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Aspectos motivacionais que levam os associados ao Baba 

do Agarrajão em Jequié-BA à sua adesão e permanência

Aspectos motivacionales que llevan a los socios de Baba do Agarrajão en Jequié-BA a su adhesión y permanencia

 

Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física pela

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB

(Brasil)

Ianny Caroline Melo de Souza

iannycarolinems@gmail.com

 

 

 

Resumo

          Na sociedade moderna, onde o trabalho e o lazer, ao contrário do que era na sociedade pré-industrial, aparecem um em oposição ao outro, o esporte torna-se um organismo da produção e do consumo no tempo livre, mas também assume posição importante nos momentos de lazer de quem gosta de um bom jogo de futebol. Um exemplo disso é a criação e reconhecimento da importância de espaços urbanos destinados à prática de atividades de lazer específicas, dentre elas, as que voltam-se para a prática esportiva, como quadras poliesportivas, clubes e também os “babas”, que são associações destinadas à prática do futebol em especial, e é numa dessas instituições (Baba do Agarrajão, em Jequié-BA) que o presente estudo se passa, objetivando identificar quais os aspectos motivacionais que envolvem a prática do futebol enquanto atividade de lazer, levando os associados do referido “baba” à sua adesão e permanência. A metodologia utilizada foi descritiva quantitativa e qualitativa de campo com a amostra de 16 associados entrevistados, através de questionários com proposições objetivas e uma entrevista com o presidente da instituição para informações complementares para a caracterização da mesma.

          Unitermos: Futebol. Lazer. Motivação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    O jogo sempre esteve presente nas atividades humanas, fazendo parte da vida das pessoas, diretamente ligado ao trabalho, aos cultos, mas com o advento da industrialização, há um desligamento entre o trabalho e o jogo (BRUHNS, 1993, p. 15), este passando a pertencer ao lazer. O lazer, por sua vez, passa a ser definido em oposição ao trabalho e segundo Bruhns (1993, p. 86), mesmo os momentos “livres” (de não-trabalho) são determinados pela relação capital/trabalho, nos quais o lúdico nem sempre está presente.

    Então, na sociedade moderna o trabalho e o lazer, ao contrário do que era na sociedade pré-industrial, aparecem como atividades antagônicas, justificadas pela idéia de que “trabalho dignifica o homem”, que ao mesmo tempo é vantajosa a nível de produção, mas nem tanto para o desenvolvimento equilibrado do homem, devido ao desprestígio das atividades de caráter lúdico e à “idéia de compensação, onde o lazer é visto como reposição das forças para o trabalho, afastando a possibilidade do trabalho lúdico ou o lúdico engajado” (idem, p. 50).

    É nessa estrutura de uma sociedade onde a racionalidade, exclusão, consumismo, dominação e acumulação são evidenciados que o esporte moderno se desenvolve e de acordo com Bruhns (1993, p. 17), passa a ser mais coerente com essa nova ordem voltada para o trabalho, onde o corpo era visto como meio de exploração e domesticação necessárias ao crescimento econômico enquanto que o lúdico, não sendo disciplinador, é incompatível, de certa forma, como reposição da força de trabalho, que é a função do lazer no espaço e no tempo em que o trabalho se constitui como valor marcante.

    O esporte, mesmo sendo uma atividade institucionalizada, onde sua organização está além dos interesses individuais dos jogadores, carregando os elementos da disputa física e da competição, pode assumir o caráter lúdico, pois, como defende Helal (1990, p. 31), há certo prazer lúdico em jogar ou mesmo competir pelas regras. Bruhns (1993, p. 48) considera ainda que existam dois verbos para descrever as ações no esporte: o jogar, quando a ação se relaciona mais ao lúdico e o praticar, quando as ações se relacionam mais ao treinamento, remetendo a um caráter duplo do esporte, e Le Boulch (apud BRUHNS, 1993, p. 48), discute esses dois aspectos que a seu ver são contraditórios e diferentes, pois:

    Um é o esporte centralizado na obtenção de resultados, sempre mais altos, impondo a seus praticantes treinamento assíduo, cujos métodos estão muito próximos ao mundo do trabalho e cuja finalidade é permitir o mais alto rendimento da máquina humana: chamamos a essa atividade centralizada no resultado desporto-competição ou desporte-trabalho. Outra forma de prática desportiva que não se concilia muito bem com a organização coletiva está quase exclusivamente centralizada no prazer de sua prática, a qual pode adquirir, por acréscimo, um valor higiênico ou de distenção. A essa forma conserva o caráter lúdico, e é deste modo, homologável a uma forma de jogo adaptado ao mundo contemporâneo. Chamaremos essa atividade de esporte-jogo.

