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Efeito da caminhada e do hatha yoga sobre a intensidade

da dor de mulheres com síndrome da fibromialgia

Efecto de la caminata y del hata yoga sobre la intensidad del dolor en mujeres con sindrome de fibromialgia

 

*Profº de Educação Física; Especialista em Fisiologia do Exercício

Pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício – LAPE

do CEFID-UDESC

***Fisioterapeuta; instrutora de hatha yoga; pesquisadora do LAPE – UDESC.

*** Profº de Educação Física; Doutorando em Ciências do Movimento Humano – UDESC

****Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu

em Ciências do Movimento Humano – UDESC.

Coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício – LAPE

Programa de extensão “Psicologia do Exercício e do Esporte aplicada à Saúde”

Florianópolis – SC

Ricardo de Azevedo Klumb Steffens*

Alessandra Bertinatto Pinto Fonseca**

Ricardo Brandt***

Alexandro Andrade****

ricardoaksteffens@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Introdução: A síndrome da fibromialgia (SFM) apresenta como principal sintoma a dor crônica, fator que leva a sérias implicações na vida de suas portadoras, por promover alterações físicas e emocionais. O tratamento proposto atualmente é a associação entre terapia física e medicamentosa, buscando controlar os sintomas e trazer melhorias na qualidade de vida destas pessoas, diminuindo sua dor. Objetivo: O objetivo deste estudo é verificar os efeitos da prática de caminhada e hatha yoga sobre a intensidade da dor de mulheres com SFM. Método: Participaram da pesquisa 15 mulheres com diagnóstico clínico de SFM e idade média de 47 anos (+10,2) divididas em dois grupos: caminhada (n=8) e hatha yoga (n=7). Todas foram avaliadas quanto à intensidade da dor antes do programa e após a 10ª sessão da prática, através de uma escala de categoria numérica de dor, contida no Questionário de Impacto da Fibromialgia (FIQ). Os dados foram analisados através de estatística descritiva (frequência, média e desvio padrão) e inferencial (Wilcoxon). Resultados: Podemos observar que em apenas 10 sessões, ambas as práticas promoveram diminuição da intensidade da dor, porém sem apresentar diferença significativa. Conclusão: Embora não apresentando diferença significativa, os resultados deste estudo indicam que a prática de caminhada e de hatha yoga podem promover diminuição na intensidade da dor se praticadas habitualmente. Este estudo sugere sua continuidade com um maior número de participantes e com um maior número de sessões avaliadas, aprofundando o conhecimento sobre os efeitos dessas modalidades em relação às portadoras de Síndrome da Fibromialgia.

          Unitermos: Fibromialgia. Intensidade da dor. Caminhada. Hatha yoga

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

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Introdução

    A Síndrome da Fibromialgia (SFM) continua sob intenso foco de estudos. Busca-se ainda o esclarecimento de sua etiologia para que a partir disso se possa realizar um diagnóstico mais efetivo e um tratamento mais adequado. A doença apresenta como principal sintoma a dor crônica musculoesquelética generalizada (WOLFE et al., 1990), e alguns pacientes apresentam componentes físicos e emocionais associados (CROFT et al., 1993). Atualmente, a hipótese mais aceita para a etiologia da sensação dolorosa na SFM baseia-se em alterações do processamento central da dor (JULIEN et al., 2005).

    A dor pode ser definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a lesões reais ou potenciais, podendo ainda ser descrita em função destas lesões, conforme a Associação Internacional para o estudo da Dor – IASP (MERKSHEY e BOGDUK, 1994). A percepção da intensidade ou tolerância à dor está relacionada a aspectos sensitivos e emocionais como sensibilidade individual, estados de humor e experiências passadas, podendo ser influenciada pelo ambiente em que ocorre, bem como pelas crenças, significados e a importância que se atribuem a ela (HELMAN, 2003), trazendo comprometimento biopsicossocial às pessoas que a sentem (OKIFUJI, TURK e SHERMAN, 2000).

