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Composição corporal de pacientes com insuficiência renal crônica

Composición corporal de pacientes con insuficiencia renal crónica

 

*Especialista em Saúde Coletiva/UNICRUZ

Mestranda em Educação Física/UFPEL

**Especialista em Ciência do Movimento Humano/UNICRUZ

Especializando em Educação Física Escolar/UFSM

***Especialista em Ciência do Movimento Humano/UNICRUZ

****Especializada em Saúde: ênfase em reabilitação e prevenção/UNICRUZ

*****M.Sc/UFSM, Docente da UNICRUZ

******Doutor em Nefrologia/UFRGS, Docente da UNICRUZ

(Brasil)

Moane Marchesan*

Rodrigo de Rosso Krug**

Alon José Ritter***

Jamile Centenaro Romiti*****

Milene Azevedo Daltrozo****

Marilia de Rosso Krug*****

Paulo Ricardo Moreira******

mariliakrug@bol.com.br

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo de caráter descritivo diagnóstico, foi analisar a composição corporal de homens com insuficiência renal crônica (IRC) submetidos à hemodiálise (HD) na Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia de Cruz Alta-RS. Participaram do mesmo 8 homens com IRC que realizavam HD a mais de 1 ano, com média de idade de 45,50 ± 11,40 anos. Para determinação dos valores nas variáveis percentual de gordura, massa muscular e massa corporal total foi utilizada a técnica antropométrica. Os dados foram tratados através da média, desvio padrão, valor máximo e valor mínimo. Os homens com IRC apresentaram um percentual de gordura e massa corporal total acima do ideal para zona de boa saúde enquanto que a massa muscular estava abaixo do ideal. Desta forma foi possível concluir que é necessário que os homens com IRC realizem exercícios físicos aeróbicos e de força regularmente e controlem sua ingesta alimentar para assim diminuírem a gordura corporal e aumentarem a massa muscular, já que estas variáveis estão diretamente relacionadas com a saúde destes pacientes.

          Unitermos: Insuficiência renal crônica. Hemodiálise. Composição corporal

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    Segundo Draibe e Ajzen (2002) a Insuficiência Renal Crônica (IRC) é uma síndrome metabólica decorrente da perda progressiva da capacidade excretória do rim. Guyton e Hall (2002) acrescentam que a IRC é irreversível, e que em indivíduos normais o número total de néfrons é de aproximadamente 2.000.000, já em pessoas com IRC esse valor pode se reduzir em até 75%.

    De acordo com os mesmos autores citados acima a IRC pode ser causada principalmente pela glomerulite, pela nefropatia crônica, pela necrose cortical renal, por doenças hereditárias renais, e principalmente, segundo Romão Jr. (2004) e Nissesson e Fine (2002) pela hipertensão arterial e pela diabete mellitus.

    A IRC trás como principal característica, de acordo com Moreira et al (1997), a atrofia do músculo, diminuindo a massa muscular, tendo como conseqüência uma redução na força muscular e a fraqueza generalizada. Acrescenta-se a isso a dificuldade na marcha, câimbras, e uma diminuição na resistência aeróbica (MOREIRA; BARROS; 1998), o que leva a uma diminuição da capacidade funcional e da tolerância a exercícios físicos.

    A diminuição na realização de exercícios físicos, traz como conseqüência, uma diminuição do gasto energético o que pode levar a um aumento na gordura corporal.

    Todos esses problemas se devem a fatores como: anemia, cardiopatia, hipertensão arterial, neuropatia e miopatia urêmica, fadiga, depressão e dor nos membros inferiores (MEDEIROS et al, 2002).

    Moreira e Barros (1998) destacam a principalmente a anemia e a miopatia urêmica como os fatores mais prejudiciais à capacidade funcional do portador de IRC, e citam também a miocardiopatia, o hipertireoidismo, o metabolismo energético anormal, a desnutrição e a depressão como fatores agravadores.

    Devido a todas estas conseqüências o paciente com IRC terá uma diminuição da aptidão física, além da que teria somente por ser sedentário (MEDEIROS et al, 2002), pois segundo Moreira e Barros (1998) quando uma pessoa apresenta o diagnóstico da IRC esta costuma ficar um longo período inativo fisicamente, levando ao descondicionamento, limitando assim ainda mais a sua capacidade de realizar atividades física.

