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O efeito do treinamento sensório-motor no equilíbrio de idosas

El efecto del entrenamiento sensorio-motor en el equilibrio de mujeres mayores

The effect of the sensory-motor training in the balance in older women

 

*Fisioterapeuta, Mestranda do Curso de Ciência do Movimento Humano

Laboratório de Biomecânica da Universidade

**Graduada no Curso de Fisioterapia

***Educador Físico, Mestrando do Curso de Ciência do Movimento Humano

Laboratório de Biomecânica

****Fisioterapeuta, doutoranda do Curso de Ciência do Movimento Humano

Laboratório de Biomecânica

*****Professor Dr. do Laboratório de Biomecânica

******Professora Dra. do Laboratório de Gerontologia

Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, Florianópolis, SC

Ana Carolina Silva Souza*

Paula Bertolini De Paiva**

Valdeci José Guth***

Ana Claudia Martins****

Gilmar Moraes Santos*****

Giovana Zarpellon Mazo******

anakarolfisio@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Introdução: Durante o processo de envelhecimento, o organismo humano apresenta consideráveis mudanças fisiológicas, afetando de forma negativa o controle do equilíbrio e conseqüentemente predispondo ao risco de queda. Objetivo: Avaliar e comparar o equilíbrio de idosas após a prática do treinamento sensório-motor. Método: Foram selecionadas 10 idosas aleatoriamente, as quais foram divididas em dois grupos; grupo experimental (I) submetido ao treinamento sensório-motor, e grupo controle (II) submetido à prática de hidroginástica, ambos no período de 6 semanas. Avaliou-se o equilíbrio através da Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), cujos escores determinaram a possibilidade de queda (PQ). Para averiguação do efeito das intervenções intra grupos foi utilizado o teste Wilcoxon (p<0,05), e o teste U Mann-Whitney (p<0,05) para verificação das intervenções entre grupos. Resultados: Os resultados demonstraram que o grupo I obteve melhora do escore da EEB no equilíbrio entre pré-teste e pós-teste (p=0,041), e conseqüentemente houve a redução do índice de possibilidade de queda após o treinamento (p=0,042). Quanto ao grupo II não houve melhora significativa após a intervenção da hidroginástica. Conclusão: Nesse contexto, sugere-se que o programa de treinamento sensório-motor, no período de 6 semanas, promoveu melhora do equilíbrio e redução do risco de queda nas idosas.

          Unitermos: Treinamento sensório-motor. Equilíbrio. Idosas

 

Abstract

          Introduction: The related physiological alterations to the aging include affect of negative form the control of the balance in the aged ones, increasing the risk fall. Objective: Evaluate and to compare the effect of the sensory-motor training in the balance in women elderly. Methods: Will be selected 10 elderly randomly which will be divide in two groups, in experimental group (I) submitted of the sensory-motor training and group controlled (II) submitted of the practises hidrogynastic buth for 6 weeks. It was evaluated through the balance scale of balance of Berg (EEB), whose scores determined the possibility of falling. To investigate the effect of interventions intra groups was used Wilcoxon test (p <0,05), and the Mann-Whitney U test (p <0,05) for verification of interventions among groups. Results: The results showed that the group I got better score of EEB in the balance between pre-test and post-test (p = 0,041), and therefore there was the possibility of reducing the rate of drop after the training (p = 0,042). As for group II there was no significant improvement after the intervention of hidrogynastic. Conclusions: In this context, it is suggesting that the training program sensory-motor, in period the 6 weeks improves balance and reduce the risk of falling in women elderly.

           Keywords: Sensory-motor training. Balance. Older women

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

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Introdução

    O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, no qual ocorrem modificações morfológicas e funcionais, assim como modificações bioquímicas e biológicas, que resultam na diminuição da funcionalidade dos órgãos e aparelhos1. Estas perdas podem ser observadas com maior destaque nos sistemas músculo-esquelético, sensorial (audição, olfato, gustação, equilíbrio, visão), imunológico e nervoso1,2,3,4,5,6,7.

