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Avaliação do nível de estresse pré-competitivo em 

alunas de equipes escolares de voleibol feminino 

na faixa etária de 11 a 13 anos de idade

Evaluación del nivel de stress pre-competitivo en estudiantes de 

equipos escolares de voleibol femenino de edades de 11 a 13 años

 

*Bacharel em Psicologia e Educação Física

Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)

**Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP)

Docente da UniversidadePresbiteriana Mackenzie (UPM)

(Brasil)

Felipe Zaballa*

fezaballa@gmail.com

Raul Alves Ferreira Filho**

raulfilho@mackenzie.br

 

 

 

Resumo

          O esporte escolar infanto-juvenil é parte curricular de muitas instituições brasileiras. O estresse, por estar relacionado com a prática esportiva, se apresenta também entre as jovens atletas, portanto é ponto de atuação do profissional que se relaciona com a área escolar e esportiva. Com o objetivo de identificar o nível de estresse pré-competitivo em jovens atletas escolares que atuam no voleibol feminino (n: 34, de idade entre 11 e 13 anos), este estudo é uma pesquisa descritiva (THOMAS e NELSON, 2002; CRUZ, 2004), que conta com a aplicação da escala LSSPCI - Lista de Sintomas de Estresse Pré - Competitivo (DE ROSE JUNIOR, 1998). Para o tratamento estatístico foi utilizado o cálculo do Coeficiente Alfa de Cronbach, com o intuito de avaliar a consistência e validade da escala, e a média e desvio padrão, identificando o nível de estresse. Os resultados nos mostraram Alfa de 0.84 e a média das atletas focou em 2,88. Assim aferiu-se a validade da escala como ferramenta para avaliar o nível de estresse das atletas e verificou-se que as jovens alunas-atletas apresentam maiores conseqüências psicológicas às fisiológicas do estresse.

          Unitermos: Estresse pré-competitivo. Equipes escolares infanto-juvenis. Voleibol feminino

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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1.     Introdução

    Do ponto de vista das ciências do esporte, o estresse se define como uma “grande solicitação psíquica e/ou física, sentida como uma carga e que conduz a reações de defesas específicas para dominar a situação ameaçante” (GUILLÉN GARCÍA, 2006, p. 25). Assim é possível entender que o estresse, dentro do ponto de vista físico e psíquico, de forma isolada, não é capaz de levar o atleta à fadiga ou à exaustão psíquica, porém o seu acúmulo pode levar, sim, ao esgotamento do atleta ou à redução de seu desempenho (DE ROSE JUNIOR, 2002).

    Existe uma série de fatores que levam o atleta à redução de seu rendimento, principalmente à cobrança excessiva por parte dos pais e dos técnicos, porém, maior do que todas essas, é a autocobrança que leva o atleta ao maior nível de estresse. Como consequência, ocorre o abandono da prática esportiva e a perda de futuros atletas (BECKER JUNIOR, 2008; PIRES et al, 2005).

    Dessa forma, procura-se orientar pais, professores, técnicos e demais profissionais envolvidos com o esporte infanto-juvenil escolar sobre a importância da administração do estresse no desenvolvimento da personalidade do atleta, que não pode ser considerado de forma isolada, ou seja, ser visto apenas como uma ferramenta para chegar ao resultado esperado: a vitória em uma competição (BECKER JUNIOR, 2008). O atleta é mais do que um simples jogador, que pode ser substituído a qualquer momento. É um ser humano em desenvolvimento e deve ser respeitado como tal.

    Portanto, preocupar-se com esse fato e procurar produzir ferramentas científicas, que se possível, possam auxiliar no suporte e na manutenção dos adolescentes dentro do esporte, sem prejuízos ao desenvolvimento de sua personalidade torna-se imprescindível.

    Como forma de avaliar o nível de estresse pré-competitivo dos alunos-atletas, foi utilizada a Lista de sintomas de stress pré-competitivo infanto-juvenil (LSSPCI), validado por De Rose Junior (1998), que foi desenvolvida com o objetivo principal de elaborar e validar um instrumento específico para determinação da freqüência de ocorrência de sintomas de “estresse” pré-competitivo em atletas a partir de 10 anos de idade e que competem em eventos oficiais de nível municipal, regional, estadual, nacional e internacional.

1.1.     Objetivo do estudo

    O objetivo principal desta pesquisa foi avaliar o nível de estresse pré-competitivo em alunas de equipes escolares de voleibol feminino, na faixa etária de 11 a 13 anos de idade, de uma instituição de ensino privada do Estado de São Paulo, que participaram de competições escolares. A partir disso, buscou-se ferramentas para auxiliar todos aqueles envolvidos com o esporte de base em instituições de ensino público ou privado.

1.2.     Importância do problema

    Dentro de uma visão de curto prazo, os adolescentes são os que mais se aproximam de nosso futuro. Serão nossos próximos políticos, médicos, policiais, padres e pastores, advogados, profissionais de Educação Física, atletas de elite e assim por diante. Destes, algumas centenas de milhões estão envolvidos com atividades esportivas no mundo (BECKER JUNIOR, 2000). Ou seja, é preciso dimensionar e, se possível, saber o tamanho do impacto do estresse sobre a formação desses futuros atletas e futuros cidadãos de nosso planeta.

    O estresse, por si só (administrado/controlado), é benéfico, pois prepara a pessoa para uma situação nova, auxiliando no desenvolvimento humano. O problema instala-se quando ocorre uma sobrecarga de estresse, levando a sérios fatores como: esgotamento psíquico e físico, desistência do esporte, além da possibilidade de desenvolver uma série de sintomas fisiológicos e psicológicos advindos do estresse.

    Assim sendo, o estudo preocupou-se com a formação esportiva no ambiente escolar, mas, principalmente, com o ser humano em plena fase de desenvolvimento.

1.3.     Delimitação

    O presente estudo limitou-se a avaliar o nível de estresse pré-competitivo de alunas participantes de equipes escolares da modalidade voleibol feminino e que disputaram competições escolares, na faixa etária entre 11 e 13 anos de idade, especificamente na cidade de São Paulo.

1.4.     Hipóteses ou questões

  • H1: Jovens atletas escolares, do gênero feminino, apresentam altos níveis de estresse pré-competitivo?

  • H2: As jovens atletas escolares apresentam mais sintomas de estresse psicológico do que comportamentais e fisiológicos?

2.     Revisão de literatura

2.1.     Estresse

    Até o século XII o termo estresse era utilizado com o significado de aflição e adversidade Lazarus e Lazarus (1994 apud LIPP, 2003). A partir de então a palavra passa a ser usada para denotar o “complexo fenômeno de tensão-anguústia-desconforto tão característico da sociedade atual” (p.17). Porém, somente no século XX o termo passou a ser identificado como o conjunto de reações não específicas frente a situações que causam angústia e tristeza. Esse termo passou a ser conhecido como “síndrome geral de adaptação” ou “síndrome do estresse biológico” (p.17). Com essa nova definição, o estresse passou a fazer parte da literatura médica, como é conhecido até hoje Selye (1926 apud LIPP, 2003). O termo passou, em 1939, a significar a quebra da homeostase do organismo, desequilibrando os processos fisiológicos do mesmo Selye (1939 apud LIPP, 2003). Porém, atualmente o termo ESTRESSE está sendo utilizado tanto para descrever os estímulos que geram essa quebra como a resposta comportamental criada por esse desequilíbrio. Portanto, passa-se a existir um problema conceitual, já que o termo passa a ser condição, causa ou estímulo desencadeante de uma reação do organismo (JEWELL e MYLANDER, 1988 apud LIPP, 2003).

