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Nível de estresse e de atividade física de policiais militares

da brigada de Porto Alegre: um estudo diagnóstico

Nivel de stress y de actividad física de policías militares de la brigada de Porto Alegre: un estudio diagnóstico

 

*Profissional de Educação Física formado pela ULBRA, Canoas, RS.

**Professor adjunto do Curso de Educação Física da ULBRA, Canoas, RS

Professor titular do Curso de Educação Física e do Mestrado Profissional em

Inclusão Social e Acessibilidade do Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS

(Brasil)

Anderson de Almeida Jorge*

almeida.andersonj@gmail.com

João Carlos Jaccottet Piccoli**

jebpiccoli@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          A presente investigação teve como objetivo verificar o nível de estresse e de atividade física de profissionais do policiamento ostensivo da Brigada Militar de Porto Alegre, no ano de 2007. A amostra, composta por 50 sujeitos selecionados por conveniência, foi submetida ao IPAQ, versão curta e ao Inventário de Sintomas de Estresse para Adultos de Lipp (ISSL). Para as comparações de médias, entre duas amostras foi utilizado o teste t de Student. Nas análises de associação foi utilizado o teste Qui – quadrado empregando valores de p≤0,05. Dentre os sujeitos do estudo, 42% classificaram-se como insuficientemente ativos, 26% suficientemente ativos e 32% muito ativos. Observou-se, também, que 60% dos indivíduos não apresentavam sintomas de estresse enquanto 40% dos casos encontravam-se com estresse, sendo 80% na fase de resistência e 20% na quase exaustão. Quanto aos sintomas, 50% eram psicológicos e 50% somáticos. Na associação entre o NAF e sintomas de estresse, foi detectado que os indivíduos que se encontravam ativos têm um percentual menor de propensão ao estresse que os sujeitos inativos. A atividade física regular produz benefícios fisiológicos e psicológicos no indivíduo, assim, observa-se a necessidade de as instituições militares de policiamento incentivarem a prática de atividade física regular dentro das instituições da Brigada Militar em prol da melhoria da performance destes profissionais.

          Unitermos: Brigada Militar. Atividade física e saúde. Estresse

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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1.     Introdução

    Atualmente vive – se dias difíceis, desemprego, salários baixos, falta de oportunidades para os jovens, problemas com a educação e saúde, aspectos que contribuem para o aumento dos níveis de violência urbana (IBGE, 2005).

    Para proteger a sociedade as leis são, permanentemente, aprimoradas sendo a polícia militar, uma das responsáveis pelo policiamento militar preventivo, repressivo e educativo. Todos os estados brasileiros têm uma instituição militar que mantém a ordem e atua diretamente com a sociedade e no Rio Grande do Sul, a instituição de polícia se chama Brigada Militar e emprega muitos cidadãos em todo estado. Hoje, o policial militar é um cidadão com direitos e deveres como qualquer civil, seu papel na sociedade é de extrema importância, pois além de policiar atua diretamente com a comunidade.

    O policial militar tem uma escala de serviço que o possibilita trabalhar em outros locais como segurança, porteiro, vigia, escolta armada dentre outras funções. O trabalho extra somado às horas na brigada, mais o período dedicado à família dificulta o sujeito de praticar alguma atividade física coordenada na rotina de seu dia a dia.

    Na vida do ser humano manter um estilo de vida ativo em busca de uma vida plena e saudável, é uma conquista que muito contribui para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Em amplo espectro, a saúde é resultante de diversos fatores sendo conceituada como um estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade (OMS,1947). A saúde está associada à qualidade de vida, que tem como referência os parâmetros sócio–ambientais como: moradia, assistência médica, transporte, segurança, remuneração, condições de trabalho, meio ambiente, opção de lazer, entre outros; e por parâmetros individuais como: hereditariedade, estilo de vida através de hábitos alimentares, controle de estresse, atividade física habitual, relacionamentos e comportamento preventivo ( NAHAS, 2003).

