efdeportes.com

Perfil de idosos praticantes de atividades físicas: 

saúde e atividades da vida diária

Perfil de personas mayores practicantes de actividades físicas: salud y actividades de la vida diaria

Profile of elderly practicing of physical activity: health and activities of daily life

 

*Professor de Educação Física

Pós-graduação pela Universidade Federal de Santa Maria

(Brasil)

Renato Xavier Coutinho* | Caroline Mombaque dos Santos
Camilla Marjorie Ribeiro Sanguin | Marco Aurelio de Figueiredo Acosta

renatocoutinho@msn.com

 

 

 

Resumo

          A heterogeneidade entre os idosos mostra que existem associações entre suas condições de saúde com os fatores ambientais, demográficos e sócio-econômicos. Este estudo tem o objetivo de identificar o perfil de idosos praticantes de atividades físicas da cidade de Santa Maria – RS e região. Foram realizadas 62 entrevistas entre os participantes do 9º Acampavida (reuniu 1008 idosos), 11 homens e 51 mulheres, selecionados aleatoriamente, utilizando o questionário BOAS adaptado. Constatamos que a maioria dos participantes do evento: são mulheres; é alfabetizada; utiliza algum tipo de medicamento tendo dificuldade em associá-lo à enfermidade; participam de excursões/viagens; declararam como principal problema relacionados ao dia-a-dia a violência. Além de que a religiosidade tem grande influência no cotidiano, a patologia mais relatada foi a HAS, rádio e televisão são fontes de informação.Este estudo, então, indica que a participação em grupos influencia positivamente na qualidade de vida desses idosos.

          Unitermos: Idoso. Saúde. Atividade física

 

Abstract

          The heterogeneity among the elderly shows that there are associations between their state of health with environmental factors, demographic and socio-economic. This study aims to identify the profile of elderly practitioners of physical activities of the city of Santa Maria - RS and region. 62 interviews were conducted among participants of the 9th Acampavida (1008 met elderly), 11 men and 51 women, randomly selected, using the questionnaire BOAS adapted. We note that most participants of the event: are women, is literate, using some kind of medicine having difficulty associate it with illness; participate in tours/travel; stated as the main problem related to day-to-day violence. Moreover, the religion has great influence on daily life, the disease was the most reported SH, radio and television are sources of information. The study indicates that participation in groups positively influence the quality of life of the elderly.

          Keywords: Aged. Health. Physical activity

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

1 / 1

1.     Introdução

    A velocidade com que o processo de transição demográfica vem ocorrendo em nosso país traz conseqüências para a sociedade – dificuldade de o Estado lidar com esse novo perfil epidemiológico - e para as pessoas que compõem esse segmento etário em ascensão: os idosos. Observa-se a substituição, entre as primeiras causas de morte, de doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e por causas externas, além do deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade dos segmentos mais jovens para os mais envelhecidos.

    Nesse processo passou a ser necessário ver o envelhecimento do ponto de vista biológico aliado à importância dos problemas ambientais, psicológicos, sociais, culturais, e econômicos que pesam sobre a população idosa.

    Do ponto de vista biológico, segundo Mauricio et al.1, o envelhecimento é descrito como um estágio de degeneração do organismo, que se iniciaria após o período reprodutivo. Essa deterioração, que estaria associada à passagem do tempo, implicaria uma diminuição da capacidade do organismo para sobreviver. Entretanto, o problema começa quando se tenta marcar o início desse processo, ou medir o grau desse envelhecimento/degeneração. Por mais incrível que possa parecer, o critério mais comumente utilizado para a definição do envelhecimento – o cronológico (a idade) – é apontado como falho e arbitrário. Isso porque o envelhecimento seria vivenciado de forma heterogênea pela população. Pessoas da mesma idade cronológica poderiam estar em estágios completamente distintos de envelhecimento. Além disso, o próprio organismo de um indivíduo 'envelheceria' de maneira diferente entre os seus tecidos, ossos, órgãos, nervos e células.

    Corroborando Mauricio et al.1, Coutinho e Acosta2 ressaltam que Para estudarmos o envelhecimento humano devemos considerar que o processo não é igual para todos os seres humanos, não basta atingir certa idade cronológica para se tornar velho. Existem vários fatores que compõem o desenvolvimento humano que devem ser considerados antes para se estudar o assunto.