    Segundo Rivolier (1999 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006, p.25),

    “O estresse é definido pelas Ciências Médicas como: o estado de tensão excessivo resultante de uma ação brusca ou continuada para o organismo. Em Ciências do Esporte, se define como: grande solicitação psíquica e/ou física, vivida como uma carga e que conduz a reações de defesa específicas para dominar a situação ameaçadora. E, desde o ponto de vista psicológico, se entende como: um conjunto de manifestações gerais não-específicas como resposta por uma demanda qualquer do ambiente, incluindo o psicossocial”.

    Segundo Lipp e Malagris (2001 apud LIPP, 2003), o estresse é um processo que se desenvolve de acordo com etapas, sendo possível estar desde um nível baixo de perturbação como num nível avançado de desequilíbrio. Assim, defende que o estresse é “uma reação psicofisiológica muito complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer face a algo que ameace sua homeostase interna” (p.18).

    Juba (1986 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) destaca que os pais são uma das principais fontes de estresse. Assim como eles, os técnicos ou treinadores são também uma das principais fontes de estresse, seja com suas relações inadequadas com os atletas ou companheiros, seja com suas atitudes e posturas, os mesmos podem afetar diretamente o desempenho de seu atleta, assim como gerar níveis elevados de estresse nos mesmos (GUILLÉN GARCÍA, 2006; DE ROSE JUNIOR et al, 2001; BECKER JUNIOR, 2000). Porém, para De Rose Junior (2002) o fator que apresenta o maior número de situações causadoras de estresse é a própria situação de jogo ou competição.

    Para Cockley (1992 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006), talvez não seja o esporte em si que gere o estresse senão a estrutura social do esporte competitivo. Portanto, sabe-se que os fatores que predispõe ao estresse podem ser múltiplos no plano esportivo e vão desde as variáveis negativas, que rodeiam o contexto esportivo (competições, horas de treinamento, disciplina do mesmo, etc.), assim como manter com o treinador uma relação negativa, praticar esportes individuais, não dar tanta importância ao esporte em suas vidas e suportar mal as relações sociais que se estabelecem no esporte (FAYOS, 1994 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Parece que as situações gerais que provocam o estresse são todas aquelas nas quais existem dúvidas, nas situações recentes e de mudanças, nas quais exigem urgência, nas quais existe falta ou excesso de informação e nas que faltam condutas para fazer frente e conduzir a situação. Entre esses determinantes também se encontrarão as situações onde existe um treinamento pesado, existe frustração no esporte, há uma modificação ocupacional ou de tarefa, o ambiente físico é inadequado e as relações interpessoais são pobres. Todos esses são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do estresse (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Certos autores, como Gould (1993 apud GUILLÉN GARCÍA), concluem que o perfeccionismo, a necessidade de aceitação por parte dos demais, a não assertividade e o autoconceito só através do esporte, são também fatores que provocam estresse.

    O estresse psíquico no esporte pode ser definido como uma situação vivenciada percebida de forma subjetiva pelo atleta, que tem um caráter de ameaça em função de sua interação com o ambiente (SAMULSKI, 1992 apud GOUVÊA et al, 2007), sendo essa avaliação essencialmente individual. O estresse sempre se manifesta quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e/ou psicológicas e a capacidade de resposta, e normalmente tem fontes situacionais e pessoais (WEINBERG e GOULD, 2001 apud GOUVÊA et al, 2007).

    De acordo com Barbosa e Cruz (1997 apud BATISTA et al, 2007) no esporte o estresse ocorre independente da idade, sexo, posição específica ou nível competitivo dos atletas.

    Estudos parecem indicar que os esportes individuais geram mais estresse que nos esportes de equipe (SIMON e MARTENS, 1979 apud GUILLÉN GARCIA, 2006). Parece claro que quando se pertence a um grupo a responsabilidade se dilui entre os membros desse grupo, enquanto que quando o sujeito afronta sozinho uma situação determinada a responsabilidade assumida é maior (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Para Lazarus e Folkman (1984 apud LIPP, 2003), características da personalidade determinam como as pessoas responderão aos agentes estressores, podendo desenvolver ou não o estresse. Para LIPP (2003, p.18),

    “No início do processo, o estresse manifesta-se de modo bastante universal, com o aparecimento de taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de estar em alerta. Mais adiante no seu desenvolvimento, diferenças se manifestam de acordo com as predisposições genéticas do indivíduo potencializadas pelo enfraquecimento desenvolvido no decorrer da vida em conseqüência de acidentes ou doenças”.

    Segundo Guillén García (2006, p.30), o estresse apresenta suas conseqüências em três aspectos: fisiológicos, comportamentais e psicológicos. Os quadros abaixo apresentam algumas dessas conseqüências (TABELAS I, II e III).

Tabela I. Consequências fisiológicas do estresse

Aumento da taxa cardíaca.

Aumento da pressão sangüínea.

Maior sudorese.

Aumento da atividade cerebral.

Dilatação das pupilas.

Aumento dos níveis de respiração.

Aumento da tensão muscular.

Aumento da taxa de glicose sangüínea.

Aumento da freqüência de micção.

“Boca pastosa”

Aumento da secreção de adrenalina.

Vermelhidão.

Hiperventilação.

Diarréia.

Náuseas

Vômitos.

Mal estar estomacal.

Retesamento das mãos e pés.

 

Adaptado de GUILLÉN GARCIA (2006, p. 30)

 

Tabela II. Consequências psicológicas do estresse

Preocupação.

Estreitamento da atenção.

Descontrole sobre a atenção periférica.

Sentimento de agonia e confusão.

Sentir-se sem controle.

Incapacidade para tomar decisões.

Distorção visual.

Diminuição da flexibilidade mental.

Maior número de pensamentos negativos.

Incapacidade para se concentrar.

Esquecimento de detalhes. Irritabilidade.

Menor capacidade de concentrar-se na atuação.

Recorrer a antigos hábitos.

Sensação de fadiga.

Distorção da voz.

Precipitação de atos.

Atenção voltada a sentimentos pessoais e vivências internas.

Adaptado de GUILLÉN GARCIA (2006, p. 30)

 

Tabela III. Consequências comportamentais do estresse

Rápidos movimentos com os pés.

Aumento da freqüência do piscar.

Bocejos constantes.

Tremedeira.

Andar de um lado para o outro.

Roer unhas, etc.

Adaptado de GUILLÉN GARCIA (2006, p. 30)

    Em 1956 Selye (apud LIPP, 2003) propôs o modelo trifásico do estresse. Porém, em 2000, Lipp reformulou o modelo, alterando-o para quadrifásico. A nova proposta de Lipp (2000 apud LIPP, 2003) desenvolveu o processo de estresse da seguinte maneira: Fase de alerta, fase de resistência, fase de quase-exaustão e fase de exaustão. A seguir, mostra-se a seqüência de forma mais detalhada, segundo Lipp (2000 apud LIPP, 2003, p.19-20):

    Fase de Alerta

Neste estágio do desenvolvimento do estresse, a pessoa necessita produzir mais força e energia a fim de poder fazer face ao que está exigindo dela um esforço maior. O processo auto-regulatório se inicia com um desafio ou ameaça percebida. O mecanismo de luta ou fuga Cannon (1939) ativa a produção de noradrenalina pelo sistema nervoso simpático e adrenalina pela medula da supra-renal. As células do córtex das supra-renais descarregam seus grânulos de secreção hormonal na corrente sangüínea, com isso ocorrendo o gasto das reservas de hormônio das glândulas. Nessa fase, há a dilatação do córtex da supra-renal e o sangue se torna mais concentrado. As mudanças hormonais que resultam na fase de alerta contribuem para que haja aumento de motivação, entusiasmo e energia, o que pode, desde que não excessivo, gerar maior produtividade no ser humano, conforme mencionado por Lipp e Malagris (1995). Existe, no entanto, sempre uma quebra na homeostase nesta fase, pois o esforço maior despendido não visa à manutenção da harmonia anterior, mas, sim, ao enfrentamento da situação desafiadora.

