Aptidão física de futebolistas infantis e juvenis | |||
*Acadêmico da Escola Superior de Educação Física – UFPel **Professora do Instituto Esporte Educação (IEE), Núcleo Pelotas ***Graduação em Cultura Física e Esportes pela Universidade Incca, Colômbia Especialista Mestrado em Educação Física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG ****Professor da Escola Superior de Educação Física – UFPel (Brasil) |
Mestrando Daniel Medeiros Alves* Mestre Silvia Teixeira de Pinho** Mestre Juan Carlos Perez Morales Doutor José Francisco Gomes Schild |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi descrever e comparar os níveis de aptidão física de futebolistas infantis e juvenis, permitindo a elaboração/comparação de parâmetros de rendimento desportivo. A amostra foi composta por 57 atletas da categoria juvenil (sub-17) e 44 atletas da categoria infantil (sub-15) praticantes de futebol na cidade de Pelotas-RS, todos filiados a Liga Pelotense de Futebol. Os testes utilizados foram Peso Corporal, Estatura, Índice de Massa Corporal (IMC), Gordura Corporal Relativa através das dobras cutâneas Subescapular (SE) e Triciptal (TR) utilizando a equação de Slaughter, Resistência Aeróbia utilizando o teste de Cooper de 12min, Velocidade utilizando o teste de Sprint de 30m e Força Explosiva utilizando o teste de Salto Horizontal; Realizou-se estatística descritiva e teste t (p<0,05). Os resultados demonstraram existir diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis: Estatura - Média Infantil (MI) = 1,70cm e Média Juvenil (MJ) = 1,75cm; Peso – MI = 60,44 Kg e MJ = 66,28 Kg; Dobra Subescapular – MI = 9,47mm e MJ = 8,67mm; VO2 – MI = 48,03 ml.Kg-1.min-1 e MJ = 51,21 ml.Kg-1.min-1; Velocidade de Sprint - MI = 5,00s e MJ = 4,90s e Força Explosiva – MI = 193,53 e MJ = 199,61. Conclui-se que a categoria Juvenil apresentou níveis de aptidão física superiores a categoria Infantil, demonstrando a importância da adequação dos treinamentos para cada categoria. Além disso foi possível constatar que as variáveis IMC – MI = 20,91 e MJ = 21,67, Gordura Corporal – MI = 14,0% e MJ = 13,29% e espessura de dobra Triciptal – MI = 8,43mm e MJ = 8,96mm, não demonstraram diferenças estatisticamente significativas, sugerindo que essas variáveis possuem menor relevância sobre o desempenho específico do futebol para as categorias analisadas. Unitermos: Futebol. Aptidão física. Capacidades físicas |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009 |
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Introdução
A aptidão física dos atletas diferencia-se em muitas modalidades, tendo em vista as exigências específicas de cada esporte. Essas características estão relacionadas ao treinamento ao qual são submetidos, fatores genéticos e nutricionais. O futebol é um desporto coletivo no qual o desempenho dos atletas é determinado por uma série de fatores, tais como físicos, técnicos, táticos e cognitivos (ALVES et al. 2004). Por ser um desporto de ação/cooperação e por se tratar de um sistema complexo, nem sempre fica claro quais fatores estão influenciando diretamente no rendimento da equipe.
Segundo Weineck (2000) o condicionamento físico do jogador de futebol representa um pré-requisito para a performance técnica, tática e psíquica na competição e refere-se ainda à interdependência entre esses fatores. De acordo com Correa (2002) a preparação física é considerada como um fator de grande importância pelos futebolistas profissionais.
A composição corporal é importante no condicionamento físico do futebolista, já que a gordura corporal elevada representa um desgaste maior para seus deslocamentos e ações (GUERRA e BARROS, 2004). É preciso portanto, que se busque uma composição corporal adequada, a fim de contribuir para o desempenho do futebolista.
Pavanelli (2004) afirma que através de pesquisas é possível promover um perfil antropométrico e fisiológico do atleta de futebol atual. Esse perfil pode servir de referência para a adoção de metodologias que levem a otimização do desempenho dos atletas.
Durante o período de formação do atleta, é importante traçar um referencial que oriente a preparação de atletas jovens ao longo de sua formação, possibilitando um acréscimo de qualidade nesse período.
