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O efeito do alongamento balístico na manutenção do 

ganho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais

El efecto de la elongación balística en el mantenimiento de la ganancia de flexibilidad en los músculos isquiotibiales

 

*Bacharel em Fisioterapia ULBRA/RS

**Bacharel em Fisioterapia UDESC/SC

***Mestrando em Ciências do Movimento Humano UDESC/SC

****Mestre em Fisioterapia aplicada a T.O. UNITRI/MG

*****Doutor em Fisioterapia UFSCar/SP

(Brasil)

Taylor Ferreira*

Cleber Humberto Araujo Renk*

Adriano David Maróstica**

André Luiz Almeida Pizzolatti***

Cristiano Diniz Campelo Silva****

Gilmar Moraes Santos*****

rpizzolatti@terra.com.br

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem como objetivos avaliar a amplitude de movimento (ADM) do joelho logo após a realização de uma sessão de alongamento balístico, e verificar se este ganho se mantém 24h após a aplicação da técnica. Fizeram parte 19 indivíduos (9 homens; 10 mulheres) praticantes de atividades esportivas recreacionais, com faixa etária entre 21 e 30 anos (MI 24,16 anos). Este sujeitos realizaram 4 séries com o maior número de repetições de elevação da perna reta durante 30s, com tempo de 10s de intervalo entre as séries. A ADM de extensão do joelho foi avaliada antes, imediatamente após e 24 horas após a realização do alongamento através de biofotogrametria. A ADM de extensão ativa de joelho antes da aplicação do alongamento balístico variou entre 131º e 172º (média­ 157,53º; S=11,18º). Imediatamente após a aplicação do alongamento a ADM variou entre 143º a 172º (média­ 162,37º; S= 8,70º), e 24hs após a aplicação do alongamento variou entre 138º e 175º (média 161,11º; S= 9,55º). Os resultados foram estatisticamente significantes comparando os valores antes e imediatamente após o alongamento (p=0.001), e antes e 24h após o alongamento (p=0.023). No entanto, não houve significância estatística entre os valores imediatamente após e 24h após o alongamento (p=0,246). Em conclusão, nosso estudo sugere, clinicamente, que o alongamento balístico é eficaz para o ganho da flexibilidade e para a manutenção desse ganho em 24h após a aplicação da técnica.

          Unitermos: flexibilidade; amplitude de movimento; alongamento balístico

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 135 - Agosto de 2009

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Introdução

    A flexibilidade é um componente fundamental para o rendimento esportivo (Kokkonen et al., 2007). Segundo Thacker et al (2004), a flexibilidade é uma propriedade intrínseca do tecido que determina a amplitude de movimento (ADM) alcançado por uma articulação ou um grupo de articulações. A pouca extensibilidade tecidual altera a ADM e provoca padrões de movimentos inadequados e descoordenados, resultando em prejuízos no rendimento do atleta. Além disso, o encurtamento muscular pode causar desequilíbrios articulares e resultar em disfunções articulares (Starring et al., 1988), bem como predispor a lesões musculares. Dessa forma, com o objetivo de manter ou melhorar a flexibilidade são introduzidas, rotineiramente, técnicas de alongamentos durante o aquecimento do atleta em momentos prévios à atividade física.

    Dentre os métodos de alongamento existentes, o mais antigo e questionado é o alongamento balístico. Esta técnica consiste em movimentos repetidos gerados pela musculatura agonista que ocasionam tensões agressivas e de curta duração na musculatura antagonista. Este estímulo repetitivo e curto faz com que os fusos neuromusculares estejam sempre ativos, produzindo uma resistência muscular contínua ao alongamento, e não permite que os órgãos tendinosos de Golgi produzam o relaxamento muscular (Prentice, 2002; Coelho, 2007). Além disso, por ser pouco controlado há um grande potencial em provocar lesões musculares. Por estes motivos o alongamento balístico é considerado o mais desvantajoso para o desenvolvimento da flexibilidade, o que justifica a sua pouca utilização no meio esportivo.