    Após os 60 anos, os indivíduos começam a apresentar maior detrimento da força muscular e menor resistência ao realizar suas tarefas diárias. Isso ocorre devido à perda das fibras musculares que podem se atrofiar e conseqüentemente levar a diminuição da força muscular8. Considerando que, durante o processo de envelhecimento também ocorre degeneração dos receptores proprioceptivos, principalmente nas informações proprioceptivas inconscientes dos movimentos articulares, a capacidade de controle da precisão, da agilidade e do automatismo dos movimentos corporais está alterada8. Em decorrência dessas alterações observa-se uma diminuição no comprimento e na altura dos passos, diminuição da flexão de joelhos e tronco, perda de sincronismo de membros superiores e aumento da base de apoio9 predispondo ao idoso a sofrer quedas.

    Paralelamente às alterações musculares e às informações proprioceptivas, mudanças nos hábitos cotidianos são visíveis com o envelhecimento, como por exemplo, a redução da atividade física8. O sedentarismo propicia uma maior debilidade e fadiga da musculatura do idoso, contribuindo também, para um descondicionamento cardiorespiratório, tendo como conseqüência o declínio funcional e da mobilidade8 deixando-o inseguro ao realizar suas atividades de vida diária (AVD`s) e tornando-se dependente para realizá-las.

    Essas alterações, no decorrer do envelhecimento, afetam de forma negativa a manutenção do equilíbrio e tem como conseqüência uma maior probabilidade de levá-los às quedas3,4,5,6,7,9,10,11. Considerada a principal causa de lesões, a queda pode gerar uma série de transtornos à saúde, perda de independência - tais como fraturas do colo do fêmur e suas complicações12,13. Nesse contexto, uma das maiores preocupações dos agentes de saúde é a sua prevenção, ressaltando que esta é uma das principais causas de morbidade e mortalidade, além de gerar um alto custo, tanto para o indivíduo acometido quanto para o sistema de saúde12, 13,14,15.

    Alguns autores apontam que o exercício físico na faixa etária senil tem como fator a prevenção de quedas. Relatam que a sua prática é favorável à saúde por diminuir riscos potenciais de doenças, melhorando a capacidade cardiovascular e locomotora (aumento da densidade mineral óssea, diminuição de problemas ósteo-articulares, aumento da força muscular e promoção do equilíbrio), aprimorando a capacidade funcional e promovendo melhores condições de vida a esta população16,17,18. Assim, a atividade física é um fator que não só contribui para a melhoria nas condições de vida durante o envelhecimento, mas também fornece estímulos que vão propiciar melhor capacidade de manutenção do equilíbrio e conseqüentemente independência funcional19.

    Em vista que uma das maiores preocupações dos agentes de saúde é a prevenção das quedas em idosos, as quais pode gerar uma série de transtornos, a intenção de implementar o treinamento sensório-motor como prática diária de exercício visa à melhora do equilíbrio através de atividades funcionais que envolvem força e agilidade, além de propiciar situações que enfatizem o estado de desequilíbrio com o objetivo de aumentar a resposta neuro-motora. Desta forma, acredita-se que possa haver melhorias na manutenção da capacidade do idoso para resistir às ameaças do desequilíbrio, e conseqüentemente incrementar a sua independência ao realizar suas AVD’s.

    Estudos20,21 mostram que o treinamento sensório-motor reduz a possibilidade de queda, porém ainda não está claro o efeito da intervenção do treinamento, ou seja, sua dosagem (freqüência, duração ou intensidade), o nível e o tipo de supervisão, e o causador do beneficio que são necessários para conseguir a diminuição do risco de queda. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar e comparar o equilíbrio de idosas antes e após a prática do treinamento sensório-motor no período de 6 semanas.

