Manipulações de resultados no tênis: uma análise através da Teoria dos Jogos de Norbert Elias Manipulación de los resultados en el tenis. Un análisis a partir de la Teoría de los Juegos de Norbert Elias |
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*Aluno do programa de pós-graduação (mestrado) do Departamento de Educação Física – UFPR **Professor da graduação e do programa de mestrado do Departamento de Educação Física – UFPR (Brasil) |
Carlos Eduardo Pijak Junior* Fernando Marinho Mezzadri** Leôncio José de Almeida Reis* |
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Resumo O objetivo do presente artigo é a utilização de instrumentos de análise sociológica, no caso, a teoria dos jogos de Norbert Elias, para uma melhor compreensão do escândalo de manipulação de resultados no circuito profissional masculino de Tênis. Também é preocupação deste ensaio colaborar com um melhor entendimento dos fenômenos esportivos, contribuindo com possíveis exercícios para a análise sociológica. Unitermos: Tênis. Teoria dos jogos. Manipulação de resultados.
Abstract The purpose of this article is the use of instruments of sociological analysis, in case the game theory of Norbert Elias, for a better understanding of the scandal of manipulation of results in male professional circuit of Tennis. It is also concern of this essay supporting a better understanding of the phenomena sports, contributing to possible exercises for sociological analysis. Keywords: Tennis. Emergence of leisure. Configuration theory |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009 |
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Introdução
Este trabalho discutirá algumas denúncias de manipulação de resultados no circuito mundial de Tênis, e o possível envolvimento de tenistas profissionais, sob a ótica da Teoria dos Jogos, modelo de análise sociológica desenvolvido por Norbert Elias.
Podemos notar que atualmente o esporte vem sendo analisado por uma forte corrente acadêmica, que analisa o fenômeno esportivo sob um viés sociológico. Várias publicações1 e a formação de centros de estudo2 têm objetivado entender como o fenômeno esportivo está relacionado com os fenômenos sociais, buscando entendimento destas.
Nosso texto buscará um foco nas relações que ocorrem através do esporte – nesse caso, especificamente, do tênis profissional - utilizando ferramentas sociológicas para desvendar e melhor compreender alguns fatos que fazem parte da dinâmica do cenário esportivo, propondo análises mais aprofundadas do fenômeno, e o convite para novos exercícios que contribuam nesse sentido.
O texto está fundamentado na obra Introdução à sociologia, escrito por Norbert Elias, e no modelo da teoria dos jogos, para o entendimento e compreensão das denúncias de manipulação de resultados, e o envolvimento de casas de apostas com tenistas profissionais, no circuito profissional de Tênis. Para a análise utilizaremos como referência as notícias publicadas na internet em um sítio eletrônico3. Para efeito de análise das notícias veiculadas neste site, não levamos em consideração possíveis posicionamentos dos jornalistas e dos demais envolvidos na produção da notícia, preocupamo-nos somente com o relato e a descrição do fato em si.
A Teoria dos Jogos de Norbert Elias
Antes de nos atermos a apresentação da teoria dos jogos, cabe aqui ressaltarmos um pouco das características de Norbert Elias, e de alguns conceitos elisianos. O sociólogo foi o precursor da sociologia configuracional-ou sociologia figuracional. O autor busca explicar as relações humanas de forma processual, utilizando a configuração4 para ilustrar as redes de interdependência entre indivíduos, e como o poder está distribuído nessas relações. Elias não vê a configuração da sociedade de forma estanque, estática, ele a percebe como um processo em contínua transformação. Da mesma forma que concebe que essas transformações se processam de maneira não planejadas, não previstas, as considera como produto das interações sociais (Elias, 1994, p. 249).
Outro conceito importante para Elias é o poder, que estará sempre presente nas relações interdependentes, e que representam uma forma de desigualdade na sociedade. O equilíbrio do poder constitui-se em elemento integral de todas as relações humanas, e como tal, apresenta-se de maneira bipolar ou, usualmente, multipolar. As pessoas sempre buscarão o equilíbrio do poder através de disputas, onde esse jogo estará presente sempre que houver uma interdependência constituída em uma configuração.5
Resquício do ideário mágico-mítico é a percepção de que poder é algo que possa ser detido de forma pessoal, individualizada. Ele é, como destacado anteriormente, uma característica estrutural das relações humanas, o que a princípio, torna o modelo do jogo e da competição uma pertinente e compatível alegoria explicativa da sociedade (MARCHI JR, 2002, p. 66).
