efdeportes.com

O corpo humano: entrelaçamento entre o orgânico e o cultural

El cuerpo humano: entrecruzamiento entre lo orgánico y lo cultural

 

* Professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Grupo de Pesquisa Corpo e Cultura de Movimento

(Brasil)

Profª Dra. Maria Isabel Brandão de Souza Mendes

Profª Dra. Terezinha Petrucia da Nóbrega

Prof Dr. José Pereira de Melo

Profª Dra. Rosie Marie Nascimento de Medeiros

Isabelbsm1@gmail.com

 

 

 

Resumo

          O objetivo desse artigo é tecer reflexões sobre a temática do corpo humano como suporte de valores sócio-históricos, no sentido de problematizar à compreensão biologicista que considera somente os aspectos orgânicos do corpo humano. Compreender o corpo humano como suporte de valores sócio-históricos é fundamental para ampliarmos o entendimento de que corpo, natureza e cultura estão entrelaçados. O corpo humano não se reduz aos aspectos orgânicos, mas abarca também os aspectos culturais, sociais e históricos.

          Unitermos: Corpo. Natureza. Cultura

 

Resumen

          El propósito de este artículo es reflexionar sobre el tema del cuerpo humano como soporte de valores socio-históricos, en el sentido problematizar la postura que sólo considera los aspectos biológicos del cuerpo humano. Entender el cuerpo humano como medio de valores históricos y sociales es esencial para ampliar el entendimiento de que el cuerpo, la naturaleza y la cultura están entrelazadas. El cuerpo humano no se limita a los aspectos orgánicos, sino que también abarca el ámbito cultural, social e histórico.

          Palabras clave: Cuerpo. Naturaleza. Cultura

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

1 / 1

Introdução

    A Educação Física brasileira possui uma tradição histórica permeada por uma visão biologicista do corpo humano, como pode ser observado em várias produções da área, como no estudo de Soares (1994), Nóbrega (2000); Silva (2001a; 2001b), dentre outros.

    Entretanto, desde meados da década de 1980, a área começa a questionar essa tradição, como pode ser observado no estudo de Mendes (2007). A referida autora analisou a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) no período de 1979 a 2003. Esse periódico é um lócus de produção e difusão dos saberes do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, entidade científica da Educação Física.

    De acordo com Mendes (2007), a partir de meados da década de 1980, os pesquisadores da RBCE que tecem críticas à compreensão de corpo que fundamenta a tradição da área, questionam os dualismos e os reducionismos.

    Os pesquisadores problematizam a compreensão cartesiana de corpo que o considera instrumento para a mente, a visão biologicista de corpo que o considera apenas a partir dos aspectos anátomo-fisiológicos do movimento humano, característico dos discursos médicos (MENDES, 2007, p. 78).

    Apesar da crítica à visão biologicista do corpo humano existir desde meados da década de 1980, ainda nos deparamos com estudos que desconsideram os aspectos culturais, sociais e históricos, principalmente, quando se embasam somente nos referenciais da Medicina do Esporte, como podemos identificar no estudo de Silva (2001a; 2001b).

    Diante da problemática apresentada, o objetivo desse artigo é tecer reflexões sobre a temática do corpo humano como suporte de valores sócio-históricos, no sentido de problematizar à compreensão biologicista que considera somente os aspectos orgânicos do corpo humano.

O corpo como suporte de valores sócio-históricos

    Com o intuito de tecer reflexões sobre a temática do corpo humano como suporte de valores sócio-históricos, torna-se relevante lembrarmos o estudo de Marcel Mauss (1974). O referido autor, ao estudar as atitudes corporais em diferentes sociedades, além de mostrar o entrelaçamento entre os códigos biológicos e os códigos culturais, ressalta a relação das atitudes corporais com os símbolos morais da sociedade em que estão inseridos conforme o tempo histórico.

    Para Mauss (1974), determinada atitude corporal pode ser aceita ou então proibida e expressa os valores sócio-históricos que são construídos por meio da educação. Desse modo, percebemos que o que não é reconhecidamente aceito por uma comunidade causa estranhamento.