    Fase de Resistência

Neste estágio, ocorre um aumento na capacidade de resistência acima do normal, o córtex das supra-renais acumula grande quantidade de grânulos de secreção hormonal segregados e, com isso, o sangue se apresenta diluído. Lipp e Malagris (1995) enfatizam que, nesta fase, há sempre uma busca pelo reequilíbrio, acarretando uma utilização grande de energia, o que pode gerar uma sensação de desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória, dentre outras conseqüências. A falta de memória é sinal de que a demanda ultrapassou a capacidade da pessoa lidar com a situação presente. A homeostase, quebrada na fase de alerta, volta a ocorrer, pelo menos temporariamente. Quanto maior é o esforço que a pessoa faz para se adaptar e restabelecer a harmonia interior, maior é o desgaste do organismo. Quando o organismo consegue proceder a uma adaptação completa e resistir ao estressor adequadamente, o processo de stress se interrompe sem seqüelas.

    Fase de Quase-Exaustão

Neste ponto do processo o stress evolui para a fase de quase-exaustão quando as defesas do organismo começam a ceder e ele já não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior. Há momentos em que ele consegue resistir e se sente razoavelmente bem e outros em que ele não consegue mais. É comum nesta fase a pessoa sentir que oscila entre momentos de bem-estar e tranqüilidade e momentos de desconforto, cansaço e ansiedade. Algumas doenças começam a surgir demonstrando que a resistência já não está tão eficaz.

    Fase de Exaustão

Neste estágio, há uma quebra total da resistência e alguns sintomas que aparecem são semelhantes aos da fase de alarme, embora sua magnitude seja muito maior. Há um aumento das estruturas linfáticas, exaustão psicológica em forma de depressão e exaustão física, na forma de doenças que começam a aparecer, podendo ocorrer a morte como resultado final. A fase de exaustão, embora bastante grave, não é, necessariamente, irreversível desde que afete unicamente partes do corpo.

    O estresse, em excesso, pode produzir uma série de conseqüências negativas para o individuo, para a família, trabalho e comunidade. Em âmbitos psicológicos é capaz de gerar cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. Há também quedas de produtividade, criatividade, autodúvidas causadas pela percepção de desempenho insatisfatório, crises de ansiedade e humor depressivo, redução da libido e problemas de ordem física com origem emocional se manifestam. Assim, a qualidade de vida sofre um dano bastante pronunciado (LIPP, 2003).

    Quando prolongado, o estresse afeta diretamente o sistema imunológico, reduzindo a resistências às infecções e doenças contagiosas. Além disso, doenças latentes, como úlcera, hipertensão, diabete, problemas dermatológicos, alergias, impotência sexual, enxaquecas e obesidades podem ser desencadeadas (LIPP, 2003). Assim, observando a sociedade e a família, seres humanos afetados pelo estresse tornam-se pouco produtivos e mais suscetíveis a erros, doenças e outros fatores que podem afetar toda a comunidade.

    Uma vez que a relação entre o esporte competitivo e o estresse é considerada importante para se entender determinados comportamentos que podem afetar o desempenho dos atletas, estudar instrumentos que possibilitam analisar esta relação é fundamental (SANCHES et al, 2004).

2.2.     A competição como fonte de estresse no esporte infantil escolar

    De um ponto de vista simples, segundo De Rose Junior (2002), a competição seria considerada a busca pela vitória, através do confronto entre equipes ou atletas. Enquanto o próprio De Rose Junior (2002, p.20) diz que competir significa:

    “Enfrentar desafios e demandas que podem, de acordo com muitos aspectos individuais e situacionais, representar uma considerável fonte de estresse para os atletas, dependendo de seus atributos físicos, técnicos e psicológicos”.

    Assim sugere que a competição pode representar uma fonte geradora de estresse, independente do esporte praticado ou do nível de habilidade do atleta, porém que depende das condições físicas, psicológicas e técnicas de cada atleta. E é através de seu processo, envolvido por múltiplas facetas que se interagem, que se proporcionam as melhores condições para a atuação do atleta.

    De Rose Junior (2002) também afirma que cada modalidade se difere em métodos de preparação e em necessidades físicas, técnicas, táticas e psicológicas, porém todas contêm como foco a competição.

    “A competição esportiva tem o significado de desafio e luta e é a forma máxima de expressão do esporte como fenômeno cultural e social”. E é na competição que se verifica a sua complexidade, pois exige do atleta um grande esforço, dedicação, preparação, sacrifício, entrega e disposição para continuar, mesmo com suas adversidades: é através dela que se conhecem os vencedores e os derrotados (DE ROSE JUNIOR, 2002, p. 20). Porém a competição é algo social e reflete os valores e objetos sociais. Desse ponto de vista, diz-se que a competição é sinônimo de sobrevivência, pois atua em todos os setores da vida de uma pessoa: família, escola e trabalho. Porém é no esporte que apresenta maior evidência, principalmente devido à importância e à divulgação do esporte no atual contexto social. Assim, a contradição nas formas de comunicação deixa as crianças muito inseguras e mal preparadas para a próxima competição esportiva (BECKER JUNIOR, 2000).

    Há um modelo sobre, criado por Martens (1970 apud DE ROSE JUNIOR, 2002), que destaca quatro pontos importantes na competição: Situação Competitiva Objetiva (SCO), Situação Competitiva Subjetiva (SCS), Respostas (RES), Conseqüências (CON). E, com base na interrelação entre esses quatro componentes, somado à ação de fatores intrapessoais, que se entende, como um processo complexo, a competição. A mesma exige do atleta “requisitos fundamentais para a obtenção do sucesso desejado que, muitas vezes, pode levá-lo a vivenciar situações provocadoras de estresse que poderão afetar significativamente seu desempenho” (DE ROSE JUNIOR, 2002, p.21). Nesse fato, Guillén García (2006) afirma que o baixo rendimento esportivo também é reflexo do estresse.

    De Rose Junior (2002, p.21) ainda destaca que “toda competição, em qualquer nível, apresenta quatro aspectos que são evidenciados a todo o momento: Confronto, Demonstração, Comparação e Avaliação”. E, portanto, no processo competitivo, o atleta recebe uma série de observações, julgamentos e opiniões, que podem criar objetivos, pressões e expectativas inadequadas para o seu desenvolvimento enquanto atleta. Ainda assim, “pressupõe-se que ele deva superar os mais elevados níveis de exigência, sejam eles físicos, técnicos, táticos ou psicológicos” (DE ROSE JUNIOR, 2002, p.21).

    Para De Rose Junior (2002), muitos atletas convivem de forma saudável com o processo competitivo e o estresse inerente ao mesmo. Revela ainda que níveis elevados de estresse podem afetar o desempenho do atleta de forma negativa, porém isso depende da avaliação do atleta sobre todo o processo competitivo.

