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Fatores estressantes e motivacionais na prática

do esporte entre atletas com deficiência física

Factores estresantes y motivacionales en la práctica del deporte entre atletas con deficiencia física

 

Graduada em Psicologia pela

Universidade do Vale do Itajaí

(Brasil)

Tatiana Di Pietro

tdippe@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo investigar os fatores estressantes e motivadores do atleta com deficiência física que recebe algum tipo de ajuda financeira para a prática desportiva. Para tanto, 10 paratletas associados à Associação de Apoio às Famílias de Deficientes Físicos – AFADEFI - da cidade de Balneário Camboriú, Santa Catarina, foram convidados a participar deste estudo. Eles responderam a dois instrumentos: a Avaliação Psicossocial do Atleta, adaptado para paratletas; e, um questionário para avaliação da ocorrência de estresse e ansiedade. Os resultados apontaram que os atletas apresentam idade inicial para a prática esportiva de 23,8 anos (±12,04), e que passaram a competir a partir de uma idade média de 25,4 anos (±10,53). Grande parte dos atletas possui lesões que acarretaram em paraplegia e usam cadeira de rodas. O esporte que mais praticam é basquete e atletismo. As principais metas e objetivos no esporte, de modo geral, foram os benefícios físicos e a profissionalização e quem mais os motivou a prática do esporte foram os pais e os amigos. Constatou-se ainda, que o que mais gostam de fazer fora do horário de treinamento é namorar, e o que menos gostam é estudar. Além disso, a saúde foi considerada um fator facilitador para a prática esportiva, e problemas com lesões e doenças, um fator que dificulta. Em contrapartida, o fator que menos facilita foi o patrocínio, apesar que este fator aparecer como o que mais dificulta a prática desportiva. Observou-se, através da tabela de auto-percepação no esporte, que os atletas, de modo geral, têm bom relacionamento com familares, amigos e técnicos e que consideram alto o grau de dificuldade no esporte. Com relação ao estresse e ansiedade, constatou-se que os atletas não gostam de competir diante de um grande público e ficam preocupados com os erros que possam cometer durante as competições. Dessa maneira, conclui-se que os principais suportes para estes atletas são a família e seus amigos, que os estimularam para o início na prática esportiva, e também que a falta de apoio financeiro (patrocínio) torna-se um fator relevante na avaliação e análise do treinamento destes atletas. Os resultados refletem a necessidade de um acompanhamento do psicólogo do esporte, cujo objetivo é exatamente o de auxiliar na melhora da performance do atleta pelo desenvolvimento de estruturas psíquicas

          Unitermos: Estresse. Motivação. Esporte Adaptado

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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1.     Introdução

    Atletas praticantes do esporte adaptado carregam por si só, muito antes de se encaminharem para o esporte, uma história de luta, traumas, angústias e preconceitos. Procuram superar-se de alguma maneira, depois de vencidos os traumas. Uma das formas de auxílio na superação desta condição é a prática desportiva.

    O esporte adaptado, nome dado as modalidades desportivas adaptadas para pessoas com deficiência física e/ou mental, conta hoje com federações nacionais e internacionais (incluindo uma organização Para-olímpica) e consolida-se também como atividade profissional, assim como para os outros esportes tradicionais.

    No Brasil, os investimentos em esporte têm aumentado na última década, em parte impulsionada pela indústria do esporte e pela participação de grandes corporações, como bancos, difundindo sua marca através dos atletas (ALVES; PIERANTI, 2007; SILVA, 2005). O governo também tem incentivado este aumento do investimento no esporte através da bolsa-atleta (ALVES; PIERANTI, 2007). Contudo, quando se trata de paratletas os investimentos ainda são bastante reduzidos.

    Alguns atletas com deficiência física recebem apoio financeiro do governo através do programa Bolsa-Atleta por conta de seu desempenho esportivo. Entretanto, a maioria recorre a fontes filantrópicas, como é o caso da AFADEFI, que é a Associação de Apoio às Famílias dos Deficientes Físicos com sede em Balneário Camboriú. Ao serem reconhecidos e obtendo o mínimo de investimento, têm a oportunidade de viajar e fazer amigos durante os jogos e competições.