Materiais e métodos

    Trata-se de um estudo do tipo experimental com aprovação do Comitê de Ética (n°069/2007) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) de acordo com a Resolução 196 de 10/10/1996 do Conselho Nacional de Saúde. Foram selecionadas 12 idosas aleatoriamente que se encontravam na lista de espera para participar do Projeto de Extensão “Grupo de Estudos da Terceira Idade-GETI”, com idade entre 60 a 79 anos com média de 69,5 anos (±5,6); média da massa corporal de 75,18 Kg (±16,2) e média da altura de 1,53 (±0,06) cm; separadas em dois grupos, 7 para o treinamento sensório-motor (Grupo 1) e 5 para a hidroginástica (Grupo 2).

Tabela 1. Caracterização da amostra

 

Grupo 1 (n=7)

Grupo 2 (n=5)

Total (n=12)

Idade (anos)

66.2 (±3,1)

63.2 (±8,1)

69,5 (±5,6)

Peso (kg)

74.0 (±13,7)

64.5 (±18,8)

75,18 (±16,2)

Altura (m)

1.53 (±0,04)

1.57 (±0,09)

1.53 (±0,06)

    A escolha do sexo feminino foi intencional, pois a queda é mais prevalente entre as mulheres. Pesquisadores relatam que mulheres idosas apresentam maior propensão para quedas devido à menor massa magra e força muscular, maior prevalência de doenças crônico-degenerativas e exposição às atividades domésticas22,23.

    As participantes foram submetidas a uma avaliação fisioterapêutica para a constatação de doenças do sistema músculo-esquelético, cardiovascular e neurológico, como também história de instabilidade postural. Os testes neurológicos de Romberg, Dedo no Nariz, Guinada e Apontar Errado, foram executados para verificação de possível lesão no sistema vestibular e cerebelar24.

    Foram adotados como critérios de exclusão para participar do estudo: indivíduos que participavam em mais de um programa de exercício físico, história pregressa de cirurgias ou afecções dos membros inferiores, quadril e coluna lombar; dor, edema ou limitação de amplitude de movimento no momento da realização do teste; diagnóstico ou sinais e sintomas de labirintite; distúrbios neurológicos e músculo-esqueléticos; diagnóstico de diabete; e indivíduos que durante o período de treinamento foram submetidos a tratamento cirúrgico, fisioterapêutico ou outro tipo de tratamento que influenciasse nos resultados.

    Durante a avaliação foram excluídas duas idosas do grupo do treinamento sensório-motor. Uma por apresentar resultado positivo nos testes neurológicos e a outra por afecção no membro inferior. As 10 idosas participantes foram divididas em dois grupos, cada um composto por 5 idosas. No grupo I, idosas inativas que foram submetidas ao treinamento sensório-motor; no grupo II, idosas inativas que foram submetidas à hidroginástica. Em relação ao questionamento de quedas no último ano, apenas uma idosa do Grupo I relatou queda.

    Após a avaliação e a seleção, aplicou-se a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) para averiguar o equilíbrio nos dois grupos, antes e após intervenção.

Instrumento de medida

    A Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) foi utilizada para averiguar o equilíbrio estático e dinâmico das idosas e o risco de quedas considerando a influência ambiental na função. A EEB avalia o desempenho do equilíbrio funcional com 14 testes de habilidade do indivíduo tais como: sentar, ficar de pé, alcançar, girar em volta de si mesmo, olhar por cima de seus ombros, ficar sobre apoio unipodal, e transpor degraus. Possui uma pontuação máxima de 56 pontos, sendo que cada teste possui cinco alternativas que variam de 0 a 4 pontos. Os pontos são baseados no tempo em que cada posição pode ser mantida, na distância em que o membro superior é capaz de alcançar à frente do corpo e no tempo para completar uma tarefa. Este instrumento mostra excelente confiabilidade (0.96) e de moderada para boa correlação com outros instrumentos de avaliação funcional do equilíbrio, como: Escala de Mobilidade de Barthel, 0.67; Teste do “Up and Go”, 0.76; Escala do Equilíbrio de Tinetti, 0.9115. Esta escala possui excelente objetividade de teste-reteste (ICC = 0,98)25.

