Risco cardiovascular em mulheres em idade de climatério, menopausa e pós-menopausa que realizam hidroginástica Riesgo cardiovascular en mujeres en edad de climaterio, menopausia y postmenopausia que realizan hidrogimnasia |
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Grupo Multidisciplinar de Saúde da Universidade de Cruz Alta GMS/UNICRUZ (Brasil) |
Ethel Bastos da Silva Marília de Rosso Krug Danielle Marchionatti Fontoura |
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Resumo Este estudo teve como objetivo analisar o risco cardiovascular em mulheres em idade de climatério, menopausa e pós-menopausa que participam do Projeto de Extensão ATIVE-SE da Universidade de Cruz Alta e correlacionar o risco absoluto com os fatores de risco cardiovascular. Caracterizado como transversal de coorte, exploratório e descritivo. A amostra foi de 57 mulheres, com idade de 40 a 75 anos, que realizavam duas sessões de hidroginástica de 50 minutos por semana no projeto Ative-se. O risco cardiovascular foi identificado através do Teste de Framingham. As mulheres foram classificadas em função da faixa etária em climatério, menopausa e pós- menopausa segundo a categorização proposta pela FEBRASGO (2005), os valores obtidos de colesterol total, HDL-c foram classificados conforme o Projeto Diretrizes (2001), a pressão arterial sistêmica foi classificada através da SBC (2005). Os dados foram tratados através da estatística descritiva com freqüências e percentuais e estatística inferencial com correlação linear de Pearson (p < 0,05). Os resultados revelam risco cardiovascular baixo com um percentual de 54,4% (31) mulheres. A correlação entre o risco absoluto e as variáveis independentes, foi significativa somente para HDL-c ( r = 0,33 p= 0,001), diabetes mellitus (r= 0,30 p = 0,001) e pressão arterial sistólica (r =0,077 p = 0,05), as variáveis independentes se correlacionaram entre si, pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica (r = 0,39 p= 0,001), DM e HDL-c (r = 0,009 p= 0,05) e colesterol total e DM (r = 0,009 p = 0,05). Pode-se constatar que apesar de 52 (91,2%) das mulheres apresentarem HDL-c no nível desejável (acima de 40) foi considerado fator significativo do risco. Quanto a diabetes 8 (14%) eram diabéticas e 26 (45,6%) eram hipertensas em tratamento. Quanto as variáveis independentes que se correlacionaram entre si chamaram a atenção o HDL-c, o Colesterol Total e o diabetes, resultados que ratificam estudos realizados. Os resultados apontam para a necessidade de manutenção da hidroginástica como prática adotada por este grupo de mulheres, com intensificação de um acompanhamento rigoroso de peso e dieta alimentar. Unitermos: Saúde da mulher. Atividade física. Risco cardiovascular |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009 |
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Caracterização e relevância do tema
Conforme dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2008) as doenças cardiovasculares são principal causa de morbimortalidade entre as mulheres em vários países, especialmente acima dos 50 anos de idade há risco seis vezes maior de morrer por Doença Cardiovascular do que por câncer de mama.
A taxa de mortalidade por doença cardiovascular tem aumentado no estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2006 foram a óbito por doenças circulatórias 11.037 (34, 33%) mulheres com idade acima de 40 anos. Entre as doenças do aparelho circulatório 3.905 mulheres foram a óbito por doença cerebrovascular, 3.480 por doença isquêmica do coração, 2.432 por infarto agudo do miocárdio, 2.207 por outras doenças cardíacas, 929 por doença hipertensiva, 88 por arterosclerose, 49 por febre reumática aguda e doença reumática crônica do coração e 372 por doenças restantes do coração. (RIO GRANDE DO SUL, 2007)
No ano de 2007 o número de óbitos em mulheres acima de 40 anos por doenças cardiovasculares foi de 11.656 (34,75%). Entre as doenças do aparelho circulatório 4.067 mulheres foram a óbito por doença cerebrovascular, 3.619 por doença isquêmica do coração, 2.541 por infarto agudo do miocárdio, 2.354 por outras doenças cardíacas, 1.067 por doença hipertensiva, 71 por arterosclerose, 55 por febre reumática aguda e doença reumática crônica do coração e 423 por doenças restantes do coração. (RIO GRANDE DO SUL, 2008).