    De Rose Junior (2002, p.23) apontou algumas situações como as maiores causadores de estresse:

    “Inexperiência no começo da carreira; medo de decepcionar as pessoas; futuros contratos; definição irreal de objetivos; necessidade de sempre jogar bem para estar no topo; autocobrança exagerada; ter que provar o valor a todo o momento; estar mal preparado fisicamente; falta de repouso e contusões ao longo da carreira”.

    Além disso, o próprio De Rose Junior (2002, p.24) estudou os quatro esportes de quadra (voleibol, futebol de salão, handebol e basquetebol) e destacou os seguintes fatores:

    “Cometer erros que provocam a derrota individual ou da equipe; autocobrança exagerada; perder jogo praticamente ganho; perder para adversário ou equipe tecnicamente mais fraco; cometer erros em momentos decisivos; erros de arbitragem que prejudicam o atleta ou a equipe; companheiro egoísta; companheiro que reclama muito; companheiro que não se esforça; técnico que só critica; técnico que não reconhece o esforço do jogador; técnico que só enxerga o lado negativo; fofocas no grupo; inveja; diferença de tratamento por parte do técnico”.

    De qualquer forma, De Rose Junior (2002) afirma que em qualquer nível, o atleta se preocupa como sua atuação específica pode contribuir para o sucesso e com o resultado final.

    Segundo o autor, a competição como desafio pode, ainda, tornar-se uma ameaça ao atleta. Isso dependerá exclusivamente de suas características individuais.

2.3.     O estresse dos jovens atletas escolares

    Na atualidade a pratica esportiva das crianças e jovens se encontra caracterizada também por uma excessiva ênfase na competição e nos resultados. Essa ênfase por resultado tem sido trasladada, consciente ou inconscientemente, pelos meios de comunicação aos pais, treinadores, técnicos e pelas próprias crianças e adolescentes. A extrema valorização da vitória faz com que as competições escolares e o esporte infantil e/ou juvenil resultem estressantes, já que nas mesmas se está primando os resultados sobre qualquer outro prisma (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Skubic (1956 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) cita um estudo na qual os principais motivos para jogadores infantis e juvenis procurarem e participarem dos esportes seriam: conhecer outras crianças, se divertir, falta de oportunidades para brincar, desenvolver o sentido de esportividade e melhorar as habilidades específicas do esporte. Três décadas depois, em outro estudo de Gill, Gross e Huddleston (1983 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) informam que os motivos das crianças e adolescentes, à procura e participação no esporte, não se modificaram. Também Haubenstricker (1978 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) estudou, em 11 esportes, jovens e encontrou os mesmos resultados (diversão, melhoria das habilidades, estarem em forma e fazer novas amizades). Além disso, surgiram outros muitos estudos, em diversas regiões geográficas distintas (como EUA, Inglaterra, Austrália, Itália, Rússia, Israel e Espanha), sobre o tema e em todos se constataram os mesmos resultados (GUILLÉN GARCÍA, 2006)

    Por último, indicar que vários estudos sugerem que o esporte juvenil não provoca mais ansiedade que outras atividades dos adolescentes, como provas escolares, competição entre as turmas, etc.. Nesse sentido, estamos de acordo com o afirmado, sempre que essa prática esportiva for correta e os adolescentes não se sintam pressionados por alguns dos múltiplos aspectos destacados (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Segundo SULLIVAN e ANDERSON (2004, p.108), pesquisas indicam que “a maioria das crianças que praticam esportes não sofre de estresse excessivo”. Assim indica-se que as crianças não devem ser estimuladas a praticar esportes, sem que se preocupe com o estresse das competições. Ainda assim, dizem que há pesquisas que indicam que o estresse excessivo pode ser maléfico para as crianças em situações específicas. É de se imaginar que se só 10% de crianças sofrerem de estresse excessivo, “isso pode representar milhões de crianças em todos os EUA” (p.108).

    Foram destacados alguns fatores pessoais e circunstanciais, com o objetivo de auxiliar na redução do estresse no esporte. Segundo SULLIVAN e ANDERSON (2004, p. 109), esses fatores são:

Tabela IV. Características da criança com risco de estresse durante uma competição

Características pessoais

Características da situação

1. Predisposição à ansiedade (uma característica de personalidade que predispõe a criança a ver a competição e a avaliação social como uma ameaça).

2. Baixa auto-estima.

3. Personalidade perfeccionista.

4. Baixa expectativa quanto à performance da equipe.

5. Baixa expectativa quanto à própria performance.

6. Preocupação freqüente com o insucesso.

7. Preocupação freqüente com a expectativa dos adultos e a avaliação social dos outros.

8. Pequeno sentimento de diversão.

9. Insatisfação com seu desempenho, independentemente da vitória ou derrota.

10. Preocupação com a importância dada pelos pais quanto à participação esportiva.

11. Ter como foco principal a possibilidade de vitória ou derrota, e não o desenvolvimento com a atividade.

1. Derrota ou vitória – crianças que sofrem mais estresse após a derrota que após a vitória.

 

2. Importância do evento – quanto maior a importância da competição, maior o estado de ansiedade do atleta.

 

3. Tipo de esporte – esportes individuais são mais estressantes que os esportes coletivos.

 

Adaptado de Weinberg @ Gould (1995 Apud Sullivan E. Anderson, 2004)

    Segundo Sullivan e Anderson (2004, p. 108),

    “para auxiliar as crianças com estresse ou que apresentam altos riscos de vivenciar essa condição, os pais e técnicos precisam ser educados sobre as situações que criam estresse para os atletas jovens e quais estratégias são eficazes para reduzi-lo. Um ambiente esportivo positivo, sem críticas negativas, pode reforçar a confiança e prazer ao mesmo tempo em que reduz o estresse”.

    Também deve-se reduzir a cobrança sobre a importância da vitória e adaptar técnica de redução de ansiedade nos adultos, que estão diretamente relacionados com o esporte juvenil, reduzindo o estresse dos jovens atletas (SULLIVAN e ANDERSON, 2004).

2.4.     Estresse no voleibol escolar infanto-juvenil

    Entre os vários fatores psicológicos que fazem parte do contexto de uma equipe, o estresse é considerado um fator preponderante para o desempenho (DE ROSE JUNIOR et al, 2001), mas é preciso considerar também a influência da motivação, da coesão de grupo, da experiência, da autoconfiança (Pujals, 2002 apud GOUVÊA et al, 2007) as relações do indivíduo com o grupo e dos membros entre si, das formas de liderança (LOPES et al, 2004 apud GOUVÊA et al, 2007).

    As vitórias obtidas durante a competição se mostraram, naturalmente, algo importante para a confiança e coesão do grupo. Porém, no esporte não se vive apenas de vitórias, e as derrotas são algo que deve ser esperado e, mais do que isso, é preciso saber lidar com elas (GOUVÊA et al, 2007).

    Os jogos são atividades ricas em situações imprevistas nas quais o indivíduo que joga tem que responder prontamente, assumindo responsabilidades e riscos no resultado da partida. O comportamento dos jogadores é determinado pela interação complexa de vários fatores de natureza psíquica, física, técnica e tática. Numa equipe de voleibol, assim como em qualquer esporte coletivo, os atletas estão sempre sujeitos a estes fatores, os quais podem se transformar em situações estressantes que acabam influenciando no desempenho destes atletas. Segundo Weinberg e Gould (2001 apud BATISTA et al, 2007), isso acontece porque o estresse é causado pelo desequilíbrio entre as demandas físicas ou psicológicas e a capacidade de resposta.