    Os escores absolutos obtidos na EEB foram aplicados para se obter o índice de Possibilidade de Queda (PQ) pela seguinte equação:

PQ = 100% x exp (10,46 – 0,25 x BBS escore + 2,32 x história de instabilidade do equilíbrio)

      [1 + exp (10,46 – 0,25 x BBS escore + 2,32 x história de instabilidade do equilíbrio)]

    Sendo que BBS escore é o escore obtido pelo indivíduo na EEB. Na história de instabilidade é atribuído o valor 0; quando não há relato de história de instabilidade, atribui-se o valor 126.

Protocolo do treinamento sensório-motor

    O Grupo I foi composto por 5 idosas submetidas a 12 sessões de treinamento sensório-motor, realizado duas vezes por semana com duração de uma hora, por um período de 6 semanas. O protocolo de treinamento consistiu de atividades realizadas individualmente a partir de exercícios com estímulos proprioceptivos e de equilíbrio, que incluiu caminhada sobre superfícies com diferente nível de estabilidade através da interposição de colchonetes, conforme a progressão da participante, exercícios em cama elástica, discos de propriocepção, balancim, pranchas de Freeman, tábua instável, solicitando às voluntárias realizar as atividades com os olhos abertos e, sempre que possível, com os olhos fechados. Os últimos dez minutos foram reservados para alongamento de membros superior e inferior e relaxamento. O protocolo foi baseado nos estudo de Kul-Panza e Berker27; Brown e Ferrigno28; Radcliffe e Farentinos29.

Protocolo da hidroginástica

    O Grupo II foi composto por 5 idosas submetidas a 12 sessões de hidroginástica, na qual participaram duas vezes na semana com duração de uma hora, por um período de 6 semanas. Os primeiros dez minutos foram reservados para alongamento de membros superior e inferior. O protocolo consistiu de exercícios que incluíram adaptação do idoso ao meio aquático e exercícios de equilíbrio estático e dinâmico, que se basearam com caminhada associada ao movimento do membro superior aumentado a resistência através da água, saltos, corrida; foi solicitado às voluntárias realizar as atividades com os olhos abertos e, sempre que possível, com os olhos fechados. Para a realização dos exercícios foi utilizado: bastão, espaguete e halteres. O protocolo da hidroginástica consistiu de atividades realizadas individualmente a partir de exercícios na água segundo Ramaldes30.

    Ambos os protocolos se basearam conforme a habilidade da idosa em fazer os exercícios e de evoluir para exercícios de maior complexidade. A idosa, para passar de um exercício de um grau fácil para o mais difícil, deveria realizar perfeitamente o exercício, com agilidade, coordenação e resistência muscular, e não apresentar queixa em relação à dor e desconforto durante a sua realização ou na sessão seguinte. O tempo em que a idosa passou por cada nível de dificuldade foi dependente de sua habilidade prévia, de sua motivação e dedicação aos exercícios.

Tratamento e análise dos dados

    Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software estatístico SPSS versão 15.0. O teste Shapiro-Wilk averiguou que os grupos não apresentaram uma distribuição de probabilidade normal. Com a finalidade de comparar o índice de possibilidade de queda e o escore da EEB intra grupos, antes e a após intervenção, utilizou-se o teste Wilcoxon. Para verificar se houve diferença estatisticamente significativa nos índice de queda e escore da EEB entre os grupos, antes e após a intervenção, utilizou-se o teste U Mann-Whitney. Ambos os teste adotaram o nível de significância de 5%.

