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Esportes de raquete na Educação Física Escolar: 

uma proposta para crianças e adolescentes

Deportes de raqueta em Educación Física Escolar: una propuesta para niños y adoscentes

Rackets sports in School Physical Education: a proposition for children and teenager

 

*Professora Substituta da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG

Mestre em Ciências do Esporte (UFMG, 2009)

**Professor Adjunto da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG

Doutor em Psicologia Educacional (Unicamp, 1995)

(Brasil)

Layla Maria Campos Aburachid*

Pablo Juan Greco**

laylabur@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Este trabalho objetiva apresentar uma alternativa metodológica para o processo de ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) dos esportes de raquete com crianças e adolescentes na Educação Física escolar. Apóia-se na teoria da concepção pedagógica desenvolvida a partir do Ensino de Jogos Para a Compreensão (TGFU), bem como se relaciona com as propostas da Iniciação Esportiva Universal uma Escola da Bola. O estudo visa contribuir com o processo de ensino dos esportes de raquete objetivando a compreensão do jogo através de uma proposta de aprendizagem incidental.

          Unitermos: Processo de ensino-aprendizagem-treinamento. Esportes de raquete. Compreensão do jogo.

 

Abstract

          The aim of the study is to present a methodological alternative to the teaching-learning-training process to children and teenagers in rackets sports at the physical education at schools supported on “Teaching games for understanding” theory as well as to relate whit Universal Sports for Beginnings a Ball School. The study search contributes whit intentional rackets sports teaching process to develop the game understanding.

          Keywords: Teaching-learning-training process. Rackets sports. Game understanding

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Vídeos ilustrativos da proposta dos esportes de raquete na Educação Física Escolar

Jogos de Tenis
Pulsa para ver el video (9.81 Mb)

1.     Introdução

    Grande parte dos conteúdos que o professor de Educação Física ensina na escola gira em torno dos jogos esportivos coletivos. Os jogos podem ser ao mesmo tempo divertidos, educativos, desafiadores, bem como também podem contribuir para a melhoria dos conceitos de saúde e auto-estima. Em contrapartida, muitos educadores pensam que os jogos são extremamente competitivos e excludentes. Assim, é necessário observar a orientação pedagógica que se aplica ao processo de ensino-aprendizagem-treinamento (EAT) na práxis educacional. O presente estudo objetiva descrever uma alternativa pedagógica apoiada na concepção teórica desenvolvida a partir do denominado “Teaching games for understanding” (TGFU), ou seja, ensino dos jogos para a compreensão, bem como relacionar esta com as propostas da Iniciação Esportiva Universal (IEU) uma Escola da Bola (EB).

2.     Revisão de literatura

    No TGFU os alunos aprendem o jogo a partir da compreensão tática e primeiro percebem os componentes táticos para depois adquirem habilidades técnicas para a solução das tarefas e problemas do jogo. Na IEU a proposta baseia-se conforme Greco e Benda (1998) em um processo paralelo de aprendizagem motora e de desenvolvimento da capacidade de jogo, como apoio para posterior processo de treinamento técnico e tático. A aprendizagem motora se concretiza na medida em que se oportuniza o desenvolvimento das capacidades coordenativas e das habilidades técnicas, que apresentam um conjunto de parâmetros comuns a todas as habilidades e técnicas com bola para os esportes. O desenvolvimento da capacidade de jogo se apóia nos conteúdos: capacidades táticas, estruturas funcionais e os jogos para o desenvolvimento da inteligência tática (JDIT) (maiores detalhes em Greco e Benda, 1998 e Greco, 2004). A proposta da Escola da Bola se apóia complementa a IEU no desenvolvimento da cultura esportiva de crianças representada pelos pilares: capacidades táticas (A), capacidades coordenativas (B) e habilidades técnicas (C). As propostas da IEU e da EB canalizam o jogo como elemento central no processo de EAT e as capacidades coordenativas e as habilidades não são trabalhadas isoladamente, objetivando-se aumentar a motivação, para que o professor operacionalize o ensino de forma efetiva, propondo jogos esportivos orientados à meta, ao colega e ao adversário.

2.1.     A proposta dos esportes de raquete na educação física escolar

    O desenvolvimento da capacidade tática pressupõe a sua compreensão, para tal é possível estruturar e organizar o jogo introduzindo para cada problema tático, diferentes capacidades e habilidades com e sem bola. Nessa proposta de ensino o principal objetivo a ser colocado é, em princípio, desafiar o aluno a solucionar problemas táticos, se apresentando concomitantemente o desenvolvimento das habilidades técnicas e as capacidades coordenativas (GRECO, 1998).