    Existem vários fatores psicológicos que estão inseridos no cotidiano de uma equipe desportiva como dinheiro, família, amigos, estresse entre outros. Segundo De Rose Junior et al (2001 apud BATISTA et al, 2007), dentre os fatores acima citados, o estresse é o que mais influencia sobre o desempenho, porém, é preciso levar em consideração a influência da motivação, da experiência, da autoconfiança, das formas de liderança, da coesão de grupo, das relações do indivíduo com este grupo e dos membros entre si, bem como a atenção e a concentração necessárias para responder as demandas da complexidade dos aspectos táticos dos desportos coletivos.

    Realizado um estudo e baseando-se na amostra, Batista et al (2007) concluíram que as condições de estresse psíquico que mais apresentaram níveis de carga psíquica em atletas de voleibol universitário de ambos os gêneros foi a integridade física.

    Lidar com as situações provocadoras de estresse e manter os níveis adequados de ansiedade são fundamentais para a manutenção de um estado aceitável que permita ao atleta, além de desempenhar em níveis apropriados, tomar decisões importantes em diferentes momentos do jogo (DE ROSE JUNIOR et al, 2001).

    Imagina-se também que atletas em início de carreira, apesar de participarem de eventos menos tensos e com conseqüências não tão importantes, tenham dificuldades em lidar com as situações do contexto competitivo ou externas a ele e que levem a um desempenho inadequado, exatamente pela falta de experiência (DE ROSE JUNIOR et al, 2001).

    O resultado que mostra as meninas com maior nível de estresse em relação aos meninos é confirmado por outros estudos que compararam variáveis psicológicas entre os sexos, especialmente o estresse e ansiedade. Alguns estudos realizados com atletas brasileiros, na mesma faixa etária, apontam que os níveis de estresse e ansiedade são, naturalmente, maiores nas meninas devido a fatores inerentes à própria estrutura dos sexos e também a fatores sociais. É muito comum que a mulher sofra determinadas pressões quando pratica esportes, porque esta ainda é uma atividade muito relacionada ao sexo masculino. Isto faz com que as mulheres tenham que demonstrar mais enfaticamente sua capacidade competitiva. Outro fator que se considera é que a mulher expressa de forma mais sincera seus sentimentos do que o homem, principalmente aqueles relacionados a preocupações, fraquezas e medos (DE ROSE JUNIOR et al, 2001).

2.5.     A criança no esporte escolar

    Segundo Gould (1987 apud BECKER JUNIOR, 2000), algumas centenas de milhões de crianças no mundo estão envolvidas em atividades esportivas. Portanto, a relevância sobre a influência do esporte competitivo sobre a criança é notória, já que futuramente as mesmas comandarão nosso mundo (BECKER JUNIOR, 2000). E nas últimas décadas, uma série de estudos apontou prejuízos que o esporte competitivo tem causado às crianças (BECKER JUNIOR, 2000).

    De acordo com Lewkon e Ewing (1980 apud BECKER JUNIOR, 2000) o pai são as figuras de maior influência para o ingresso da criança no esporte, comparado a outras pessoas da família e a própria escola. E outro fator importante para a participação da criança no esporte é a própria conduta dos pais (HELLSTEDT, 1987 apud BECKER JUNIOR, 2008). Como as pessoas mais próximas dela têm importância em situações de estresse, supõe-se que os pais devem manter um apoio incondicional nestes momentos (MILLS e CLARK, 1982 apud BECKER JUNIOR, 2000). Para isso, o clima ideal na família seria aquele em que a criança fosse recebida sempre com afeto, após as competições, independente do resultado alcançado (BECKER JUNIOR, 2000). Segundo Hellstedt (1987 apud BECKER JUNIOR, 2000, p.2) “os resultados evidenciam que o apoio emocional dos adultos, especialmente dos pais, influencia na qualidade da participação daqueles jovens no esporte”.

    Algumas crianças que estão vencendo suas competições em vários esportes (tênis, ginástica artística, natação, esgrima e ginástica rítmica) e quando notam a presença de seus pais no ambiente, apresentam aumento de seus níveis de ansiedade e algumas perdem o equilíbrio emocional com redução radical no seu rendimento (BECKER JUNIOR, 2000).

    Alguns pais são inadequados fazendo gestos de total desaprovação frente a estas. Ao final eles ainda recriminam seu filho sobre aquelas ações. Estes pais, de acordo com Cohn (1990 apud BECKER JUNIOR, 2000) são percebidos pelos filhos como um estresse significativo. Brustad (1988 apud BECKER JUNIOR, 2000) verificou entre crianças praticantes de basquetebol que nas temporadas em que não jogavam bem, havia mais pressão de seus pais para que aumentassem seu rendimento esportivo.

    Segundo Mills e Clark (1982 apud BECKER JUNIOR, 2000), os pais são as pessoas que dão mais apoio incondicional a seus filhos numa situação estressante.

    Pierce e Stratton (1981 apud BECKER JUNIOR, 2000), ao examinar 543 jovens, verificaram que as principais preocupações durante a prática desportiva eram: não jogar bem (63,3%) erros nas ações (62,5%) pressões de treinadores (24,9%), pressões de colegas (24,7%) e pressões de pais (11,2%).

    Uma prática muito freqüente aos treinadores do esporte infantil é criticar de maneira dura a criança que comete um erro técnico ou tático durante o treinamento ou na competição (SMITH et al, 1979 apud BECKER JUNIOR, 2000; Smoll & Curtis, 1979). Outras ações do treinador podem determinar um estresse forte à criança que pratica esporte como: não dar atenção quando ela necessita ajuda; não permitir que a criança integre a equipe no treino ou competição; não reconhecer o seu esforço; mostrar que não valoriza as crianças com menor habilidade (BECKER JUNIOR, 2000).

    A situação mais crucial, geradora de inúmeros conflitos entre o treinador e as crianças, geralmente ocorre após competições com derrotas e fracassos individuais entre os membros da equipe derrotada. Neste momento em que o treinador deveria ser aquela pessoa com equilíbrio para providenciar apoio aos seus atletas derrotados, vários perdem o equilíbrio emocional e agridem verbalmente os seus comandados ou ainda o árbitro. Estas condutas inadequadas vão fazendo fissuras na relação do treinador com as crianças, podendo gerar redução da auto-estima e depressão das mesmas, bem como um clima de total insegurança (BECKER JUNIOR, 2000).

    Pais e treinador devem se aproximar mais no sentido de uma aliança que poderá construir um ambiente positivo e harmônico, onde o jovem possa sentir-se seguro e apresentar o rendimento que permite o seu potencial psicofísico. Este ambiente, segundo Hopper e Jeffries (1990 apud BECKER JUNIOR, 2000) somente é conseguido quando os pais centram sua atenção no processo saudável de socialização que ocorre no esporte e não no rendimento que seu filho pode alcançar no mesmo.