A dificuldade, porém é a escassez de estudos demonstrando esse perfil em futebolistas jovens, em fase de formação desportiva. Portanto, o objetivo desse estudo foi o de descrever e comparar o perfil morfofuncional de futebolistas infantis e juvenis, permitindo assim a elaboração/comparação de parâmetros de rendimento desportivo, bem como uma melhor adequação dos programas de treinamento as características dessas faixas etárias.
Procedimentos metodológicos
A amostra foi composta por 57 atletas da categoria juvenil (sub-17) e 44 atletas da categoria infantil (sub-15) praticantes de futebol na cidade de Pelotas-RS, todos filiados a Liga Pelotense de Futebol (LPF). A freqüência de treinamento foi de 4 a 5 sessões semanais, totalizando um volume semanal por volta de 10 horas de treinamento.
O período escolhido para a avaliação foi um pequeno recesso nos campeonatos ao fim da temporada, onde uma possível influência de alguma sessão de treinamento próxima à realização dos testes foi minimizada.
Para medir o peso e estatura corporal foram utilizados uma balança analógica e estadiômetro da marca Seca. Os atletas foram medidos descalços e utilizando o uniforme habitual de treinamento (calção e camiseta).
O percentual de gordura foi estimado através das medidas de dobras cutâneas utilizando um compasso da marca Cescorf. As dobras medidas foram a triciptal e subescapular, e para a estimativa do percentual de gordura utilizou-se a equação proposta por Slaughter (1988), para jovens.
O índice de massa corporal foi determinado pela equação peso/estatura².
A capacidade aeróbia foi determinada através do teste de cooper (12min) onde através da fórmula VO2 = 22,351 x D (Km) - 11,288 foi calculado o VO2 max.
Para medir a velocidade de sprint foi adotado o teste de 30m. O teste foi realizado com chuteiras no próprio campo jogo, com posição inicial em repouso, atrás da linha de inicial. Cada atleta realizou 3 tentativas, onde foram anotados os menores tempos.
Para medir a força explosiva de membros inferiores foi adotado o teste de salto horizontal. O em superfície dura (cimento, concreto) e regular, com posição inicial em repouso, atrás da linha inicial. Cada atleta realizou 3 tentativas, onde foram anotadas as maiores distâncias.
Realizou-se estatística descritiva para analise dos dados e teste t para identificar diferenças significativas entre os grupos nas diferentes variáveis dependentes mensuradas, com nível de significância p<0,05.
Resultados e discussão
Os resultados indicam que existem diferenças significativas entre as categorias nas variáveis, altura, peso, dobra cutânea subescapular, V02 max, tempo de sprint de 30m e salto horizontal, conforme observado na tabela 1.
Tabela 1. Aptidão física dos atletas juvenis e infantis
Foi possível constatar que os atletas da categoria juvenil apresentaram melhores índices de desempenho em todas as variáveis funcionais, evidenciando uma tendência da performance motora acompanhar a idade cronológica.
Os resultados apresentados corroboram o estudo de Seabra et al. (2001) que encontraram diferenças significativas entre as duas categorias em índices antropométricos e funcionais. Em um outro estudo Abrantes et al. (2004) encontraram diferenças no teste de sprint para essas duas categorias.
Isso vem a sugerir que essa diferenciação das duas categorias é pertinente devido à categoria juvenil levar vantagem tanto na capacidade aeróbia quanto anaeróbia.
Já em relação à composição corporal não apresentaram diferenças significativas no índice de massa corporal, percentual de gordura e espessura de dobra cutânea triciptal. Mesmo assim a estatura, o peso e a espessura da dobra cutânea subescapular apresentaram diferenças significativas.
O peso e a estatura podem ser também considerados como fatores de imposição da categoria juvenil sobre a infantil, já que o futebol é um desporto de contato. Por outro lado, não foram encontradas diferenças no percentual de gordura, sugerindo que essa variável não apresente, necessariamente relação com a diferença no desempenho entre essas categorias.
Embora a gordura corporal elevada represente um desgaste maior para as ações do atleta, é muito difícil determinar o valor ideal de gordura corporal que garanta o melhor desempenho de um futebolista.
