As percepções sobre o corpo, escola, educação corporal: um estudo etnográfico com acadêmicos do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho Las percepciónes sobre el cuerpo, la escuela, la educación corporal: un estudio etnográfico con estudiantes del curso de Educación Física de la ULBRA Carazinho |
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*Acadêmicos do curso de Educação Física da ULBRA Carazinho. **Orientadora. Mestre em Educação, docente da ULBRA Carazinho (Brasil) |
Caroline Rizzi Di Domenico* | Eliel Follmer Neuhaus* Fernanda Mingotti* | Mateus Dapper* Yuri Jivago Bishoff Pereira* Patrícia Carlesso Marcelino Siqueira** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi mostrar a importância da vivencia de seu corpo, da quebra de paradigmas, e também, a importância da expressão corporal dentro das escolas, tanto para uma melhor formação de indivíduos cidadãos, quanto para o entendimento entre alunos e professores. Trata-se de uma pesquisa etnográfica, a qual possibilitou aos integrantes uma melhor percepção de corpo e individuo na sociedade. Com base nas essências, os integrantes da pesquisa poderão perceber de uma forma mais clara que a expressão corporal num contexto completo pode influenciar em um melhor nível de vida, libertando-se da influencia que a mídia nos impõe em relação aos padrões de beleza. Unitermos: Corpo. Escola. Educação corporal. Educação Física
Resumen |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009 |
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Este artigo foi motivado pela disciplina de ritmo e expressão corporal do curso de Educação Física, da Universidade Luterana Do Brasil, ULBRA, campus Carazinho. Deste modo, visamos a melhor compreensão de ritmo e expressão corporal tanto nas escolas voltado a educação, quanto para o corpo e o rompimento de paradigmas corporais.
O estudo se caracterizou por ser do tipo etnográfico, de acordo com André (2004), sendo sua amostra composta por 05 acadêmicos do curso de Educação Fisica, de ambos os sexos, com idades entre 17 e 22 anos. Para manter o anonimato dos entrevistados, seguiu-se as premissas descritas pelo comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS 196/96. Cada participante da pesquisa recebeu um codinome que foi caracterizado por apelidos fictícios :
Alemoa - acadêmica do Curso de Educação Física – 22 anos
Dido - acadêmico do Curso de Educação Física – 17 anos
Pastel - acadêmico do Curso de Educação Física – 20 anos
Negão - acadêmico do Curso de Educação Física – 18 anos
Xingu - acadêmico do Curso de Educação Física – 17 anos
As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):
1º O Sentido do todo
Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.
2º As unidades de significado
Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.
3º Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa
Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.
4º Síntese das estruturas de significado
Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.
5º Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992)
Esta etapa visa encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho e que compõem as essências.
As essências do estudo
O Corpo
O fenômeno do corpo evidenciou-se nas fala dos educandos , pois o ser humano, singular e complexo é por si só muito expressivo, dotado de potencialidades que o difere dos demais: “Cada ser humano possui seu ritmo próprio sem ser igual ao dos outros seres”. (Dido)
De acordo com Haas, Garcia e Gonçalves (2002; p.17 ) o vocabulário corporal conduz a forma do ser estar e comportar-se no mundo. Isso se explicita na fala de Alemoa: “Devemos recuperar cada vez mais a relação do homem com o seu corpo, demonstrando seus sentimentos, angústias e alegrias.”
De acordo com Menezes (2007) o “Homem é corporeidade e, como tal, é movimento, é gesto, é expressividade, é presença.”
Do mesmo modo Siqueira (2008, p. 7) diz que “O movimento é comunicação, e comunicar uma mensagem é utilizar uma linguagem, a linguagem corporal. O movimento é o instrumento dessa linguagem. Para enviar essa mensagem, não se requer nenhuma condição, nem idade, nem sexo… Todos os indivíduos aceitarão, com atenção e interesse, o gesto da comunicação corporal.”
