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Envelhecimento humano e atividade sexual

 

Graduandos em Educação Física

Universidade Federal de Viçosa

Viçosa, Minas Gerais

(Brasil)

Márcia de Ávila e Lara

avilaelara@yahoo.com.br

Felipe Alves Soares

felipeefi_ufv@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Os idosos no Brasil não possuem a atenção devida e são tratados como inúteis perante a sociedade. A sexualidade na terceira idade é um tema ainda pouco desbravado, que requer muitos estudos a fim de se encontrar um caminho adequado para que se quebrem os preconceitos em relação à atividade sexual nessa faixa etária. Necessita-se de uma melhor explicação e orientação das verdadeiras mudanças existentes no comportamento sexual do idoso, para que este grupo possa não se sentir culpado pelos seus desejos sexuais, independentemente da forma de sua manifestação.

          Unitermos: Sexualidade. Atividade Física. Terceira idade. Envelhecimento

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    O número de idosos na população brasileira tem aumentado consideravelmente. Houve uma queda significativa na taxa de fecundidade e a medicina está se desenvolvendo no que diz respeito ao processo de cura e à prevenção de doenças, a economia está crescendo e a alimentação se aprimorando. Estes são fatores que contribuem para que o número de pessoas idosas no país cresça, aumentando a expectativa de vida do brasileiro. As previsões do IBGE são de que por volta de 2020 teremos mais de 30 milhões de idosos na nossa população, o que representará por volta de 13% do total de brasileiros.

    Nesse contexto, as pesquisas que abordam a temática do envelhecimento vêem crescendo com o intuito de entender este processo, e de se aprender mais sobre as mudanças normais associadas à idade e que aumentam a vulnerabilidade às doenças do envelhecimento. Dessa forma, percebe-se que a comunidade acadêmica e a científica apresenta um interesse significativo sobre as condições de vida do idoso face ao aumento da expectativa de vida do ser humano.

    Entretanto, essa consciência se apresenta fragmentada, pois quase sempre se limita a uma abordagem médico-terapêutica, que trata a questão da velhice prioritariamente a partir de uma concepção de patologia, de distúrbios fisiológicos, esquecendo-se de toda uma trama sócio-cultural que condiciona e permeia a realidade e a vivência social dessas pessoas em todos os seus aspectos.

    De acordo com Castro (1998), a Gerontologia, ciência que se preocupa com estudos sobre o processo de envelhecimento, não pode desprezar o espaço cultural, no qual se movimenta o idoso, pois a cultura constitui-se em um quadro de referência fundamental que orienta a visão do mundo. Cada homem é construído, plenamente como tal, no interior de uma cultura e, nela, a ciência gerontológica cuida de experiências no envelhecimento, na multiplicidade e diversidade de possibilidades. Do envelhecimento deve-se ter uma visão holística. Essa noção de totalidade sugere uma direção convergente, colocando no ser que envelhece a responsabilidade de entender e trabalhar sua própria velhice.

    Pode-se afirmar que o processo de envelhecimento não é homogêneo, ele é envolto por variáveis como genética, estilo de vida, presença ou não de doenças. Além disso, os aspectos culturais e sociais também contribuem para que ele aconteça de maneira única. Cabe considerar que cada indivíduo vivencia o processo do envelhecer de acordo com as normas que a sociedade lhe propõe, pois esta possui um conjunto de regras de comportamento, linguagem e valores que evidenciam o universo da cultura a qual está inserida.

    A relevância do estudo da sexualidade na velhice está nesta perspectiva, dar outro enfoque à vida do idoso, partindo das possibilidades dadas pelo vivido e mostrar a terceira idade como fase da vida em que a necessidade de ser independente, de amar e ser amado, de ser respeitado como indivíduo e de viver novas experiências é a mesma de qualquer outra.

    Dentro desta perspectiva, objetiva-se neste trabalho, analisar como se apresentam a violência simbólica e o preconceito perante os idosos referentes às manifestações da sexualidade.

A sexualidade na terceira idade

    Stuart-Hamilton (2002) relata que, ainda sim, envelhecer – especialmente entre octogenários e mais velhos – é principalmente uma experiência das mulheres. Nas sociedades pacíficas, a quantidade de homens e mulheres é quase igual até os 45 anos. A partir daí, os homens morrem em um ritmo mais rápido, de modo que, aos 70, haverá aproximadamente seis mulheres para cada cinco homens e, aos 80, essa razão será de 4:1.

    Foram sugeridas muitas razões para a morte precoce dos homens. Uma concepção popular atribui essa morte à vida fisicamente mais cansativa que os homens tradicionalmente levam. Entretanto, essa parece uma explicação, no melhor dos casos, marginal, uma vez que a comparação entre homens e mulheres equiparados quanto à atividade física ainda mostra uma grande diferença de gênero nos índices de mortalidade.

    As influências culturais são marcantes e devem ser levadas em conta principalmente quando se procura enfocar a sexualidade da pessoa. Essa temática foi, é e continua sendo palco de discussões, interpretações e visões multifacetadas; sendo considerada por muitos estudiosos um importante campo da experiência humana, apesar de se revelar, ainda, cheia de mitos e preconceitos.