    Ao longo dos anos surgiram varias formas eficazes de tratamento para a IRC seja ele em ambiente assistido como clinicas ou hospitais, ou domiciliar (BAXTER, 2002).

    Hering e Srougi (1998) explicam que há dois tratamentos distintos para IRC: o tratamento conservador, para os pacientes na fase pré-dialítica, e o tratamento por diálise, para os pacientes na fase terminal. Estágio terminal é quando a lesão dos rins leva á deterioração progressiva da função renal e a perda adicional de néfrons até um ponto em que a pessoa tem que ser colocada em tratamento por diálise ou fazer um transplante para sobreviver.

    Os pacientes que têm IRC em fase terminal possuem três métodos de tratamento para substituir as funções do rim: a diálise peritoneal, a hemodiálise (HD) e o transplante renal (MALNIC; MARCONDES, 1997).

    A HD consiste em um procedimento que é realizado três vezes semanais, por aproximadamente quatro horas, onde o paciente é ligado a uma maquina chamada de Rim Artificial, que promoverá a diálise. A circulação do sangue é extracorpórea, onde com ajuda de uma bomba ele passa por um dialisador, e neste está solução de diálise preparada na máquina que promoverá a filtração do sangue. A remoção das substancias tóxicas e o excesso de líquidos saem do sangue e depois de purificados voltam para o paciente (BAXTER, 2002).

    Casaburi (2004) ressalta que mesmo realizando a HD o paciente com IRC freqüentemente apresenta um baixo nível de aptidão física, consequentemente de sua capacidade funcional.

    De acordo com Nahas (2003) e Guedes e Guedes (1995), aptidão física é a capacidade de um indivíduo realizar atividades físicas, e apresentar condições que lhe permitam entre outras coisas um bom desempenho quando submetidos a situações que envolvam esforços físicos.

    Nahas (2003) salienta que os componentes da aptidão física relacionada à saúde podem ser divididos em: componentes morfológicos (percentual de gordura, massa muscular e relação cintura quadril) e funcionais-motores (força e/ou resistência muscular localizada, flexibilidade e resistência aeróbica).

    Neste estudo iremos enfocar os componentes morfológicos percentual de gordura e massa muscular que julgamos ser muito importantes para a qualidade de vida desses pacientes.

    Percentual de gordura pode ser descrito como sendo a porcentagem de gordura que o corpo possui. A faixa percentual de gordura recomendada para homens adultos jovens, encontra-se entre 10 a 18%, considerando-se risco para saúde valores iguais ou superiores a 25%.

    De acordo com Wilmore e Costil (2001) o músculo tem como papel fundamental em nossa vida diária a sustentação do nosso corpo em atividades diárias, mas com o passar do tempo se estes não forem trabalhados acabam por perder sua força, resultando em fraqueza física e vários problemas degenerativos. Wilmore e Costil (2001) citam como valores ideais de massa muscular para homens o mínimo de 41,8% do peso corporal total.

    Com base no exposto acima justifica-se este estudo que teve como objetivo analisar a composição corporal de homens portadores de IRC submetidos a HD na Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia de Cruz Alta-RS.

Metodologia

    Participaram deste estudo, de caráter descritivo diagnóstico, 8 homens com IRC submetidos a HD a mais de 1 ano na Clínica Renal do Hospital Santa Lúcia da cidade de Cruz Alta-RS, com média de 40,55 anos de idade.

    Inicialmente entrou-se em contato com os pacientes para explicar aos mesmos os procedimentos do estudo e da realização dos testes. Todos os voluntários em participar do mesmo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

    Os testes foram realizados na Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia, antes dos mesmos iniciarem a sessão de tratamento hemodialitico, com a utilização dos seguintes instrumentos e procedimentos:

    Para determinação do percentual de gordura foi utilizado um compasso de dobras cutâneas da marca Cescorf com precisão de 0,1 mm, e usada à técnica antropométrica com a utilização da equação proposta por Jackson e Pollock (1980), através da equação de Siri (1961).

    Já a equação de fracionamento do peso corporal proposta por Drinkwater e Ross (1980), foi utilizada para determinação da massa muscular. Sendo que para este cálculo foi necessário a determinação do peso ósseo, do peso residual e do peso de gordura, que foi determinada através das equações propostas por Jackson e Pollock (1980)

    E para determinação da massa corporal total foi utilizada uma balança de marca Stefenon.