    No esporte adaptado ou não, a cobrança por resultados e rendimentos sempre existirá. Para os atletas com deficiência física esta cobrança também é geradora de estresse agravado pelos fatores psicológicos pré-existentes da própria deficiência, pois a prática esportiva pode se transformar em oportunidade de superação, mostrando a eles mesmos e à sociedade que podem ser úteis, e que desempenham um importante papel social, que são capazes!.

    No âmbito do esporte de alto rendimento a pessoa com deficiência é afetada pelos mesmos fatores psicológicos que um atleta sem deficiência, porém, como a história de vida dessas pessoas já é marcada por essa enfermidade, as dificuldades que elas enfrentam e os motivos que as levam à prática desportiva são diferentes.

    As considerações sobre limites fisiológicos e de estresse, construídas no esporte tradicional, não devem ser literalmente transferidas ao esporte adaptado. Cada indivíduo com deficiência é uma incógnita acerca das adaptações e respostas às demandas de esforço (BARROS 1993 apud BRAZUNA; CASTRO, 2001)

    Segundo Brazuna e Castro (2001), percebe-se que o resultado mais importante para o atleta deficiente físico é a mudança de identidade de “pessoa deficiente” para a identidade de atleta. Para eles, o importante é ser visto como um corredor, nadador, etc. Os paratletas competem contra si e contra os estereótipos construídos socialmente pelos não-deficientes.

    Pessoas com deficiência física, na sua maioria, poderiam estar praticando algum tipo de esporte. Contudo, poucos se dedicam a uma atividade física desportiva regular. Uma das razões pode ser a dificuldade de acesso à ginásios, academias e outros locais de prática do desporto adaptado além do custo de materiais específicos (como cadeiras adaptadas para corrida, por exemplo). Junte-se a isto o baixo incentivo à prática desportiva de alta performance dado o número restrito de competições paratléticas. Neste contexto, a maior fonte de motivação e incentivo à prática desportiva adaptada, geralmente, é proporcionada pela família do deficiente, que, antes de encararem como uma profissão, vêem o esporte como uma forma de terapia ocupacional.

    De fato, os principais motivos de iniciação no esporte são a reabilitação e a oportunidade de engajamento social. O esporte e a superação pelo mesmo renovam a percepção do atleta com deficiência física, mudando a auto-estima e criando uma imagem corporal positiva. (WHELLER et al 1999 apud BRAZUNA; CASTRO, 2001, p. 117.

    Segundo Brant (2008), a exigência de bons resultados para os atletas com deficiência física é a mesma dos atletas sem deficiência no esporte de alto rendimento. Porém, para os atletas com deficiência a auto-estima quase sempre é baixa, tornando imprescindível o acompanhamento de um profissional da psicologia do esporte.

    A Psicologia, neste âmbito, atua como uma ciência que busca entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico de um indivíduo e como a participação em esportes e exercícios afeta o desenvolvimento psicológico, a saúde e o bem-estar de uma pessoa. Deste modo, torna-se necessário compreender alguns desses fatores psicológicos que o atleta com deficiência física enfrenta, assim como se faz com os demais sem deficiência.

    Carecem estudos que contemplem as variáveis psicológicas no âmbito do esporte adaptado com o intuito de conhecer as reais necessidades destes atletas. Assim, este estudo tem como objetivo contribuir para a compreensão do estresse e da motivação entre paratletas.

2.     Fundamentação teórica

    O Esporte adaptado tem conquistado cada vez maior espaço no cenário nacional e mundial. Dessa forma, tem-se evidenciado a necessidade de melhoria das condições de treinamento e também de melhor suporte para o atleta dedicar-se às atividades esportivas. Nesse contexto, a preparação psicológica aparece como mais uma ferramenta de auxílio ao atleta.

    Antes da Segunda Guerra Mundial não se conhecia os jogos organizados para deficientes físicos, porém, o pós-guerra criou uma situação de emergência e o esporte serviu como um agente facilitador na reabilitação dos lesionados neste conflito (ADAMS,1985).

    A América do Sul entrou na arena dos esportes adaptados no final da década de 50, após uma epidemia de poliomielite que atingiu o país. Em 1960, após as Olimpíadas de Roma, realizou-se o encontro de atletas dos esportes em cadeira de rodas, iniciando assim as Paraolimpíadas, o segundo maior evento esportivo do mundo (SAMULSKI, 2002).