Assim a teoria dos jogos de Norbert Elias objetiva uma análise sociológica, idealizando a sociedade, e as relações interdependentes como jogos constantes, que podem ou não ser regrados, e que explicitam nas relações sociais, a disputa constante ou a manutenção do poder. A utilização desse modelo é uma ferramenta valiosa para facilitar a análise da sociedade, buscando a sua interpretação e explicação, a partir dos diferentes níveis de competição presente nas relações sociais. Os modelos de jogo ajudam a mostrar como os problemas sociológicos se tornam mais claros e como é mais fácil lidar com eles se os reorganizarmos em termos de equilíbrio, mais que em termos reificantes (ELIAS, 1994, p. 81).
A teoria dos jogos de Norbert Elias divide as relações sociais, em possíveis seis enquadramentos. Assim o primeiro modelo de análise é chamado de “primário e sem regras”. São situações humanas básicas; sobrevivência nas sociedades primitivas; apresentam um antagonismo relativamente estável (o conflito existe, mas está adormecido, só sairá da latência se houver uma ação de um dos jogadores); representa a hostilidade, a divisão social do trabalho; as regras estabelecidas socialmente são desconsideradas. Podemos exemplificar: guerra entre tribos, um colega de trabalho passando o outro para trás, um torcedor invadindo o campo. A Competição Primária apresenta-se como um caso de fronteira. Nela, um dos lados tem como fim privar o outro, não só das suas funções sociais com também da sua própria vida (ELIAS,1980, p. 86).
A segunda forma de jogo é a competição entre duas pessoas a um só nível. São relações entre duas pessoas, duas instituições, dois grupos; um dos agentes tem um potencial de poder maior que o outro, controlando assim o jogo, podendo estipular as regras; o potencial de poder vai determinar o controle e o decurso do jogo; apresenta manifestações de desequilíbrio nas relações sociais, pendendo para um dos lados. Citamos alguns exemplos como a relação de um técnico desportivo (chefe) e seu jogador (empregado).
O próximo modelo são os jogos pessoais a um só nível. São teias de relações interdependentes que possui um limitado número de relações independentes, pois todos os jogadores estão em um mesmo nível, e na maioria das vezes as jogadas decorrem das jogadas feitas anteriormente pela outra pessoa, e serão as responsáveis pelas jogadas futuras; nesse modelo já ocorre um aumento das teias de interdependência mesmo que de forma limitada. A disputa pela vaga de titular em uma equipe de basquetebol é um exemplo que cabe nessa análise.
Continuando temos os jogos multipessoais a vários níveis. Nesse modelo já é visível o planejamento das ações pelas pessoas envolvidas; ocorrem aproximações interdependentes para alcance de objetivos; o limite das ações desse jogo é o número de aproximações que as pessoas fazem para alcançar seus anseios; por esse motivo se as relações não forem bem desenvolvidas, esse modelo pode regredir a uma competição primária, ou então avançar a um novo modelo de jogo.
É uma configuração que se estabelece entre jogadores interdependentes e as estruturas para cada uma das jogadas individuais. Existe um limite para a expansão da teia deinterdependência, pela qual o jogador pode orientar adequadamente seu planejamento e estratégia para uma série de jogadas. Com o acréscimo de jogadores na configuração, torna-se cada vez mais improvável a execução de jogadas adequadas e pensadas a partir da sua posição individual estabelecida dentro da totalidade. Desta maneira o desenvolver das interdependências funcionais demonstrará a impossibilidade de compreensão e controle do jogo (MARCHI JR, 2002, p.67).
O quinto modelo são os jogos de dois níveis do tipo oligárquico. Decorrem de uma pressão exercida pelo aumento das inter-relações de poder; há uma desintegração interdependente; existem subordinados que dão sustentação; o confronto se estabelece ao nível secundário; a complexidade das relações inviabiliza ações por interesses pessoas; ocorrem alianças, rivalidades; potencial de poder no nível superior é desproporcional, tende a estabilidade.
O subseqüente é o “jogo de dois níveis do tipo oligárquico”. Este pode decorrer da pressão exercida por conta do aumento no número de jogadores individuais dentro da configuração. A desintegração pode formar dois níveis de jogadores que se mantêm interdependentes, mas já não atuam diretamente uns contra os outros. Somente no nível secundário é que se estabelece diretamente o confronto com os outros.
Tal configuração de jogo e jogadores, exprime um grau de complexidade que inviabiliza o indivíduo de orientar sua decisão por conta da superioridade ou da manifestação dos seus anseios e interesses. As ações são concretizadas tanto para fora como para dentro da teia de interdependência. Percebemos aqui a formação das alianças, rivalidades e cooperação nos diferentes níveis de interpenetração (MARCHI JR., 2002, p.68).