    Atualmente, a dor é tratada na SFM com terapia medicamentosa, a partir da administração de analgésicos, antiinflamatórios e antidepressivos. Por outro lado, muito tem se estudado sobre os efeitos de intervenções não-farmacológicas, tais como o exercício físico e intervenções corpo-mente, associadas ao tratamento medicamentoso. Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor, o tratamento mais recomendado é a associação entre o uso de medicamentos, apoio psicológico e principalmente terapia física (COSTA, 2008).

    Atualmente, diversas modalidades de terapia física tem sido estudadas como opção no tratamento da SFM, como por exemplo, a prática de exercícios físicos como a caminhada (VALIM, 2006; SABBAG et al., 2007) e também de intervenções corpo-mente como a prática de yoga (SILVA e LAGE, 2006; FONSECA, et al., 2008).

    A caminhada tem aparecido com destaque dentre os exercícios aeróbios recomendados para pessoas com SFM devido à praticidade de implementação, custos reduzidos e baixa complexidade de execução, trazendo benefícios aos portadores de fibromialgia (KONRAD, 2005).

    O hatha yoga é uma modalidade integrativa, que busca através de exercícios respiratórios, alongamento, fortalecimento, concentração, relaxamento e filosofia de vida, atuar sobre os aspectos físico e emocional do ser humano. Diversos estudos indicam efeitos positivos advindos da prática de yoga, principalmente no que diz respeito à analgesia, podendo levar à inibição da atividade cerebral de áreas relacionadas à dor (KAKIGI et al., 2005, KIMBERLY et al., 2005; GARFINKEL e SCHUMACHER, 2000).

    Dessa forma, esse estudo teve como objetivo verificar os efeitos da prática da caminhada e do hatha yoga, sobre a intensidade da dor de mulheres portadoras de Síndrome da Fibromialgia.

Método

    Este estudo se caracteriza como quase-experimental, com o delineamento de um grupo pré e pós-teste (THOMAS e NELSON, 2002), onde foi investigado o efeito de um programa de caminhadas e da prática de hatha yoga sobre a intensidade da dor de mulheres com síndrome da fibromialgia.

    A amostra foi constituída por mulheres que se dispuseram a participar do estudo e que preencheram aos seguintes critérios de inclusão: sexo feminino, residência na grande Florianópolis, diagnóstico clínico de SFM, idade acima de 18 anos e participação efetiva em 75% do programa proposto.

    Participaram da pesquisa 15 mulheres com diagnóstico clínico de SFM e idade média de 47 anos, divididas em dois grupos: grupo caminhada (n=8) e grupo hatha yoga (n=7). Foram realizadas 10 sessões de cada modalidade, que ocorreram duas vezes por semana, com a duração de 60 minutos, no período de março a maio de 2009.

    Esta pesquisa recebeu a aprovação do Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos sob o protocolo número 19/2009. Todas as participantes foram informadas sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e concordaram em participar do estudo assinando um termo de consentimento livre e esclarecido.

    As avaliações foram realizadas em dois momentos: antes do programa e após a 10ª sessão da prática.

    Para a coleta dos dados foram utilizados dois instrumentos: 

  1. Questionário Sócio-demográfico e Clínico, desenvolvido por KONRAD (2005) adaptado para essa pesquisa e 

  2. Questionário de Impacto da Fibromialgia (FIQ) desenvolvido por Burckhardt, Clark e Bennett (1991).

    O Questionário Sócio-demográfico e clínico contém dados sobre idade, escolaridade, estado civil, ocupação, renda familiar e aspectos clínicos da SFM.

    Quanto ao FIQ, foi utilizada apenas a questão 5, que avalia a intensidade da dor em uma escala de categoria numérica que varia de 0 a 10, em que 0 se refere a “ausência de dor”, de 1 a 3 “dor leve”, 4 a 6 “dor moderada” e 7 a 10 “dor muito severa” (LORENÇATTO et al, 2007).

Controle das variáveis

Variáveis independentes

    As variáveis independentes desta pesquisa foram a prática de caminhada e a prática de hatha yoga, as quais seguiram protocolos fixos de intervenção, abaixo descritos:

Prática de caminhada

    Cada sessão de exercícios durou 60 minutos, dividida em três partes: a) 15’ de aquecimento, onde foram realizados exercícios de alongamento e aquecimento para as principais articulações do corpo, com o objetivo de preparação para a caminhada; b) 20’ de caminhada inicialmente, aumentando o tempo para até 30 minutos, à medida que foi melhorando o condicionamento físico das praticantes; c) 15’ de volta à calma ou relaxamento, onde foram realizados exercícios respiratórios e também alongamentos, com o objetivo de diminuir a frequência cardíaca e volta aos níveis de repouso.