Em um estudo comparando diferentes níveis competitivos, Santos (1999) não encontrou diferenças significativas no percentual de gordura em quatro divisões do futebol português, embora tenha encontrado diferenças significativas em outras variáveis.
Estudos recentes têm descrito tanto os índices antropométricos e funcionais da categoria profissional, onde índices superiores aos do presente estudo foram encontrados. (BALIKIAN, et al, 2002; SANTOS, 1999). Isso sugere que quanto mais elevada a categoria, melhores são os escores encontrados em testes para a aptidão física.
Conclusão
As diferenças encontradas entre as categorias estudadas, permitem confirmar o consenso de maior aptidão física da categoria superior. Porém em outros estudos, não foram necessariamente encontradas diferenças entre atletas profissionais e juvenis ou juniores, embora seja possível inferir um maior rendimento da categoria profissional. Isso demonstra que provavelmente esse período entre 15 e 17 anos de idade seja sensível ao desenvolvimento da aptidão física.
O rendimento superior da categoria juvenil em relação a infantil pode ser explicado não só por uma provável maior experiência, mas também pelos índices superiores em peso corporal, força explosiva, capacidade cardiorrespiratória e velocidade de sprint. Por outro lado, o IMC, a gordura corporal relativa e a dobra cutânea triciptal não demonstraram diferenças significativas, sugerindo que essas variáveis possuem pouca relação com o rendimento específico do futebol.
Esses resultados demonstram a importância de adequação dos treinamentos para essas duas categorias, onde o nível de exigência deve ser coerente com o potencial de desenvolvimento dos atletas. Isso tem uma implicação direta para clubes e equipes que desenvolvem o trabalho concomitante das duas categorias, aplicando métodos e cargas de treinamento iguais para as duas categorias. Um outro aspecto importante é o fato de atletas de destaque que possam ser promovidos de uma categoria para outra, mereçam especial atenção, pois, embora demonstrem rendimento semelhante aos colegas mais avançados, ainda possui limites morfológicos e funcionais inerentes a sua categoria de origem.
Em conclusão, os objetivos propostos no presente estudo foram atingidos, permitindo uma reflexão a respeito do planejamento e aplicação do treinamento e suas implicações sobre o desenvolvimento e aptidão física de atletas infantis e juvenis.
Referências
ABRANTES, C.; MAÇÃS, V.; SAMPAIO, J. Variation In Football Players’ Sprint Test Performance Across Different Ages And e Levels Of Competition. Journal of Sports Science and Medicine, n.3, p. 44-49, 2004.
ALVES, D. M.; PINHO, S. T. ; FRISSELLI, A. Estudo sobre o treinamento de velocidade no futebol. In: XXIII Simpósio Nacional de Educação Física & II Colóquio de Epistemologia do CBCE, Anais, Pelotas, 2004.
BALIKIAN, P.; LOURENÇÃO, A.; RIBEIRO, L. F. P.; FESTUCCIA, W. T. L.; NEIVA, C. M.; Consumo máximo de oxigênio e limiar anaeróbio de jogadores de futebol: Comparação entre diferentes posições, Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 8, n. 2, p. 32-36, 2002.
BANKOFF, A. D. P.; GUIMARÃES, P. R. M.; SHIMIDT, A.; ZAMAI, C. A. Habilidades específicas do futebol: uma análise quantitativa da performance das principais habilidades em jogadores profissionais. Movimento e Percepção, Espírito Santo do Pinhal, v.5, n.6, p. 135-149, 2005.
CORREA, D. K. A.; ALCHIERI, J. C.; DUARTE, L. R. S. Excelência na produtividade: a performance dos jogadores de futebol profissional. Psicologia. Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 15, n. 2. p. 447-460, 2002.
CYRINO, E. S.; ALTIMARI, L. R.; OKANO, A. H.; COELHO, C. F.; Efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 10, n. 1 p. 41-46, 2002.
GUERRA, I.; BARROS, T. L., Demandas fisiológicas no futebol, In: GUERRA, I.; BARROS, T. L., Ciência do Futebol. Barueri, p. 1-20, 2004.
PAVANELLI, C. Testes de avaliação no futebol, In: GUERRA, I.; BARROS, T. L., Barueri : Ciência do Futebol., p. 67-84, 2004.
WEINECK, J. Futebol Total, São Paulo: Phorte, 2000.
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