    Em momentos verificou-se que os atletas em muitas ocasiões se sentem pressionados pelas pessoas que os rodeiam. As pessoas que rodeiam o atleta e que mais têm influência, tanto por sua proximidade como pela importância que têm para ele, são o treinador, os pais e os amigos ou companheiros (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Dentro desse ponto de vista, ocorre que a necessidade das crianças de obter avaliações positivas dos adultos e, mais concretamente, dos treinados, lhes provoque esse estado (de estresse), ao não receber a resposta desejada (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

2.6.     A síndrome de burnout no esporte escolar

    Segundo Pires et al. (2005) o quadro de abandono “precoce” da prática esportiva (burnout) não é reconhecido, em curto prazo, em atletas, técnicos, árbitros e até diretores esportivos de escolas. Trata-se de um conjunto de sintomas de ordem física e psicológica. Segundo Guillén García (2006) também é conhecido como “esgotamento” (físico e psicológico). Como conseqüência mais grave, causa o abandono esportivo profissional e, esse fato, é mais conhecido como “dropout” (PIRES et al., 2005; GUILLÉN GARCÍA, 2006). Porém, Guillén García (2006) relaciona o fato do burnout como uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo em que pode levar ao abandono esportivo, também é um dos motivos que levam à permanência dos envolvidos no esporte.

    Assim, se verifica que as principais causas de abandono se relacionam diretamente com a pressão, o estresse, a monotonia e a falta de diversão, causadas principalmente por pessoas envolvidas no esporte: pais, treinadores, companheiros de equipe e o próprio ambiente, sendo substituído pelo esgotamento (burnout) induzido pelo estresse (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Segundo Ucha (2000 apud PIRES et al, 2005), recomenda-se o treinamento de técnicas anti-estresse, assim como formas de avaliação e controle do estado de saúde dos envolvidos no esporte. Com isso, seria possível um melhoramento da percepção de estresse e formas para combatê-lo. Além disso, conversas entre os integrantes das equipes e supervisores e aprofundamento dos estudos referentes às características de personalidade servem como ferramentas favoráveis ao combate do esgotamento (burnout) induzido por estresse.

    Estima-se que a competição represente somente entre 1 e 10% do tempo dedicado à prática esportiva, enquanto que 90% ou mais está dedicado aos treinamentos (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Nesse sentido acredita-se que seja necessário ressaltar e enfatizar a importância do treinamento, mas não esquecer que o mesmo também pode tornar-se fonte geradora de ansiedade por múltiplas causas. A situação de treinamento pode gerar ansiedade quando se torna enfadonha, provoca frustração em sua prática, produz mudanças ocupacionais ou nas tarefas, quando o ambiente físico resulta inadequado ou as relações interpessoais são pobres (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Quanto às características do treinamento, encontra-se que a sobrecarga nos mesmo gera estresse e vem provocado pelo feito de que muitos treinadores e técnicos esportivos querem melhorar o rendimento em curto prazo, aumentando a quantidade de treinamentos, através do número de horas, do número de sessões semanais, assim como na quantidade dos mesmos (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    JUBA (1986 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) menciona a respeito dos aspectos que provocam estresse: a excessiva quantidade de treinamentos e a natureza repetitiva do esporte (e evidentemente dos treinamentos como parte essencial do esporte). Tierney (1988 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) também incide na sobrecarga de treinamento, o mesmo que Smith (1986 apud GUILLÉN GARCÍA, 2006) ao se referir ao excessivo tempo dedicado a essa prática esportiva.

    Nesse caso, o treinador deverá evitar os treinamentos excessivamente muito duros ou chatos. Não está demonstrado que os treinamentos muito intensos para certas idades provoquem um maior rendimento (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Como professor, o técnico obrigatoriamente deve apresentar um conhecimento profundo da modalidade e instruir os jogadores de como executar os movimentos de forma correta, tomando cuidado para que eles não adquiram vícios técnicos. Ao mesmo tempo, ele deve estar preocupado com a eficiência do grupo na busca de resultados esportivos relevantes (BRANDÃO et al, 2002).

    Porém seria ideal para o treinador realizar treinamentos intensos, porém breves; eliminar os treinamentos monótonos; tentar realizar treinamentos criativos; o relaxamento e recuperação também devem fazer parte ativa dos treinamentos; evitar participar de excessivas competições, para prevenir o estresse; reconhecer os sintomas do estresse; procurar converter as atividades esportivas em um desafio e nunca uma ameaça; reforçar o esforço dos jovens atletas (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Também é função dos treinadores: analisar periodicamente o nível de estresse dos atletas; observar se os atletas (individualmente) estão aborrecidos ou preocupados nos treinamentos; planificar os objetivos e metas de cada atleta para evitar que tenham expectativas muito elevadas acrescentando a hipótese de que as mesmas podem não ser alcançadas; analisar as exigências do seu esporte para conhecer a ativação necessária em cada momento da execução; também seria conveniente analisar os próprios níveis e padrões de estresse que pode apresentar como treinador (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

    Para o atleta é ideal: comprometer-se com o treinador; também deverá fixar metas sobre aspectos emocionais durante os encontros, indicando como pretende atuar durante o mesmo; também resulta conveniente que se ensaie previamente, física e emocionalmente em como responder diante de situações concretas que resultem críticas; depois de cada competição, calcular o nível de ansiedade que experimentou e como viu sua reação perante essa situação (GUILLÉN GARCÍA, 2006).

2.7.     Ansiedade competitiva    

    O estresse, a ansiedade, agressão, frustração, medo, auto-superação, realização, prazer, alegria e divertimento são componentes mais presentes no esporte e que podem tanto auxiliar quanto prejudicar o desempenho do atleta Dobránszky e Machado (2001 apud GONÇALVES, 2007). Neste caso, Figueiredo (2000, apud GONÇALVES, 2007) cita que a ansiedade é um dos fatores que mais interferem no desempenho do atleta, principalmente devido à pressão por vitórias:

    “A exposição a esses tipos de experiências ansiosas pode muitas vezes causar mudanças fisiológicas como o estreitamento da atenção, o aumento no consumo de energia, o aumento de adrenalina, o que interfere negativamente no desempenho global do atleta” (Gonçalves 2007, apud FIGUEIREDO, 2000, p.301)

    GONÇALVES (2007) cita que as experiências ansiosas se relacionam com listas de cortes, cobrança por vitórias e resultados, a competitividade entre os atletas e a própria competição.

    Para Spielberger (1972 apud GONÇALVES, 2007, p.302), a ansiedade é:

    “Um complexo estado ou condição psicológica do organismo humano, constituída por propriedades fenomenológicas e fisiológicas que se diferencia de estados emocionais como o estresse, a ameaça e o medo, pois tais eventos se apresentam como possíveis causadores do estado de ansiedade”.

    Ainda para Biaggio et al (1977 apud GONÇALVES, 2007, p.302) a ansiedade se difere em dois tipos:

Ansiedade-estado

Ansiedade-traço

Refere-se a um estado emocional transitório ou condição do organismo humano caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão conscientemente percebidos, e por um aumento na atividade do sistema nervoso autônomo, gerando reações psicofisiológicas como taquicardia, “frio na barriga”, “arrepio na espinha”, entre outras.

Refere-se a diferenças individuais relativamente estáveis em propensão à ansiedade.

Estado emocional imediato, caracterizado por um sentimento de medo e apreensão e tensão, acompanhado ou associado com a ativação do sistema nervoso autônomo.

 

Prédisposição de uma pessoa perceber certas situações como ameaçadoras ou não, respondendo a elas com níveis variados de ansiedade-estado.

Adaptado de Spielberger, (1972 apud Gonçalves 2007, p. 302) e De Rose Junior e Vasconcellos (1997, p. 149).