    A prescrição da intensidade do treinamento usada durante a prática da caminhada foi a sugerida por Valim (2006): a) inicialmente, em torno de 60 a 75% da freqüência cardíaca máxima, em um primeiro estágio de adaptação; b) à medida que as praticantes realizavam testes ergoespirométricos, estes foram sendo usados para uma nova prescrição de exercícios, através da freqüência cardíaca do limiar anaeróbio (LA) ou logo abaixo dela, pois indica uma intensidade adequada para ganho de aptidão física, com maior segurança e maior adesão. Segundo a autora, a determinação do LA indica a intensidade de treino ideal (tolerável e capaz de promover melhora clínica significativa para portadoras de SFM).

Prática de hatha yoga

    As aulas de hatha yoga foram realizadas a partir de um protocolo fixo de intervenção, contendo em todos os encontros 4 etapas, com 60 minutos de duração: filosofia do yoga, execução de exercícios respiratórios, execução de posturas psicofísicas e prática de meditação/relaxamento, conforme detalhado a seguir.

    Nos 15 minutos iniciais, realizou-se leitura e discussão sobre a filosofia do yoga através dos oito passos propostos no Yoga Sutra de Patanjali (FEUERSTEIN, 1998): 

  1. conceitos morais (yamas); 

  2. conceitos éticos (nyamas)

  3. consciência e controle corporal (ásanas); 

  4. consciência e controle da respiração (pranayamas); 

  5. introspecção dos sentidos (pratyahara); 

  6. concentração (dharana); 

  7. meditação (dhyana); e 

  8. espiritualidade (samadhi).

    Nos 10 minutos seguintes ocorreu um momento para concentração (prathyahara) e execução de exercícios respiratórios (pranayamas). Ao todo foram realizados 7 diferentes pranayamas, conforme descrito por Patanjali.

    Nos 25 minutos seguintes foram realizadas cerca de 10 posturas psicofísicas (ásanas), conforme as 84 posturas básicas definidas por Patanjali e suas variantes. A permanência nas posturas obedeceu a particularidade de cada praticante, não excedendo a dois minutos em cada postura. Foi orientado a realização de respiração profunda e consciente durante toda a permanência na postura. Em caso de necessidade, as posturas foram adaptadas à participante.

    Finalizando a prática, nos 10 minutos restantes foi realizada a técnica de relaxamento consciente do corpo físico e da mente, denominada yoga nidra, objetivando maior integração e consciência corporal, além de proporcionar a recuperação do esforço. Essa prática foi realizada com a participante na postura shavásana, que consiste na posição deitada em decúbito dorsal.

Tratamento dos dados

    Os dados foram tratados previamente com uma análise exploratória dos dados, onde foi verificado a normalidade por meio de observação da assimetria (Skewness) e curtose (Kurtosis) e realização do teste de Shapiro-Wilk. Posteriormente foi realizada estatística descritiva com distribuição das frequências, máximos, mínimos e percentuais e análises de média e dispersão dos dados (desvio padrão).

    Quanto à estatística inferencial, aplicou-se o teste de Wilcoxon para verificar diferenças das médias das variáveis dependentes (pré e pós-teste) dos grupos de caminhada e hatha yoga, uma vez que os testes não apresentaram-se normais. O nível de significância aceito foi p<0,05 e todos os testes foram realizados no SPSS-for Windows, versão 13.0.

Resultados

Caracterização sócio-demográfica

    Com relação à caracterização sócio-demográfica das participantes da pesquisa, tanto a nível geral, como por grupo, podemos observar os resultados na tabela 1.

    Os grupos mostraram-se semelhantes no que diz respeito a todos os aspectos sócio-demográficos, apresentando discretas diferenças sobre o afastamento do trabalho por parte do grupo caminhadas, onde todas estavam afastadas de seu trabalho, bem como quanto ao nível educacional, onde também o grupo de caminhadas apresentou um nível mais baixo de alfabetização.