    Com o envelhecimento, podem surgir inúmeras causas de fragilidade ou risco para os indivíduos, das quais se destacam a presença de múltiplas patologias, algumas vezes situação econômica precária, ingestão de muitos medicamentos, perdas de autonomia e independência e dificuldade de adaptação do idoso às exigências do mundo moderno que em conjunto levam o velho ao isolamento social. Este isolamento também é reflexo de um aspecto cultural de supervalorização da juventude na nossa sociedade como forma de produção, deixando as pessoas mais velhas em segundo plano. Infelizmente, outro meio de exclusão parte do próprio idoso quando se recusa a aceitar o seu próprio envelhecimento e as mudanças de valores que ocorrem na sociedade, querendo impor suas idéias e pensamento aos outros.

    Both3 fala que são necessários esforços culturais e sociais com a intenção de sair dos antigos discursos sobre a velhice, em que os velhos eram vistos como “coitadinhos”, como merecedores de caridade, para um discurso de vigor humano capaz de fazê-los cidadãos iguais aos demais, com direitos e deveres, capazes de exercerem sua cidadania. Assim, para que se possa renovar as condições sociais dos idosos e as interpretações sobre o processo de envelhecer os velhos devem ser ouvidos. Haja vista que as teorias sobre o envelhecimento podem, devido às suas peculiaridades e diferenciações não corresponder em alguns pontos à pratica social.

    Assim, podemos dizer que existem perfis diferenciados de envelhecimento: a) processo de perdas e abandonos do físico ao intelectual; b) processo de libertação da responsabilidade com filhos e emprego – este marcado pela aposentadoria. Todavia, com a tendência de diminuir suas relações sociais, precisam criar alternativas.

    Acredita-se que a prática de exercícios em grupo facilita a manutenção da autonomia e independência de idosos, pelo compromisso com os demais membros do grupo, apoio social, investimento em novas relações pessoais e diversão.

    A idéia de realizar a pesquisa dentro do cenário do envelhecimento humano surgiu a partir da constatação da necessidade de verificar a saúde dos idosos que participam dos grupos de atividade física para terceira idade em Santa Maria vinculados ao NIEATI (Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade) que em 1984 entrou na luta pela valorização dos idosos.

    Durante estes vários anos de atendimento à comunidade da cidade e da região, já atuaram no projeto do NIEATI/UFSM aproximadamente 700 alunos de graduação. Hoje contando com a participação de docentes, pós-graduandos e acadêmicos do Curso de Educação Física e demais cursos da UFSM, de forma conjunta procuram atingir satisfatoriamente os objetivos propostos a cada ano letivo que se inicia. O atendimento com relação à população idosa é de, em média, mais de 2000 idosos. Incluindo o ensino, a pesquisa e a extensão, os projetos abrangem idosos de Santa Maria e região, assim como a formação de monitores para a atuação com a terceira idade nas áreas da saúde e educação.

    Devido ao sucesso do trabalho e o aumento da procura pelos grupos vinculados ao NIEATI surgiu a idéia de realizar um evento chamado Acampavida - evento este que serviu de fonte de dados à nossa pesquisa. Assim este estudo tem o objetivo de identificar um perfil de saúde dos idosos praticantes de atividades físicas da cidade de Santa Maria – RS.

2.     Materiais e métodos

    Trata-se de um estudo descrito e a investigação seguirá os métodos quantitativo e qualitativo de análise dos dados, visto que, segundo Goldmann4, nenhuma das duas abordagens é boa no sentido de ser suficiente, de forma isolada, para a compreensão completa da realidade.

    Foram realizadas 62 entrevistas com idosos, 11 homens e 51 mulheres, utilizando o questionário BOAS (BRAZIL OLD AGE SCHEDULE) adaptado em Veras5, selecionados aleatoriamente no 9º Acampavida, que reuniu 1008 idosos de Santa Maria e região, que participaram de diversas oficinas e atividades. Proporcionadas por várias áreas de conhecimento Odontologia, Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Enfermagem, Agronomia, Artes Cênicas, Psicologia, Nutrição e a anfitriã Educação Física. E também, a presença de diferentes instituições, a Unifra no trabalho com a Nutrição, a Fascla com a enfermagem, e a Ulbra com a Psicologia. Essas ações permitiram aos idosos experimentar várias manifestações do movimento humano, do lúdico, da cultura e principalmente de relacionamento com os demais, de 15 a 17 de novembro de 2007.

3.     Resultados e discussão

    O perfil dos idosos selecionados que participam de grupos de atividades físicas para a terceira idade (GAFTI) compreende: idade mínima de 55 anos e a máxima 90, sendo que há uma maior concentração entre 61 e 70 anos. 95,16% dos participantes sabem ler e escrever; a maioria são viúvos(46,8%), seguidos pelos casados (30,6%, incluindo todos os homens participantes das entrevistas). 95% são religiosos e as atividades desempenhadas nesses grupos seguiram tal ordem de importância: ginástica e hidroginástica somando 43% das atividades citadas, seguidas de caminhadas (16%) e dança (12%).