    Se pensarmos na postura do corpo, percebemos que a retidão corporal perseguida pela tradição ocidental, não se restringe aos aspectos orgânicos, mas traz embutida uma representação de conduta moral.

    O livro de Carmen Soares (1998), intitulado “Imagens da educação no corpo” mostra que a retidão corporal moldada por meio da Ginástica Científica na Europa, no final do século XVIII e XIX, simbolizava o desejo de moralizar os indivíduos e a sociedade. O corpo reto e rígido era sinal de ordem, utilidade e eficiência. Sinal de sociedade regrada.

    Em contraposição à retidão e rigidez do corpo moldada pela Ginástica, nos deparamos com a maleabilidade dos artistas e funâmbulos. Corpos que representavam uma ameaça à obediência incondicional e a servidão almejada pela sociedade européia.

    Outro estudo interessante, mostrado por Le Breton (2007) e que contribui com a reflexões sobre o corpo humano como suporte de valores sócio-históricos é a pesquisa de Hertz. Nessa pesquisa, Hertz fala sobre a superioridade da mão direita perante a mão esquerda e os valores correspondentes a cada uma delas.

    Ser destro ou canhoto não está relacionado apenas aos aspectos orgânicos, ma significa também determinados valores morais. Quem não conhece algum adulto canhoto que quando era criança teve sua mão esquerda amarrada para que fosse forçado a usar a mão direita?

    Na sociedade ocidental, marcada pelo dualismo, a mão direita está associada à valores positivos, ao sagrado. Ser destro significa ser correto, ter força, agilidade, possuir ordem, ser nobre. Em compensação, a mão esquerda está relacionada ao profano e à valores negativos. A mão esquerda é desprezada e considerada auxiliar. Associada à passividade, fraqueza e desconfiança (LE BRETON, 2007).

    Para Le Breton (2007), os órgãos e as funções do corpo humano estão atreladas à representações e valores diferentes de uma sociedade para outra. O autor diz também que no seio de uma sociedade, estes valores diferem de acordo com as classes sociais.

    Na sociedade ocidental, os pés não possuem valor por se encontrarem na parte inferior do corpo. Porém, o rosto é a parte do corpo humano que possui os valores mais elevados. Ao rosto, está associado o sentimento de ser inteiro. O rosto representa o reconhecimento do outro, sua identidade e qualquer alteração no rosto é sentida como um drama, como destaca Le Breton (2007).

Considerações finais

    Compreender o corpo humano como suporte de valores sócio-históricos é fundamental para ampliarmos o entendimento de que corpo, natureza e cultura estão entrelaçados. O corpo humano não se reduz aos aspectos orgânicos, mas abarca também os aspectos culturais, sociais e históricos.

    Compreender os valores sócio-históricos que são construídos por meio da educação, de acordo com a cultura em que cada corpo humano está inserido é fundamental para compreendermos os diferentes contextos. Mas também é importante para compreendermos que esses valores não são fixos e podem ser reconstruídos.

Referências

  • LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Petrópolis: Vozes, 2007.

  • MAUSS, M. Sociologia e Antropologia. São Paulo: EDUSP, 1974.

  • MENDES, M. I. B. S. Mens Sana in Corpore Sano: saberes e práticas educativas sobre corpo e saúde. Porto Alegre: Sulina, 2007.

  • NÓBREGA, T. P. Corporeidade e Educação Física: do corpo-objeto ao corpo-sujeito. Natal: Editora da UFRN, 2000.

  • SILVA, A. M. Corpo e diversidade cultural. Rev. Bras. Cienc. Esporte, v. 23, n. 1, p. 87-98, set. 2001a.

  • ______. Corpo, ciência e mercado: reflexões acerca da gestação de um novo arquétipo da felicidade. São Paulo: Autores Associados, 2001b

  • SOARES, C. L. Imagens da educação no corpo. São Paulo: Autores Associados, 1998.

  • ______. Educação Física: raízes européias e Brasil. São Paulo: Autores Associados, 1994.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 134 | Buenos Aires, Julio de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados