Bullying escolar: ação e reflexão discentes face ao fenômeno Bullying escolar: acción y reflexión de los estudiantes frente a este fenómeno Bullying scholl: students action and reflection in the phenomenon |
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Possui graduação em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP/Bauru) Atualmente é mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (PPGE/UFSCar) |
Paulo César Antonini de Souza (Brasil) |
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Resumo Este artigo, baseado em uma pesquisa do tipo qualitativo com base na pesquisa-ação, busca apresentar as compreensões discentes a respeito de suas relações escolares no que tange à violência, especificamente na abordagem dada a este tema a partir do fenômeno bullying. Realizada em uma escola pública localizada no interior do estado de São Paulo, a pesquisa partiu da interpretação das ações desencadeadas por um projeto de intervenção pedagógica desenvolvido pelo componente curricular Arte. Participaram do trabalho enquanto sujeitos, 70 estudantes de duas turmas do 2º ano do ensino médio. Foram identificadas após a análise dos dados, três situações: a) relações afetivas entre estudantes de séries diferentes; b) aproximação dos pais e comunidades em busca de informações sobre o fenômeno, c) fortalecimento de ideais das alunas e alunos envolvidos com o projeto. Unitermos: Bullying. Arte. Relações sociais. Intervenção.
Abstract This article, based on a survey of qualitative-based action research, seeks to present the students understanding of their relations in regard to school violence, specifically the approach given to this issue from the bullying phenomenon. Held in a public school located within the state of São Paulo, the search started from the interpretation of the actions triggered by an intervention project developed by the educational component Arts curriculum. Work as part of the subject, 70 students from two classes in the 2nd year of high school. Were identified after data analysis, three situations: a) the emotional relationships between students of different grades, b) approximation of parents and communities in search of information about the phenomenon, c) strengthening the ideals of the students and students involved with the project. Keywords: Bullying. Art. Social relations. Intervention.
Uma versão preliminar deste artigo foi apresentada no II Encontro Ibero-americano de Educação (EIDE) realizado pela UNESP/Araraquara em parceira com a Universidad de Alcalá |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009 |
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Introdução
Eu só peço a Deus
Que a injustiça não me seja indiferente
Pois não posso dar a outra face
Se já fui machucada brutalmente.
(Beth Carvalho/Mercedes Sosa)1
As relações sociais surgidas no universo escolar estruturam cultural e historicamente, momentos (educativos ou não) de vivência significativa para a maioria das pessoas que utilizam esse espaço. No entanto, muitas dessas relações, dão mostras de uma convivência nem sempre tão pacífica como seria desejado em um local de troca de experiências e de possível crescimento do ser humano.
Tradicionalmente considerava-se que direitos humanos e liberdades fundamentais eram direitos individuais, próprios de cada ser humano, mas não das coletividades. Atualmente cresce o consenso de que alguns direitos humanos são direitos essencialmente coletivos, como o direito a paz e a um ambiente saudável. (BRASIL, 1998, p.19).
Através do componente curricular Arte, procuro incentivar o/a estudante a desenvolver ações que lhes sejam significativas tanto em suas potencialidades artísticas e criativas, quanto na identificação com o mundo/sociedade a que pertencem e na valoração do repertório individual e coletivo todos/as envolvidos neste contexto, de uma maneira a alcançar em minha prática a compreensão dada por Aranha (1999) a respeito da educação artística enquanto estado do conhecimento.
Utilizando estratégias de publicidade e propaganda integradas ao conteúdo curricular de Arte, são apresentados desafios nos quais os/as discentes possam utilizar o aprendizado desencadeado pelas aulas em ações o mais autônomas possível, levando em consideração nesse sentido, a proposta de autonomia defendida por Paulo Freire (2006).
Nesse contexto, e devido a abordagens da mídia (escrita e televisiva) e o acesso fácil à internet, o tema “violência nas escolas” foi escolhido para desenvolvimento de uma intervenção no que tange às relações discentes, onde o limite entre o respeito à diversidade e sua recusa é muito tênue.