Sanches et al (2006), demonstraram que a mulher na faixa etária dos 45 a 55 anos possui uma maior proteção cardiovascular do que os homens. A partir desta idade o risco cardiovascular aumenta e podem vir a tornarem-se iguais ou superiores que no sexo masculino. Os fatores importantes para o aumento do risco cardiovascular na mulher, podem ser as alterações metabólicas, como dislipidemias, obesidade e diabete.
Com relação a obesidade e sobrepeso como fator de risco para doença cardiovascular, De Lorenzi et al (2005), ressaltam que o sexo feminino em período de climatério e menopausa, possui a prevalência de sobrepeso e obesidade, mostraram em estudo com mulheres climatéricas que a obesidade e o sobrepeso sofrem influencias da idade, fatores biológicos, psicosociais e de estilo de vida.
Além da obesidade e da dislipidemias, outro fator importante que pode estar associado às Doenças Cardiovasculares (DCV) em mulheres no período de climatério, conforme dados da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO, 2004) é a ausência do estrogênio, decorrente da falência funcional ovariana. A deficiência do estrogênio contribui para o aumento de colesterol e alterações vasculares.
A FEBRASGO (2004) ressalta que estudos epidemiológicos evidenciam relação entre o aumento dos níveis de lipídio e lipoproteína e as DCV .
De acordo com Sanches et al (2006) ainda não está claro o motivo pelo qual a mulher antes da idade de climatério tem certa proteção para doenças cardiovasculares. “Diferenças no controle autonômico cardíaco como o predomínio parassimpático parecem estar envolvidas na redução do risco para eventos cardiovasculares para a mulher não menopausada” (SANCHES et al, 2006, p.6).
A SBC (2008) reconhece como a idade, o fumo, o sedentarismo, a hipertensão arterial e o diabetes, como outros fatores que contribuem significativamente para aumentar a morbimortalidade de doenças coronareanas e cerebrovasculares.
Para melhor acompanhar as mulheres nesta fase da vida sugere-se a estratificação do risco cardiovascular com recomendações de tratamento e prevenção.
A prevenção de doenças, como as cardiovasculares, constitui-se em uma ferramenta essencial para o desenvolvimento sustentável e é um dos caminhos para responder às ameaças emergentes à saúde. Desta forma a Universidade de Cruz Alta, enquanto Instituição comunitária, deve desenvolver ações que contribuam efetivamente com a promoção de saúde e às práticas de prevenção dos fatores de risco, se pretende-se vislumbrar uma boa qualidade de vida a comunidade de Cruz Alta/RS.
Com este intuito foi criado pela Universidade de Cruz Alta o projeto de extensão ATIVE-SE. O mesmo tem como objetivo o desenvolvimento de ações sócio-educativas e preventivas, para adultos e idosos da cidade de Cruz Alta, que contribuam com a promoção de saúde e às práticas de prevenção dos fatores de risco associados às doenças crônico-degenerativas, vislumbrando uma boa qualidade de vida. São realizadas atividades físicas como musculação, caminhadas orientada, hidroginástica e alongamentos. Com o desenvolvimento destas atividades pretende-se disseminar a importância e a necessidade da realização de atividades físicas regulares.
A partir dos pressupostos apresentados, justifica-se o estudo que teve como objetivo analisar o risco cardiovascular em mulheres em idade de climatério, menopausa e pós-menopausa que participam do Projeto de Extensão ATIVE-SE da Universidade de Cruz Alta e correlacionar o risco absoluto com os fatores de risco cardiovascular ”.