    Por outro lado, o alongamento balístico é a única técnica de alongamento dinâmica e, por isso, semelhante ao gesto esportivo realizado pelo atleta (Prentice, 2002; Nelson e Kokkonen, 2001). Os estudos de Enoka (1994), Nelson e Kokkonen (2001), Woolstenhulme et al. (2006), e Mahieu et al. (2007) demonstraram que o alongamento balístico é tão efetivo quanto as técnicas estáticas para o aumento da ADM articular. No entanto, estes estudos utilizaram programas de alongamento em longo prazo, e nenhum destes verificou a eficácia da técnica em apenas uma sessão, tão pouco o tempo de manutenção do ganho da ADM. Dessa forma, este estudo tem como objetivos avaliar a ADM do joelho logo após a realização de uma sessão de alongamento balístico, e verificar se este ganho se mantém 24 horas após a aplicação da técnica.

Métodos

Sujeitos

    Fizeram parte deste estudo dezenove indivíduos voluntários (9 homens; 10 mulheres) com faixa etária entre 21 e 30 anos (MI 24,16 anos), recrutados na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) em Canoas/RS. Os sujeitos eram praticantes de atividades esportivas recreacionais, não apresentavam discrepância de membros inferiores maior que 1,5cm, histórico de doença neurológica, ou lesão na musculatura isquiotibial em um período prévio de 6 meses. O presente estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos e Animais da ULBRA Canoas/RS, e todos os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Coleta dos dados

    A avaliação da flexibilidade foi realizada antes, imediatamente após, e 24h após a aplicação do alongamento balístico. Primeiramente foi realizada, com o sujeito em decúbito dorsal, a mensuração do comprimento do membro inferior. Após isso, por meio de sorteio aleatório, foi definido em qual membro o alongamento seria aplicado, e em seguida foram fixados os marcadores sobre os seguintes pontos anatômicos: trocânter maior do fêmur, côndilo lateral do fêmur, e maléolo lateral. A avaliação da extensão ativa máxima do joelho foi realizada através de biofotogrametria computadorizada. As fotos foram adquiridas através da máquina fotográfica Casio® EX-Z60 fixada ao chão por um tripé a 3,10m distância da maca em todas as coletas. Para cada medida foram realizadas três fotos, efetuadas sempre pelo mesmo avaliador. Antes da obtenção da primeira foto ajustou-se a distância focal da objetiva para todas as coletas a fim de evitar distorções da imagem que possam alterar os dados (Ricieri, 2000). A medida do ângulo de extensão ativa do joelho foi obtida através do softwear Al Cimage® 2.1.

    Para a avaliação da ADM do joelho o membro inferior permaneceu em 90° de flexão de quadril, com o joelho fixado junto a uma barra metálica por uma faixa elástica. O membro inferior contralateral também permaneceu preso na maca por uma faixa elástica em extensão de quadril e joelho. O voluntário manteve todo o corpo bem relaxado e a coluna bem apoiada na maca. Nesta posição pediu-se para o sujeito realizar a extensão ativa máxima do joelho.

    Para aplicação do alongamento balístico o indivíduo foi posicionado em posição ortostática ao lado da maca com o membro superior contralateral à perna que recebeu a técnica apoiado à barra metálica existente na maca. Ao comando verbal do avaliador, o individuo partiu de uma de extensão de quadril e joelho para uma flexão de quadril mantendo o joelho estendido. Foram realizadas 4 séries com o sujeito realizando o maior número de repetições de elevação da perna reta durante o tempo de 30s, com tempo de 10s de intervalo entre as séries.

    Para que não houvesse interferência na coleta dos dados os indivíduos foram orientados a não realizar qualquer tipo de atividade física ou técnica de alongamento na musculatura isquiotibial até que fosse realizada a coleta dos dados no dia seguinte.

Análise estatística

    Para análise estatística dos dados utilizou-se o Wilcoxon Signed Rank Test com índice de significância p = 0,05.

Resultados

    A ADM de extensão ativa de joelho antes da aplicação do alongamento balístico variou entre 131º e 172º (média 157,53º; S=11,18º). Nos resultados obtidos imediatamente após a aplicação do alongamento balístico a ADM variou de 143º a 172º (média 162,37º; S=8,70º). Em 24hs após a aplicação do alongamento balístico a ADM de extensão ativa de joelho variou entre 138º e 175º, (média 161,11º; S= 9,55º). Os dados estão descritos no gráfico 1.

Gráfico 1. Média da ADM de extensão do joelho por indivíduo

    Os resultados foram estatisticamente significantes comparando os valores antes e imediatamente após o alongamento (p=0.001), e antes e 24h após o alongamento (p=0.023). No entanto, não houve significância estatística entre os valores imediatamente após e 24h após o alongamento (p=0,246).