Disfarçado por brincadeiras aparentemente inocentes, ou “próprias da idade”, o relacionamento discente, muitas vezes atinge pontos de violência moral e psicológica graves. Essas situações, segundo a professora Cleo Fante (2005), precursora dos estudos a respeito do fenômeno bullying nas escolas brasileiras, declinam para conflitos sociais e tensões que podem por sua intensidade e freqüência, afetar tanto o aproveitamento escolar da vítima, como de todo o grupo participante dessas ações.
A partir desta interpretação, de minha vivência docente e da realização de trabalhos de sensibilização e de incentivo ao desenvolvimento dos processos criativos, o projeto inicial resultou em ações assertivas, que partindo dos alunos e alunas, culminaram em seminários onde toda a comunidade escolar (professores, funcionários, alunos e comunidade), se percebeu significativamente envolvida.
“Consideramos uma experiência significativa quando há um movimento consciente para contrastar nossos atos e atitudes com um panorama mais abrangente, ou seja, com o pano de fundo contra o qual eles se desenrolam.” (ARANHA, 1999, p. 69).
A forma de apresentação dos seminários e a divisão de tarefas, assim como o envolvimento discente na busca por sua realização resultaram em descobertas e discussões – sobre agressões morais inesperadas até então – dentro de nossa escola, apontando como ressalta Fante (2005), que: “O bullying tem como característica principal a violência oculta.” (p. 74).
Objetivos
Compreender e discutir as situações de violência entre pares no corpo discente, desvelando suas significações na tentativa de combatê-las e reduzir sua continuidade.
Mediar através da Arte situações onde o/a estudante possa crítica e analiticamente, através de comparação e seleção das estratégias que melhor se adaptam a cada etapa da construção de sua atuação nesse processo promover reflexões sobre o bullying.
Demonstrar que o processo educacional pode ser inserido no cotidiano discente, valorizando seu tempo na escola para estímulo e registro dos próprios avanços e construindo de forma autônoma, recursos teóricos e práticos que lhes possibilitem cidadania crítica.
Procedimentos metodológicos
A metodologia utilizada para a análise deste trabalho baseou-se em uma pesquisa do tipo qualitativo com referências da pesquisa ação (COSTA, 2002), em busca de sublevar as determinações pré-concebidas para criar uma nova compreensão, de forma que se “subvertam os discursos hegemônicos e inscrevem no currículo, na escola e na sociedade narrativas que contem histórias de novos sujeitos e novas histórias que desinstalem as velhas identidades de suas privilegiadas posições de referência e normalidade” (p.115).
Como instrumentos de coleta de dados, além da observação, foram utilizados registros discentes e docentes apontados em relatórios escritos após cada atividade. As ações também foram registradas a partir de produções plásticas criadas pelos/as estudantes e através de fotografias digitais.
Constituíram sujeitos desta pesquisa 70 alunos e alunas de duas turmas do 2º Ano do Ensino Médio envolvidos com o estudo de publicidade e propaganda.
A partir da análise dos dados coletados foram encontradas três situações: relações afetivas entre estudantes de séries diferentes; aproximação dos pais e comunidades em busca de informações sobre o fenômeno e fortalecimento de ideais das alunas e alunos envolvidos com o projeto, apresentadas neste texto e apoiada em excertos de relatórios e registros de nove discentes, que foram identificados como “discente” e numerados de 1 a 9.
Escola Dinah: o contexto da pesquisa
A cidade de Brotas, localizada no interior do estado de São Paulo, tem grande parte de sua economia na produção agropecuária e na exploração turística, com ênfase nos esportes de aventura. Com 22.996 habitantes (IBGE, 2007), a cidade conta com 2 escolas estaduais voltadas ao ensino fundamental e médio; 1 escola de ensino técnico profissionalizante; 1 unidade do SESI; 1 escola particular; 1 escola municipal de ensino fundamental Ciclo II e 4 de ensino fundamental do Ciclo I.