    Nos dizeres de Bracht (apud PINTO, 1991, p. 291) a sociedade brasileira ainda caracteriza o esporte pelas competições de alto rendimento e sob a forma de produto, que por sua vez é consumido pela grande massa nos seus momentos de lazer e o futebol, enquanto atividade de lazer, é um dos esportes mais jogados e consumidos, por ser considerado uma paixão nacional. Suas manifestações mais lúdicas vão sobreviver no futebol de várzea, de rua, nos babas ou peladas formas estas que assumem posição importante nos momentos de lazer de quem gosta de um bom jogo e um exemplo disso é a criação e reconhecimento da importância de espaços urbanos destinados à prática dessas atividades.

    O “baba” pode ser considerado, de acordo com a classificação de Carvalho (apud STUCCHI, 1997), em um equipamento específico do lazer, por ser um espaço destinado a uma atividade de lazer pré-definida e especializado, por atender a uma programação especializada e a faixa de interesses culturais específicos, neste caso, o futebol. Sobre os interesses culturais do lazer, Dumazedier e Marcellino (apud PAIM, 2004) definem as atividades distinguindo seis grupos quanto ao conteúdo das mesmas. São eles: Artístico: universo estético feito de imagens, de emoções, sentimentos, de caráter imaginário, exemplo: ir ao cinema, teatro, acesso à literatura; Intelectual: cognitivo, objetividade, informação, exemplo: busca de conhecimentos, científicos ou não (jornais, revistas); Manual: capacidade de manipulação de cada indivíduo, pois o curso das mãos é essencial, seja para transformar, para restaurar, exemplo: lavar o carro nos finais de semana, cultivar hortaliças, crochê, tricô; Físico: desenvolvido através de atividades físicas, exemplo: caminhadas, ginástica, esporte e atividades correlatas, executadas de maneira formal ou informal, em espaços tecnicamente planejados, como pistas, academias; Social: busca do indivíduo para relacionar-se com os outros, exemplo: convívio doméstico, com jogos e passeios com filhos, visita a parentes e amigos, movimentos culturais e o Turístico: desenvolvido através de atividades turísticas, exemplo: viagens, passeios.

    Para Marcelino (apud PAIM, 2004), essas áreas buscam o entendimento das necessidades do corpo e conferem destaque especial às habilidades manuais da mente, da sensibilidade e da sociabilidade. Dessa forma, é importante que as atividades de lazer busquem atender os indivíduos no seu todo, e a escolha, a opção, em termos de conteúdo, está diretamente ligada ao conhecimento das alternativas que o lazer oferece. Como se dá esse conhecimento é difícil definir, pois cada indivíduo possui histórias de vida e experiências diferentes, não podendo atribuir suas escolhas apenas a nível biológico, psicológico ou social, porém, no caso específico do futebol, com esse estudo busca-se saber a predominância de um desses aspectos em relação aos demais, confirmando ou não a dúvida levantada por Pinto (1991, p. 291) ao questionar se a população pratica essas atividades com consciência dos seus propósitos, riscos e barreiras ou se apenas por uma imposição de valores da sociedade de consumo e também saber se nesse espaço voltado para o lazer proporciona ou não um ambiente em que o indivíduo sinta-se à vontade para expressar-se através do jogo desinteressado, prazeroso, espontâneo, improdutivo, flexível e criativo.

    A pesquisa busca então relacionar esses interesses do lazer aos aspectos motivacionais que envolvem a prática do futebol enquanto atividade de lazer, levando os associados do Baba do Agarrajão, no município de Jequié-BA à sua adesão e permanência, bem como identificá-los, através de uma metodologia baseada na pesquisa descritiva quantitativa e qualitativa de campo, numa população de 16 associados por meio de questionários com proposições objetivas e uma entrevista com o presidente da instituição para informações adicionais sobre a mesma.