Neste nível, Elias destaca que o equilíbrio do poder vai pender para aquele que ocupa o nível mais elevado, de caracterizando pela desproporcionalidade de poder, mantendo aquele que mais o detém no jogo em uma posição rígida e estável. Entretanto, a interdependência dos dois níveis na configuração, impõe limitações aos seus componentes.
O último modelo de análise são os jogos de dois níveis do tipo democrático. Existe um potencial de poder no nível superior, mas este está mais próximo das outras pessoas do jogo, pois se torna alcançável; há um crescimento do potencial de poder nos níveis inferiores através de conquistas; acúmulo de poder por merecimento; dependência mútua das pessoas, causando conflitos e tensões; o potencial de poder se conquista através de competência técnica e intelectual. Poderíamos citar um porta voz de uma associação democrática.
Nesse modelo de jogo, cada indivíduo apresenta-se mais limitado e constrangido pelo número de jogos que se vê obrigado a realizar com um grupo de jogadores que estão cada vez menos inferiores socialmente. Os grupos de jogadores de ambos os níveis tendem a reunir-se eorganizar-se, de modo que a configuração permita ao indivíduo manter um certo equilíbrio entre grupos interdependentes e rivais. O decurso do jogo pelas ações individuais se enfraquece e o entendimento dessa incapacidade de controlá-lo, deriva da dependência mútua das posições que os jogadores ocupam e das tensões e conflitos inerentes da teia que os entrelaçam. (MARCHI JR., 2001, p. 69)
Assim podemos concluir que a utilização do modelo de jogos de Norbert Elias seja uma das ferramentas possíveis para análise de fatos esportivos, e o utilizaremos objetivando a discussão do escândalo de manipulação de resultados no circuito profissional de Tênis, que descreveremos na seqüência.
Manipulações de resultados no tênis
Em agosto de 2006 uma notícia abala o mundo do Tênis. Uma simples zebra6 do esporte, a vitória de um tenista relativamente mais fraco tecnicamente, sobre um dos dez melhores tenistas do ranking, tornou-se um escândalo esportivo. Supostamente o sétimo melhor tenista naquela época, teria facilitado sua derrota. Denúncias tambémexplicitavam que o mesmo teria estabelecido uma parceria naquele momento com uma casa de apostas, que acumulou um número de palpites altamente superior, e pasmem, a sua grande maioria acreditando na vitória de um tenista que pouco provavelmente venceria aquela partida.
As suspeitas foram levantadas principalmente por dois motivos: o volume de apostas acreditando na vitória do tenista considerado mais fraco tecnicamente, e o fato do tenista N,7 ter abandonado a partida ainda no primeiro set, alegando uma contusão. Duas observações. Para aqueles que não acompanham tão de perto o Tênis, e mesmo aqueles que não tem um entendimento técnico do jogo, diferentemente do futebol, que uma equipe considerada teoricamente mais fraca, pode sobrepujar uma equipe tecnicamente mais privilegiada, isso no Tênis é considerado algo totalmente anormal, improvável, quase impossível. Os jogos são bastante disputados e seus resultados imprevisíveis naqueles que envolvem os tenistas top 100,8 ou ainda jogos que envolvam tenistas promissores, porém sem ranking. Mas é impensado que um tenista de 26 anos, já conhecido, e considerado pelo circuito como um tenista mediano, estando em 345° no ranking, vencer uma partida normalmente de um tenista que ocupa a sétima colocação entre os tenistas profissionais. E foi isso que aconteceu. Outro fato que levantou suspeita foi o abandono do tenista N, ainda no primeiro set do jogo, sem qualquer demonstração de lesão ou outro fato que acarretasse seu abandono. Apesar de todos os indícios nada concretamente foi provado contra o tenista N, mas mesmo assim este foi multado por teoricamente não se esforçar no Torneio de São Petesburgo.
Após isso vários tenistas do circuito mundial começaram a expor suas opiniões a respeito. Uns criticando a postura de N, outros não querendo comentar o assunto, e outros muitos citando que o fato não lhes causava estranheza, pois já teriam sido procurados pela máfia das apostas, para participarem do esquema.
Outro fato que desestabilizou a credibilidade do mundo do Tênis foi a participação de jogadores profissionais como apostador de suas próprias partidas. Esses tenistas, que chamaremos aqui de apostadores, registravam on line, volumes muito grandes de aposta em seus próprios jogos. O fato poderia não causar tanta estranheza, pois eles seriam como qualquer outro apostador, mas o fato é que os “apostadores” têm o controle do jogo e do resultado em todo o decorrer do processo. Os três tenistas envolvidos foram afastados do Tênis por três meses, assim como foram multados, e a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) regulamentou o banimento de qualquer jogador que tenha envolvimento com apostas relacionadas a jogos de Tênis.