Iniciando suas funções em 1962, no prédio da Estação Ferroviária de Brotas, a Escola Dinah chamava-se Escola Normal e Ginásio Estadual de Brotas. Em 1969 o prédio próprio, com arquitetura projetada por Flávio Império, é inaugurado; comportando desde o ensino primário até o Ensino Médio. Em 1977, em homenagem à professora de História, Dinah Lúcia Balestrero, a escola é rebatizada, conservando seu nome até os dias de hoje. (SOUZA; LEMOS, 2006, p.3).
Com 1.259 alunos matriculados em três períodos escolares, a escola comportava no momento deste estudo, 10 salas de aula, uma sala ambiente de Arte, uma sala ambiente de Informática, uma biblioteca, duas quadras cobertas, um amplo pátio interno, além de um anfiteatro com capacidade para 150 pessoas.
Bastante heterogênea, no período da manhã muitos estudantes já se encontram inseridos no mercado de trabalho ou intencionam seguir os estudos posteriormente; no período da tarde predominam os mais jovens e estudantes da zona rural; no período noturno a maioria trabalha durante o dia, vindo diretamente do emprego para a escola e poucos pretendem continuar os estudos. A diversidade social, racial, de gênero e orientação sexual é encontrada nos três períodos, e uma observação superficial não identifica condutas nocivas e/ou violentas ao seu desenvolvimento social e psicológico.
O Fenômeno Bullying
A abordagem de um tema como o bullying requer bastante atenção para que, de maneira apressada, não sejam consideradas partes desse distúrbio comportamental, toda e qualquer situação envolvendo o corpo discente.
Cleo Fante, autora do livro “Fenômeno Bullying” e do programa anti-bullying “Educar para a Paz”, vem desenvolvendo estudos sobre o assunto, em pesquisas teóricas e de campo, desde o ano 2000. Ela chama a atenção para o fato de que todas as escolas, públicas ou particulares, apresentam entre seus alunos e alunas, vítimas e agressores:
A presença do fenômeno constitui realidade inegável em nossas escolas (...). Ele é o responsável pelo estabelecimento de um clima de medo e perplexidade em torno das vítimas, bem como dos demais membros da comunidade educativa, que indiretamente, se envolvem no fenômeno sem saber o que fazer (FANTE, 2005, p.61).
O bullying sempre esteve presente nas relações humanas, principalmente nas escolas, mas foi somente no início dos anos 70, na Suécia, que educadores e psicólogos começaram a estudá-lo como um fenômeno específico. Na década de 80, o pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, Noruega, tentando colaborar com a detecção desses casos e diferenciá-lo de outras relações encontradas no universo escolar, desenvolveu os primeiros critérios para sua identificação, que posteriormente, foram aplicados em outros países.
O bullying começa frequentemente pela recusa de aceitação de uma diferença, seja ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo religião, raça, estatura física, peso, cor dos cabelos, deficiências visuais, auditivas e vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual e física; ou está relacionada a aspectos como força, coragem e habilidades desportivas e intelectuais. (FANTE, 2005, p.62-63).
Mesmo com a identificação do fenômeno e de seus participantes, muitos diretores e professores negam sua existência e/ou não vêem meios de coibir e/ou prevenir seu desenvolvimento. Enquanto isso resta àqueles que sofrem ações do bullying, as opções de deixar a escola carregando o peso das tensões que lhes afligiram; suportar em silêncio as agressões que os tornarão rancorosos em relação a toda imagem ou pessoa associada ao ambiente escolar ou reproduzir em outras pessoas, a humilhação e violência que sofreram, ampliando dessa maneira o seu alcance, limitando seu desenvolvimento enquanto cidadão (FANTE, 2005).
Para que o conceito de cidadania, como participação criativa na construção da cultura e da história, possa ganhar efetivamente seu sentido, as relações entre os indivíduos devem estar sustentadas por atitudes de respeito mútuo, diálogo, solidariedade e justiça (BRASIL, 1998, p.56).