Resultados

    Ao analisar o resultado do escore da Escala de Berg entre o grupo I e o grupo II, antes e após intervenção notou-se que não houve diferença significativa entre os grupos. No entanto, o escore obtido do grupo I na EEB (55 ±1,2 pontos) após o treinamento sensório-motor, foi significativamente (p=0,041) maior em relação à antes do treinamento (50,4±4,1 pontos) (figura 1). Na avaliação inicial duas idosas apresentavam escore menor que 49, uma com 45 e outra com 47 pontos, apresentando moderado nível de risco de queda (tabela 2). Após a intervenção, todas as idosas do grupo I apresentaram escores acima de 49, sendo que as idosas com escore inferior a 49 pontos passaram para 53 e 56 pontos, respectivamente, tendo baixo nível de risco de queda (tabela 3).

Figura 1. Comparação do escore da escala de equilíbrio de Berg antes e após intervenção entre e intragrupos

Legenda: †: diferença significativa antes e após a intervenção do treinamento sensório-motor. (p = 0,041).

    No grupo da hidroginástica, notou-se que o escore obtido na EEB antes da intervenção foi de 52.2 ± 2.1 e após foi de 53.4 ± 1.9 pontos, não havendo uma diferença significativa no escore da EEB (figura 1). Na avaliação inicial uma idosa apresentou um escore de 49 pontos, que após seis semanas de hidroginástica seu escore passou para 50 pontos, na EEB (tabela 2 e 3).

Tabela 2. Escore na Escala de Equilíbrio de Berg e o respectivo índice de possibilidade de queda na pré-intervenção

Treinamento sensório-motor

Hidroginástica

Número de indivíduos

n=1

n=2

N=1

n=1

n=2

N=1

n=1

n=1

Escore na EEB/relato de instabilidade postural

54/0

53/0

47/0

45/1

54/0

53/0

50/0

49/0

Possibilidade de queda

4,6%

5,8%

21,6%

82,2%

4,6%

3,6%

5,8%

14.31%

Legenda: EEB-escala de equilíbrio de Berg

 

Tabela 3. Escore na Escala de Equilíbrio de Berg e o respectivo índice de possibilidade de queda na pós-intervenção

Treinamento sensório-motor

Hidroginástica

Número de indivíduos

N=3

n=1

N=1

n=1

N=3

N=1

Escore na EEB/relato de instabilidade postural

56/0

55/0

53/0

55/0

54/0

50/0

Possibilidade de queda

2,8%

3,6%

5.8%

3,6%

4,6%

11.5%

Legenda: EEB-escala de equilíbrio de Berg

    Ao analisar o desempenho executado nos testes de habilidade da EEB, antes e após o período de intervenção, notou-se que no grupo I todas as idosas apresentaram melhora do equilíbrio, expressivamente na execução dos testes de alcance anterior, em pé sem apoio com um pé na frente do outro e apoio unipodal. No grupo II a melhora da execução da tarefa foi em pé sem apoio com um pé na frente do outro e no apoio unipodal, sendo que duas permaneceram com o desempenho inalterado.

    Ao analisar o índice de possibilidade de quedas (PQ) entre os grupos, notou-se que não houve diferença significativa entre os grupos, antes e após intervenções. Entretanto, ao analisar o grupo treinamento sensório-motor, verificou-se que houve redução significativa (p=0,042) no risco de queda no pós-treinamento (3,7%±1,2) em relação ao pré-treinamento (24% ±33,3) (figura 2). Ressalta-se que na avaliação inicial duas idosas apresentavam índice de PQ alto e moderado, sendo uma em 82,2% e outra em 21,6%, respectivamente. Após a intervenção obteve redução do PQ para 5.8% e 3.6%, respectivamente, não apresentando mais relato de instabilidade postural (tropeço, escorregão) (tabela 3). No grupo hidroginástica, o índice médio da PQ pré-intervenção foi de 7,7% ±4,2 e após foi de 5,8% ±3,2, não havendo redução significativa do risco de queda. Na avaliação inicial somente uma idosa apresentou um índice de PQ em 14.31% que após a intervenção da hidroginástica abaixou para 11.51%, não havendo uma redução significativa (tabela 3).

