Capacidade de raciocínio lógico entre praticantes e não praticantes de xadrez na escola Capacidad de razonamiento lógico entre practicantes y no practicantes de ajedrez en la escuela |
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*Universidade Federal de Santa Maria **Universidade Federal do Paraná ***Universidade Federal de Santa Catarina ****Núcleo de Estudos em Medidas Universidade Federal de Santa Maria |
Susana Cararo Confortin* **** | Anapaula Pastorio* Érico Felden Pereira** **** | Clarissa Stefani Teixeira*** Juliane Berria* **** | Luciane Sanchotene Etchepare Daronco* **** |
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Resumo O xadrez vem sendo adotado como forma de intervenção pedagógica da Educação Física em muitas escolas e pode contribuir de forma positiva para no desenvolvimento cognitivo dos estudantes. Objetivou-se nesse estudo investigar a capacidade de raciocínio lógico de praticantes e não praticantes de xadrez em uma escola de educação básica. A amostra foi formada por 29 alunos com idade média de 16,9 anos sendo 14 alunos praticantes do clube de xadrez e 15 não praticantes. Utilizou-se uma adaptação do teste de QI e raciocínio lógico criados por David Wechsler em 1949. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, teste “t” de Student e regressão linear múltipla. Em todas as análises adotou-se o nível de significância de p<0,05. Identificou-se que os alunos praticantes de xadrez possuem melhor desempenho cognitivo do que os não praticantes (p=0,042). Apesar disso, verificou-se um poder preditivo baixo do tempo de prática para o desempenho no teste cognitivo (8% de capacidade explicativa). Os resultados indicam que os jovens que procuram o xadrez como atividade escolar possuem um desempenho cognitivo superior, mas o efeito dessa prática precisa de maiores investigações. Unitermos: Xadrez. Raciocínio lógico. Escola |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009 |
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Introdução
O xadrez é um jogo de tabuleiro de natureza recreativa e competitiva para dois jogadores, sendo o objetivo dar xeque-mate ao rei adversário e assim ganhar a partida. No decorrer do jogo devem ser utilizadas estratégias cognitivas para alcançar a meta final (SAARILUOMA, 2001). Trata-se de uma atividade reconhecida pelo seu caráter potencializador das funções cognitivas, da inteligência lógica e da resolução de problemas, colaborando para o desenvolvimento da criatividade, da memória e da auto-estima (NASCIMENTO, 2006). É considerado um importante recurso pedagógico que deve fazer parte dos programas de educação física nas escolas (LEMOS, 2006; JOUCOSKI, 2007).
A prática do xadrez na escola colabora para o processo ensino-aprendizagem possibilitando ao aluno aprimoramento cognitivo segundo seu próprio ritmo. Assim, principalmente para as crianças, o xadrez pode ser utilizado como instrumento pedagógico e motivacional para outras disciplinas, simulando situações da vida real, fazendo com que eles aprendam a pensar antes de agir e trabalhar com a derrota e a vitória. Além disso, conforme explora Araújo (2005), é por meio do brincar que a criança transmite seus sentimentos, sendo necessário incentivar momentos lúdicos durante o processo de aprendizagem.
Em muitas cidades, existem instituições de ensino que aderiram ao xadrez como conteúdo da Educação Física, utilizando-se dos benefícios que o mesmo traz para melhorar o raciocínio lógico dos estudantes. Apesar disso, o xadrez não é trabalhado em muitas escolas e muitos escolares não possuem vivencias nessa atividade. Considerando este contexto, objetivou-se neste estudo identificar diferenças no desempenho de raciocínio lógico de alunos praticantes e não praticantes de xadrez na escola.
Metodo
Neste trabalho, procurou-se compreender a relação entre o envolvimento com o xadrez escolar e os processos de ensino-aprendizagem, com ênfase no raciocínio lógico. A amostra foi formada por 29 alunos com idade média de 16,9 anos de uma escola estadual que oferece atividades de xadrez como clube da Educação Física. Desses, 14 eram praticantes de xadrez a pelo menos um semestre e 15 não praticantes de xadrez.
Nas observações de campo utiliza-se como instrumento a aplicação do teste de raciocínio lógico com tempo estipulado em vinte minutos. O teste é composto por vinte questões de raciocínio lógico, tendo a classificação de ruim de 1 a 6 acertos, regular de 7 a 11 acertos, bom de 12 a 15 acertos e ótimo de 16 a 20 acertos. O teste aplicado é uma adaptação das pesquisadoras dos testes de QI e raciocínio lógico originais, criados por David Wechsler em 1949. A última versão do WAIS (Escala de Inteligência Wechler para Crianças) consiste em 14 subtestes destinados a avaliar diferentes faculdades cognitivas (CHIODI, 2007). Utilizou-se um desses subtestes com alterações necessárias à realidade da escola pesquisada.