Metodologia
Este estudo se caracterizou-se por ser transversal de coorte, exploratório descritivo. Segundo Jeckel, Elmore e Katz (1999), o inquérito transversal é o estudo de uma população em um único ponto no tempo. Úteis para determinação de prevalência de fatores de risco e a freqüência dos casos prevalentes de doença para uma população definida. Os inquéritos transversais são de fundamental importância para a epidemiologia, pois podem ser usados para determinar mudanças nos fatores de risco e alterações na freqüência das doenças da população com o passar do tempo ou expostas a um ou mais fatores de risco, ou de outro modo, tomando uma amostra aleatória. Os investigadores escolhem a população.
Foram sujeitos do estudo às voluntárias com idade entre 40 e 75 anos, do Projeto ATIVE-SE, que realizavam sessões de hidroginástica de 50 minutos duas vezes por semanas no Esporte Clube Guarani de Cruz Alta/RS. A amostra envolveu 57 mulheres (n = 57) que aceitaram ser sujeitos do estudo.
Inicialmente foi realizada uma reunião com as mulheres do Projeto ATIVE-SE/UNICRUZ no Esporte Clube Guarani, local em que elas realizam hidroginástica, explicado os objetivos do estudo, convidamo-as para participarem da pesquisa. Após o aceite foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme orientação da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, para assinatura, sendo em seguida agendado dia e horário para a coleta dos dados.
Para identificação do risco cardiovascular absoluto foi utilizado o Teste de Framingham. O teste é analisado com base em seis (6) variáveis: idade, colesterol total, HDL-C, Pressão Arterial, Diabetes e Fumo com escores para os gêneros masculino e feminino. Após a aplicação do mesmo, somou-se o total de pontos e estratificou-se o risco de eventos clínicos coronarianos conforme a tabela do Escore de Risco de Framingham (ERF). O ERF calcula o risco absoluto de eventos coronários (morte, infarto agudo do miocárdio e angina pectoris) em 10 anos. Após o cálculo da soma de pontos consulta-se a tabela classificando o risco (PROJETO DIRETRIZES, 2001).
De acordo com a estratificação de risco e metas lipidicas de tratamento para aterosclerose do Projeto Diretrizes (2001) o risco absoluto de doença arterial coronariana nos próximos 10 anos, pode ser classificado em: alto se >20%, risco moderado para >10% e <20% e baixo <10%.
As variáveis independentes, consideradas os preditores que foram incluídos no cálculo do escore de framingham foram: a idade, em anos, o colesterol total e HDL colesterol, em mg/dL, a pressão arterial sistólica e diastólica, em mm/Hg, considerando o valor mais alto, a presença ou ausência do hábito de fumar e de diabete mellitus.
Para a classificação das mulheres de acordo com o período de vida adotou-se o seguinte parâmetro: climatério idade de 40 a 47, menopausa de 48 a 50 considerando 2 anos antes da última menstruação e 1 ano após a última menstruação e pós-menopausa acima de 50 anos considerando 1 ano após a última menstruação. Mulheres que apresentaram menopausa antes dos 40 anos considerou-se menopausa precoce e após os 52 anos menopausa tardia (FEBRASGO, 2004).
Para a coleta de sangue, utilizado para analise do colesterol Total e HDL colesterol, as mulheres foram orientadas para fazerem jejum de 12 horas e no dia da coleta foi retirado 5 mls de sangue acondicionados adequadamente e levados ao laboratório da Universidade de Cruz Alta para análise. O colesterol total foi dividido em alto, limítrofe e ótimo, com os respectivos valores, ≥ 240, de 200 a 239 e < 200. O HDL colesterol foi categorizado em < 40 como baixo e > 60 alto (PROJETO DIRETRIZES, 2001).
Os valores de pressão arterial sistólica e diastólica foram obtidos com o uso do estetoscópio e esfigmomanômetro com mercúrio e, quando estes discordaram da classificação do Escore foi considerado o valor mais alto de pressão arterial (PROJETO DIRETRIZES, 2001).
O diagnóstico de diabetes mellitus foi estabelecido pelos antecedentes clínicos e uso de hipoglicemiantes.