    Para usufruir os benefícios da atividade física para a saúde é importante que se adote um estilo de vida mais ativo, como participar de programas específicos que atendam aos componentes necessários para o desenvolvimento orgânico e funcional do corpo humano.

    A vida moderna é influenciada por agentes estressantes externos que não podem ser evitados, como o barulho e a poluição o excesso de velocidade, a superpopulação e a violência. A instabilidade econômica e financeira, as dificuldades de convivência e de relacionamento, as mudanças rápidas de padrões sociais e morais, entre outros agentes, também, afetam-na. Cabe salientar que a atividade policial é considerada a segunda profissão maior causadora de estresse do mundo, sendo superada apenas para a mineração, ou seja, este ofício é um dos mais arriscados para a saúde e bem estar físico mental (OMS, 1988).

    O estresse é definindo como um desgaste geral do organismo causado por alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se vê forçada a enfrentar uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo a faça imensamente feliz (LIPP,1986). Estudos têm mostrado que o estresse se divide em quatro fases. Na primeira fase, a reação de alarme ou alerta, o indivíduo percebe uma ameaça de perigo e se prepara para agir, o organismo sofre alterações físicas e fisiológicas (LIPP 2005). Na segunda fase, a da resistência, o indivíduo tenta se adaptar à situação, isto é, tenta restabelecer um equilíbrio interno. Quando este equilíbrio é atingido, alguns dos sintomas iniciais desaparecem, porém essa adaptação utiliza a energia que o organismo necessita para outras funções vitais.

    Na fase seguinte, a de quase exaustão, quando a tensão excede o limite do gerenciável, a resistência física e emocional começa a ceder. Ainda há momentos em que a pessoa consegue pensar lucidamente tomar decisões, rir de piadas e trabalhar, porém tudo isso é feito com esforço. Tais momentos de funcionamento normal se intercalam com momentos de total desconforto. Na quarta, um grande desequilíbrio ocorre. É a fase mais negativa do estresse, a patológica, quando a pessoa entra em depressão, não consegue se concentrar ou trabalhar. Suas decisões são muitas vezes impensadas e precipitadas. Doenças graves podem se manifestar como úlceras, pressão alta, psoríase, vitiligo dentre outras.

    Inúmeros estudos (NIEMAN, 1999, MAZO; LOPES; BENEDETTI, 2001, CARVALHO,2003), deixam comprovados os benefícios que a atividade física regular traz para o ser humano. Hoje, as pessoas procuram se exercitar não somente para a estética do corpo, mas sim para evitar inúmeras patologias que a falta de atividade corporal gera. A saúde física e mental do ser humano está diretamente ligada ao bem estar físico e a prática de atividades moderadas, vigorosas ou caminhadas em uma constante regular.

    Nahas (2003, p. 129), afirma que atividade física é qualquer movimento corporal com gasto energético acima dos níveis de repouso. O exercício regular, também, aumenta a expectativa de vida; reduz o risco de morte por doenças cardíacas; reduz o risco de desenvolvimento do diabetes; auxilia na prevenção e no tratamento da hipertensão arterial; reduz o risco de desenvolvimento de câncer de colo; reduz os sentimentos de depressão e de ansiedade, enquanto melhora o humor e a auto – estima; auxilia no controle de peso; auxilia na construção e manutenção de ossos e músculos saudáveis; melhora a aptidão cardíaca e pulmonar; além disso, auxilia no controle de estresse e melhora a qualidade de vida dos adultos mais velhos, de pacientes doentes e de pessoas de todas as idades (NIEMAN,1999). Os exercícios vigorosos fortalecem e aumentam a espessura das fibras musculares das paredes que envolvem as câmaras do coração. Como os batimentos de um coração em boas condições são mais fortes e eficazes, menos batimentos conseguem bombear mais volume de sangue necessário ao organismo em repouso e durante o seu dia-a-dia.