Foram realizadas análises descritivas (médias, desvios-padrões, distribuição em freqüências e percentagens), teste “t” de Student para amostras independentes, para comparação entre as médias, por sexo. A análise de regressão linear foi utilizada para analisar a capacidade explicativa do entre o tempo de prática e o desempenho cognitivo. A análise residual do modelo de regressão ajustado foi avaliada através do teste de Shapiro-Wilk. Em todas as análises foi adotado o nível de significância de p<0,05.
Resultados
Na Tabela 1 foram apresentados os resultados descritivos das variáveis investigadas (média e desvio padrão) bem como a diferença entre médias dos grupos de praticantes e não praticantes de xadrez em relação a idade e ao desempenho cognitivo de cada grupo. Verificou-se uma média de idade de 16,61 anos e um desvio padrão de 1,04 no grupo praticante de xadrez, e nos não praticantes, a média de idade foi de 17,2 anos e desvio padrão de 0,63. Identificou-se no desempenho cognitivo uma média de 8,35 acertos nos praticantes de xadrez e um desvio padrão respectivo de 3,00, no grupo de não praticantes, verificou-se uma média de 6,00 no desempenho cognitivo e um desvio padrão de 2,92. Este resultado possibilita afirmar que há uma diferença significativa, entre o desempenho cognitivo de praticantes de xadrez em relação aos não praticantes de xadrez com um p=0,042.
Tabela 1. Diferenças entre as médias de idade e desempenho cognitivo nos grupos praticantes e não praticantes de xadrez
Variáveis |
Praticantes de xadrez |
Não praticantes de xadrez |
p-valor* |
(dp) |
(dp) |
|
|
Idade |
16,01 (1,04) |
17,2 (0,63) |
0,134
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Desempenho cognitivo (acertos) |
8,35 (3,00) |
6,00 (2,92) |
0,042 |
* teste t de Student
Na Figura 1 foram apresentados os resultados de frequência de estudantes e seu desempenho cognitivo quanto à prática ou não de xadrez. Obteve-se como resultado do teste entre os praticantes de xadrez, 14,29% dos alunos conceituados bons, 57,13% regulares e 28,57% ruins. Enquanto entre os não praticantes encontramos 50% conceituados como regulares e 50% ruins. Cabe salientar que não houve alunos, entre os não praticantes, com conceito bom ou superior a este.
Figura 1. Frequência (%) de alunos de acordo com a classificação do desempenho cognitivo
Na Tabela 2 foram apresentados os resultados da análise de regressão linear considerando o desempenho cognitivo como variável dependente em relação ao tempo de prática. Identificou-se um poder preditivo baixo do tempo de prática para o desempenho no teste cognitivo (8% de capacidade explicativa). Esse resultado remete à possibilidade de que os alunos que procuram a atividade de xadrez já possuam um desempenho cognitivo superior a priori. Maiores investigações a respeito do efeito da prática de xadrez em estudos longitudinais são necessários para elucidar essa questão.
Tabela 2. Resultados da análise de regressão linear das variáveis investigadas em relação ao desempenho cognitivo
Variáveis |
Coeficientes β |
p-valor* |
Constante |
1,269 |
<0,001 |
Tempo de prática |
0,316 |
0,319 |
|
r2=0,083 |
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Considerações
Com o levantamento e análise das informações sugeridas como objetivo desta pesquisa verifica-se que há diferenças significativas de desempenho cognitivo no que se refere à prática do xadrez. Nota-se que a idade dos alunos observados, praticantes ou não, e o tempo de prática para aqueles que dominam o jogo, não tem influência significativa com o desempenho cognitivo dos mesmos.
Percebe-se que os alunos que praticam xadrez, como instrumento pedagógico na educação física escolar obtiveram melhor desempenho cognitivo contrastando com os que não praticam o jogo. Constata-se que a eficácia do xadrez, torna este, um recurso alternativo para ser desenvolvido como um conteúdo da educação física, pois estimula várias capacidades, por exemplo: criatividade, memória, cálculo, inteligência geral, auto-estima, raciocínio lógico, e ainda, ocasiona o aperfeiçoamento global dos estudantes. A análise de resultados remete a possibilidade de que os alunos que procuram o xadrez como atividade, ofertada pela educação física escolar, já possuam um desempenho cognitivo superior.