O hábito de fumar foi avaliado questionando-se se a mulher era fumante regular, pelo menos de um cigarro ao dia, há pelo menos um ano.
Os dados foram analisados no programa Windows Excel 2003 através da Estatística Descritiva com freqüência e porcentagem. Sendo utilizada, ainda a correlação Linear de Pearson entre os fatores de risco e o risco cardiovascular, sendo o nível de significância adotado de p < 0,05.
Resultados e discussões
Das 57 mulheres que participaram do estudo verificou-se que: 9 (15,78%) estavam no climatério, 3 (5,2%) estavam na menopausa, 45 (78,94%) estavam na pós-menopausa, sendo que a idade de cessação da menstruação variou entre 48 e 50 anos, e todas aconteceram naturalmente. Smeltzer e Bare (2002) evidenciam que a idade média da menopausa ocorre em torno de 51 anos, podendo acontecer em algumas mulheres precocemente em torno de 42 anos ou tardiamente em torno dos 55 anos.
Nenhuma das mulheres que estavam no climatério e menopausa faziam uso de reposição hormonal, conforme o Projeto Diretrizes (2001) a terapia de reposição hormonal melhora o perfil lipídio das mulheres neste período e isto poderia interferir nos resultados do estudo.
Constatou-se que 48 (84,21%) mulheres tinham idade acima de 50 anos e isto as torna mais vulneráveis em relação as doenças cardiovasculares, pois conforme a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC, 2008) as Doenças Cardiovasculares (DCV) ocorrem duas a três vezes mais após a menopausa e a taxa de mortalidade em mulheres com idade de 45 a 64 anos é de 1:9 e após os 65 é de 1:3.
Cabe destacar que 26 (45,6%) mulheres eram hipertensas e faziam uso de terapêutica medicamentosa e 8 (14,0%) eram diabéticas do tipo II e também faziam uso de medicação. Segundo a SBC (2008) o diabetes mellitus confere um risco três a sete vezes maior de Doença Arterial Coronareana (DAC) na mulher. ”A presença de diabetes classifica os pacientes como de alto risco para eventos cardiovasculares independente da presença ou não de outros fatores de risco” (SBC, 2008, p 7). Sendo assim 14% das mulheres, que praticam hidroginástica no ATIVE-SE tem risco alto para o desenvolvimento de DAC.
Quanto a hipertensão, a SBC (2008) e a FEBRASGO (2004) salientam que a Pressão Arterial aumenta progressivamente de acordo com a idade. Assim, mulheres na menopausa e pós menopausa tem maior risco de desenvolver hipertensão.
A hipertensão arterial contribui cerca de 35% de todos os eventos cardiovasculares e cerca de 45% dos casos de infarto não diagnosticados, em mulheres, elevando o risco de Doença arterial coronariana em quatro vezes quando comparada a mulher normotensa (SBC,2008, p 8).
Quanto a fumo 14 (24,6%) mulheres eram fumantes. Conforme a FEBRASGO (2004) o fumo é um fator de risco as DCV isolado ou associado a hipertensão e dislipidemia, pois a nicotina tem efeito sobre a produção do estrogênio, aumentando o metabolismo do mesmo, acelerando a maturação dos folículos ovarianos e diminuindo a capacidade do estrogênio se ligar ao receptor. “O risco de morte por DCV aumenta 31% entre as mulheres expostas ao tabaco no trabalho ou no lar” (SBC, 2008, p. 7).
No que se refere ao Colesterol Total (CT) verificou-se que 10 (17,5%) mulheres estavam com um nível ótimo, 24 (42,1%) nível limítrofe e 23 (40,4%) alto.Em relação ao HDL, 31 (54,4%) mulheres apresentam resultados entre 40 e 50 mg/dl, 21 (36,8%) alto, e 5 (8,8%) baixo, conforme classificação do Projeto Diretrizes (2001).
De acordo com SBC (2008, p.7):
Níveis baixos de HDL colesterol passam a ser fator de risco independente de DAC, para mulheres quando inferiores a aproximadamente 50mg/dl, e com níveis de triglicerídeos elevados, especialmente na faixa etária de 50 a 69 anos e em pacientes diabéticas.