Tabela 1. Caracterização do perfil sócio-demográfico da amostra

Variável

Geral

Caminhada

Yoga

Idade

47 +10,2; -31+71

48 +12,8; -31+71

45 +6,5; -36+57

Altura

1,60 +0,06

1,57 +0,73

1,63 +0,04

Peso

69,27 +11,91

69,7 +13,06

68,71 +11,47

Estado civil

casada

solteira

viúva

separada

 

n=10 (66%)

n=1 (7%)

n=1 (7%)

n=3 (20%)

 

n=6 (75%)

n=0 (0%)

n=1 (12,5%)

n=1 (12,5%)

 

4 (57%)

1 (15%)

0 (0%)

2 (28%)

Nível educacional

1º grau

2º grau

3º grau

 

n=9 (60%)

n=3 (20%)

n=3 (20%)

 

n=6 (75%)

n=1 (12,5%)

n=1 (12,5%)

 

n=3 (44%)

n=2 (28%)

n=2 (28%)

Ocupação

Não-remunerada

Remunerada

Afastamento

 

n=4 (26%)

n=11 (74%)

n=9 (81%)

 

n=2 (25%)

n=6 (75%) 

n=6 (100%)

 

n=2 (30%)

n=5 (70%) 

n=3 (75%)

Renda Familiar (R$)

(+)

d

+/-

 

1.700,00 + 1.200,00

1.500,00

320,00/5.000,00

 

1.800,00 + 1.400,00

1.500,00

700,00/5.000,00

 

1.660,00 + 1.200,00

1.600,00

320,00/4.000,00

Efeitos da prática de caminhada e yoga sobre a intensidade da dor

    Com relação à intensidade da dor das participantes, estudada de forma geral e em função da modalidade, podemos observar os resultados apresentados na tabela 2.

    De forma geral, as participantes apresentaram diminuição na intensidade da dor após as dez sessões de tratamento, apresentando uma dor de intensidade severa no início passando para dor moderada após as 10 sessões, porém sem apresentar diferença significativa.

Tabela 2. Intensidade da dor no pré e pós-teste no geral e por modalidade

 

Pré-teste

Pós-teste

Intensidade da dor

  +

  +

Geral

7,00 2,56

6,07 2,49

Caminhada

6,50 2,87

5,88 2,10

Yoga

7,57 2,22

6,29 3,03

Discussão

    Alguns estudos tem investigado o exercício físico como tratamento da dor. Meiworm et al. (2000) investigaram o efeito da prática da caminhada, trote, bicicleta e natação sobre a dor, num grupo de 36 mulheres e 3 homens com fibromialgia, os quais escolhiam qual exercício realizar dentre os citados anteriormente. Após 12 semanas de tratamento, realizados de 2 a 3 vezes por semana, os resultados identificaram uma melhora significativa no controle da dor. Foi concluído que o exercício aeróbio contribui fortemente no controle da dor e com a prática de uma atividade da preferência da pessoa, pode ter auxiliado na melhoria destes resultados.

    Meyer e Lemley (2000) compararam a caminhada de alta intensidade com a caminhada de baixa intensidade para verificar qual a intensidade adequada deste exercício na possível diminuição da dor em pacientes com SFM. O estudo durou 24 semanas, com frequência semanal de 3 vezes. Ocorreu um aumento da pontuação de dor no grupo que realizou caminhada de alta intensidade, enquanto que no grupo que realizou caminhada de baixa intensidade, diminuiu a pontuação de dor. Este estudo demonstrou que exercícios de caminhada de alta intensidade podem piorar o quadro de dor de mulheres com SFM, sendo portanto recomendado exercícios de caminhada de baixa intensidade para este grupo de pessoas.

    Assis et al. (2003) compararam um programa de exercícios físicos de caminhada na água em piscina aquecida com um programa de caminhada/corrida no solo em 60 pacientes, com idades entre 18 a 60 anos, durante 15 semanas. A dor diminuiu em ambos os grupos, mostrando que pode ocorrer diminuição da dor na SFM, tanto na caminhada na água como na caminhada no solo.