Discussão

    Os resultados indicaram que as idosas submetidas ao treinamento sensório-motor obtiveram melhora significativa no equilíbrio, e conseqüentemente, uma redução significativa no nível de possibilidade de queda. Apesar de que três idosas do grupo I apresentaram um bom escore da EEB e duas com escore modesto, observou-se que após a intervenção todas as idosas melhoraram seus valores; afastando-se do risco de queda. Tal resultado está de acordo com os de Wolf31, o qual averiguou uma melhora nos escorres da EEB em 60% dos participantes após o treinamento sensório-motor, enquanto no grupo controle apenas 7,5%. Porém, ao analisar o efeito da hidroginástica no equilíbrio das idosas, os resultados indicaram que não houve diferença significativa entre o período pré e pós-intervenção, e como conseqüência, o risco de queda permaneceu inalterado.

    Shumway-Cook et al. 25, em seu estudo, utilizou um modelo para previsão quantitativa do risco de quedas em idosos que estabelece a relação entre a Escala de Equilíbrio de Berg e o risco de quedas (10-100%). Nesse modelo, a sensibilidade da escala foi de 91% e a especificidade, 82%. A probabilidade de queda aumenta com a diminuição da pontuação da Escala de Equilíbrio de Berg, numa relação não linear. Na amplitude de 56 a 54, cada ponto a menos é associado a um aumento de 3 a 4% no risco de quedas. De 54 a 46, a alteração de um ponto é associada ao aumento de 6 a 8%, sendo que, abaixo de 36 pontos, o risco de queda é quase de 100%. De acordo com os resultados desse estudo, observou-se, que o risco de queda diminuiu com o fato de que houve o aumento da pontuação na EEB do grupo I, e assim diminuindo o PQ. Ao contrário, o grupo II não apresentou alteração significativa na pontuação da EEB e assim, não reduziu o risco de queda, ficando inalterado a PQ.

    A propriocepção tem maior influência no equilíbrio, principalmente no senil, quando a instabilidade é observada em posição ortostática, base de sustentação confortável e olhos abertos. Camicioli et al.32 analisou o equilíbrio dos idosos em diferentes faixas etárias quanto à interação sensorial. No grupo etário acima dos 80 anos, o equilíbrio foi inferior, com diferença significativa, em relação aos idosos mais novos. Porém, mesmo assim, houve decréscimo do equilíbrio, em geral, nos idosos quando a superfície era instável. Assim, evidencia-se a importância do sistema proprioceptivo no controle do equilíbrio de idosos.

    Estudos propõem que o meio aquático é considerado seguro e eficaz na reabilitação do idoso, pois a água atua simultaneamente nas desordens músculoesqueléticas e melhora o equilíbrio. Porém, pesquisas relatam que a privação do idoso ao contato com o solo da piscina diminui suas informações proprioceptivas, por menor estímulo dos receptores sensoriais como os plantares e cutâneos. Além disso, a falta de descarga de peso também pouco estimulará mecanoreceptores, tônus e controle postural, não contribuindo para melhora da manutenção do equilíbrio33.

    Além disso, Perry34 relata que o estímulo sensorial cutâneo plantar tem um importante papel na regulação da marcha e do controle postural, sendo que a presença de superfícies menos sensíveis pode alterar a informação plantar e prejudicar o controle postural. As informações sômato-sensoriais, especialmente em condições de mudanças posturais multidirecionais que ocorrem de forma imprevisível durante a marcha, ativa os mecanorreceptores plantares que fornecem informações detalhadas que facilita as reações compensatórias. Neste contexto, talvez possa explicar o resultado obtido nesse estudo, em que as idosas do grupo II não apresentaram melhora do equilíbrio, provavelmente em decorrência do menor estímulo dos receptores sensoriais plantares em contato com o solo da piscina. Outro motivo desse resultado, pode ter sido em razão do curto período da prática de hidroginástica.