Discussão

    O alongamento balístico é considerado o método de alongamento mais desvantajoso para o desenvolvimento da flexibilidade por provocar uma resistência contínua ao alongamento e ser pouco controlado, o que pode ser um fator potencial ao risco de lesões. Segundo Enoka (2000), o alongamento mais eficaz deve ser aplicado com baixas tensões por um período prolongado de tempo. Todavia, nosso resultado demonstrou que o método balístico é efetivo para o ganho da ADM imediatamente após uma sessão de alongamento. Os estudos prévios utilizando alongamento balístico também observaram ganhos significativos de flexibilidade. Wiemann e Hanh (1997) utilizaram o movimento balístico de elevação da perna reta em 3 series de 15 repetições. Magnusson et al. (1998), aplicaram 3 series de 10 repetições, e Nelson e Kokkonen (2001) aplicaram 20 minutos de diferentes métodos de alongamento balístico dos isquiotibiais e tríceps sural na posição sentada. Utilizando programas de flexibilidade em longo prazo, Woolstenhulme et al., (1988) realizaram um programa de 6 semanas de alongamento, duas vezes por semana, em 4 séries de 30 segundo, Laroche et al., (2006) realizaram o procedimento em 10 repetições, 3 vezes por semana durante 4 semanas, Starring et al., (1988) usaram um programa de 15 minutos de alongamento balístico passivo por 5 dias, e Mahieu et al., (2007) aplicaram 6 semanas de alongamento balístico no tríceps sural.

    Apesar de observado que o alongamento balístico promove o aumento da ADM, é importante saber se este ganho foi mantido após uma sessão de alongamento para avaliar se esta técnica é capaz de provocar alterações plásticas imediatas no tecido. O mecanismo pelo qual ocorre a mudança aguda na ADM tem sido atribuído a fatores neurofisiológicos e mecânicos. Acredita-se que o aumento imediato ocorra devido a um aumento da tolerância ao alongamento, provocado pela mudança na sensibilidade de receptores da dor (Bandy e Iron 1994; Halbertzma et al., 1994; Bandy e Iron 1997; Magnusson et al., 1996a).

    Entretanto, para ocasionar alterações irreversíveis é necessário que ocorram alterações nas propriedades físicas do tecido (WITVROUW et al. 2004). Esta resposta ocorre nos elementos elásticos contráteis e não contráteis em série e paralelo, e dependem da magnitude e do tempo de aplicação da carga. Magnusson et al. (1996b); Magnusson et al. (1996c); Magnusson et al. (1996d); e Magnusson et al. (2000) tem demonstrado que aplicar cargas com intensidade constante e por longos períodos provocam uma diminuição da rigidez tecidual como resposta viscoelástica imediata. Porém, esta resposta pode ocorrer de forma diferente diante de cargas cíclicas. Apenas Magnusson et al. (1998) e Mahieu et al. (2007) observaram a rigidez tecidual após o alongamento balístico e obtiveram resultados contraditórios. Mahieu et al. (2007) demonstraram uma diminuição da rigidez tendínea e nenhuma alteração na rigidez dos elementos contráteis. Esta resposta foi diferente para o alongamento estático, onde não houve alterações tendíneas. Porém, a magnitude do ganho de flexibilidade não foi diferente entre o alongamento balístico e estático. Já Magnusson et al. (1998) não obtiveram alterações na rigidez muscular mas observaram aumento da amplitude de movimento.

    Apesar de evidenciarem alterações viscoelásticas, Mahieu et al. (2007), contudo, não observaram o tempo de duração desta resposta para afirmar se o alongamento promoveu deformação tecidual plástica. Em nosso estudo, tendo como parâmetro apenas a ADM, o ganho desta variável no período de 24h ainda se mostrou significativo em relação ao momento pré-alongamento. Isto sugere que pode ter havido deformações teciduais plásticas em conjunto com as alterações neuromusculares. Todavia, para confirmar estas alterações seria necessário avaliar o torque resistivo passivo do tecido. Dessa forma, pesquisas futuras devem verificar se as alterações viscoelásticas se mantêm após o alongamento com o objetivo de comprovar, não apenas clinicamente, a eficácia do alongamento balístico na manutenção do ganho de flexibilidade.

Conclusão

    Em conclusão, nosso estudo sugere, clinicamente, que o alongamento balístico é eficaz para o ganho da flexibilidade e para a manutenção desse ganho em 24 horas após a aplicação da técnica.

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