“Muitas pessoas conseguem vivenciar bem seu corpo, freqüentando academias, clubes, spas, entre outros”. (Xingu)
A autonomia e a busca pelo desenvolvimento harmônico integral, global e holístico do ser humano no caso específico do educando, no sentido de oportunizar a busca do auto-conhecimento/ autodescoberta; a busca além das potencialidades, possibilidades e limites do corpo bem como as noções e a importância do apego, da compreensão, da solidariedade e do conhecimento interior e exterior que o cerca. Haas, Garcia e Gonçalves (2002, p. 16)
Segundo Haas, Gonçalves e Garcia (2002, p.17) “o corpo expressado pelo próprio corpo. Essa frase deduz que a essência corporal permite-se de varias significações, entre essas o significado do corpo como um corpo em movimento, em expressão de intenções advindas de sentimentos, sensações, descobertas, desejos, procuras, subjetividades, abstrações…”
A expressão corporal na escola
“Nas escolas a expressão corporal, tanto para professores quanto para alunos, é fundamental para a comunicação e para o entendimento”. (Dido)
Permitir a expressão espontânea e favorecendo o surgimento dela, abandonando a formação técnica formal, que pode vir a esvaziar o aspecto verdadeiramente educacional da dança. (FERREIRA, 2008, p. 15)
“As escolas devem abrir novos espaços para que a expressividade corporal seja trabalhada em todas as séries, desde a inicial até a final”. (Pastel)
Assim afirma Costa (2004, p. 40) seriam indispensáveis, também, saberes éticos que ajudem a forjar a cidadania, fazendo com que cada um dos estudantes se torne, no futuro, um trabalhador cidadão, critico, consciente, que contribua para o aprimoramento da sua comunidade, da sociedade, e para a preservação do ambiente em que ele vive.
Paradigmas corporais
“Quebrando os paradigmas corporais podemos nos enriquecer espiritualmente demonstrando nosso verdadeiro eu, saindo do estereótipo imposto pela humanidade, desenvolvendo uma personalidade própria e não a que nos foi imposta”. (Dido)
A questão é que o corpo não pode continuar sendo visto como faz o paradigma capitalista, ou seja, como um simples objeto de produção e consumo, não podendo ser um sujeito de sua própria história. SIQUEIRA (2008, p. 37)
“A pratica de atividades físicas, que estimulam o corpo podem fazer com que sua qualidade de vida seja muito maior e que com este tipo de inter-relações viverão com muito mais prazer, mas este pensamento vem evoluindo vagarosamente através dos tempos”. (Pastel)
Na Educação Física, embora classificada na área de ciências da saúde pelos órgãos de fomento à pesquisa, a questão do corpo relacionada à compreensão do ser humano numa perspectiva filosófica, sócio- histórica, vem ganhando espaço, se considerado que quase que exclusivamente era reservada às temáticas do rendimento da saúde do ser humano. Siqueira (2008, p. 13)
“Estamos vivendo em um mundo cheio de padrões tendo que ter um corpo escultural, se portar da melhor maneira possível, e fazer tudo da melhor forma”. (Alemoa)
Assim contextualiza Siqueira (2008, p. 15) : muitas pessoas, das mais variadas idades, sentem-se complexadas por não terem um padrão de beleza segundo os moldes de um determinado contexto social e, por serem diferentes, sentem-se inferiorizados e vivem buscando atingir uma meta de padrões que muitas vezes são impossíveis.
“Então, recorrem a drogas medicamentosas, silicones, cirurgias e, nessa busca desenfreada, perdem muitas vezes a saúde ou a vida.Em nossa sociedade há pessoas que tem vergonha de seu corpo e por isso deixam de fazer as coisas que gostam”. (Alemoa)
Conforme Siqueira (2008, p. 16) cada idade tem sua beleza, é preciso vivenciar e usufruir cada momento de maneira única, singular, esquecendo os meio de comunicação, que nos fazem consumir, que nos deixam deprimidos, desequilibrados, em razão das narrativas e dos padrões consumistas impostos. É necessário voltar os nossos olhos para as possibilidades de transcendência; nossa única obrigação é com o nosso bem- estar e com a nossa felicidade .
Educação pelo movimento
“A dança também pode ser uma forma de educar novas gerações ampliando suas percepções de mundo e contribuindo para o desenvolvimento de críticas e de reflexões”. (Pastel)
De acordo com Siqueira (2008, p.15) aprender arte envolve, além do desenvolvimento das atividades artísticas e estéticas apreciar o belo situar a produção artístico-social de todas as épocas nas diversas culturas, estabelecer relações entre trabalhos artísticos individuais e grupais, assimilar e perceber correlações o que faz na escola e o que faz na sociedade local, regional, nacional e internacional.