    Ou seja, pode ser que as pessoas que diferem A-traço e A-estado mostrem suas diferenças. Isso depende do “grau em que a situação específica é percebida por um indivíduo em particular como perigosa ou ameaçadora” (BIAGGIO et al, 1977 apud GONÇALVES, 2007, p. 302). E as experiências passadas influíram diretamente nesse caso.

    Martens (1977 apud GONÇALVES, 2007, p.302; DE ROSE JUNIOR e VASCONCELLOS, 1997, p.149) ainda cita a Teoria da Ansiedade-Traço Competitiva, que seria a

    “predisposição de perceber situações competitivas como ameaçadoras, representando um indicativo de como um atleta reagiria ao interpretar certas situações competitivas como ameaçadoras ao seu bem-estar físico, psicológico e social”.

    Segundo De Rose Junior e Vasconcellos (1997), a Teoria da Ansiedade-Traço Competitiva de Martens, feita em 1977, foi baseada nos estudos de Spielberger, realizados em 1972.

    Zeng (2003 apud GONÇALVES, 2007) cita também que os jovens atletas apresentam menores níveis de ansiedade-estado cognitiva e ansiedade-estado somática quando comparadas com jovens atletas de esportes individuais. Porém, o nível de ansiedade-traço competitiva em jovens atletas de esportes coletivos e individuais se apresenta de forma igualitária.

    Quando comparam jovens atletas com atletas seniores, Dias (2005, apud GONÇALVES, 2007) revelaram que os jovens atletas apresentam níveis significativamente mais elevados de ansiedade. Porém, em outro estudo, De Rose Junior e Vasconcellos (1997, p.305) afirmam os jovens atletas “seriam mais vulneráveis a demonstrar ansiedade no contexto esportivo do que os atletas mais velhos”, porém revelam que em relação às faixas etárias, não houve diferença estatisticamente significativa de ansiedade-traço competitiva. E, apesar da influência da idade não ter sido focada nesse estudo, ressaltam que é importante que os pais, professores, treinadores e os demais profissionais envolvidos com o esporte infanto-juvenil se preocupem com a idade dos atletas, pois os jovens podem não se encontrar “tão preparados diante de muitas cobranças e pressões do esporte de competição” (DE ROSE JUNIOR e VASCONCELLOS, 1997, p.306). Com relação às diferenças de gênero, De Rose Junior e Vasconcellos (1997) confirmam que as mulheres apresentam maior ansiedade competitiva quando comparadas aos homens.

    De acordo com GALLAHUE e OZMUN (2005) a exposição da criança às experiências que exijam grandes responsabilidades deve ser feita de forma gradual. A criança deve ser encorajada a participar dessas atividades, porém devem proporcioná-las as oportunidades de estarem em eventos apropriadas aos seus interesses e às suas necessidades. Assim, será possível aumentar seus níveis de motivação e baixar os níveis de ansiedade-estado competitiva. Para Passer (1982 apud DE ROSE JUNIOR e VASCONCELLOS, 1997) as crianças podem ter sua auto-estima abalada quando passam por experiências desagradáveis. Isso pode levar a conseqüências parecidas com as do Burnout: fuga ou abandono da atividade. Assim, um ponto importante do processo competitivo na iniciação esportiva é a ameaça à auto-estima, que pode elevar ao aumento da ansiedade e redução do desempenho esportivo.

3.     Metodologia

    Essa pesquisa é do tipo descritiva, pois registra fatos, analisa-os, interpreta-os e identifica causas (CRUZ, 2004). Segundo Thomas e Nelson (2002), a pesquisa descritiva é amplamente usada nas ciências comportamentais e na educação, tratando-se de um estudo de status: baseia-se no princípio que as práticas podem ser melhoradas, e os problemas resolvidos, através da observação, análise e descrição objetivas e completas. Nela, são utilizados mais comumente os questionários, entrevistas e surveys (estudo exploratório).

3.1.     População e amostra

    Fizeram parte desse trabalho 3 equipes escolares femininas de voleibol de uma escola de classe média alta da zona sul da cidade de São Paulo. As alunas-atletas encontravam-se dentro da faixa etária entre 11 e 13 anos de idade. A primeira equipe contou com 10 alunas e as outras duas com 12 atletas escolares cada equipe. Todas as equipes disputaram torneios e campeonatos na cidade de São Paulo.

3.2.     Instrumentação

    A todas as alunas-atletas deste estudo foram aplicadas a Lista de sintomas de stress pré-competitivo infanto-juvenil (LSSPCI) validado por De Rose Junior (1998).

    A LSSPCI (ANEXO A) foi desenvolvida por De Rose Junior (1998) com o objetivo principal de elaborar e validar um instrumento específico para determinação da freqüência de ocorrência de sintomas de “stress” pré-competitivo em atletas a partir de 10 anos de idade e que competem em eventos oficiais de nível municipal, regional, estadual, nacional e internacional.

    A LSSPCI, escala do tipo Likert, apresenta 31 sintomas e pode ser administrada a atletas na faixa etária de 10 a 14 anos de idade, e talvez a atletas de faixas etárias superiores, inclusive adultos e para ser validado e fidedigno deve ser aplicado até 24 horas antes da competição (DE ROSE JUNIOR, 1998).

3.4.     Coleta de dados

    A aplicação da LSSPCI ocorreu 24 horas antes de uma competição, conforme protocolo de orientação do autor da lista (DE ROSE JUNIOR, 1998), em contexto de grupo, e foi efetuada pelo investigador e pelo professor das alunas. O instrumento foi distribuído a cada aluna-atleta com uma caneta e uma prancheta, além de uma pequena introdução, explicando os objetivos do estudo e sigilo das respostas. O pesquisador também se colocou à disposição para esclarecer eventuais dúvidas.

3.5.     Tratamento dos dados

    Os dados foram organizados estatisticamente, utilizando o coeficiente Alfa de Cronbach, com a utilização do software SPSS – DATA EDITOR – versão 16.0 para Microsoft Windows, com o intuito de verificar a consistência e validade da escala, e a média e desvio padrão, identificando o nível de estresse das atletas.

3.6.     Limitações do método

    Existe uma gama imensa de estudos sobre estresse e estresse pré-competitivo. Diante desse fato, somado à inexperiência do pesquisador, o trabalho tornou-se demasiado extenso, com um pouco de perda do foco teórico principal.

    Quanto ao instrumento, por ser subjetivo, ficou à mercê dos ânimos, vontade, entendimento e atenção das pesquisadas. Apesar de ser um instrumento validado, dependeu exclusivamente do grupo e da aplicação do pesquisador, voltando ao tema da inexperiência com esse tipo de instrumento.

    Com relação à amostra, a mesma é pequena e não corresponde a uma realidade mais ampla sobre o tema (esporte infanto-juvenil e sua relação com o estresse pré-competitivo). Além disso, a dificuldade para viabilizar as autorizações, por parte dos pais e da escola, demandou um tempo maior.

4.     Resultados e discussão

    Após a coleta de dados e tabulação dos mesmos, o primeiro item de análise foi o coeficiente Alpha de Cronbach, que indicou a validade e a fidedignidade do instrumento. Nas jovens atletas escolares o resultado foi de 0.84. Comparado a outros estudos realizados (Gráfico 1), o resultado obtido foi relevante, porém abaixo do esperado.

