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Índice de massa corporal de adolescentes 

e o estadiamento puberal

Indice de masa corporal de adolescentes y la incidencia puberal

 

* Mestre em Ciência da Motricidade Humana UCB – RJ

Pesquisador auxiliar em estudos sobre Altas Habilidades e Talentos da Universo, Niterói – RJ

Pesquisador ligado a EEFD – UFRJ

** Pós-Doutorado pela Universidade Católica da Murcia, Espanha

Doutor pelo Instituto de Investigação Científica de Cultura Física e Esportes da Rússia

Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – RJ

*** Professor Mestre da UFJF – MG

Pesquisador do Laboratório de Atividade Motora, UFJF – MG

**** Professor Doutor da UFJF – MG

Pesquisador do Laboratório de Atividade Motora, UFJF – MG

*****Doutoranda pela Universidad Católica Nuestra Señora de la Asunción

Pesquisadora do LABIM-UCB/RJ

******Professora Doutora da UFJF – MG

Renato Vidal Linhares*

José Fernandes Filho**

Marcelo de Oliveira Matta***

Jorge Lima****

Samária Cader*****

Mônica Costa******

renatolinharesjf@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Objetivo: A idade cronológica não deve ser vista como o elemento mais importante na avaliação do crescimento e do desenvolvimento, sobretudo, na adolescência. Este estudo tem como objetivo verificar a influência da maturação sexual sobre o índice de massa corporal, em adolescentes. Métodos: Realizou-se pesquisa descritiva, com corte transversal, com estatística do tipo descritiva. Em 136 escolares do sexo masculino, na faixa etária de 10 a 14 anos, foram avaliados a idade cronológica, a massa corporal total, a estatura e o índice de massa corporal (IMC) além do estadiamento puberal, com base no desenvolvimento da genitália externa. Para verificar as diferenças nos parâmetros avaliados, entre os estágios puberais utilizou-se estatística inferencial, tendo como teste à análise de variância e, quando a diferença foi significativa, procedeu-se ao teste de Scheffe. O nível de significância assumido foi de 5% (p<0,05). Resultados: Entre os estágios III e IV, os adolescentes mostraram incremento maior na estatura do que na massa corporal total, cujo maior aumento aconteceu entre os estágios IV e V. Tal fato exerce influência sobre os valores do IMC, que, ao invés de mostrar um aumento linear, possui uma queda entre os estágios I e III.

          Conclusões: Quando se trata de adolescentes, que estão em processo de constante desenvolvimento, porém em ritmos distintos para a mesma idade cronológica, a avaliação da maturação sexual é uma ferramenta indispensável para a compreensão da relação da massa corporal total e da estatura e para a definição de padrões específicos para uma determinada população.

          Unitermos: Índice de massa corporal. Desenvolvimento do adolescente. Puberdade. Maturação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

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Introdução

    Assim como acontece com outras populações, também no Brasil, diversos estudos têm registrado um aumento na prevalência de obesidade na comunidade pediátrica, principalmente nas regiões sul e sudeste1. Quando crianças e adolescentes são sedentários e obesos existem grandes chances de que tal fato se reflita na idade adulta, ou seja, crianças obesas tendem a se tornar adultos obesos. Outro fato importante é que indivíduos obesos na infância exibem uma tendência ao desenvolvimento de obesidade mais grave, na vida adulta quando comparados àqueles que se tornaram obesos mais tardiamente1,2. Uma vez instalado, o excesso de peso leva a um aumento tanto nas taxas de mortalidade como na morbidade, ligada a transtornos como hipertensão arterial e outras doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, certos tipos de câncer e transtornos articulares dentre outros2.

    Vários parâmetros têm sido propostos para avaliação do estado nutricional e, apesar de algumas críticas, o índice de massa corporal (IMC) é o mais utilizado. Dentre as razões pelas quais o IMC se tornou o índice adotado na maioria dos estudos de crescimento e desenvolvimento, citam-se sua fácil aplicabilidade e o baixo custo, além de sua capacidade de refletir as condições socioeconômicas e de saúde de uma população, sendo o parâmetro recomendado pela Organização Mundial da Saúde, sobretudo para estudos epidemiológicos3,4,5,6,7,8.

