Comparação entre membros superiores e inferiores perante diferentes intervalos de descanso em exercícios resistidos Comparación entre los miembros superiores e inferiores durante diferentes intervalos de descanso en ejercicios de resistencia Comparison between upper and lower limbs at different intervals of rest in resistance exercise |
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*Grupo de Estudos e Pesquisa em Atividade Física da Academia Marathon Wellness, Bauru **Mestrando em Ciências do Movimento Humano Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte da Universidade Cruzeiro do Sul, Unicsul |
Jefferson Martins Felício* Gustavo Barquilha* ** (Brasil) |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi o de comparar a influência de diferentes intervalos de descanso entre exercícios de membros superiores e inferiores em exercícios resistidos. Participaram do estudo 12 voluntários (23,64 anos ± 2,73; 74,21 kg ± 7,77; 172,85 cm ± 5,49), praticantes de exercícios resistidos a pelo menos 1 ano. Cada participante efetuou três séries a 70% da repetição máxima (1RM) nos exercícios supino reto no Smith e cadeira extensora. A pausa estabelecida entre as séries foi de 60 e 90 segundos de descanso passivo. Na analise estatística foi utilizado uma ANOVA two-way para comparação intra-séries e um teste –T para comparação dos exercícios inter-séries. Novamente o teste –T para comparação entre o volume total dos exercícios. Em ambos os exercícios houve diminuição no número máximo de repetições entre a 1° e a 2° série e entre a 2° e a 3° série, tanto no intervalo de 60 segundos quanto no intervalo de 90 segundos. Concluímos que tanto o intervalo de 60 segundos quanto o intervalo de 90 segundos promoveram uma diminuição no número Maximo de repetições em ambos os exercícios realizados no presente estudo. Unitermos: Exercícios resistidos. Intervalos de descanso. Inferior e superior
Abstract Keywords: Resistance exercise. Rest intervals. Lower and upper members |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009 |
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Introdução
Os exercícios resistidos têm sido recomendados para diversas finalidades, tanto na área da saúde, treinamento desportivo ou mesmo para fins estéticos (NIEMAN, 2003; ACSM, 2002; MARCHAND, 2003). Porém para que se obtenha uma melhora seja qual for à finalidade, é necessário proporcionar uma série de estímulos ao organismo, sendo imprescindível uma correta manipulação das variáveis envolvidas no treino (BADILLO; AUESTERÁN, 2001). O treinamento de força bem estruturado costuma vir acompanhado de aumentos da força muscular, do tamanho do músculo,da potência muscular e das adaptações do sistema nervoso, tendo alguns autores relacionados essas respostas as adaptações hormonais decorrentes do treinamento de força (KRAEMER et al, 1990; KRAEMER, 1997).
Na tentativa de estruturar o treinamento de maneira correta para se obter resultados satisfatórios seja qual for o objetivo, existe a necessidade de controlar as variáveis que envolvem os exercícios resistidos. Algumas das variáveis a serem controladas são a intensidade, o volume e a ordem de execução dos exercícios, a freqüência do treinamento, a velocidade de execução do exercício, o nível de treinamento do individuo, o objetivo do individuo, entre outras (FLECK; KRAEMER, 2004; BADILLO; AUESTERÁN, 2001). Dentre as variáveis do treinamento citadas acima podemos destacar a intensidade e o volume do treino. Um dos fatores que irá determinar essas duas variáveis é o intervalo de descanso entre as séries. A literatura apresenta que quanto menor o intervalo de descanso entre as séries, menor será a capacidade do individuo de manter o mesmo numero de repetições durante o exercício, o que diminui a intensidade e conseqüentemente o volume do treino. (WILLARDSON; BURKETT, 2004; AHTIAINEN et al., 2005; SIMÃO et al, 2006). Além disso, o intervalo entre as séries podem alterar as respostas de outras variáveis, como as respostas hormonais (KRAEMER et al, 1990; KRAEMER et al, 1993) e metabólicas (HÄKKINEN ; PAKARINEN, 1993).
