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Religião e educação do corpo feminino

Religión y educación del cuerpo femenino

 

Possui mestrado em Educação Física pela

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2008)

Especialista em Lazer pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUC-PR (2005)

Graduada em Licenciatura em Educação Física pela

Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO (2003)

Ana Carolina Rigoni

anacarolinarigoni@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo 

          O corpo, principalmente o feminino, sempre esteve submetido aos “desígnios divinos”. Durante séculos a mulher viveu uma história de repressão, sendo considerada inferior ao homem. Isto se deve aos ensinamentos repassados, em grande parte, pela Igreja Católica. Sendo assim, este texto pretende, a partir de alguns exemplos, demonstrar o modo como o corpo feminino foi educado pela religião ao longo da história.  

          Unitermos: Corpo, Educação. Religião.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

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    Quando falamos sobre corpo, são inúmeras as explicações a respeito das diferenças entre homens e mulheres ao longo dos anos. Estas explicações são na maioria das vezes de caráter biológico, mas para além do biológico, o corpo é também território do simbólico e talvez seja o mais belo traço da memória da vida (SANT’ANNA, 2005). As “memórias” do corpo feminino guardam transformações marcantes no decorrer da história e, de certa forma, estão ligadas à história da religião, que através de seus códigos morais marcou as mulheres e educou seus corpos.

    O corpo sempre foi submetido aos desígnios divinos. Estes desígnios se referem tanto à aspectos de saúde (a cura de doenças mediante a vontade de Deus), quanto à aspectos relacionados à educação (homens e mulheres sempre foram educados de formas distintas). Neste texto, cito alguns fatos que exemplificam a influência da religião na educação do corpo feminino.

    As religiões servem justamente para garantir os padrões morais exercidos pela cultura das sociedades hegemônicas. O que nos parece é que prevalece uma espécie de educação religiosa do corpo no sentido de educá-lo. Mais do que isto, o que nos parece é que esta educação é muito mais perceptível no corpo feminino.

    Podemos iniciar falando sobre a civilização, pois é justamente com ela que surge a idéia de “corpo educado”. Com o conceito de civilização a cultura passa a ser a constituição inerente por meio da qual o homem enxerga o mundo. Com isso o mundo passa a depender muito mais das convenções sociais que variam de uma sociedade para outra, e que em grande parte foram repassadas pela Igreja cristã.

    Durante séculos a mulher viveu uma história de repressão e dominação que deixou suas marcas em seu corpo através de diferentes categorias (familiar, religiosa etc.). Bauer (2001) nos fala que já na época do feudalismo, desde o século IX até o século XIII a mulher era acusada de heresia, pois era a maneira de torná-la imperfeita e assim impedi-la de executar as mesmas funções do homem, pois isto poderia ser perigoso.

    Outro exemplo está no fato de que, como nos esclarece Perrot (1998), a mulher não tinha o direito à vida pública, restando à ela somente um lugar no qual podia se socializar com outras mulheres: a Igreja. Portanto é compreensível que a religião educasse gestos e comportamentos femininos enquanto os espaços públicos destinados aos homens, como por exemplo as casas de política, educassem o comportamento masculino.

    A única educação que era permitida a mulher era a religiosa, que a obrigava a servir a Deus e a família. Qualquer outra forma de educação para a mulher era contestada pela Igreja que desconfiava de sua imaginação, associando a mulher ao pecado. Já na época do feudalismo, entre os séculos XII e XIII, Bauer (2001, p. 34) nos confirma que a mulher que desejasse estudar, se tivesse a condição financeira necessária, deveria ir para o convento, receber o auxílio pedagógico das freiras. É claro que além de aprender a ler e a escrever, as moças também se instruíam na devoção a Deus e na prática dos bons costumes.

    Para a Igreja, a mulher é responsável pela procriação e multiplicação da vida. Seu papel era somente este. Portanto, embora o discurso médico reconhecesse a necessidade do prazer feminino no final do século XIX e início do século XX, fazia-o subordinado a procriação, pois como nos mostra Felipe (2003), acreditavam que a excitação clitoriana estimularia os ovários e isto possibilitaria a fecundação. Foi também com fim na procriação que a mulher foi inserida na prática de exercícios físicos. A mulher deveria se exercitar para poder gerar seus filhos com mais saúde e ter condições de criá-los e transformá-los em homens capazes.

    Se eram as mulheres as responsáveis por educar homens bons e maus, afinal, os filhos moldam sua conduta aos sentimentos delas, era necessário agora, uma mulher “educada” pela educação formal e também religiosa. Pois só assim ela seria “moralmente” boa e preparada para ser mãe. Ou seja, quando se admitiu a importância da educação para a mulher, foi apenas porque dela dependia a formação do seu filho homem.

    Mesmo dentro do próprio clero (na educação religiosa), também estaria refletido a inferioridade da mulher, visto que só o homem poderia ser padre, restando às freiras o papel secundário. Ora, uma mulher não podia propagar as palavras de Deus, pois nunca era completamente pura.

    No que diz respeito aos aspectos relacionados à beleza, durante a primeira metade do século XX os discursos não se limitavam às prescrições médicas, mas se aliavam às regras de uma moral católica, na qual o exagero nas técnicas de beleza pode denotar uma moral duvidosa, pois apesar da diversidade de formas e fórmulas para facilitar o embelezamento, prevalece a convicção de que a verdadeira beleza é aquela fornecida por Deus (SANT’ANNA, 2005).

    Estes são apenas alguns exemplos para o início de uma reflexão à respeito da educação religiosa e suas prescrições direcionadas ao corpo da mulher ao longo da história. Apesar destes exemplos terem sofrido transformações nas últimas décadas, a crença religiosa ainda exerce influência sobre o corpo feminino, em determinadas religiões mais do que em outras.

    Hoje, ao falarmos de religião, não podemos nos referir somente a Igreja Católica, esta foi a propulsora dos valores morais e, também, através de seus discursos determinou os papéis sociais de sexo, definindo e remodelando as identidades de gênero. No entanto, uma característica da contemporaneidade é o pluralismo religioso. Diante desta pluralidade de templos e Igrejas, normas patriarcais ainda pesam sobre a sociedade, e principalmente sobre os ombros das mulheres, negando espaço suficiente para o exercício da autonomia feminina. Isto traz a tona a dificuldade da mulher em alcançar uma relação de igualdade com os homens nos espaços de trabalho, nos espaços domésticos e na vida cotidiana como um todo.

Referências bibliográficas

  • BAUER, C. Breve história da mulher no mundo ocidental. São Paulo: Xamã, Edições Pulsar, 2001.

  • FELIPE, J. Governando os corpos femininos. In: Labrys: estudos feministas. N. 4, agosto/dezembro, 2003.

  • PERROT, M. Mulheres públicas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.

  • SANT’ANNA, Cuidados de si e embelezamento feminino: fragmentos para uma história do corpo no Brasil. In: SANT’ANNA, D. Políticas do corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 2005. p. 121-139.

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