    Para ADAMS (1985, p.218), “a participação em esportes e jogos adaptados confere ao indivíduo a oportunidade de desenvolver o seu condicionamento físico, se dedicar a atividades de lazer, se tornar mais ativo, de aprender habilidades e de colher experiências positivas no grupo e no ambiente social”.

    BRAZUNA E CASTRO (2001) pontuam que pessoas com deficiências são muitas vezes, discriminadas pela sociedade, desmotivadas pela sua própria condição existencial. Assim, elas vêem no esporte adaptado e nas competições uma oportunidade para elevar a sua auto-estima, além de provar para todos  o seu valor como atleta e cidadão. Contudo, a maior glória para esses atletas é a participação nas paraolimpíadas, na qual a superação não está somente na conquista de medalhas, mas sobretudo, no exemplo que eles passam para centenas de milhares de pessoas que são estigmatizadas por suas deficiências físicas e sem perspectivas. As dificuldades são superadas com muita luta, dedicação, coragem e persistência. Saber que há pessoas que, apesar das dificuldades de toda ordem, foram à luta e venceram no esporte, pode irradiar otimismo e reorientar as perspectivas em muita gente. Barao de Coubertin, autor da famosa frase "o importante é competir" e criador dos jogos olímpicos modernos, parece ganhar mais sentido com sua frase entre os atletas do esporte adaptado, pois eles sabem e sentem o verdadeiro sentido da mesma, provando para si mesmos suas capacidades.

    Para participar de uma paraolimpíada, segundo o Comitê Paraolímpico Brasileiro (2008), é feita uma seleção por parte das federações brasileiras nas competições regionais e nacionais e os atletas que obtiveram os melhores índices classificam-se. Nesse ano de 2008, o Brasil obteve a melhor colocação em sua historia de paraolimpíada. Classificou em nono lugar com 47 medalhas, sendo 16 de ouro, 14 de prata e 17 de bronze.

    O esporte adaptado contribui na construção de um mundo que sabe respeitar e conviver com as diferenças, sejam elas quais forem.
As pessoas com deficiências físicas não precisam de compaixão, mas sim de estímulo, demonstração de apoio e de luta conjunta pela democratização das oportunidades e acesso para além do âmbito dos jogos e campeonatos, para que tenham uma existência digna e feliz (BRAZUNA E CASTRO, 2001).

2.1.     A profissionalização do esporte paratlético

    A atividade física surge como uma nova possibilidade de interação do indivíduo com a sociedade, evidenciando as capacidades residuais das pessoas com deficiência física através do esporte.

    De acordo com BRANT (2008), na medida em que houve uma evolução do esporte e os atletas passaram a receber dinheiro para jogar, aumentou a cobrança de rendimento e resultados expressivos para que os mesmos consigam patrocínio e salários dignos. Contudo, as questões psicológicas dessa pessoa são colocadas em segundo plano e o lado humano do atleta é deixado de lado, transformando-os em “máquinas de vitória”. E essa busca de resultados importantes atinge todos os atletas das mais variadas modalidades, bem como atletas com deficiência física, que, além de sofrerem das mesmas dificuldades encontradas por atletas sem deficiência física, ainda são vítimas da discriminação social e das dificuldades impostas pela própria deficiência.

    A pessoa com deficiência física somente irá participar de uma atividade física se houver interesse de sua parte, contudo, esse interesse pode ser estimulado. A motivação humana é importante para todos e em qualquer ambiente onde exista a relação de ensino-aprendizagem constitui-se como um dos elementos centrais para sua execução bem sucedida.

    Para SAMULSKI (2002 apud MALAVASI; BOTH, 2005), a motivação seria a totalidade daqueles fatores que determinam a atualização de formas de comportamento dirigidas a um determinado objetivo. É um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos).

    De acordo com SAGE (1977 apud WEINBERG; GOULD, 2008), a motivação pode ser definida como a direção e a intensidade do esforço. Direção é quando o indivíduo procura ou é atraído por certas situações, e intensidade refere-se a quanto esforço o indivíduo coloca em determinada situação.

    Além da motivação, existem outros fatores que podem interferir no desempenho do atleta, um deles é o estresse, sempre presente no ambiente competitivo.