Porém os estudos citados não diferem quanto às respostas dos diferentes intervalos de descanso em relação a membros superiores e inferiores, mesmo existindo algumas diferenças encontradas na literatura quando se compara o desempenho de membros superiores e inferiores (SAWKA, 1986). Sendo assim o objetivo do presente estudo foi o de comparar a influência de diferentes intervalos de descanso entre exercícios de membros superiores e inferiores em exercícios resistidos.
Materiais e métodos
Amostra
12 pessoas, sendo 7 homens e 5 mulheres (23,64 anos ± 2,73; 71,21 kg ± 7,77; 172,85 cm ± 5,49), aparentemente saudáveis, foram selecionadas para participar voluntariamente deste estudo. Como critérios iniciais de inclusão, os participantes teriam que ter no mínimo seis meses de experiência em exercícios resistidos. Além disso, cada participante respondeu anteriormente ao início do estudo, um questionário sobre o histórico de sua saúde..
Protocolo do experimento
No primeiro dia foi realizada uma avaliação antropométrica abrangendo a avaliação de dobras cutâneas. Para estimativa da porcentagem de gordura foi utilizado o protocolo de Guedes. Logo após foi realizado o teste de 1RM nos exercícios supino reto e cadeira extensora, para a verificação da carga a ser utilizada no experimento. A carga registrada como 1-RM foi registrada como aquela na qual foi possível ao indivíduo completar somente uma única repetição máxima (CLARKE, 1973).
Após um intervalo de 48 horas cada participante efetuou três séries a 70% da repetição máxima (1RM) nos exercícios utilizados no teste de 1RM . A pausa estabelecida entre as séries foi de 60 e 90 segundos de descanso passivo, proposto como sendo o tempo adequado para obtenção da hipertrofia muscular e melhorias na qualidade de vida (KRAEMER E RATAMESS, 2004; ACSM 2002). A ordem dos exercícios foi aleatória e um intervalo de 48 horas foi proporcionado entre cada visita ao laboratório. Antes de cada sessão de teste os participantes realizaram um aquecimento no próprio aparelho de duas séries de 20 repetições com carga de 40% da 1-RM, separadas por 2 minutos entre eles. Como critério para interrupção da série foi adotado a primeira repetição na qual a técnica correta não pode mais ser realizada. O número de repetições corretas foi computado como valor máximo. Para diminuir os riscos de uma possível influência da velocidade de execução do exercício no número Maximo de repetições foi utilizado um metrônomo para a determinação da cadência de movimento. (LaCHANCE; HORTOBAGYI, 1994).
Tratamento estátistico
Na analise estatística foi utilizado uma ANOVA two-way para comparação intra-séries e um teste –T para comparação dos exercícios inter-séries. Novamente o teste –T para comparação entre o volume total dos exercícios. O nível de significância adotado foi p<0,05
Resultados
Foram encontradas reduções no número Maximo de repetições da 1° para a 2° série e da 2° para a 3° série nos exercícios supino e cadeira extensora (Tabela 1) em ambos os intervalos de descanso. (p< 0,05).
Tabela 1. Número máximo de repetições no exercício supino
A seguir são apresentados os resultados referentes aos intervalos de recuperação nas diferentes séries em cada exercício. No exercício supino foram encontradas diferenças significativas entre os intervalos de 60 e 90 segundos na 2° e na 3° séries.(figura 1) enquanto que no exercício cadeira extensora essa diferença só foi encontrada na 3° série. (figura 2). (p< 0,05).
