e após a primeira e última repetição. Medidas de precisão e velocidade da bola após o impacto em cada exercício também foram coletadas. Foram observadas diferenças entre os exercícios nas [La] e EP durante (2.1-4.4 mmol/l; EP 2.6-5.1) e depois (4.4-10,6 mmol/l; EP: 4.3-7.6) dos exercícios. O aumento no tempo de trabalho (60 vs 30 segundos) produziu aumentos na [La] e EP.

    O EP e a [La] podem ser válidos na determinação da carga fisiológica em situações diversas durante a partida e os treinamentos. As [La] observadas sugerem importante participação do metabolismo anaeróbio em situações específicas com aumento do tempo de trabalho e curto intervalo relativo de recuperação que caracterizam a modalidade. Dessa forma, os treinadores têm subsídios para a elaboração do treinamento físico, tático, técnico.

Velocidade e agilidade

    O tênis tem sido descrito como um jogo de emergências contínuas, pois com todas as batidas do oponente a bola pode ter velocidades diferentes, diferentes tipos de efeitos e ser colocada em vários locais da quadra. Essas complexidades requerem que o tenista tenha tempo de reação rápido e velocidade explosiva para o primeiro passo. Esses atletas necessitam ter deslocamento excepcional de direção linear, lateral e em movimentos multidirecionais. Uma pesquisa prática testou a relação entre aceleração, velocidade máxima e agilidade em jogadores de futebol. Essas três variáveis parecem ser individuais e cada qualidade específica é dependente da outra (LITTLE e WILLIANS, 2005). Então, é importante treinar os tenistas em padrões de movimento específicos que são realizados durante os jogos. Se os princípios de especificidade são usados para delinear programas de treinamento seria sensato treinar os tenistas usando atividades de sprint que não seriam mais longas que a distância percorrida em cada golpe durante o ponto. Kovacs (2005) recomenda a realização de sprints de não mais que 20 metros em sessões de treinamento.

    Girard e Milllet (2009) analisaram as relações entre velocidade, rigidez de membros inferiores, potência explosiva e força muscular buscando determinar ainda a relação dessas valências com a performance competitiva de jovens tenistas. Foi observado que esses atributos têm relação forte com a performance e que existem assimetrias dessas variáveis quando foi feita análise intra-sujeitos. Portanto, é de suma importância que essas capacidade físicas sejam monitoradas regularmente durante a puberdade, pois o treinador pode modificar o programa para compensar esses desequilíbrios. Isso poderia ainda minimizar os riscos de lesões durante essa fase de maturação física, perído de importante evolução do atleta.

Força

    A força é requerida nos músculos e articulações para a performance (velocidade da bola), melhora e redução de lesões (proteção articular, ligamentar e tendínea). O contato sólido entre a raquete e a bola é necessário para a execução ótima do golpe, e isso é influenciado pela força de empunhadura. Um punho firme é necessário para que a cabeça da raquete não se perca no caminho pretendido sob a influência de altas velocidades angulares e torques (BEHM, 1998). Uma força de empunhadura máxima de 600 Newtons (N) foi relatada em tenistas de alto nível, assim como maior resistência de empunhadura comparada com não-tenistas. Kibler e Chandler (1989) também evidenciaram que a força de empunhadura (FE) e resistência de empunhadura (RE) não eram bem correlacionadas. Portanto, FE e RE devem ser testadas separadamente e treinadas de acordo.

    No saque, tem sido mostrado que a maior contribuição para a velocidade final da raquete foi em ordem de importância: rotação interna do braço, flexão do punho, adução horizontal do braço, pronação do braço e movimento do ombro para frente (ELLIOT et al., 1995). Dessa forma, o treinamento de força específico deve ser prescrito com base nas ações articulares e musculares hierárquica e harmonicamente para otimizar a performance e diminuir o risco de lesões agudas e crônicas.