“É vista a necessidade de trabalharmos cada vez mais cedo as crianças, seus movimentos suas articulações, enfim, sua expressão corporal, permitindo que se liberem de seus medos e possam fluir coisas boas”. (Negão)
Isto que dizer que a prática da dança na Educação Física tem que estar voltada não só para a recreação, ou simplesmente para o treino de habilidades motoras, mas para o equilíbrio psíquico para a expressão criativa e espontânea, afim de assegurar aos alunos a possibilidade de reconhecimento e compreensão do universo simbólico. (Siqueira, 2008, p. 15)
Sobre expressão corporal
“Desde crianças grande parte dos nossos sentimentos, emoções, gestos são expressos através do ritmo e da expressão corporal. Eles têm o poder de identificar nosso estado emocional, se estamos tristes, felizes, bravos, preocupados, nervosos, entre outros”. (Dido)
Expressarmos é descobrir que temos alguma coisa para dizer e dize-lá com a linguagem que nos parece mais significativa, seja o gesto a palavra a cor ou a dança (AYMERICH, 1981 APUD HAAS, GARCIA E GONÇALVES, 2002, p.11)
“Pessoas tímidas têm maiores dificuldades em expressar também seus movimentos”. (Pastel)
O ser humano é pura expressão. Seus gestos, olhares, sorrisos, lágrimas, sua voz, seu silêncio e sua imobilidade, traduzem algumas do múltiplos e inúmeros aspectos do seu mundo interior em sintonia com o mundo exterior. HAAS, GARCIA, GONÇALVES (2002, p. 19)
A dança é feita de movimentos expressivos que relatam nosso sentimento no dia-a-dia, tornando-se uma maneira de expressão corporal e de certa forma um símbolo expressivo. (Negão )
Todas as manifestações corporais vivenciados em diversos estilos de dança como balé clássico, contemporâneo, jazz, livre, moderno, street, etc., que promovem o despertar de inúmeros sentimentos, emoções, sensações, estados de animo que traduzem mensagens corporais que se deseja transmitir, refletir, questionar, rebelar.( HAAS, GARCIA, GONÇALVES , 2002, p. 38, 39)
Considerações finais
Com este estudo podemos perceber a importância da expressão corporal nas escolas, em nosso cotidiano, para a educação, enfim, em um contexto amplo de vivencias corporais. Vivenciando o nosso corpo através da disciplina de ritmo e expressão corporal podemos chegar a uma melhor forma de vida, desenvolvendo não só o físico, mas um corpo em geral, ou seja, o físico e o psíquico, a nossa corporeidade.
Assim, pode-se afirmar que com o corpo mostramos presença, através de nossos movimentos, expressões e gestos. Dentro das escolas há o lado tecnicista, o qual deixa vago o aspecto afetivo, sendo fundamental à expressão corporal para um melhor desenvolvimento harmônico entre alunos e professores, onde podemos vivenciar na disciplina aqui estudada.
Tudo se concreta com a quebra dos paradigmas corporais, que nos são impostos desde criancinhas, e assim, atravancam um conhecimento mais amplo sobre nós mesmos. E, por conseguinte se tornam empecilhos na prática de atividades físicas que devem ser trabalhadas para uma boa forma, saúde mental e corporal. Este estudo permite-nos também esquivar-se dos padrões de beleza impostos pela mídia, aproveitando o que a vida nos dá de melhor, a simplicidade da própria vida e a beleza das idades.
E assim formando seres educados, libertos de seus medos, a dança nos mostra que é possível sim educar através da expressão corporal, tanto em trabalhos individuais, quanto em grupais, desenvolvendo um cidadão consciente, sábio de suas escolhas, críticas, diferenças etc. pois cada cidadão possui uma identidade própria que a distingue dos outros seres.
A Educação Física consolida a formação destes indivíduos, através de jogos recreativos e competitivos, com aplicação de regras e trabalho coletivo. Tendo também o poder de identificar nosso estado emocional a expressão corporal ajuda-nos em uma melhor desempenho na sociedade, conhecendo-a melhor podemos contornar melhor certas situações, com isso se percebe o quanto ela esta presente em nossos dias: em nossos momentos de lazer, de descontração, momentos de raiva, alegria, tristeza, entre outros.
Referencias
ANDRÉ, M.E.D. de. Etnografia de pratica escolar. 11. ed. Campinas: Papirus, São Paulo, 2004.
COMIOTTO, M. adultos médicos: sentimentos e trajetória de vida. (Tese doutorado em educação) – UFRGS, Porto Alegre, 1992.
COSTA, M. V. A escola tem futuro? Ed. DP&A, Rio de Janeiro, 2003.
GIORGI, A. phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duqueme University, Press, 1985.
HAAS, Aline Nogueira, GARCIA A., GONÇALVES C. J. S. Expressão corporal. Cadernos universitários: ULBRA, Canoas, 2002.
SIQUEIRA P. C. M. . A linguagem corporal no processo educativo estético do idoso. (Dissertação mestrado em Educação), UPF, 2008.
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