Para a identificação do risco absoluto de DCV utilizou-se a Estratificação do Risco de Framigham (ERF) que é realizada a partir dos seguintes fatores: idade em anos, colesterol total e HDL colesterol, em mg/dL, pressões arteriais sistólica e diastólica em mm/Hg considerando o valor mais alto, presença ou ausência do hábito de fumar e diabete mellitus. A ERF risco coronariano em 10 anos nas mulheres que realizam hidroginástica no Projeto ATIVE-SE encontram-se na tabela 1.
Tabela 1. Distribuição dos sujeitos conforme o risco absoluto de eventos coronarianos em 10 anos
Risco Absoluto (Framingham) |
N |
% |
Baixo |
31 |
54,4 |
Moderado |
16 |
28,1 |
Alto |
10 |
17,5 |
Total |
57 |
100 |
A tabela 1 revela que 31 (54,4%) das mulheres tem baixo risco cardiovascular, 16 (28,1%) apresentam risco moderado e, somente, 10 (17,5%) das mulheres estão classificadas como alto risco. Esses resultados confirmam a influência dos fatores de risco na classificação do Escore, e para mensurar o grau de interferência realizou-se a correlação do risco absoluto com os fatores de risco (tab. 2).
Tabela 2. Correlação entre o risco de Framingham e os fatores de risco (n=57)
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HDLC |
R F |
FUMO |
DM |
PAD |
PAS |
RISCO FRAM (r) |
-,57(**) |
|
|
|
|
|
(p) |
,00 |
|
|
|
|
|
FUMO (r) |
,14 |
-,16 |
|
|
|
|
(p) |
,27 |
,22 |
|
|
|
|
DIABETES (r) |
,29(*) |
-,55(**) |
,00 |
|
|
|
(p) |
,02 |
,00 |
,97 |
|
|
|
PAD (r) |
,00 |
,05 |
-,15 |
,22 |
|
|
(p) |
,94 |
,69 |
,25 |
,09 |
|
|
PAS (r) |
,00 |
,27(*) |
-,14 |
-,02 |
,62(**) |
|
(p) |
,94 |
,03 |
,27 |
,83 |
,00 |
|
COLESTEROL Total (r) |
,19 |
-,08 |
,10 |
,29(*) |
,01 |
-,06 |
(p) |
,15 |
,51 |
,44 |
,02 |
,93 |
,61 |
** correlação significativa para 0,001
* correlação significativa para 0,05
Observou-se correlação significativa entre o risco absoluto (Framingha) com as variáveis, HDL-c (r = -0,57 e p = 0,001), diabetes mellitus (r = 0,29 e p = 0,001) e pressão arterial sistólica (r = 0,27 e p = 0,05). Também foi identificada correlação significativa entre as variáveis independentes do riso absoluto, pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica (r = 0,62 e p = 0,001), diabetes mellitus e HDL-c (r = 0,29 e p= 0,05) e colesterol total e diabetes mellitus (r = 0,29 e p= 0,05%).
Foi identificada uma correlação significativa moderada entre a variável HDL-c e risco cardiovascular e a pressão arterial sistólica e a pressão arterial diastólica e as demais variáveis tiveram correlações fracas.
A SBC (2005) assegura que a atividade física exerce uma ação favorável sobre o perfil lipídico e, considera que uma única sessão de exercício pode aumentar os níveis de HDL-c, desaparecendo o efeito num período em torno de dois dias. Provavelmente este tenha sido o principal fator do baixo percentual de mulheres com risco alto para doença cardiovascular, já que todas eram praticantes de atividade física. Isto ressalta a importância da realização regular de exercícios físicos no combate as dislipidemias. Pitanga (2002) em um estudo com população de ambos os sexos observou correlação significativa positiva entre o nível de prática de atividade física e o HDL-c. O Projeto Diretrizes (2001, p.10) assevera que:
Tanto a implementação de exercícios de alta e baixa intensidade, realizados em faixas de 85 a 90% e em torno de 50 a 70% do consumo máximo de oxigênio, respectivamente podem reduzir os triglicérides e aumentar o HDL- c.