Fadiga e performance

    Como os jogadores de tênis praticam e disputam partidas que duram horas, a fadiga é a maior consideração no delineamento de programas de treinamento. Estudos mostraram que a fadiga afeta os mecanismos do tenista reduzindo a velocidade da bola, possivelmente como um mecanismo de proteção contra lesões limitando largos alcances de movimento e forças numa posição biomecânica comprometida. A fadiga diminui a habilidade proprioceptiva podendo induzir a ação de mecanismos de proteção muito lentos em resposta à prevenção de lesões. A fadiga também afeta a sensação de movimento articular, diminui a performance atlética e aumenta a fadiga relacionada à disfunção no ombro (CARPENTER et al. 1998).

    À parte das conseqüências biomecânicas da fadiga, a função fisiológica e metabólica são também reduzidas devido à duração da recuperação e do stress fisiológico durante o exercício intermitente. Os decréscimos de potência ao longo do jogo têm sido relacionados à degradação contínua da fosfocreatina, o que aumenta a demanda da glicogenólise e glicólise, com aumentos na concentração de lactato muscular e sangüíneo resultando em diminuição no pH (FERRAUTI et al. 2001).

    Se o exercício intermitente de alta intensidade é imposto com períodos limitados de recuperação, isso levará a fadiga aumentada nos tenistas, e se esses estado persistir por mais de alguns dias isso pode levar a “overeaching” ou a síndrome de “overtraining”.

    A qualidade dos padrões de movimento e coordenação motora das ações específicas no tênis é dependente do stress fisiológico produzido durante curtos períodos de exercício intermitente. Pequenas mudanças no tempo de recuperação podem produzir grandes mudanças na performance. Ferrauti et al (2001) sugeriram que uma redução na velocidade de corrida resulta em uma má preparação do golpe levando a uma diminuição da velocidade do golpe (performance) assim como mudanças nas possíveis intenções de golpe. Portanto, é importante quando se está trabalhando a técnica aplicar a recuperação apropriada sendo essencial utilizar razão trabalho/recuperação que forneça ao atleta e ao treinador o ambiente certo e resultado ótimo. Quando se trabalha a habilidade técnica é importante ter recuperação maior que quando trabalhando movimentos específicos do tênis ou treinamento de sistemas energéticos específicos.

Suplementação com carboidratos

    Práticas nutricionais próprias são importantes para otimizar a performance no tênis. A importância dos carboidratos (CHO) como um substrato para o músculo esquelético em contração e função do sistema nervoso central, assim como a importância da concentração de glicose na performance de resistência já é bem conhecida. (KOVACS, 2006). Entretanto, os estudos do metabolismo de carboidratos e benefícios da ingestão dietética durante a prática do tênis e competições têm sido limitados. No entanto, como o tênis tem períodos semiestruturados de recuperação a cada 10-15 minutos, os jogadores têm a oportunidade e devem consumir fluidos e carboidratos regularmente.

    O American College of Sports Medicine (ACSM)(1996) e e o National Athletic Trainers Association (2000) recomendam que atletas deveriam consumir 20-60g/h CHO durante o exercício. O CHO pode ser em forma de glicose, sacarose e maltodextrinas. A frutose deveria ser limitada devido à possibilidade de desconforto gastrointestinal. Essa taxa de ingestão de CHO pode ser acompanhada de 600-1200ml/h de bebida com solução contendo 4-8% de CHO (4-8g/100ml).

    O decréscimo da disponibilidade de CHO leva à fadiga na atividade prolongada. Embora outros fatores possam ser intervenientes, a depleção do glicogênio muscular é um fator chave para o aparecimento de fadiga em exercício prolongado (Febraio e Dancey, 1999). Tem sido demonstrado que o trabalho por período prolongado (>90minutos) a 55 a 75% do VO2máx levará provavelmente a uma grande redução na glicose e glicogênio muscular. Foi já mostrado que os tenistas praticam e competem dentro dessa zona de consumo de oxigênio. (Christmas et al., 1998)

Conclusão

    A prescrição de atividades para o treinamento específico de tenistas deve levar em consideração aspectos como a duração das partidas, o tempo de bola em jogo, intensidade das ações específicas e respostas fisiológicas e perceptivas em determinadas situações tanto de jogo quanto de intervalo. Valências físicas como a força devem ser otimizadas para a melhora da performance com o retardo da fadiga e provável redução do risco de lesões.

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