    Apesar disso, uma questão que tem preocupado os pesquisadores diz respeito à escolha dos referenciais a serem adotados, isto é, critérios regionais versus referenciais universais do IMC5,6,8,9. No Brasil essa questão é ainda mais preocupante, tendo em vista que a diversidade nas esferas socioeconômica, demográfica, étnica e biológica é uma constante no país. No que diz respeito às variáveis de crescimento existe, inclusive, a necessidade de indicadores referenciais específicos para diferentes populações, pois se acredita que um único referencial para todos os indivíduos possa distorcer a análise, com base nas variações biológicas que ocorrem em função do grupo étnico avaliado3,6,8.

    Além disso, deve-se ter em conta a influência da puberdade e da maturação sexual na composição e na forma corporais10,11,12,13,14,8. Quando se estudam adolescentes, os estágios de desenvolvimento puberal se tornam um dos referenciais mais importantes, na medida em que permitem conhecer o desenvolvimento biológico e a maturação sexual. Os diferentes estágios da puberdade estão ligados ao tempo biológico e à idade cronológica, mas não necessariamente existe sincronia entre eles, sendo recomendável que, na análise do estado nutricional de adolescentes, se leve em consideração não apenas o sexo, a idade e a estatura, mas também o estágio de maturação sexual15,11,16,8.

    O objetivo do presente estudo é verificar a influência dos estágios de desenvolvimento puberal sobre o IMC, em adolescentes do sexo masculino.

Métodos

    Através de amostragem intencional, por conveniência, foram avaliados escolares do sexo masculino, na faixa etária de 10 a 14 anos, participantes do projeto “Bom de Bola, Bom de Escola”, que inclui atividades recreativas monitoradas por professores de Educação Física, promovido pela Associação Municipal de Apoio Comunitário, da cidade de Juiz de Fora, MG. Esse programa faz parte de um projeto social da prefeitura da cidade no qual é oferecida atividade, em futebol, meramente recreativa, com uma hora de duração, bissemanal, sob supervisão de treinador. No presente estudo, foram selecionados os adolescentes inscritos no programa, no ano de 2006, por ocasião de sua admissão no mesmo. Participaram do estudo aqueles escolares devidamente matriculados, cujos responsáveis assinaram o termo de consentimento informado e foram excluídos os indivíduos que não compareceram nas datas marcadas para as avaliações e aqueles que apresentaram algum impedimento relacionado à saúde ou dificuldade em completar os testes físicos. Todos os indivíduos avaliados se encontravam em bom estado geral e não tinham diagnóstico de qualquer doença associada.

    Em cada um dos indivíduos, antes do início da atividade física, foram avaliados a massa corporal total, a estatura e o IMC. A massa corporal total foi mensurada utilizando-se balança da marca FilizolaÒ, com capacidade de medida de até 150 kg e precisão de 100 gramas. A estatura foi medida com estadiômetro inserido na balança, com precisão de 1 mm. Os indivíduos foram instruídos a pisar no centro da balança, de costas para a escala, em posição ortostática, com o plano de Frankfurt posicionado na horizontal, estando sem sapatos e portando roupas leves. O IMC foi calculado por meio da divisão do peso corporal, em quilos, pelo valor da estatura, em metros, elevado ao quadrado (kg/m2).

    Além disto, os indivíduos compareceram ao Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF) para avaliação clínica, com ênfase na caracterização do estadiamento puberal, sendo os indivíduos classificados de acordo com os estágios de desenvolvimento da genitália externa, seguindo os critérios de Marshall e Tanner17.

    Foi utilizada estatística descritiva, apropriada para estudos transversais, sendo calculados os valores da média e seu desvio-padrão, dentro de cada estágio de maturação. Para verificar as diferenças nos parâmetros avaliados, entre os estágios puberais utilizou-se estatística inferencial, tendo como teste à análise de variância e, quando a diferença foi significativa, procedeu-se ao teste de Scheffe. O nível de significância assumido foi de 5% (p<0,05).

    O presente estudo atende às normas éticas previstas nas “Normas de Realização de Pesquisa em Seres Humanos”, resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, de 10/10/1996 e foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Juiz de Fora onde está registrado sob o número 474.159.2004-Grupo III.