    A concepção de estresse, compartilhada entre diferentes autores, mostra concordância unânime no que se refere à associação do estresse com estado de desequilíbrio psicofísico, ou a perturbação do equilíbrio pessoa- meio ambiente. (SAMULSKI, 2002). Ou seja, é a resposta do corpo a qualquer situação com intuito de manter o equilíbrio fisiológico e psicológico do corpo. É quando o organismo se prepara para reagir, fugir ou lutar em situações de perigo, por isso o estresse tem papel importante nos processos de ativação do sujeito e pode ser bom, desde que não o prejudique.

    Dessa forma, o estresse pode fazer com que o atleta aumente ou diminua seu rendimento, isso vai depender de como ele lida com as situações estressantes. Estresse e motivação caminham lado a lado para o bom desempenho de um atleta, pois estresse em doses adequadas motiva, e motivação é fundamental para o sucesso.

    De acordo com Weinberg e Gould (2008), quanto mais importante for o evento, mais gerador de estresse ele será. Portanto, a disputa de um jogo decisivo é mais estressante do que um jogo normal da temporada.

    Em uma pesquisa realizada por Noce e Samulski (2002), com 64 atletas paraolímpicos brasileiros, observou-se que os principais motivos para iniciação da prática esportiva foi o prazer da prática e a necessidade de reabilitação. Para praticar esportes, os motivos principais foram o desejo de superar limites e as competições. A maior parte dos atletas referiu como fatores estressantes problemas de sono, pressão de vencer e conflitos interpessoais.

    Através desses dados nota-se a importância do preparo psicológico dos atletas, porque, tendo ele/a melhor equilíbrio emocional, poderá ter vantagens competitivas em relação ao seu adversário. Por isso, o acompanhamento por um psicólogo do esporte pode beneficiar e melhorar seu desempenho, com o controle e diminuição dos fatores estressantes que afetam o desempenho desse atleta, além de melhorar e fortalecer os aspectos motivacionais da prática esportiva.

    A Psicologia do Esporte é um conhecimento recente que abrange pressupostos psicológicos e da motricidade, e com a expansão e divulgação dos esportes tem ganho espaço como prática profissional. Faz parte de um conjunto de ações que visam preparar o atleta para disputas e competições, não somente restrita ao esporte de alto nível, podendo ser estendida a esportes educativos, recreativos e ao lazer. Também pode ser utilizada por atletas, amadores, profissionais, com ou sem deficiência física, mas pelas características de sua delimitação restringe-se ao alto rendimento. A psicologia do esporte atua em duas áreas básicas, sendo os aspectos psicológicos que afetam o desempenho esportivo e como a atividade física afeta os estados psicológicos (GAERTNER, 2002 apud BRANT, 2008).

    Para Weinberg e Gould (2008), os psicólogos do esporte devem ajudar atletas com limitações físicas a alcançar um desempenho máximo, satisfação pessoal e desenvolvimento por meio da participação. Deve se preocupar com a totalidade do ser humano, que pode ser o diferencial para a formação de um campeão.

3.     Aspectos metodológicos

3.1.     Participantes da pesquisa

    Fizeram parte da amostra deste estudo dez atletas de diferentes modalidades associados à AFADEFI de Balneário Camboriu que recebem alguma forma de incentivo financeiro (bolsa, salário) e que se voluntariaram para o estudo. A população de atletas da AFADEFI que recebem algum tipo de bolsa/salário é composta de quinze indivíduos.

    Dados como idade, sexo, tipo de deficiência e como foi adquirida, modalidade(s) desportiva(s), tipo de recurso e outros dados sócio-demográficos serão computados a posteriori.

3.2.     Instrumento

    Para avaliação dos atletas foi utilizado um instrumento desenvolvido por Noce e Samulski (1998), que consta de uma ficha de dados psicossociais, um teste de auto-percepção no esporte competitivo e um questionário de motivação para a prática esportiva (anexo 1). Esse instrumento aborda questões tais como: iniciação esportiva, motivação para o esporte, análise dos objetivos e das metas pessoais, análise dos fatores que facilitam e dificultam a vida no esporte, apoio familiar recebido pelo atleta, atividades realizadas fora do horário de treinamento, teste de auto-percepção no esporte competitivo e questionário de motivação para a prática esportiva.

    Também foi utilizado outro instrumento para medição dos sintomas de estresse na situação desportiva, desenvolvido por Sousa, Mariani e Samulski (2004). O instrumento consta de 17 questões utilizadas para mensurar estresse e ansiedade em bailarinos e bailarinas profissionais. As questões do questionário são respondidas através de uma escala do tipo Likert variando de “1” (nunca) a “4” maioria das vezes (anexo 2).