A intervenção pedagógica
No desenvolvimento inicial do projeto, ainda sem o contato com as experiências descritas e sugeridas por Cleo Fante no livro Fenômeno Bullying (2005), que foi adquirido posteriormente pela diretoria do Grêmio Estudantil da escola, utilizamos os depoimentos encontrados em uma comunidade do Orkut (Bullying, as marcas ficam) e as formas de interpretação do fenômeno e orientações para vítimas, professores e pais, oferecidas pelo site Observatório da Infância.
Para estimular a curiosidade discente em relação ao fenômeno e suas implicações no universo escolar e consequentemente na sociedade, o termo bullying e os objetivos específicos do trabalho que passávamos a desenvolver em sala de aula, foram omitidos na primeira etapa do projeto. Nessa fase, chamada de sensibilização, os/as estudantes do 2º Ano do Ensino Médio realizaram atividades cujo tema buscava reflexões sobre respeito, diversidade e cidadania.
Textos, poesias, músicas, filmes e reproduções de obras de arte, que em seu contexto utilizavam-se dessas noções e valores, foram os instrumentos utilizados nesta etapa do projeto, apoiando-se nas linguagens da comunicação em Arte, como o desenho, expressão corporal e canto, sempre pontuadas por discussões, para alcance do tema. Nesse contexto, o documentário “Tiros em Columbine” (2002) ofereceu base para muitas reflexões.
Paralelamente, depoimentos retirados da comunidade “Bullying, as marcas ficam”, preservando a identidade de seus autores, eram fixados no mural do pátio, para que o tema sse fizesse conhecer, de forma indireta, por todo o corpo docente e discente.
Após a aproximação conceitual, com estímulo à expressão corporal (fig. 1) como meio de comunicação, o termo bullying foi apresentado aos/às discentes, assim como a proposta de descobrirmos sua existência dentro da escola. Apesar de a postura reflexiva ser parte de todas as atividades promovidas até então, as ações desencadeadas a partir deste momento, foram chamadas de reflexão.
Refletir sobre o papel da Arte para que haja o resgate da imagem do ser humano global implica assumir a óptica do novo paradigma da Ciência da contemporaneidade e navegar por um conceito que une Arte e Ciência, pois a mesma imaginação criadora que produz Ciência produz Arte. (BUORO, 1996, p. 32).
Buscando descobrir a real situação de respeito e valorização das diferenças dentro da escola, os/as discentes, munidos de questionários mimeografados, entrevistaram representantes de todas as turmas. A pesquisa diagnosticou as relações que os/as entrevistados/as constituíam com: diferentes classes sociais, orientação sexual, religião e cultura, deficiência física e deficiência mental e raça (considerando nessa alternativa a cor da pele).
O resultado da pesquisa (fig. 2) surpreendeu e indignou os/as discentes responsáveis pela mesma e foi determinante para o desenvolvimento das ações seguintes.
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Fig. 1. Momento final de coreografia desenvolvida a partir da música “Eu só peço a Deus”. |
Fig. 2. Resultado da pesquisa realizada aponta como índice mais elevado as relações de aproximação. |
Durante a Feira de Ciências, realizada no mês de setembro de 2006 na Escola Dinah, teve início a etapa chamada de multiplicação dos saberes. Uma exposição sobre o trabalho desenvolvido durante as aulas, com cartazes, vídeo, uma instalação (manifestação artística onde espaço e objeto fundem-se em uma só representação), esculturas e desenhos foi montada na Feira e, os/as discentes revezavam-se conversando com os/as visitantes sobre o bullying, suas implicações e formas de prevenir e/ou diminuir sua presença no ambiente escolar.
Todo aluno dispõe de um potencial superior ao que se imagina. A educação artística deve propiciar o impulso para a ação construtiva e a oportunidade para que cada indivíduo se veja como ser aceitável, em busca de novas e harmoniosas organizações, confiante em seus próprios meios de expressão. (LOWENFELD; BRITTAIN, 1977, p. 404).
Após a Feira de Ciências, os/as discentes direcionaram seus processos de criação artística em busca de promover momentos de reflexão consciente a todo corpo escolar (fig. 3), o que possibilitou durante os seminários (fig. 4), conversas mais próximas entre os multiplicadores e os/as demais estudantes da escola, professores/as e funcionários/as.