2.     Metodologia

    A amostra foi composta por 50 sujeitos do gênero masculino, na faixa etária de 20 a 50 anos, selecionados por conveniência, que fazem o trabalho de policiamento ostensivo nas ruas de Porto Alegre. Os instrumentos utilizados foram o IPAQ, formato curto, para avaliar o nível de atividade física e o inventário de sintomas de estresse de Lipp (ISSL) ambos aplicados em horários alternativos durante a semana em dois batalhões da Brigada Militar de Porto Alegre, RS.

    O instrumento utilizado para determinar o nível de atividade física em uma semana habitual da amostra investigada foi a versão curta do questionário internacional de atividade física IPAQ, composto por questões relacionadas à caminhadas, atividades moderadas e vigorosas, como também, questionava o tempo médio que os sujeitos ficam sentados durante o dia. Este teste classificou os sujeitos em insuficientemente, suficientemente e muito ativos. Para se avaliar o nível de estresse foi utilizado o Inventário de Sintomas de Estresse de Lipp (ISSL) que visa identificar de modo objetivo a sintomatologia existente ( se somática ou psicológica) e a fase de estresse em que o indivíduo se encontra.

    Para as comparações de médias, entre duas amostras foi utilizado o teste t de Student e para comparações de medianas foi utilizado o teste U de Mann-Whitney. Nas análises de associação foi utilizado o teste Qui-quadrado empregando valores de significância inferiores a p≤0,05.

3.     Resultados e discussão

    O estudo revelou que entre os indivíduos, com idade média de 34,4 anos, 42% encontram – se classificados como insuficientemente ativos, 26% suficientemente ativos e 32% muito ativos. Avaliando-se os resultados verifica-se que entre os sujeitos da pesquisa 58% estão em nível satisfatório e muito satisfatório de práticas de atividades moderadas, vigorosas e caminhadas enquanto que os 42% restantes se encontram com um baixo nível de atividade física sendo considerados insuficientemente ativos.

Tabela 1. Distribuição das freqüências absolutas e relativas dos sujeitos do 

gênero masculino segundo o nível de atividade física (NAF) no IPAQ (n= 50).

Neste estudo com os mesmos sujeitos aplicou–se, também, o inventário de sintomas de estresse que avalia o nível de estresse, suas fases e sintomatologia. Neste teste foi detectado que 60% dos indivíduos não apresentam sintomas de estresse, enquanto que 40% dos casos encontram–se com estresse. Destes 80% encontram-se na fase de resistência e 20% na quase exaustão. Quanto aos sintomas, 50% eram psicológicos e 50% somáticos. Não foi observada diferença significativa entre as medianas de idade entre sujeitos com estresse 33,65 anos (8,47) e sujeitos sem estresse 34,93 anos (6,81), p > 0,05.

Tabela 2. Distribuição das freqüências absolutas e relativas do nível de 

atividade física no IPAQ segundo os sintomas de estresse dos sujeitos (n =50)

    Na tabela 2 se observa que os sujeitos insuficientemente ativos têm um percentual de 60% de propensão ao sintoma com estresse. Os indivíduos com classificação suficiente ativos têm 30% e muito ativos 10% de chances de desenvolverem o estresse em comparação com os suficientemente ativos (23,3%) e os insuficientemente ativos (30%). Esta tabela denota que os indivíduos que apresentam um nível baixo de atividade física têm maiores chances de desenvolverem o estresse, ou seja, sujeitos que praticam atividade física regularmente tem menos propensão a ter estresse. Essa associação foi estatisticamente significativa, resultando em p = 0,02.

    Segundo Massaud (2001), os exercícios continuados induzem a secreção e liberação da substância chamada beta – endorfina no corpo humano. A beta endorfina é encontrada no cérebro e outros tecidos, e tem a capacidade de controlar a sensação normal de dor além de participar igualmente da regulação da temperatura e do apetite, e de ser capaz de melhorar a auto estima, o humor e a satisfação de viver.