Metodologia

    O presente estudo descreveu os motivos que levaram os associados do Baba do Agarrajão à adesão e permanência na instituição, relacionado-os com os interesses culturais do lazer acima conceituados, definidos por Dumazedier e Marcellino (apud PAIM, 2004) de forma qualitativa e quantitativa.

Seleção da população e amostra

    O questionário de proposições fechadas foi direcionado aos associados que se propuseram a responder do Baba do Agarrajão, no município de Jequié-BA, que no ano de 2003 completou 20 anos de existência. Quem fundou foi um grupo de amigos, com o propósito de se reunirem como atividade de lazer. Para ser filiado ao “baba”, é necessário cumprir os horários estabelecidos e contribuir com uma mensalidade para ajudar na manutenção da sede. Não existem programas de treinamento, apenas os jogos no fim de semana e na organização dos mesmos os times são formados por sorteio em um horário determinado e quem passa do horário fica para o jogo seguinte. Dentre os eventos que promovem estão os campeonatos internos, apenas para associados e convidados, confraternizações depois dos jogos, festas comemorativas e outros poucos. Por conta do horário e a ansiedade pelos jogos que ocorriam, apenas 16 deles responderam às questões. O presidente do “baba” Moura, foi entrevistado fornecendo informações adicionais à pesquisa.

Instrumento e técnica de coleta de dados

    O instrumento de coleta de dados foi um questionário com proposições de múltipla escolha, onde em cada questão o entrevistado poderia dar mais de uma resposta que correspondesse ao seu ponto de vista em relação ao enunciado. Dentre as questões, perguntamos quanto tempo fazia parte do grupo, suas experiências com o futebol, os aspectos motivacionais para a adesão e permanência no “baba”, se já pensou em deixar a instituição, como se sentia quando não tem jogo e os eventos promovidos pelo “baba” que participam.

O método de análise dos dados

    Os dados foram tabulados de acordo com as alternativas referentes aos aspectos motivacionais à medida em que foram citados, tanto como motivo de adesão quanto de permanência. Os motivos foram divididos em físicos, psicológicos e sociais, e listados nessa ordem, onde os números à esquerda representam a quantidade de respostas coletadas e à direita, a porcentagem referente a cada uma delas, como mostra os gráficos abaixo:

Gráfico 1. Aspectos físicos

Gráfico 2. Aspectos psicológicos

Gráfico 3. Aspectos sociais

    Posteriormente foram relacionados os resultados das respostas com os interesses do lazer, como vemos na tabela abaixo:

Interesses do lazer

Motivos de adesão e permanência no baba do agarrajão

Porcentagem das respostas

Artístico

-

-

Intelectual

Aprender mais sobre o futebol

8%

Manual

-

-

Físico

Melhorar desempenho no futebol;

Tentar manter uma atividade física freqüente;

Melhorar o desempenho no futebol;

Disposição no dia-a-dia.

24%

Turístico

-

-

    Das 98 respostas válidas para determinar os aspectos motivacionais, 8% correspondiam aos interesses intelectuais, 24% aos interesses físicos e 58% aos interesses sociais.

    Também foi feita uma breve caracterização do jogo que se manifesta na instituição relacionando as informações que obtivemos com as características próprias do jogo enquanto atividade de lazer a partir do esquema:

Característica

Sim

Não

Desinteressado

X

 

Prazeroso

X

 

Espontâneo

X

 

Improdutivo

X

 

Flexível

 

X

Criativo

X

 

Rendimento

 

X

Exclusão dos menos aptos

 

X

Pressão em relação aos resultados

 

X

Exclusão dos que não podem pagar

X

 

Resultados 

    De acordo com os dados levantado pela pesquisa, o futebol é praticamente a única forma de lazer que eles reconhecem, pois ao serem indagados sobre o que sentem quando não tem jogo no fim de semana, a maioria de 8 diz que sente tédio, 2 sentem tédio e outros sentimentos, e os demais indicam outros fatores como indisposição durante o dia ou durante a semana, e até alívio por dispor do tempo para outras atividades.

    Quanto aos eventos promovidos pelo “baba”, o que mais representou a assiduidade dos associados foram os campeonatos internos com e/ou sem convidados, seguido das confraternizações depois dos jogos. Apenas dois representavam a instituição em campeonatos fora o “baba”. Em relação aos novos associados o número foi 1/3 do total dos veteranos mais antigos (com mais de 5 anos na instituição), e os veteranos mais novos ( de 1 a 5 anos) também representou 1/3 desse total.