Após a publicação dos escândalos, a ATP, agiu buscando moralizar esse cenário. Começou a rastrear possíveis envolvimentos de tenistas com casas de apostas, e análise de alguns resultados considerados “estranhos” pela associação. A caçada às bruxas culminou com a elucidação de várias outras irregularidades envolvendo facilitação de derrota, envolvimento de jogadores com casas de apostas, e principalmente apostas feitas pelos próprios tenistas. Alguns tenistas também vieram à público revelando que teriam em algum momento de sua carreira sido procurados por casas de apostas, que ofereciam volumosas quantidades de dólares para participarem do esquema.
Todas as informações estão presentes no site globo.com,9 e sintetizamos as notícias para desenvolvermos a análise do contexto esportivo, no caso o Tênis, nos seguintes fatos:
facilitação de resultado e o papel do tenista considerado favorito;
a ATP e as regras do jogo;
jogadores que apostam em seus próprios jogos;
envolvimento de jogadores limitados tecnicamente, e sem ambições profissionais, no esquema de manipulação de resultados.
Utilização do modelo
Para iniciarmos o exercício da aplicação da teoria dos jogos de Norbert Elias, vamos mais uma vez esclareceremos quais os fatos que sintetizamos, das denúncias ocorridas no circuito profissional de Tênis, para a análise do fato esportivo: a facilitação de resultados, descumprimento das regras da ATP, envolvimento de jogadores, e o esquema de manipulação de resultados. Inicialmente percebemos nesse fato, um total desrespeito às regras do esporte, já que as orientações e regras da ATP10, e da ITF11, não prevêem que as partidas tenham seus resultados pré-determinados, muito menos o facilitamento de qualquer uma das partes em uma partida de Tênis. Assim esse desrespeito às regras do jogo nos leva a visualizá-lo de acordo com o modelo de competição primária. Mas cabe aqui ressaltar um fato interessante: ao desrespeitar as regras do jogo geralmente aqueles que assim se comportam, tentam sobrepujar seu adversário. No caso da facilitação dos resultados das partidas, o tenista envolvido, que poderia utilizar-se de meios ilícitos para vencer a partida, “passar a perna no adversário”, tentar à vitória a qualquer custa, têm uma atitude contrária. Ele se utiliza, da não observância das regras do jogo, para provocar sua derrota. Mas ao agir dessa forma ele vence de maneira diferente: utiliza seu revés para “ganhar” benefícios financeiros, muito maiores que um possível triunfo nessa partida poderia lhe render.
Avançando no exercício de análise quando pensamos na relação entre os tenistas top12 e as casas de apostas, e a relação dos tenistas com poucas ambições, menos habilidosos, e com pequena visibilidade no circuito profissional, podemos enquadrar estas no modelo de competição entre duas pessoas em um só nível. Esse modelo caracteriza-se principalmente entre o diferencial de poder dos dois agentes, instituições, pessoas, onde aquele que tem mais poder comanda as ações, influenciando o jogo. Nessa ótica quando uma casa de apostas procura um tenista top, no caso do escândalo o tenista N (sétimo colocado do ranking na época) há um diferencial de poder nessa relação. A casa de apostas tem o interesse financeiro nessa jogada, mas quem comandará as ações é o tenista, pois este tem suas habilidades técnicas como o potencial de poder; ele comandará o decurso do jogo: vencendo teoricamente de forma natural, ou perdendo venha a facilitar, ou “não esforçar-se tanto”. Fica claro que o estabelecimento dessa relação interdependente só ocorre por interesse, e de acordo com as regras propostas pelo tenista top.
Já na relação entre a casa de apostas e os tenistas piores ranqueados, “menos habilidosos”, quem comanda as ações é a casa de apostas. Esse jogador que não tem a técnica apurada como um potencial de poder para controlar o jogo, se submeterá as ações propostas pelos donos dessas casas, em troca de benefícios financeiros, que são muito maiores que suas ambições profissionais.