Figura 1. Comparação dos resultados do exercício supino em ambos os intervalos de recuperação
*Diferença Significativa entre 60 e 90 segundos de recuperação
Figura 2: Comparação dos resultados do exercício cadeira extensora em ambos os intervalos de recuperação
*Diferença Significativa entre 60 e 90 segundos de recuperação
Discussão
Comparando os resultados dos diferentes intervalos de descanso percebe-se uma tendência de diminuição no número de repetições máximas realizadas entre a primeira e a segunda série, e entre a segunda e a terceira série, em ambos os exercícios realizados, diminuindo assim a intensidade do trabalho (BADILLO ; AUESTERÁN, 2001) Esses resultados já eram esperados, tendo em vista outros estudos que obtiveram resultados semelhantes. (SIMÃO, 2006; WILLARDSON; BURKETT, 2004; BARQUILHA et al, 2008). SIMÃO et al (2006) fizeram um estudo com 10 homens treinados, nos exercícios supino horizontal, cadeira extensora e rosca bíceps. Esse estudo tinha como objetivo verificar a influência de três diferentes intervalos de recuperação (45, 90 e 120 segundos) no desempenho da força, tendo os autores concluído que em todos os intervalos de recuperação estudados houve um decréscimo no número de repetições máximas com a evolução das séries. Já Willardson e Burkett (2004) utilizaram em seu estudo 15 homens treinados, nos exercícios supino e agachamento, realizando quatro séries de 8RM, com intervalos de 1, 2 e 5 minutos entre as séries. Nesse estudo o intervalo de 5 minutos apresentou o maior volume completado, seguido do de 3 minutos e, por fim, do de 1 minuto. Já no agachamento, os resultados se apresentaram similares, porém foram encontradas diferenças significativas nos volumes entre os intervalos de 1 e 5 minutos, e entre os de 2 e 5 minutos. Corroborando com estes resultados, Barquilha et al (2008) também encontrou queda no número Maximo de repetições nos exercícios supino reto, supino inclinado e supino declinado em uma intensidade de 80% de 1RM, com um intervalo de descanso de 60 segundos entre as séries. Essa queda no número de repetições pode ser decorrente do acúmulo de metabólitos como ADP, Pi e íons hidrogênio (ACSM, 2003). A baixa concentração de fosfocreatina também aparece como um possível indutor de fadiga nesse tipo de protocolo de exercício (LAMBERT; FLYNN, 2002), sendo descartada por alguns autores a hipótese de que essa fadiga esteja relacionada com a depleção de glicogênio (MACDOUGALL et al, 1999; HARGREAVES et al, 1998).
Quando comparado no presente estudo a diferença entre o número máximo de repetições nos intervalos de 60 e 90 segundos de recuperação em cada aparelho, houve diferença significante na 2° e 3° série do exercício supino reto, e apenas na 3° série do exercício cadeira extensora, indicando que o exercício cadeira extensora sofreu menor influência dos diferentes intervalos de descanso do que o exercício supino reto. Essa menor influência do intervalo de descanso vista no presente estudo no exercício cadeira extensora pode ser devido ao tamanho dos músculos envolvidos, sendo que o exercício cadeira extensora envolve uma maior massa muscular se comparado com o exercício supino reto. Foi verificado também que os voluntários realizaram um número maior de repetições em todas as séries do exercício cadeira extensora, quando comparados ao exercício supino reto no Smith. Além disso, no exercício cadeira extensora parece existir uma tendência a uma maior capacidade de resistência a fadiga quando comparados com o exercício supino reto. Essa diferença pode ser atribuída a alguns fatores, que são: o menor potencial dos membros superiores em gerar tensão, decorrente de uma menor massa muscular e menor área de secção transversa, uma menor capacidade oxidativa, decorrente da menor massa muscular, diferenças na composição das fibras musculares e no recrutamento dessas fibras, além da menor perfusão sanguínea do músculo esquelético, conseqüente da menor área de secção transversal capilar e da pressão intramuscular exceder a pressão de perfusão. (SAWKA, 1986). Outra possível explicação para o maior número de repetições em ambos os intervalos de descanso no exercício cadeira extensora quando comparado ao exercício supino reto é que na cadeira extensora a amplitude de movimento é menor, o que conseqüentemente poderia levar a um menor desgaste metabólico e neuromuscular no exercício cadeira extensora (BARNETT, 1995).
Conclusão
Com base nos resultados apresentados no estudo podemos concluir que tanto membros inferiores quanto membros superiores sofreram uma redução no número máximo de repetições nos intervalos de 60 e 90 segundos.
Referências
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