    Foi notório também que foram poucos os que tiveram vivências no esporte de rendimento, visto que as experiências no futebol, em sua maioria foram com os amigos, sem compromisso, num total de 10.

    O esquema de caracterização mostrou 8 critérios favoráveis e 2 critérios desfavoráveis à caracterização da prática do futebol no “baba” como jogo e atividade de lazer. Os favoráveis incluem o jogo desinteressado, prazeroso, de caráter improdutivo, com livre expressão de sentimentos, sem o caráter de rendimento, sem a exclusão dos menos aptos sem a pressão em busca de resultados e além de tudo a liberdade de movimento que dá passagem aos momentos criativos no jogo. Dentre os critérios que não são favoráveis a essa classificação, são a falta de flexibilidade, pois apesar de não seguirem à risca todas as regras oficiais do futebol, ainda existe um juiz para coordenar o jogo e garantir que todas as regras sejam cumpridas; e o valor a ser pago, pois como a sede é própria, deve-se contribuir e arrecadar fundos para que a instituição se mantenha.

    Sobre os aspectos motivacionais , os que dizem respeito ao lazer voltado para os interesses sociais são os que predominam, seguidos dos interesses físicos, mas quando comparamos apenas a nível de motivação, não há tanta distinção entre o aspectos físicos e os psicológicos, o que leva a crer que a instituição é uma instituição de lazer voltada mais para a comunhão e socialização de seus associados do que para a o futebol ou atividade física em si.

Considerações finais

    De acordo com os resultados apresentados, resta-nos entender até que ponto o futebol, enquanto a atividade de lazer foi contemplado nesta pesquisa. Considerando o lazer como uma atividade que é praticada no tempo livre, de participação consciente e voluntária na vida social (DUMAZEDIER, 1973, p. 258), o futebol praticado no “baba” pode ser caracterizado como tal, ao assumir os critérios que constituem o jogo lúdico e os participantes terem escolhido, mesmo que influenciados pelo meio social a escolherem esta como principal atividade de lazer tal como Pinto (1991, p.291) se questionava.

    Mas foi notório também que para a maioria dos entrevistados, as experiências vividas do futebol, são de fato como atividade de lazer, pois os aspectos motivacionais que os impelem para sua prática são mais de ordem social, buscando a interação com outros indivíduos e o recrear-se do que a uma prática essencialmente esportiva, além de relacionar-se com os interesses culturais do lazer.

    Outro aspecto a ser levado em consideração é o fato de uma das atividades que mais se destacam no “baba” ser a reunião e confraternização depois dos jogos, o que garante também o caráter lúdico da situação, pois segundo Bruhns (1993, p 49), no jogo, a zombaria é intrínseca e as provocações, palhaçadas, induzem os praticantes a uma atuação cômica, engraçada, o que leva o homem a um “espírito irônico”, solto, livre e leve, inclinado para o jogo.

    Vale ressaltar nesse estudo também a importância para a sociedade moderna de equipamentos específicos de lazer, principalmente espaços que sejam públicos, pois numa sociedade onde, no trabalho, não resta nenhum resquício do lúdico, buscar suprir essas necessidades humanas é de fundamental importância par o desenvolvimento equilibrado do ser humano. 

Bibliografia

  • BRUHNS, Heloísa Turini - O corpo parceiro e o corpo advésário - Campinas, SP: Papirus,1993

  • DUMAZEDIER, Joffre - Lazer e cultura popular - São Paulo : Perspectiva, Coleção Debates, 1973

  • PAIM, Maria Cristina Chimelo - Atividades de lazer praticadas por acadêmicos da UFSM no seu tempo livre. EFDeportes.com, Revista digital. Buenos Aires, Nº 69. http://www.efdeportes.com/efd69/ufsm.htm

  • PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhâes - A recriação /lazer no “jogo” da educação física e dos esportes – Revista Brasileira de Ciências do Esporte: Palestra realizada no I Encontro Mineiro de Educação Física e Esportes na Escola de 1º e 2º graus, Escola de Educação Física da UFMG, Maio de 1991.

  • STUCCHI. Sérgio - Introdução aos estudos do lazer (Bruhns, Heloísa Turini org. ) – Campinas, SP : Editora da UINICAMP,1997

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