    Por motivo da utilização neste estudo, as questões 13, 14, 15 e 16 foram adaptadas. No original constam as palavras “espetáculo”, “apresentar” e “apresentação”, que foram substituídas por “competição” e “competir”.

3.3.     Coleta dos dados

    Os atletas que participaram desse estudo foram solicitados pela pesquisadora a responder os instrumentos individualmente na AFADEFI, em uma sala apropriada, com condições ambientais favoráveis e material necessário. Antes da aplicação do instrumento, foram esclarecidos os objetivos do estudo, bem como os procedimentos e questões a serem respondidas.

3.4.     Análise dos dados

    O procedimento para análise dos resultados foi realizado de duas maneiras diferentes: individual e grupal. No caso de uma avaliação grupal, que é o objetivo deste estudo, se realizará uma análise descritiva das informações. Os dados sócio-demográficos foram correlacionados com os demais itens das escalas (estresse, auto-percepção e motivação), assim como recomendam Noce e Samulski (2000) e Souza, Martini e Samulski (2004).

    A apresentação dos resultados foi feita na forma de quadros e tabelas para facilitar o entendimento para os leitores, e principalmente, para os atletas e técnicos, aos quais foram devolvidos os resultados e depois repassados para a monografia.

3.5.     Aspectos éticos

    Os dados foram coletados individualmente pela pesquisadora, que forneceu as instruções sobre como responder os instrumentos. Antes de iniciar a aplicação, os participantes foram informados sobre a pesquisa, e esclarecidos de que as informações obtidas são confidenciais, que apenas serão utilizadas para as finalidades da pesquisa, que a participação é voluntária e não remunerada. Também foi esclarecido que, se por qualquer motivo, o participante quiser abandonar o estudo, é livre para fazê-lo. Como este estudo é parte de um trabalho de estágio em Psicologia Educacional (com ênfase em Psicologia do Esporte), já há uma autorização da AFADEFI para a realização de trabalhos nesta área (anexo 4). Contudo, como se trata de um trabalho mais específico com os atletas, os participantes formalizaram sua participação na pesquisa através da assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo 3). Estas normas são baseadas também nas resoluções CNS 196/1996 e CFP 010/2000 que regulamentam a pesquisa em seres humanos na área de saúde e Psicologia, respectivamente. Aos participantes será fornecida uma devolutiva dos resultados do próprio indivíduo e do trabalho (geral) assim que os dados forem analisados e julgados pela banca de defesa desta monografia.

4.     Apresentação e discussão dos resultados

    Inicialmente serão descritos os dados demográficos e da prática desportiva dos participantes deste estudo, coletados via ficha de dados pessoais. Seguidamente serão apresentados, bem como discutidos, os resultados do grupo em relação aos instrumentos utilizados: Questionário de Motivação para a Prática Esportiva; Tabela de Autopercepção no Esporte Competitivo (T – APEC); Questionário de Estresse e Ansiedade.

    Analisam-se qualitativamente, na seqüência, os conteúdos relatados pelos participantes da pesquisa, relacionados aos objetivos e metas no esporte e motivos que levaram a iniciar a prática esportiva.

4.1.     Dados demográficos

    Como descrito na sessão dos aspectos metodológicos, 10 atletas participaram deste estudo, sendo nove masculinos e um feminino. A idade média dos participantes foi de 31 anos (± 9,07), variando de 16 a 44 anos e o início da prática esportiva foi em média aos 23,8 anos (±12,04). A maioria possui lesões que acarretam em paraplegia e usam cadeira de rodas. Foram avaliados atletas de seis diferentes modalidades, sendo que grande parte deles são praticantes de atletismo e basquete. Vale ressaltar que, excluído um caso, todos os atletas praticam mais de uma modalidade. Dentre os 10 paratletas avaliados, cinco praticavam esportes antes da deficiência e cinco começaram a prática após adquirirem a deficiência. Quanto à deficiência, a maioria dos atletas adquiriu a deficiência por meio de doença. Os atletas começaram a competir em média aos 25,4 anos de idade (±10,53). As principais metas e objetivos no esporte, de modo geral, foram os benefícios físicos e a profissionalização.