Entretanto Borges (2007) em estudo realizado com mulheres com sobrepeso e obesidade submetidas a sessões de hidroginástica não evidenciou diferenças significativas entre o Grupo controle e experimental nos resultados do Colesterol total e HDL-c.
Os estudos citados anteriormente, relacionados ao perfil lipídico de mulheres que praticam exercícios físicos, apresentam resultados diferentes, os quais provavelmente podem estar relacionados as características da amostra, dos fatores de risco avaliados e da forma como a intervenção (atividade física) é implementada.
O diabetes mellitus (DM) e o risco absoluto possuem uma correlação significativa, moderada, positiva. Oliveira et al (2007) consideram o DM um fator de risco independente de doença cardiovascular. Além disso, o próprio escore de Framignhan pontua 4 para as mulheres diabéticas e 0 para não diabéticas.
A SBC (2005) recomenda a realização de atividade física e dieta alimentar como forma de tratamento não medicamentoso para a Síndrome Metabolica.
Para Silva e Lima (2002) o exercício regular em pessoas com diabetes tipo II tratadas com ou sem insulina altera a glicemia em uma sessão. Entre outros benefícios resultantes de um programa de atividade física controlada os autores constaram o aumento do HDL-c, diminuição do IMC e diminuição de triglicerídeos.
Cabe ressaltar conforme o Consenso da Internacional Diabetes Federation que as intervenções na prevenção do diabetes do tipo II são orientadas pela manutenção do peso saudável com atividade física moderada e regular. A perda de peso diminui a resistência a insulina e a hiperglicemia (BRITO, 2007). “Andar de forma regular durante pelo menos 30 minutos por dia reduz o risco de diabetes de 35 a 44%” (BRITO. 2007, P 34).
A associação existente entre a pressão arterial sistólica (PAS) e o risco absoluto coronariano é identificada como significativa positiva, porém fraca. A V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006) estabelece como fator de risco para a hipertensão arterial o fumo, a idade, o sexo e etnia, condição sócio econômica, obesidade, álcool, sedentarismo e sal. A associação desses fatores determina o surgimento da hipertensão.
Neste estudo, pode-se constatar que 45,6% das mulheres são hipertensas em tratamento medicamentoso. Entre os fatores de risco para a hipertensão o sedentarismo e o álcool são os controlados nesta população.
A atividade física aeróbica como caminhada realizada por 30 minutos de 3 a 5 vezes por semana reduz a Pressão Arterial em 4 a 9 mmHg (V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006).
Borges (2007) ao pesquisar o efeito da Hidroginástica na Pressão Arterial Sistêmica, em variáveis metabólicas e na composição corporal em mulheres saudáveis com sobrepeso e obesidade encontrou diferenças significativas entre as médias de Pressão Arterial Sistólica dentro do grupo experimental, da Pressão Arterial Diastólica (PAD) dentro do grupo controle, assim como nas médias da PAD entre o grupo experimental e o grupo controle. A Pressão Arterial Média (PAM) apresentou redução significativa no Grupo experimental. Desta forma, a hidroginástica como atividade física auxilia na modulação da Pressão Arterial Sistêmica.
Mediano et al (2008) em se estudo observou diminuição significativa na PAS e PAD após intervenção, concluiu que um programa de exercício físico orientado para hipertensos é eficaz na redução dos níveis tencionais.
Para Forjaz et al (1998) a redução da PAS após o exercício físico está relacionada a duração do exercício. Em seu estudo evidenciaram que a Pressão arterial sistólica diminuiu significativamente após 45 minutos de exercício.
Bermudes et al (2003) complementa referindo-se a indivíduos normotensos que uma única sessão de exercício aeróbico em indivíduos é mais eficaz do que uma única sessão de exercícios de resistência. Assim, os sujeitos deste estudo que não são hipertensos podem beneficiar-se dos efeitos de maneira a amainar este fator de risco para a doença cardiovascular.