Diante desta realidade, é imprescindível proporcionar aos praticantes de xadrez atividades desafiantes, que sejam compostas por situações-problema, as quais terão que ser solucionadas com criatividade. Esse ambiente pedagógico instável resultará no crescimento intelectual do aluno, afinal as buscas constantes por novos caminhos, aguçarão a capacidade de imaginação e consequentemente tornarão o domínio cognitivo mais aprimorado. Os professores que integraram o xadrez no currículo escolar, segundo Joucoski (2007) observaram melhoras sensíveis dos estudantes na capacidade de resolver problemas.
É importante perceber a contribuição que o xadrez pode proporcionar ao praticante, nessa perspectiva temos o jogo de xadrez como grande coadjuvante escolar, pois a partir da prática o jogador pode desenvolver várias habilidades. Percebe-se que a atividade enxadrística não proporciona apenas atividade lúdica, pois quando “a criança joga, compromete toda sua personalidade, não o faz apenas para passar o tempo, podemos dizer, sem dúvida, que o jogo é o trabalho da infância ao qual a criança dedica-se com prazer” (SILVA, 2002, p.21), vemos, porém, que isso não acontece somente com as crianças, mas com todas as idades. Na sociedade atual, o xadrez vem se tornando uma grande ferramenta multidisciplinar, pois consegue proporcionar para um público de várias idades os mesmos benefícios.
Na universidade de Gand, um estudo observou que um grupo experimental de alunos da 5ª série que receberam aula de xadrez durante dois anos, tiveram resultados superiores dos demais alunos que não jogaram xadrez, os testes aplicados, eram de cognição do tipo proposto por Piaget (CHRISTIAEN, 1981). Stephenson apud Rezende (2002), por meio de um estudo realizado com uma amostra de estudantes americanos, relata que conseguiu observar, após 20 dias consecutivos de trabalho em uma escola, que os indivíduos obtiveram melhora no rendimento escolar. Essas melhorias identificadas correspondem a 55% no rendimento acadêmico, 62% no comportamento, 59% no esforço, 56% na concentração e 55% na auto-estima. Christiaen apud Rezende (2002), por meio de um estudo experimental e comparativo realizado durante dois anos na Bélgica (1976), detectou que numa amostra de 20 crianças com faixa-etária entre 10 e 11 anos obteve melhora significativa de 13,5% no aproveitamento escolar, depois de comparado com estudantes exclusos da prática do xadrez.
Apesar dos autores anteriormente mencionados, ainda não foram encontradas na literatura pesquisas com amostras semelhantes a este estudo que possibilitem contrastar claramente os resultados encontrados. O déficit de estudos que discutam o tema do xadrez na educação física de maneira relevante e condizente com esta pesquisa enfatiza a necessidade de maiores investigações a respeito do efeito da prática de xadrez em estudos longitudinais para elucidar essa questão.
Referências
Araújo AA. O xadrez como atividade lúdica na escola: uma possibilidade de utilização do jogo como instrumento pedagógico no processo ensino-aprendizagem. Anais da IV Semana Acadêmica da Faculdade Social da Bahia, Educação de qualidade para todos - Salvador, Bahia, 2006.
Chiodi MG. Escala de Inteligência Wechsler para crianças e bateria de habilidades cognitivas Woodcock Johnson-III: comparação de instrumentos. Tese e dissertação - PUC – Campinas, 2007.
Christiaen J, Verhofstadt L. Xadrez e Desenvolvimento Cognitivo. Amsterdan, v.36, 1981.
Joucoski E. Estudo sobre o desenvolvimento do Xadrez Escolar a partir das ações de implementação e manutenção desta modalidade nos Municípios e das inferências dos Cursos de Formação e Capacitação dos professores, organizadas pelas Secretarias de Educação e Entidades Envolvidas. Universidade Federal do Paraná, Tese, 2007.
Lemos APR. Centro de Estudos E Pesquisa de Xadrez Universitário. Centro Universitário do Planalto de Araxá - MG, 2006.
Nascimento AS. O Jogo de Xadrez Como Recurso Pedagógico / Esportivo Na Escola. CEAD/ Universidade de Brasília – Ministério do Esporte, 2006.
Rezende S. Xadrez na escola: uma abordagem didática para principiantes. Rio de Janeiro: Ed. Ciência Moderna, 2002.
Saariluoma P. Chees and content-oriented psychology of thinking. Psichology, 2001, (22) 143-164.
Silva W. Apostila do Curso de Xadrez Básico. Curitiba: Secretaria do Estado da Educação e Federação Paranaense de Xadrez, 2002.
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