    Quem mais os motivou a iniciarem uma prática esportiva foram os amigos e os pais. O volume do treino, de modo geral, é executado 3,25 dias por semana, com duração média de 1,65 horas por dia.

4.2.     Motivos de manutenção na prática esportiva (tabela 1)

    Os paratletas participantes demonstraram que o motivo decisivo é “aprender novos movimentos e técnicas”, com média de 2,60 (±0,5). Em segundo lugar, os seguintes motivos empataram com média de 2,36 (±0,5; 0,8; 06 respectivamente): “prazer na prática”; “aumentar conhecimento no esporte” e “melhorar o desempenho esportivo”. Estes motivos confirmaram ser importantes para a prática esportiva entre esses atletas e se igualam com uma pesquisa feita com atletas de handebol infantil, por Rech et al (2003), em que esses fatores aparecem em 1º , 2º e 3º lugar respectivamente. Segundo o autor supracitado, estes fatores fazem sentido, visto que propiciam aos atletas destaque no cenário esportivo, e muitas vezes isso é buscado para se conseguir uma ascensão social mais acelerada. Em uma pesquisa feita por Noce e Samulski (2002),em atletas paraolímpicos brasileiros, o prazer na prática também é considerado como o principal motivo de manutenção no esporte..

    Os motivos considerados como pouco importantes para manutenção na prática esportiva foram o “retorno financeiro” com média 1,91 (±0,7); e “pelo status social” que ficou em último lugar com média 1,73 (±0,7). Assim como os fatores decisivos, os fatores menos importantes também se comparam à pesquisa com atletas de handebol, como no estudo de Rech et al. (2003). A questão do retorno financeiro apareceu em último lugar. Na pesquisa feita por Noce e Samulski (2002) esses fatores, retorno financeiro e status social, aparecem igualmente em último lugar, analisados como pouco importantes.

4.3.     Motivos de abandono para a prática esportiva

    Para a maioria dos atletas os motivos citados na Tabela 02 não têm muita importância para o abandono do esporte. Entretanto, os problemas relacionados à saúde 1,73 (±1,35), foram considerados decisivos para continuar praticando o esporte. Esse resultado faz sentido, visto que os atletas são deficientes físicos e praticam esportes superando os limites impostos pela própria deficiência diariamente. Outros aspectos observados foram a “falta de prazer e satisfação” e “pressão de vencer” (1,36 ±1,21; 1,03 respectivamente), de acordo com Rech et al (2003) quando as derrotas não abrem portas ou contatos, estes atletas podem perder o "prazer" de competir e abandonar o esporte. Na pesquisa de Noce e Samulski (2002), os fatores saúde/ lesões e falta de prazer, aparecem da mesma forma, nos dois primeiros lugares, como surge aqui.

    Em contra partida, o motivo considerado sem importância ou pouco importantes para o abandono do esporte (tabela2), foi a “falta de tempo para outras atividades” (0,82 ± 0,98). Além deste, os participantes avaliam da mesma forma “conflitos familiares” e a “falta de contatos sociais” com média de 0,91 (±1,30 e 1,14 respectivamente). Neste aspecto, a pesquisa em questão contesta a pesquisa de Rech et al. (2003), onde os conflitos familiares e a falta de contatos sociais aparecem com médias maiores. Entretanto, na pesquisa feita por Noce e Samulski (2002), a falta de contatos sociais, da mesma forma, parece não importar quanto ao abandono do esporte.

Tabela 1. Médias e desvios padrão das respostas aos motivos para a prática desportiva dos paratletas participantes