Os mecanismos responsáveis pela redução da pressão arterial parecem diferir entre os indivíduos a partir das características das populações estudadas, do tipo de atividade física, da intensidade e da duração do exercício. Os resultados da maioria absoluta das investigações consolidam as recomendações de Rondon e Brum (2003) e Chobaniam et al (2003) a atividade física deve ser aconselhada tanto no tratamento da hipertensão arterial como na prevenção.
O individuo hipertenso que realiza atividade física pode obter benefícios relacionados a diminuição do uso de medicação e dos efeitos colaterais destas. Outro benefício é a redução de gastos na compra de medicações pelos indivíduos e pelas instituições públicas que fornecem as medicações. (RONDON E BRUM, 2003).
Quanto as variáveis independentes que se correlacionaram entre si o Colesterol Total, o HDL-c e a diabetes são considerados fatores para o desenvolvimento da Doença Cardiovascular. Conforme O Projeto Diretriz (2001) o HDL-c abaixo de 40 é um fator de risco para a classificação da dislipidemia e acima de 60 é protetor. Já o Colesterol Total associado ao HDl-c é considerado fator de risco no teste de Framigham. Almeida et al (2007, p. 1) enfatiza que a “associação com a dislipidemia aumenta duas a quatro vezes o risco do desenvolvimento de doença cardiovascular” A SBC (2008) afirma que a hipertensão associada a síndrome metabólica, a dislipidemia, a resistência a insulina e a obesidade aumenta o poder aterogênico, sendo considerado um mecanismo de extrema importância no desenvolvimento da doença cardiovascular em mulheres.
A partir das constatações deste estudo e dos referenciados, ratifica-se a necessidade da inserção da atividade física nos grupos de saúde de modo geral e em especial nos grupos de mulheres hipertensas ou não, qualificando as ações na saúde da mulher na prevenção primária e secundária e conseqüentemente reduzindo indicadores de morbi-mortalidade por doenças cardiovasculares na população feminina.
Considerações finais
O risco cardiovascular vem sendo objeto de estudo de várias pesquisas, nesta, a estratificação do risco de doenças cardiovasculares com estimativa para os próximos 10 anos foi considerado baixo. Deve ser enfatizado que de todas as variáveis independentes pesquisadas, somente tiveram associação significativa com o nível de risco a pressão arterial, o diabetes mellitus e o HDL-c. Considerando o HDL-c é possível afirmar, com base nos autores citados, que esta fração do colesterol desempenha um importante papel como fator de prevenção para o risco cardiovascular, sobretudo quando relacionada com a prática de atividade física.
Infere-se neste estudo que a hidroginástica foi determinante no resultado do risco. Assim, recomenda-se esta modalidade de atividade física para mulheres em idade de climatério, menopausa e pós-menopausa, já que o processo natural deste período acarreta distúrbios como osteoporose, doenças articulares, dores que muitas vezes as impedem de fazer outras atividades, e que neste caso é bem tolerada.
Este estudo mostra a necessidade de continua intervenção quanto aos fatores de risco evidenciados, pois podem ser alterados através da modificação de estilo de vida.
Além disso, sugere-se a realização de novos estudos com esta população, mantendo-se e ampliando a atividade física e acrescentando um acompanhamento rigoroso de dieta e de peso, para que se possa controlar e atenuar os fatores de risco presentes na vida destas mulheres.
A identificação dos fatores e a descrição dos mesmos possibilitarão desenvolver um trabalho individual e coletivo e, sobre tudo promover a consolidação de hábitos de vida saudáveis como a redução de peso, controle lipídico, redução dos níveis tensionais e abandono ao tabagismo.
Vale ressaltar que para essas mulheres adotarem as medidas propostas, as orientações com dinâmicas de grupo e o convívio freqüente com os profissionais da educação física, de enfermagem, de nutrição, médico entre outros são essenciais.
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digital · Año 14 · N° 133 | Buenos Aires,
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