    Sabbag et al. (2007) avaliaram os efeitos de um programa de condicionamento físico predominantemente aeróbio, em 18 mulheres, com prática de 3 vezes semanais, durante 1 ano. Ocorreu aumento do limiar de dor, diminuindo a dor pós-esforço, o número de pontos sensíveis à dor e a intensidade da dor.

    Como vemos nos estudos citados anteriormente, existe um grande número de sessões de prática, acima de 12 semanas, ou 24 sessões. Em nosso estudo, avaliamos apenas 10 sessões de prática, já mostrando resultado positivo na diminuição da dor, embora não significativo (p < 0,05), contrastando com o estudo de Valim (2003), que relata que o benefício do exercício físico em relação à diminuição da dor ocorre apenas entre oito e dez semanas após o início do programa e continua aumentando até a vigésima semana, mas que algumas pessoas podem sentir-se pior e com mais dor inicialmente.

    Com relação à prática de yoga, durante os últimos anos, um número crescente de estudos têm demonstrado que a prática de yoga pode promover efeitos positivos, como melhoria de flexibilidade, força e resistência muscular, controle de variáveis fisiológicas como dor, pressão arterial, respiração e freqüência cardíaca, melhora do condicionamento físico, controle da ansiedade, depressão, estresse, fadiga, estados de humor, além de efeitos sociais, como mudança no estilo de vida.

    Correlacionando à SFM, a prática de yoga promove aumento da flexibilidade, favorecendo a diminuição de encurtamentos musculares, rigidez, e conseqüentemente, da dor (ELERT et al., 2001; RAUB, 2002; RAY et al., 2001).

    Num estudo realizado com pacientes fibromiálgicos, constatou-se analgesia significativa após três meses de prática de yoga, bem como imediatamente após cada sessão, o que demonstra que o yoga pode ser um recurso importante para reduzir a intensidade da dor nesta síndrome dolorosa crônica (SILVA e LAGE, 2005), promovendo diminuição do principal sintoma da SFM.

    Observando os efeitos do yoga realizado em populações semelhantes, no estudo realizado por Willians et al. (2005), 44 pessoas com idade média de 48 anos e portadoras de lombalgia crônica participaram de 16 semanas de yoga e apresentaram resultados significativos na diminuição de 64% da intensidade da dor, onde 88% dos participantes diminuiu ou parou de tomar medicamentos para controle da dor.

    Streeter et al. (2007) realizaram um estudo com o hormônio GABA (ácido gama-aminobutírico), um neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central, responsável, entre outras funções, por promover analgesia. Neste estudo foram comparados os níveis desse hormônio antes e depois de uma prática de yoga. O estudo foi realizado com 11 praticantes que realizaram uma sessão de 60 minutos. O resultado demonstrou aumento de 27% nos níveis de GABA, evidenciando que em praticantes de yoga, apenas uma prática pode promover o aumento desse hormônio. Esse estudo sugere que a prática de yoga é útil para doenças relacionadas a diminuição desse hormônio, assim como a SFM.

    É importante ressaltar que modificações na condição muscular podem alterar o quadro de dor crônica difusa, característico da SFM (SILVA e LAGE, 2006). O potencial de analgesia das práticas de yoga em quadros de dores musculoesqueléticas crônicas tem sido evidenciado em vários estudos (KIMBERLY et al., 2005; GARFINKEL e SCHUMACHER, 2000). A prática avançada de yoga pode levar à inibição da atividade cerebral em áreas relacionadas à dor, havendo estudos que relatam que praticantes de yoga, quando em estado meditativo, alegam não sentir dor (KAKIGI et al., 2005). Neste estudo, um mestre de yoga, com 35 anos de prática, recebeu estímulos nocivos provenientes de um laser durante estado meditativo. Suas variações cerebrais foram controladas pelo eletroencefalograma, o qual que não demonstrou resposta esperada de dor.

Conclusão

    Embora não apresentando diferença significativa, os resultados deste estudo indicam que a prática de caminhada e de hatha yoga podem promover diminuição na intensidade da dor se praticadas habitualmente.

    Este estudo sugere sua continuidade com um maior número de participantes e com um maior número de sessões, a fim de aprofundar o conhecimento sobre os efeitos dessas modalidades em relação às portadoras de Síndrome da Fibromialgia.

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