Motivos para a prática do esporte

Respostas

Média

DP

1. Prazer na prática

2,36

0,5

2. Sentir-se realizado

2,18

0,6

3. Aprender novos movimentos e técnicas

2,60

0,52

4. Aumentar conhecimento no esporte

2,36

0,81

5. Melhorar desempenho esportivo

2,36

0,67

6. Gostar de competir

2,18

0,4

7. Por ter sucesso no esporte

2,18

0,75

8. Conhecer limites

2,09

0,54

9. Pelo retorno financeiro

1,91

0,7

10. Gostar de desafios

2,00

1,00

11. Fazer amizades

2,18

0,6

12. Pelo status social

1,73

0,79

13. Ser reconhecido

2,09

0,7

14. Aprender a cooperar

2,18

0,4

15. Incentivo da família e amigos

2,18

0,75

16. Para viajar

2,18

0,6

4.4.     Tipo de apoio

    Em relação à análise do tipo de apoio que os paratletas recebem da família (tabela 3), os itens “incentivo para treinar e competir” e “apoio em situações de lesão” obtiveram as média mais altas com 2,09 (± 0,94 e 0,93 respectivamente) e classificaram-se como “apoio satisfatório”. O item com menor média 1,27 (± 1,10) foi “Acompanhamento das dietas complementares”. Vale ressaltar que nessa questão, nenhum item foi avaliado como “muito apoio”. O apoio em relação ao incentivo para treinar e competir se iguala à pesquisa de Rech et al. (2003), em que esse item aparece em segundo lugar.

4.5.     Atividades complementares

    De modo geral, verifica-se que as principais atividades complementares (tabela 4), classificadas como “gosto muito dessas atividades”, com média 2,90 (±0,32) foram “namorar” e em seguida com média 2,73 (±0,65; 0,47 respectivamente) “dormir/ descansar/ relaxar” e “escutar música”.

    Em último lugar, “estudar/ ler livros/ atividades intelectuais” com média 1,80 (± 1,14) ficou classificada como “gosto satisfatoriamente dessa atividade”. O resultado dessa questão se assemelha à pesquisa de Rech et at (2003) em atletas de handebol juvenil, em que tanto o primeiro quanto o último lugar aparecem da mesma forma. A falta de interesse pela leitura ou escrita pode ser um exemplo de eficácia do modelo de Avaliação Psicossocial desenvolvido em 1998 (Samuski, 1998 apud Rech et al., 2003), pois permite localizar um ponto que a ser trabalhado pela comissão técnica para fazer com que o aluno, gostando do esporte, inicie seus estudos de leitura nas áreas de interesse (história do esporte, esporte na olimpíada). Estes são mecanismos que podem auxiliar no desenvolvimento pleno do atleta enquanto individuo.

4.6.     Fatores que facilitam a prática desportiva

    Com relação aos fatores facilitadores para a prática esportiva (tabela 5), observou-se que os dois principais facilitadores do grupo, de modo geral, foram “saúde” e “força de vontade” (2,73 ±0,47). Na pesquisa de Rech et al (2003), “força de vontade” aparece em primeiro lugar seguido de “saúde”, o que nivela com os resultados desta pesquisa em questão.

    Os fatores que menos facilitam os atletas foram “patrocínio” (1,55 ±1,51) e “colégio/ bolsa de estudo” (1,56 ±1,33). É importante lembrar que não são todos os atletas que estudam atualmente, sendo que dois participantes não responderam a questão “colégio/ bolsa de estudo”, assim sendo, esta variável pode ter influência no resultado. Na pesquisa de Rech et al (2003), “força de vontade” aparece em primeiro lugar seguido de “saúde”, o que nivela com os resultados desta pesquisa em questão. Igualmente, os fatores que menos facilitam são os mesmos da pesquisa supracitada.

4.7.     Fatores que dificultam

    Verificou-se que os fatores que mais dificultam a vida dos atletas foram “lesões/ doenças” (1,73 ±1,19) e “patrocínio” (1,55 ±1,37). Esse resultado é conseqüência do pouco apoio financeiro destinado aos atletas, problema este, enfrentado por muitos outros, famosos ou anônimos (ALVES; PIERANTI 2007). Novamente esta pesquisa apresenta os mesmos resultados da pesquisa de Rech et al (2003) feita com atletas juvenis de handebol, em que o patrocínio aparece como um dos fatores que mais dificulta a vida do atleta atualmente. Denota-se também, que para a maioria dos atletas, todos os outros fatores não dificultam sua vida na prática esportiva. Do mesmo modo, na pesquisa feita com atletas de bocha adaptada, por Strapasson (2007), esse item aparece como o que mais dificulta.