Prosseguindo nesse exercício conseguimos fazer uma leitura onde esse fato apresenta momentos que pode ser explicado pelo modelo de jogos multipessoal a vários níveis. Isso fica claro quando notamos a aproximação das casas de apostas aos tenistas, estabelecendo ações planejadas, para alcançar os objetivos propostos nessa relação. Outra característica do modelo é a limitação das ações. Obviamente ficamos chocados com a revelação de uma possível máfia das apostas, mas percebemos que são fatos isolados. Talvez pelo esquema envolver apenas alguns poucos tenistas, os limites das ações se tornou reduzido no cenário do Tênis. Outra característica notória é que o controle do jogo depende de como as relações são estabelecidas, e em uma tentativa de análise poderíamos vir a entender que em algum momento essas relações estremeceram. E segundo esse modelo o desenvolvimento desse jogo pode vir a se tornar uma competição primária, que percebemos na seqüência com a troca de ofensas entre os tenistas envolvidos, ATP, casas de apostas, cada um tentando estabelecer seu objetivo: sair ileso dessa história.
Outro decurso para o modelo citado acima é o avanço para um novo modelo de jogo: dois níveis do tipo oligárquico. Não conseguimos com os fatos citados estabelecer um enquadramento nesse modelo, mas podemos pensar que em alguns momentos, ou as casas de apostas, ou os tenistas top, mantiveram a oligarquia do jogo, mantendo uma posição mais rígida e estável, devido a uma desproporcionalidade de poder presente nessa interdependência.
Concluindo, acreditamos que estabelecermos análise sobre fatos sociais é um desafio instigante. Uma das ferramentas possíveis para tal missão, é a teoria dos jogos de Norbert Elias. Este modelo nos propõe a análise da sociedade, para uma melhor compreensão das relações interdependentes, e os diferentes potenciais de poder contidos nas ações das pessoas, como se estas fossem parte de um jogo. Assim esse ensaio objetivou a análise de um fato esportivo, a manipulação de resultados no circuito profissional de Tênis, onde consideramos que conseguimos estabelecer algumas relações importantes, mas logicamente esse tema não se esgotou. Pela limitação de um artigo, fica como desafio para futuros estudos, uma maior profundidade nessa análise.
Notas
São inúmeras as produções científicas que abordam de formas diversificadas o fenômeno esportivo. Dentre aquelas que partem da teoria sociológica configuracionista podemos citar como exemplo: Lucena (2002), Proni (2002), Marchi Jr. (2002;2005), Mezzadri e Starepravo (2003).
Como exemplo, podemos citar o CEPELS - Centro de Pesquisa em Esporte, Lazer e Sociedade.
www.globo.com
O conceito de configuração difundido nos trabalhos de Norbert Elias enfatiza as ligações entre mudanças na organização estrutural da sociedade e mudanças na estrutura de comportamento em redes de interdependência (ELIAS, 1994).
Introdução à sociologia (ELIAS, 1970).
Referência a um jogador, equipe, considerada inferior em um evento esportivo, que consegue superar seu adversário, considerado favorito absoluto para a vitória naquele momento.
Garantiremos o anonimato dos tenistas, até porque o presente artigo objetiva o exercício da análise sociológica, a observância o fato, e não estabelecer qualquer juízo de valor sobre os tenistas envolvidos.
Referência utilizada aos 100 melhores tenistas do ranking.
www.globo.com
Essas orientações e regras foram consultadas em www.atp.com
Federação Internacional de Tênis.
Designação aos tenistas com melhores posições no ranking.
Referências
ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. São Paulo: Edições 70, 1980.
LUCENA, Ricardo de Figueiredo. Elias: individualização e mimesis no esporte. In: PRONI, Marcelo; LUCENA, Ricardo (orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Editora Autores Associados, 2002, pp. 113-137.
MARCHI JR., Wanderley. Bourdieu e a teoria do campo esportivo. In: PRONI, Marcelo; LUCENA, Ricardo (orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Editora Autores Associados, 2002, pp. 77-111.
MARCHI JR., Wanderley. Sacando o Voleibol. Tese de Doutorado. Unicamp, 2001.
_____. Jogo e esporte: manifestações histórico-culturais no modelo de análise sociológica de Norbert Elias. In: CARVALHO, A. B.; BRANDÃO, C. F. (orgs.). Introdução à Sociologia da Cultura: Max Weber e Norbert Elias. São Paulo: Avercamp, 2005, p. 119-135.
MEZZADRI, Fernando Marinho; STAREPRAVO, Fernando Augusto . Esporte, Relações Sociais e Violência. In: Motriz (UNESP), Rio Claro, v. 9, n. 1, p. 49-52, 2003.
PRONI, Marcelo Weishaupt. Brohm e a organização capitalista do esporte. In: PRONI, Marcelo; LUCENA, Ricardo (orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Editora Autores Associados, 2002, p. 31-61.
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