    Quando o ensino tem como base o método analítico, os professores são questionados pelos alunos com perguntas como: 1) Por que estamos fazendo isso? e 2) Quando vamos jogar? Dessa forma, muitos erros que ocorrem no jogo não porque os alunos não sabem como fazer (executar ações técnicas) e sim, porque não sabem claramente o que fazer, isto é, tomar decisões táticas. Nos processos analíticos de ensino o aluno desenvolve uma habilidade técnica adequada, mas se não entender o jogo, existe a priori a dificuldade de identificar a habilidade técnica correta a ser utilizada na situação.

    Como se pretende incluir os esportes de raquete como conteúdo curricular da Educação Física Escolar a seguir serão apresentadas semelhanças existentes entre as modalidades de raquete. Griffin, Mitchell e Oslin (1997), apresentam uma classificação dos jogos esportivos que considera quatro tipos diferentes de modalidades: de invasão, de rede/parede, de campo/corrida-pontos e de alvos. Mitchell e Oslin (1994) realizaram um estudo sobre transferência tática no processo de ensino-aprendizagem no badminton e pickleball, um jogo de mini-tênis muito praticado nos estados Unidos. Após um processo de treinamento em escolares do nono ano, divididos em dois grupos que iniciaram em badminton e depois aprenderam pickleball e vice-versa, os resultados da transferência da transferência tática no momento do jogo foram significativos.

    As semelhanças encontradas entre os esportes de raquete seguem quando se aborda a identificação das estruturas básicas de jogo de acordo com o meio ambiente e a participação do companheiro e do adversário. Moreno (1994) classifica os esportes como de oposição, cooperação e cooperação/oposição em relação ao uso do espaço e a participação dos atletas. As modalidades de raquete se classificam como esportes de oposição, participação alternada e cujas ações são desenvolvidas em um espaço separado por uma rede (Tênis, Tênis de Mesa e Badminton) ou comum como o Squash.

    A compreensão tática de jogos de rede e parede pode ajudar a resolver os problemas de outros esportes, em função dos aspectos espaciais, mesmo que as habilidades técnicas sejam diferentes. O sistema de classificação dos jogos por grupo apresentados por Griffin, Mitchell e Oslin (1997) apóia-se na compreensão dos alunos dos parâmetros comuns que constituem efetivamente a performance do jogo. A identificação das similaridades entre os jogos integrada a aplicação de diferentes formas motoras amplia o conhecimento técnico-tático que facilita a transferência das habilidades esportivas adquiridas nas situações táticas semelhantes. Daí a união dos esportes de raquete (Tênis, Badminton, Tênis de Mesa e Squash) que, baseada em Dereix (1988), Mckenzie (1992), Xiang (1994), Galliett (1996) e Messinis (2000), apresentam em comum um oponente para realizar o retorno da bola/peteca para o outro lado do campo ou mesmo campo (squash), classificando o jogo como uma estrutura unificada de habilidades cognitivas a serem executadas.

2.2.     Como colocar a proposta dos esportes de raquete em prática

    Para se por em prática o modelo de EAT apoiado no desenvolvimento da capacidade de jogo é necessário primeiramente, analisar as estruturas que identificam os problemas táticos para que os mesmos sejam estimulados, e então possam ser solucionados. O quadro 1 apresenta uma delimitação de problemas táticos e movimentos com e sem bola, além das habilidades técnicas solicitadas para rebater a bola para o campo adversário. Essas estruturas foram constituídas a partir de duas perguntas feitas a professores: a) Que problemas o jogo apresenta para se fazer pontos e prevenir os pontos adversários? e b) Que movimentos com e sem bola são necessários para resolver tais problemas?

Problemas táticos

Movimentos sem bola

Habilidades técnicas c/ bola

Marcando pontos (ataque)

- Iniciar o ataque para criar espaços no lado oponente (T, B, TM)

- Iniciar o ataque para afastar o oponente das bolas (S)

- Vencer os pontos 

- Atacar em dupla

Comunicação ofensiva frente e fundo (B, S). lado a lado (T) e rodízio (TM)

Overhead clear, drive, drop short, saque alto e fundo, smash (B)

 

Direita/Esquerda, lob, saque, voleio, approach, passada, smash (T)

 

Direita/Esquerda, lob, smash, boast, drop short (S)

 

Direita/Esquerda, lob, smash, choto, Kato (TM)

Prevenindo pontos (defesa)

- Defender espaços no seu lado da rede

- Defender contra um ataque

- Defender em dupla

Retornar (T, TM) e retornar ao centro da quadra (B, S)

 

Comunicação defensiva lado a lado (T, B), frente e fundo (S), rodízio (TM)

Saque baixo, retorno do smash, drop short (B)

 

Lob (T, TM)

 

Lob, boast (S)

Quadro 1. Problemas táticos, movimentos e habilidades nos esportes de raquete (Adaptado de Griffin, Mitchell & Oslin, 1997)

Obs.: Os movimentos com/sem bola são diferenciados pela abreviação do esporte a que pertencem.