A fim de estimular a atenção da assistência durante os seminários, os/as discentes utilizaram como instrumentos de apoio: vídeo clipes; dramatizações rápidas; projeção de slides; escuta musical e leitura de depoimentos.
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Fig. 3. Cartaz com mensagem para vítimas de bullying, criado por estudante. |
Fig. 4. Grupo de estudantes em apresentação de seminário sobre bullying na Sala Ambiente de Informática. |
Resultados identificados
A análise dos dados coletados ao final da intervenção e da ação discente aponta para três situações identificadas como significativas desta primeira análise do fenômeno bullying da Escola Dinah.
a. Relações afetivas entre estudantes de séries diferentes
Relações mais próximas e afetivas foram verificadas entre os/as estudantes multiplicadores do projeto e os alunos e alunas mais jovens, a partir da aproximação nos intervalos de recreio, desde a simples proximidade até o desenvolvimento de práticas sociais como o futebol e conversas em grupo.
Quando acabamos de apresentar na quinta série, uma menina ficou do lado esperando todo mundo sair, porque era hora do recreio. Daí ela veio falar comigo e começou a chorar contando como ela se sentiu. A gente conversou e depois disso, quando dá o recreio ela sempre fica meio por perto da gente. (discente 2). Teve um moleque da sexta que veio junto com o amiguinho perto de nós e começou a falar que o outro fazia bullying. Ele começou a chorar e o amigo ficou desesperado. Precisava ver. Ele falava que não sabia que o que ele fazia era bullying e que ele não ia mais repetir e agora eu vejo sempre os dois juntos e parece que está tudo na paz (discente 5). Não sei, é engraçado agora porque tem duas meninas da quinta série que começaram a ficar comigo no recreio. Não sei se ela se sente protegida ou se porque gostou da minha apresentação no seminário (discente 6). Agora é diferente. Os meninos da sexta e da sétima começaram a perder a vergonha e falar com a gente e vão chegando. Até pra bater uma bola eles já não ficam com vergonha. Parece que ficam vendo a gente como se fosse irmão mais velho (discente 8).
b. Aproximação dos pais e comunidades em busca de informações sobre o fenômeno
Graças à rotatividade de estudantes e educadores dentro do universo escolar, professores e pais de outras escolas e de outros municípios, cientes do projeto, nos procuraram e procuram, buscando informações para o combate e prevenção do fenômeno.
Minha mãe viu comigo os depoimentos no Orkut e falou que no tempo dela essas coisas aconteciam também, mas que ele não pensava que era desse jeito. Ela ficou assustada. (discente 3). Na Feira de Ciências, a professora que estava com os alunos da segunda série fez muitas perguntas. Ela queria saber se o bullying também acontecia com os pequenos. Ela perguntava as coisas e os alunos ficavam interessados também. Parecia. (discente 6). Minha tia dá aula na Escola Sinhá e ela falou que seria bom se nós também fizéssemos um seminário lá (discente 9).
c. Fortalecimento de ideais das alunas e alunos envolvidos com o projeto
Ver que as diferenças devem ser encaradas como algo comum entre as pessoas, que não devemos "odiar" alguém por ser diferente é muito importante. (discente 1). Nesse trabalho eu pude perceber que todo mundo pode fazer alguma coisa pela outra pessoa. (discente 2). Eu acho que se todo mundo fizesse realmente alguma coisa pra evitar que essas brincadeiras fossem tão violentas, se tivesse um esclarecimento maior, muita coisa ruim deixaria de existir (discente 3). Eu pude perceber que as pessoas não tem noção às vezes, de que o que elas estão fazendo prejudica ou machuca o colega. Isso tudo me fez pensar no jeito que eu faço minhas coisas (discente 4). Não dá pra querer coisas boas na nossa vida se quando lidamos com os outros, a gente julga ou humilha só porque são diferentes (discente 5). Eu vi pelo Orkut o quanto as pessoas podem sofrer com isso e como é fácil odiar. Dá até medo de pensar que essas coisas estão acontecendo e dá mais medo ver que estão mesmo. Não é assim que deveria ser (discente 6). Eu me perguntei porque será que a gente faz uma coisa que não queremos que façam pra gente (discente 7). Mas essas brigas e essas violências vão parar só quando todo mundo entender que diferenças não são ruins (discente 8). Viver não é fácil não, mas é bom saber que tudo pode mudar com um gesto nosso (discente 9).