    Estudos realizados por Alves et al.35 e Resendes36 verificaram que idosas submetidas à hidroginástica por três meses, duas vezes na semana; obtiveram melhora na resistência de membros inferiores, força e resistência de membros superiores, flexão de membros inferiores e equilíbrio. Da mesma forma, Aguiar et al.37, ao investigar os possíveis efeitos da hidroginástica, no período de seis meses, verificou a melhora do equilíbrio e a prevenção de quedas em comparação ao grupo controle (idosas sedentárias). A partir destes estudos, observa-se que a hidroginástica apresentou um resultado relevante na melhora do equilíbrio em decorrência do maior tempo, ressaltando que o seu efeito possa ser benéfico no equilíbrio de idosas a médio e longo prazo.

    Estudos mencionam que o treino de equilíbrio é relevante para evitar as quedas, uma vez que os déficits de equilíbrio constituem um fator de risco que pode ser modificável através de uma intervenção baseada em exercícios. Contudo, muitas são as variáveis no que se referem aos recursos, técnicas, contexto ambiental, intensidade, freqüência e programa de treinamento. Os resultados do estudo proposto convergem ao do Steadman et al.38 que propôs dois protocolos de treino de equilíbrio para pessoas idosas, durante quatro semanas, que independentemente da estratégia utilizada, evidenciaram melhora do equilíbrio e da mobilidade. O mesmo foi visto por Gauchard et al.39 que aplicou uma intervenção de exercícios, com ênfase na propriocepção, em mulheres com média de idade de 60 anos na qual produziram melhoras significativas nos padrões de equilíbrio postural em relação ao grupo que realizou exercícios de caminhada e corrida, após onze semanas.

    Albinet et al.40 analisaram o equilíbrio postural estático dos idosos antes e após o treinamento sensório-motor, com duração de 12 semanas, tanto em apoio unipodal como bipodal em assoalho firme, com olhos abertos e os olhos fechados. Concluíram que o treinamento sensório-motor permitiu aos idosos melhorar sua confiança em realizar tarefas cognitivas que exigem atenção com os olhos fechados ou abertos nas condições testadas. Além disso, Ramsbottom et al.41 verificaram o efeito do treinamento sensório-motor, com duração de 24 semanas, na melhora do equilíbrio e na mobilidade funcional em homens e em mulheres sedentários com idade acima de 70 anos. Após o treinamento notaram, no grupo experimental, que o equilíbrio dinâmico aumentou 48%; e a mobilidade funcional aumentou 12% durante a caminhada. O grupo controle não mostrou mudança significativa. Concluindo que o treinamento sensório-motor promoveu uma diminuição do risco de queda no grupo experimental, devido à melhora do equilíbrio e mobilidade funcional.

    De acordo com os estudos mencionados, o treinamento sensório-motor proporciona uma melhora do equilíbrio em idosas em curto prazo, prevenindo a queda. Ao contrário dos experimentos com hidroginástica, o qual tem se apontado a melhora do equilíbrio em protocolos prolongados.

    Observa-se que uma das limitações desse estudo foi em relação à pequena amostra, a não presença de um grupo sedentário e de um avaliador cego. Apesar disso, os resultados indicaram que o treinamento sensório-motor proporcionou melhora do equilíbrio e redução do risco de quedas em idosas, prevenindo-as das quedas. Porém, sugerem-se novas pesquisas, com um número significativo de participante, de grupo controle sedentário e de avaliador cego; e recomenda-se a utilização de instrumentos, tais como plataforma de força, para confirmar com maior precisão a melhora do equilíbrio após um programa de exercício.

Conclusão

    Diante das respostas obtidas observa-se que o programa de treinamento sensório-motor proposto foi capaz de promover, num período de 6 semanas, melhora do equilíbrio e conseqüentemente, uma redução na possibilidade de quedas.

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revista digital · Año 14 · N° 134 | Buenos Aires, Julio de 2009  
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