Gráfico 1. Comparação de estudos sobre a validade da escala de De Rose Junior (1998)

    De Rose Junior (1998), durante o processo de validação da LSSPCI, obteve resultado de coeficiente Alfa de 0.97, aplicado em 219 atletas, entre 10 e 14 anos de idade, de ambos os sexos.

    De Rose Junior et al (2000) tiveram como resultado de Coeficiente Alfa de 0.95 quando avaliaram 723 jovens (363 meninos e 360 meninas) de 10 a 17 anos.

    Em um estudo com 318 jovens atletas, de futebol de campo, entre 10 e 17 anos de idade, Hirota e De Marco (2006) mostraram resultado de Alfa de 0.92.

    Apesar de o resultado ter ficado abaixo do esperado neste estudo, (0.84), pôde-se aferir que a escala proposta por De Rose Junior (1998) apresentou uma ótima consistência interna dos itens, mostrando fidedignidade e validade, uma vez que a escala foi validada para idade entre 10 e 14 anos.

    Outro item analisado foi a média resultante da escala, na qual foi obtido o valor de 2.88 entre as 34 jovens atletas escolares entre 11 e 13 anos de idade. O desvio padrão foi de 0.57.

    Os dados são expostos (Gráfico 2), comparando-o com outro estudo sobre o nível de estresse de escolares.

Gráfico 2. Comparação de estudos sobre o nível de estresse em atletas escolares

    Buscando comparar a ocorrência dos sintomas de estresse entre atletas escolares e atletas de clube, Korsakas e De Rose Junior (1998) avaliaram 172 atletas, sendo 76 escolares (masculino = 46, feminino = 30) e 94 atletas de clube (masculino = 42, feminino = 52), praticantes das modalidades voleibol e basquetebol, com idades entre 12 a 17 anos. No ambiente escolar os meninos obtiveram media de 2.56, enquanto as meninas apresentaram um valor mais elevado de 2.86, o que denotou na pesquisa citada, um maior nível de estresse apresentado pelas meninas. No clube, a média dos meninos ficou em 2.59 e das meninas 2.75, reafirmando um valor mais elevado em meninas.

    Como existem poucos estudos sobre o nível de estresse em jovens atletas escolares, a comparação, tanto da validade da escala quanto de sua média, deu-se também com jovens atletas de clubes. Apesar de, nesses casos, não se inserir a questão do ambiente escolar, os resultados destas outras pesquisas dão referências para este estudo, pois foram avaliadas as mesmas faixas etárias e, portanto, são atletas que freqüentam a escola.

    Em um estudo, na qual utilizaram a LSSCPI, Palhano et al (1996), foram comparados indivíduos por faixa etária e sexo. Nesse estudo foram analisados 301 atletas, 152 meninos e 149 meninas, subdivididos em 3 faixas etárias diferentes (A = até 12 anos, B = até 14 anos e C = até 16 anos). Os resultados que foram obtidos pela pesquisa geraram as seguintes medias: para o grupo masculino A=2.60, B=2.51, e C=2.68; e para o grupo feminino A=2.88, B=2.80, e C=2.87. Foi possível perceber que não houve diferenças estatisticamente significativas entre as faixas etárias do mesmo sexo, pois todos apresentaram uma frequência considerada moderada. Porém, quando comparada com o sexo feminino, estas apresentaram níveis de estresse significativamente maiores que do sexo masculino.

    Como, nessa pesquisa, não foram coletados dados sobre o sexo masculino, não foi possível verificar se os jovens atletas escolares apresentam as mesmas diferenças. Porém, comparando-se aos estudos de Palhano et al (1996), foi possível verificar que o grupo escolar apresentou resultados parecidos, com uma média de 2.88, o que, segundo Palhano et al (1996) representa um nível de estresse moderado, porém com tendência a uma maior freqüência de sintomas, ou seja, maior possibilidade de se desenvolver o estresse.

    No estudo De Rose Junior et al (2000) com 723 jovens (363 meninos e 360 meninas) de 10 a 17 anos de idade, os resultados obtidos revelaram que as meninas apresentam uma freqüência de ocorrência de estresse significativamente maior quando comparadas aos meninos. Os sintomas com maior freqüência foram psicológicos.

    Neste estudo, baseando-se no desvio padrão (0.57), verificou-se que algumas questões da LSSPCI apresentaram baixos resultados:

  • Questão número 2: Suo bastante. Média de 2.21.

  • Questão número 5: Sinto muita vontade de fazer xixi. Média de 1.74.

  • Questão número 8: Rôo (como) as unhas. Média de 2.15.

  • Questão número 12: Demoro muito para dormir. Média de 1.79.

  • Questão número 17: Minha boca fica seca. Média de 2.26.

    A menor média obtida foi da questão número 5, que tem relação com as conseqüências fisiológicas do estresse. Também foi possível verificar que os resultados mais baixos estão relacionados diretamente com as conseqüências fisiológicas e apenas uma é comportamental.

    Enquanto algumas questões apresentaram altos resultados (desvio padrão = 0.57):

  • Questão número 3: Fico agitado (a). Média de 3.56.

  • Questão número 9: Fico empolgado (a). Média de 3.59.

  • Questão número 16: Fico preocupado (a) com o resultado da competição. Média de 3.79.

  • Questão número 24: Não vejo a hora de competir. Média de 3.47.

  • Questão número 29: Sinto-me mais responsável. Média de 3.68.

  • Questão número 31: Tenho medo de cometer erros na competição. Média de 3.97.

    A questão com média mais elevada foi de número 31, onde a jovens alunas-atletas têm medo de cometer erros durante a competição, seguida da questão 29, na qual as alunas-atletas sentem-se mais responsáveis nas 24 horas que antecedem a partida, e que provavelmente esta responsabilidade seja levada até durante o jogo.

    Com isso foi possível verificar que as questões com médias mais elevadas estão relacionadas diretamente com as conseqüências psicológicas e comportamentais do estresse. Esses fatores são intrínsecos (fatores internos), sendo individuais e variando de pessoa para pessoa, mas que provavelmente ocorrem por fatores extrínsecos, ou seja, cobrança do professor (treinador), das colegas ou dos pais.

5.     Conclusão

    Dentro que tudo que foi pesquisado, foi possível concluir que o nível de estresse das jovens atletas escolares não esteve acima da média. Isso coincidiu com a revisão literária, portanto trata-se de um dado relevante.

    Independente desse resultado, o estresse deve ser um ponto de preocupação, pois a forma como ele afeta cada indivíduo é personalizado, ou seja, uns podem apresentar maior estresse se comparado aos demais. Além disso, alguns sintomas podem ser mais apresentados do que outros, principalmente quando existe uma cobrança social, principalmente dos pais ou professores (treinadores).

    Ainda, sobre a pesquisa, sem sombra de dúvida ficou um dado interessante: que existem poucos estudos sobre o esporte dentro do ambiente escolar, portanto essa pesquisa pode ser um ponto de início ou de base para outros estudos. Além disso, há também a necessidade de uma população maior, para que a coleta represente com maior fidedignidade qual o nível de estresse em jovens atletas escolares.

    Para finalizar, esperamos ter alcançado o objetivo de despertar interesse pela pesquisa na área esportiva escolar, principalmente sobre os jovens atletas, fundamentando e preparando melhor as pessoas que estão envolvidas diretamente com esse ambiente: o professor de Educação Física, o treinador, os pais e os próprios jovens atletas, cujo bem estar físico e emocional devem ficar acima de qualquer resultado.

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revista digital · Año 14 · N° 135 | Buenos Aires, Agosto de 2009  
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