Resultados

    Foram avaliados 136 indivíduos do sexo masculino, com idade entre 10 e 14 anos, adotando-se a avaliação da genitália externa, como parâmetro de desenvolvimento puberal.

    Observou-se aumento significativo da massa corporal total e da estatura, com avançar da puberdade (p<0,05). Todavia, na análise post hoc, não foi detectada diferença estatisticamente significativa, na massa corporal, entre os estágios II e III e entre os estágios II e IV. Na estatura, não foram detectadas diferenças significativas, entre os estágios II e III e entre os estágios IV e V.

    Quanto ao IMC, apesar de não existir um aumento linear entre todos os estágios, encontrou-se diferença significativa, entre os estágios I e II e entre os estágios I, II, III e o V.

    O número de alunos em cada estágio, a idade cronológica e a distribuição dos casos, de acordo com os parâmetros antropométricos pode ser vista na tabela 1.

Discussão

    A tendência a um aumento da massa corporal total e da estatura relacionados à evolução puberal é descrita por diversos outros autores11,18,19,20,21. No presente estudo, verifica-se um aumento da massa corporal total e da estatura, concomitantes à maturação sexual, contudo, essas variáveis possuem comportamento distinto, ao longo da puberdade.

    No presente estudo, entre os estágios III e IV, os adolescentes têm um acréscimo maior na estatura do que na massa corporal total, cujo maior incremento vai acontecer entre os estágios IV e V. Tal fato exerce influência sobre os valores do IMC, que, ao invés de mostrar um aumento linear, possui uma queda entre os estágios I e III. Essa tendência pode acontecer tendo em vista que estão sendo avaliados indivíduos em fase de franco e dinâmico processo desenvolvimento o que implica em cautela na utilização do IMC na avaliação desse grupo etário, conforme observam outros autores22,11,8. Parece que os valores do IMC, na adolescência, sobretudo no sexo masculino estão mais relacionados à massa magra que à adiposidade, corroborando os dados de Maynard e colaboradores11.

    Além disso, nas diversas faixas etárias, existem as variações interindividuais que levam a diferenças na estatura, na velocidade de crescimento e no desenvolvimento da puberdade 22,11,23,8. Pesquisadores ao realizarem um estudo que avaliavam a aplicabilidade do IMC concluíram que esse parâmetro deve ser utilizado com cautela, especialmente em crianças e adolescentes, nos quais a estatura e a massa corporal total se modificam constantemente e a idade, a maturação sexual e a etnia, dentre outros, são parâmetros intervenientes24. A mesma cautela quanto à utilização de referenciais de crescimento em regiões e países distintos é sugerida por outros autores, uma vez que cada região possui as suas especificidades ambientais e seculares22,11.

    Utilizando a idade cronológica como referência, pode-se dizer que os meninos com desenvolvimento sexual mais precoce tendem a apresentar maior massa corporal total, com maior massa magra e maior percentual de gordura aproximado23. Nesse aspecto, também Silva e colaboradores propõem que se leve em conta o estadiamento puberal ao se avaliar transtornos de desenvolvimento25. Analisados, em conjunto, tais fatos sugerem que, ao se realizar a avaliação antropométrica sobretudo na adolescência, deva se levar em conta o estágio de desenvolvimento puberal e não apenas a idade cronológica, como se faz habitualmente.

    Em conclusão, o presente estudo mostra que, no período puberal, a massa corporal total e a estatura sofrem influência da maturação sexual. Ao se avaliar crianças e adolescentes deve-se levar em conta não só a idade, o sexo, a massa corporal total e a estatura como também os estágios de maturação sexual em que estes se encontram. Dessa forma, é possível criar um referencial mais fidedigno com relação a este público podendo os avaliadores fazer uma análise mais condizente com a realidade da amostra populacional estudada. Existe também a necessidade de se criarem padrões específicos para a população brasileira, com relação aos referenciais considerados saudáveis ou normais, principalmente quando se trata de crianças e adolescentes, sendo recomendável a realização de estudos longitudinais, nos quais a maturação sexual esteja incluída entre os parâmetros avaliados.

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