    Papaléo Netto (2007) transmite de uma forma bem clara, o atual cenário sobre essa temática. Ele mostra que nos últimos anos vem ocorrendo uma revolução na concepção e na prática da sexualidade, o que tem se refletido de forma indiscutível na terceira idade. Alguns fatores tiveram influência direta no processo, sendo três os mais importantes. Primeiramente, a vida sexual deixou de ser apenas a função de procriação para se tornar uma fonte de satisfação e realização de pessoas de todas as idades. Segundo: o aumento notável e progressivo de pessoas que chegam a uma idade sempre mais avançada em condições psicofísicas satisfatórias e não dispostas a renunciar à vida sexual. E por último: o aparecimento da AIDS obriga todos a repensar a sexualidade, reforçando a necessidade de informarem-se e falarem mais abertamente sobre sexo.

    Na terceira idade, a dificuldade em vivenciar a sexualidade pode ter relação com mitos associados a corpos perfeitos esculpidos nas academias, ao vigor físico e à juventude. Com isso, os mitos têm servido para criar uma aura de mistério em torno da expressão sexual humana, contribuindo para a ignorância e interpretações errôneas, podendo proporcionar o declínio da prática desta necessidade.

    Entretanto, devemos esclarecer também que a partir do período do climatério, o ser humano sofre algumas importantes alterações corporais. Para as mulheres, as principais modificações são:

  • Diminuição da lubrificação vaginal;

  • A parede da vagina fica mais fina estando sujeita a irritações, dores e sangramentos durante a penetração;

  • Pode haver uma maior exposição do clitóris ou redução do seu tamanho, flacidez nos grandes lábios;

  • Na vagina pode ocorrer um encurtamento ou estreitamento e perda de sua elasticidade.

    Os homens sofrem um pouco mais com o envelhecimento gradativo, mesmo porque, segundo Kaplan, enquanto o homem atinge seu apogeu sexual aos 18 anos, a mulher chega ao ápice depois dos 35-40 anos. O fato de sua parceira encontrar-se naturalmente desejosa de sexo pode torná-lo angustiado e achar que não consegue mais “corresponder”. Algumas alterações com relação ao gênero masculino a partir dos 40 anos são:

  • Maior tempo e estimulação genital mais direta;

  • A ereção é menos rígida;

  • Existe menor necessidade física de ejacular e maior controle desta;

  • Diminuição do volume do sêmen e do jato no orgasmo;

  • Às vezes diminuição da resposta orgástica;

  • Queda da ereção mais rápida após a ejaculação.

    Castro (1998) mostra ainda que o debate sobre a sexualidade se torna tão difícil por ser este um dos poucos temas que apresentam uma amplitude, ao mesmo tempo, social e individual e que no caso das mulheres idosas os preconceitos seriam provenientes de sua dupla condição: o fato de serem mulheres e idosas.

    Padrões de comportamento são criados pela sociedade, que limita a sexualidade humana a um período compreendido entre a puberdade e o início da maturidade. Sendo assim, o comportamento sexual não costuma ser reforçado pela sociedade na velhice. Ao contrário, é severamente punido através do preconceito que permeia essas relações. Submetido ao controle social o qual desencadeia os conflitos psicossociais inibidores da sexualidade, aliado às modificações fisiológicas que, normalmente, ocorrem com o envelhecimento, os idosos parecem incorporar e aceitar essa assexualidade como um processo normal da idade.

    A falta de informação é um fator que influencia a queda da atividade sexual na terceira idade. Até pouco tempo, o tema sexo era estritamente proibido dentro dos lares, e as mulheres possuíam a função de procriar; e cuidar do lar e dos filhos. Esse quadro tem mudado bastante.

    Acredita-se que a transmissão de informações através de vários meios pré-estabelecidos diminua as crenças e tabus sobre um assunto tão cheio de preconceitos como o da sexualidade. A partir disso, é necessário nos conscientizar da importância da sexualidade em qualquer fase da vida, pois esta é uma necessidade básica do ser humano que deve permanecer até os últimos dias do indivíduo.

Referências bibliográficas

  • CASTRO, Odair Perugini de et al. Velhice, que idade é essa?: uma construção psicossocial do envelhecimento. Porto Alegre: Síntese, 1998.

  • GRADIM, Clícia Valim Côrtes et al. A prática sexual e o envelhecimento. Cogitare Enferm. 2007 Abr/Jun; 12(2): 204-13.

  • LAURENTINO, Norma R. Salini et al. Namoro na terceira idade e o processo de ser saudável na velhice: recorte ilustrativo de um grupo de mulheres. Passo Fundo: RBCEH, 2006.

  • PAPALÉO NETO, Matheus. Tratado de Gerontologia. São Paulo: Editora Atheneu, 2007. 2 ed.

  • PEREIRA, E. T. Imaginário Social e Velhice: O Discurso do Idoso. (Dissertação de Mestrado). Rio de Janeiro: UGF, 1999.

  • ______ . As Faces de Pandora: A mulher na Família, no Trabalho e no Lazer. (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro: UGF, 2005.

  • Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil. IBGE, 2000

  • RISMAN, Arnaldo. Atividade Sexual na Terceira Idade. In: Veras, R.P.(org)- Terceira Idade: Um Envelhecimento Digno para o Cidadão do Futuro. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: UERJ, p.49-64, 1995.

  • STUART-HAMILTON, Ian. A psicologia do envelhecimento: uma introdução; trad. Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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