    Os dados foram analisados com a utilização da estatística descritiva através do uso do programa Microsoft Excel, sendo descritas em função de sua média, desvio padrão, valor máximo e mínimo.

Resultados e discussões

    Na Tabela 1 encontram-se os resultados das variáveis morfológicas, percentual de gordura, massa muscular e massa corporal total dos homens com IRC submetidos à HD na Clinica Renal do Hospital Santa Lúcia de Cruz Alta-RS.

Tabela 1. Variáveis morfológicas

Variáveis

X ± s

Valor mínimo

Valor máximo

Percentual de Gordura (%)

28,32 ± 12,67

10,86

46,17

Massa Muscular (kg)

16,18 ± 7,02

6,65

23,11

Massa Corporal Total (Kg)

76,25 ± 13,79

58

95,5

Massa Muscular (%)

21,22%

 

 

    Analisando o valor médio do percentual de gordura (%G) apresentado na tabela 1 e comparando-os com valores de referência para homens adultos jovens, notou-se que os homens com IRC estão em risco, pois segundo Pollock, Wilmore e Fox (1993) valores maiores que 24,9% são considerados de alto risco a saúde.

    Estes resultados vão ao encontro aos de Marques (2007) que em estudo com amostra semelhante à população estudada também verificou alto risco a saúde dos seus participantes.

    Segundo o mesmo autor citado acima, este elevado %G dos pacientes com IRC, pode vir a acarretar outros problemas ou a agravar os já existentes como por exemplo: elevado nível de colesterol sanguíneo, hipertensão arterial, ósteo-artrite, diabete, acidente vascular cerebral, vários tipos de câncer, doenças coronarianas, além dos problemas psicológicos e sociais, sendo que em relação a IRC sua maior causa é devido ao sedentarismo, hipertensão arterial, colesterol alto, problemas psicológicos e sócias, dentre outros.

    Outro fato que chamou atenção neste estudo foi que dos 8 participantes somente 3 estavam abaixo do valor de 25% de gordura corporal, o que configura 37% dos participantes.

    Ao analisar a tabela 1 em relação à massa muscular constatou-se que a média (21,22%) do grupo estudado esta muito abaixo do valor de 41,8% sugerido por Wilmore e Costil (2001), e mais ainda do valor sugerido por Guedes e Guedes (1995) que considera o peso muscular ideal de 48 a 50% da massa corporal total.

    Esta diminuição da massa muscular pode ser a principal causa da diminuição da força muscular em portadores de IRC, pois em estudo de Painter (1994) foi observado diminuições em torne de 30 a 40% na força muscular deste tipo de população.

    Resultados muito parecidos foram encontrados por Marques (2007), onde os valores de massa muscular ficaram entre 16,96% e 22,60%.

    Nenhum participante do estudo teve valores considerados ideais em relação à massa muscular.

Conclusão

    Após a analise dos dados foi possível concluir que os pacientes com IRC da Clinica Santa Lúcia tem um alto percentual de gordura e um baixo percentual de massa muscular, sendo estes valores extremamente preocupantes, já que estão diretamente relacionados com a saúde e principalmente com a capacidade de realização das atividades da vida diária.

    Desta forma este estudo, de diagnostico da aptidão física dos pacientes com insuficiência renal crônica, é um ponto de partida para a construção de novas ações. Estes resultados podem direcionar a prescrição e orientação de exercícios para a melhora destas variáveis, que com certeza contribuirão para a reabilitação destes pacientes.

Referências

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  • CASABURI, R. Treinamento de Exercício Reabilitativo em Pacientes submetidos à diálise. In: KOPPLE; MASSRY, Cuidados Nutricionais Das Doenças Renais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. Capítulo 34, p. 547-562

  • DRAIBE, S. A.; AJZEN, H. Insuficiência Renal Crônica. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar. 2002. Artigo disponível no site http://www.virtual. unifesp.br/curso/enfnefro/restrito/dowloand/insrenalcro.pdf. Acessado no dia 20 mar. 2007.

  • DRINKWATER, D.T.L; ROOS, W. Antopometric Fractionation of Body Mass. In: OSTYN, M.; BUENEN, G.; SIMONS, J. Kineantro Pométry II. Baltimae, University Park Press: 1980. p.177-188.

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