    Em um estudo com 278 administradores de 12 corporações diferentes, com duração de quatro anos, verificou–se que a atividade física possuía um efeito de tamponamento sobre a relação sobre a relação entre os eventos da vida e as doenças. Em outras palavras, administradores de corporações ativos apresentavam menos problemas de saúde decorrentes do estresse do que os inativos. Como nem sempre é prático ou mesmo possível evitar muitos eventos estressantes da vida, o exercício aeróbico regular pode ser um dos meios de reduzir o impacto negativo do estresse sobre sua saúde.

    Num outro estudo com quatro grupos de estudantes universitários foram identificados: 

  1. nível elevado de estresse, mas nível elevado de atividade física; 

  2. nível elevado de estresse, com baixo nível de aptidão física; 

  3. nível baixo de estresse, alto nível de aptidão física e 

  4. nível baixo de estresse, baixo nível de aptidão física. 

    O estresse psicológico foi relacionado com os níveis elevados de doenças físicas, mas somente entre os indivíduos com níveis baixos de aptidão física. Os estudantes que apresentavam níveis elevados de estresse e que possuíam uma boa condição aeróbica não apresentaram níveis mais elevados de doenças físicas do que aqueles que não apresentaram altos graus de estresse (NIEMAMN, 1999).

4.     Conclusão

    A pesquisa demonstrou que uma quantidade relativamente alta dos sujeitos apresenta níveis de estresse que prejudicam o desempenho de seu trabalho podendo atribuir isso a sintomas psicológicos e somáticos.

    Os resultados dos testes demonstraram a importância da atividade física regular na vida das pessoas. Na associação entre o nível de atividade física e sintomas de estresse observa-se que os indivíduos que se classificaram como suficientemente ativos têm um percentual menor de propensão ao estresse que os sujeitos insuficientemente ativos. Isso denota que a atividade física regular produz benefícios fisiológicos e psicológicos ao indivíduo resultando na diminuição da fadiga e ansiedade. Em conseqüência, o estado mental e bem estar desses indivíduos ficará mais qualificado gerando mais disposição em suas vidas cotidianas.

Referências

  • 1ª Conferência Internacional sobre promoção da saúde, 17-21 de Novembro de 1986, 'Ottawa', Canadá 'Carta de Ottawa Promoção da Saúde nos Países Industrializados

  • CARVALHO, Tales de. Sedentarismo: o inimigo público numero 1. Disponível em www.acmp.org.br/docs/saude.doc. Acesso em: 20 set. 2007.

  • FRANÇA, Ana Cristina Limongi; RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e Trabalho: guia básico com Abordagem Psicossomática. São Paulo: Atlas, 1997.

  • LIPP,Marilda Emmanuel Novaes. Manual do Inventário de sintomas de Stress para Adultos de Lipp. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

  • LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. Como enfrentar o estresse. São Paulo: Icone, 1986.

  • MAZO, Giovana Z.; LOPES, Marize A; BENEDETTI, Tânia B. Educação Física e o Idoso: concepção gerontológica. Porto Alegre: Sulina, 2001.

  • MASSAUD, Marcelo Garcia. Natação 4 nados. Rio de Janeiro: Sprint, 2001.

  • NAHAS, Markus V. Atividade Física, saúde e qualidade de vida: Conceitos e sugestões para um estilo de vida.3. ed. rev. e atual. Londrina: Midiograf, 2003.

  • NIEMAN,David C. Exercício e saúde: como se prevenir de doenças usando o exercício com seu medicamento. Tradução Dr. Marcos Ikeda. São Paulo: Manole, 1999.

  • ROSSI, Ana Maria. Autocontrole. Nova maneira de controlar o estresse. Rio de Janeiro: Rosas dos Tempos, 1991.

  • RODRIGUES, Roberto. Psicanálise e neurôciência. Porto Alegre: Dc Luzzato, 1985.

  • SHARKEY, Brian J. Condicionamento cardiovascular físico e saúde/ Tradução Marcia dos Santos Dorneles e Ricardo Demétrio de Souza Petersen. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

  • WORD HEALTH ORGANIZATION. Constituition of the WHO. Chronicle of the WHO, v. 1, n. 3, p. 1-5, 1947.

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