Considerações
“Que o futuro não me seja indiferente.”
(Beth Carvalho/Mercedes Sosa)
A indiferença, que muitas vezes alimenta a continuidade da prática do bullying nas escolas, já não integra as relações da Escola Dinah, pois desde a ação docente atenta à existência deste fenômeno, passando pela atenção familiar dos/as discentes até à própria e determinante consciência dos alunos e alunas sobre o alcance que o bullying pode ter se ignorado, as vivências experimentadas abriram um caminho em busca da construção de um espaço real de convivência saudável e pacífica.
Essas ações tiveram força não por imposição de ideais pedagógicos, mas como reflexo de uma postura dialógica não-alienada e comprometida, como é possível verificar na fala de duas das estudantes: “(...) vimos dar resultado algo que cada um de nós ajudou a fazer” (discente 4), “Percebemos que houve gente que chorou (...) e algumas ficaram constrangidas, entendendo que o bullying é sério, e que prejudica quem se envolve com ele, diretamente e também indiretamente” (discente 9).
Quanto mais se problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. Mas precisamente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isto, cada vez mais desalienada (FREIRE, 2005, p. 80).
Na avaliação do final do ano em que o projeto foi desenvolvido pela primeira vez, como forma de identificar a aproximação do corpo discente com o trabalho, os/as professores/as de língua portuguesa e a coordenadora pedagógica sugeriram o tema bullying para as redações.
Um grande avanço nas relações e na participação discente em decisões importantes para a escola foi alcançado com essa intervenção, entretanto, ainda há muito que se buscar, como a inclusão de medidas preventivas regulamentares no Regimento Interno Escolar sobre a prática e os praticantes de bullying.
Vista como uma experiência inicial, valorizada em seu conteúdo e forma pelos/as participantes diretos e indiretos, temos ciência de que o trabalho deve continuar, buscando prevenir ao máximo a desconstrução social e psicológica nas relações escolares.
Nota
A versão original desta canção é de autoria do argentino León Gieco, com o nome “Solo le pido a Dios”.
Referências
ARANHA, C. S. G. Ato criador como material de apoio para a Educação Artística. In: CAPPELLETTI, I. F. & LIMA, L. A. N. (org) Formação de educadores: pesquisas e estudos qualitativos. São Paulo: Olho d’água, 1999.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BUORO, A. B. O olhar em construção. São Paulo: Cortez, 1996.
CARVALHO, B. Beth Carvalho e amigos. São Paulo: Sony, 2005. 1 CD, 45 min.
FANTE, C. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Verus, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 44a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34a edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
IBGE. Cidades: Estado de São Paulo, Brotas. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 05 mai. 2009.
LOWENFELD, V.; BRITTAIN, W.L. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1977.
COSTA, M. V. Pesquisa-ação, pesquisa participativa e política cultural da identidade. In: ____. (org.) Caminhos investigativos II: outros modos de pensar e fazer pesquisa em educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
MASTROSIMONE, W. Bang Bang You're Dead. Roteiro para download. Disponível em: http://bangbangyouredead.com. Acesso em 04 mai. 2009.
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SOUZA, P. C. A.; LEMOS, F. R. M. Grêmio Estudantil: a construção democrática para uma educação participativa. In: Semana da Educação da FEUSP: Ensinar Aprender, formação, projetos e percursos, 4., 2006. São Paulo. Anais...
TIROS EM COLUMBINE. Direção de Michael Moore. E.U.A.: Metro-Goldwyn-Mayer Distributing Corporation/United Artists, 2002. 1 DVD (120 min.), son, leg., color., NTSC. Original: Bowling for Columbine.
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digital · Año 14 · N° 134 | Buenos Aires,
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