Legenda: T – Tênis; TM – Tênis de Mesa; S – Squash; B – Badminton

    Os movimentos que os jogadores executam durante o jogo de raquete sem posse de bola é tão importante quanto ter a bola em seu domínio. Movimentam-se para atacar ou defender e ao mesmo tempo tomam decisões para resolver problemas e vencer o ponto. Conhecendo onde se encaixam os esportes de raquete no sistema da classificação para os jogos esportivos e tendo definido os problemas táticos, movimentos e habilidades técnicas comuns, o modelo de ensino-aprendizagem tático pode ser aplicado como proposto na figura abaixo.

Figura 1. Modelo do TGFU (Griffin, Mitchell e Oslin, 1997)

    Inicia-se o processo de EAT com formas jogadas 1 facilitando (para novatos) ou dificultando (para “experts”) o problema tático a ser solucionado no jogo, encorajando assim, os alunos a pensar taticamente. Após a prática, os alunos são questionados sobre o que deveriam fazer 2 para obter sucesso no objetivo do jogo. Dessa forma instiga-se os mesmos a pensar criticamente e resolver problemas. Depois os alunos são argüidos a responder como deveriam realizar ações motoras (habilidades técnicas) 3 no jogo.

    Além dessa possibilidade de ensino-apredizagem, a proposta para o treinamento das habilidades técnico-táticas apresentada por Carvalho, Aburachid e Greco (2007) se baseia na trajetória percorrida pela bola após o golpe do oponente. Este sinal relevante pode se dividir em um grupamento de informações preciosas que são: qual a velocidade, o plano, a direção e a distância percorrida pela bola que foi golpeada pelo oponente. Quanto à velocidade, pode ser rápida, média ou lenta, quanto ao plano, alto, médio ou baixo, quanto à direção, paralela ou cruzada, e finalmente, quanto à distância, frente/longa, meio/média e fundo/curta. Após adquirir esses conceitos a percepção da recepção da bola do oponente e a própria regulação da aplicação da força e dos ângulos momento da rebatida, produzirão golpes sem que o treinador tenha que dizer qual ação executar e sim, em que local da quadra a bola deverá chegar. A figura 2 representa as possíveis trajetórias que podem ser percorridas pelo implemento, assim como os locais na quadra (quadrantes) o mesmo deve chegar.

Informações relevantes da trajetória da bola/peteca nos esportes de raquete

Figura 2. Informações relevantes da trajetória da bola/peteca nos esportes de raquete (CARVALHO, ABURACHID e GRECO, 2007)

Referências

  • CARVALHO, F.; ABURACHID, L. M. C.; GRECO, P. J. Estudo dos efeitos de saque no tênis e diferentes pontuações e pisos no jogo. In: 1o Congresso Internacional dos Jogos Esportivos. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, v. 7, 2007. p. 36-36.

  • DEREIX, A.J. Manual tutor del tenis. Madrid: Ediciones Tutor, 1988.

  • GALLIETT, R. Tênis: metodologia do ensino. Rio de Janeiro: Sprint, c1996.

  • GRECO, P.J.; BENDA, R. N. Iniciação esportiva universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. v.1. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

  • GRECO, P.J. Iniciação esportiva universal: metodologia da iniciação esportiva na escola e no clube. v.2. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

  • GRECO, P.J., Roth, K e Schorer, J. Ensino-aprendizagem-treinamento da criatividade tática nos jogos esportivos coletivos. In: Temas Atuais em educação física e esportes IX. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. p. 157-174.

  • GRIFFIN, L. L., MITCHELL, S. A.; OSLIN, J. L. Teaching sport concepts and skills: a tactical games approach. Champaign: Human Kinetics, 1997.

  • KROGER, Christian; ROTH, Klaus. Escola da bola: um ABC para iniciantes nos jogos esportivos. Belo Horizonte: Phorte editora, 2002.

  • MCKENZIE, I. The Squash workshop: a complete game guide. Ramsbury :The crowood Press, 1992.

  • MESSINIS, D.E. Table tennis from a to z. Athens: Charalambos Zaharopoulos, 2000.

  • MITCHELL, S.A.; OSLIN, J.L. An investigation of tactical transfer in net games. European Journal of Physical Education, 1994.

  • ROTH, Klaus; KROGER, Christian; MEMMET, Daniel. Ballschule: vom ABC für spielanfänger. Verlag Karl Hofmann, 2002.

  • XIANG, Y. C. Badminton: técnica asiática. Huesca: Gráficas Alós, S.A., 1994.

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