4.8.     Auto-percepção no esporte competitivo

    Como pode ser observado na tabela 7, relativa a auto-percepção no esporte competitivo, pode-se denotar que grande parte dos atletas avalia com o valor 10, alguns aspectos como “relacionamento com seus familiares” (9,64 ±0,67), “relacionamento com seus companheiros” (9,45 ±0,82) e “relacionamento com seu técnico” (8,82 ±2,36). Esse resultado aparece nos três primeiros lugares na pesquisa com atletas de handebol juvenil de Rech et al. (2003), em que relacionamento com técnico, companheiros e familiares apareceram em 1º, 2º e 3º lugar respectivamente. Por outro lado, o “grau de dificuldade no esporte” teve menor média com 5,82 (±2,89) e é igualmente congruente com a pesquisa de Rech et al. (2003), na qual esse item foi avaliado por muito atletas com o valor 1, e apareceu em último lugar.

4.9.     Estresse e ansiedade

    Nota-se que a maioria dos atletas avaliou a questão “gostar de competir diante de um grande público (3,45 ±0,69) como valor 4, que corresponde a “maioria das vezes”. Muitas atletas também avaliaram as questões “preocupação com os erros que pode cometer durante as competições” e “sente o coração palpitar antes das competições” (2,82 ±1,08; 0,98 respectivamente) com a nota 3, que corresponde a “algumas vezes”. Em contra partida, “perda de memória”, “sintoma de fobia” e “perda de interesse sexual” (1,36 ±0,5; 0,92; 0,67 respectivamente) obtiveram a avaliação variando em 2 e 1, correspondentes a “raramente”e “nunca”. Noce e Samulski (2002) entendem os conceitos biológicos, psicológicos e sociológicos como condição vinculada, ou seja, considera-os interdependentes. Assim sendo, processos psíquicos e sociais são interligados a processos biológicos. Também os processos sociais são influenciados por aspectos psicológicos, e, ambos podem converter-se a respostas biológicas. Visto isso, em circunstâncias de estresse e ansiedade podem acontecer varias reações, quais sejam: taquicardia, palpitações, pele fria, rubor facial, sudorese e aumento da quantidade de glicose no sangue. Verificou-se que os atletas sentem-se ansiosos em competir diante de um grande público (processos sociais) e ficam preocupados nos erros que possam cometer durante as competições, o que pode influenciar em respostas biológicas, como o coração palpitar antes das competições. Esses fatores podem estar indicando sintomas de estresse e ansiedade.

Considerações finais

    Através dos dados obtidos nesta pesquisa, pode-se concluir que os atletas avaliados apresentam como principais suportes e incentivadores a família e os amigos. Fica evidente que para que a equipe tenha sucesso, é necessário que comissão técnica, amigos e principalmente os pais se unam, pois têm um papel fundamental na construção da carreira esportiva destes atletas. Esses atletas procuraram a atividade física, primeiramente como uma forma de reabilitação, para aprender novos movimentos e técnicas, uma vez que suas deficiências os limitam e o esporte surge para ajudá-los nesta dificuldade. Contudo, um bom condicionamento físico e ausência de lesões, congregados com um bom patrocínio, são fatores fundamentais para o crescimento profissional desses paratletas.

    Pode-se perceber que a metodologia utilizada não aborda questões relacionadas aos problemas específicos dos atletas com deficiência física, tais como as lesões provenientes da própria deficiência e não do esporte que estes praticam, além dos problemas relacionados aos equipamentos e ao acesso, que são certamente fatores relevantes na avaliação dos atletas.

    A pesar de poucas pesquisas realizadas no âmbito do esporte adaptado, os resultados destas são muito parecidos com os dessa pesquisa em questão. Entretanto, quando trata-se de diferentes tipos de deficiência, os resultados diferem, sugerindo um tratamento individual para cada atleta, de acordo com as necessidades de cada um.

    Embora esses atletas se dediquem e se esforcem na busca de aprimoramento e manutenção no esporte, ainda é preciso atenção, tratamento e reconhecimento por parte de profissionais, governo e população em geral, para que os diferentes tipos de problemas que estes encontram sejam resolvidos. Baseado nos resultados das poucas pesquisas que surgem nesta área e o apoio da literatura, é possível desenvolver programas de treinamentos específicos para estes atletas.

    Visto isso, nota-se que não existe metodologia específica para atletas com deficiência física, uma vez que frequentemente depara-se com pesquisas e estudos feitos em atletas sem deficiência aplicadas à atletas com deficiência. Importante seria estudar e criar padrões para estes atletas. Dessa forma, os resultados obtidos, seja na busca de melhoria de resultados ou na qualidade humana do atleta, seriam quanti e qualitativamente melhor.

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