    Debert6 afirma que em quase todos os grupos de convivência de idosos as mulheres são a imensa maioria. Acosta7 corroborou tais achados em uma pesquisa sobre como as pessoas envelhecem na cidade de Santa Maria. Constatou a existência de mais de 65 grupos de idosos, em centros urbanos e rurais, os coordenadores destes grupos apresentam idades entre 55 e 72 anos, 55% estudaram apenas as séries iniciais, sendo que 90% deles se declaram católicos, 20% são coordenadores dos grupos a mais de 6 anos e 95% dos participantes são mulheres. Com relação aos espaços, os grupos dispõem de lugares adequados, amplos e iluminados e com acesso fácil, ocorrendo quase que totalmente em salões de igrejas. Os conteúdos trabalhados são predominantemente a ginástica, em suas diversas formas, além de atividades recreativas e dança em menor proporção.

    Coutinho e Acosta2 entendem que idosos se reúnem em grupo com a finalidade de diversão, lazer, para ver amigos e conversar. Porém existem diferenças de gênero ocasionando uma divisão dos espaços da terceira idade em masculinos e femininos, pois as mulheres têm mais consciência da necessidade de realizar atividades físicas para terem uma melhor qualidade de vida. De outro modo, o homem que passou praticamente a vida toda fora de casa trabalhando, com o advento da aposentadoria prefere passar mais tempo em casa, saindo para ver os amigos ou se distrair. Assim, os espaços separados por gênero ratificam a percepção construída histórica e socialmente dos papéis adequados aos homens e às mulheres.

    Porém, essa divisão de espaços e atividades em masculinas e femininas não pôde ser estabelecida em nossa pesquisa possivelmente pelo viés de que a participação dos homens nos GAFTI ainda é diretamente influenciada pelas suas esposas, as quais insistem na participação conjunta durante as atividades até como forma de aproximação do casal.

    Freitas et al.8 ressalta que há evidências demonstrando o efeito benéfico de um estilo de vida ativo, na manutenção da capacidade funcional e da autonomia física durante o processo de envelhecimento, minimizando a degeneração provocada pelo envelhecimento e, assim, propiciar uma melhoria geral na saúde e qualidade de vida.

    Já Gáspari & Schwartz9, constataram que indivíduos idosos procuram atividades de lazer para diversão, ampliação do rol de amizades, conhecimento de lugares novos, convivência e troca de experiências de vida com outras pessoas.

    Além disso, Rosa et al.10 refere que a prática de atividade física, especialmente para idosos, quando bem orientada e realizada regularmente, pode trazer vários benefícios, tais como o aumento da força muscular, a melhora do condicionamento cardiorrespiratório, a redução de gordura, o aumento da densidade óssea, a melhora do humor e da auto-estima e a redução da ansiedade e da depressão.

    Acosta7 afirma que os antigos estereótipos sobre o envelhecimento estão em crise, “ficar em casa cuidando dos netos”, “fazer tricô”, etc., já não são mais aceitos facilmente pelos idosos, ocorrendo nesta fase de troca de identidades, uma busca de novos portos seguros para ancorar suas ansiedades.

    Diante desta nova concepção de envelhecimento notamos que em relação às AVDs 84% escutam rádio, 77% assistem televisão, 63% lêem revistas e livos, a maioria (83%) prefere sair para visitar os amigos/parentes a ficar em casa, 82% adoram andar pelo bairro para conversar com vizinhos, 92% fazem compras sozinhos. 95% estão satisfeitos com o seu desempenho nos cuidados com a casa, 70% são aposentados, mas 20% ainda tiram parte do sustento do lar de seu próprio trabalho e 9% ajudam financeiramente parentes e amigos.

    Freitas et al.8 elenca alguns motivos que levam os idosos a praticar atividades físicas: melhorar a saúde; melhorar o desempenho físico; adotar estilo de vida saudável; reduzir o estresse; acatar prescrição médica; auxiliar na recuperação de lesões; melhorar a auto-imagem; melhorar a auto-estima e relaxar.

    Cerri e Simões11 identificaram como um fator que motivou os idosos a buscar essa atividade física o fato de idosos serem carentes de contato social e demonstraram ainda a necessidade de se oferecerem programas que propiciem essas relações interpessoais, a fim de diminuir a depressão e solidão tão presentes nessa fase da vida e que tanto comprometem a saúde geral do ser que envelhece.

    Os resultados demonstram os benefícios da atividade física em relação à sensação de bem-estar e a manutenção da capacidade funcional quando o idoso está engajado com GAFTI, além de que a manutenção do controle das AVDs leva a diminuição nos níveis de ansiedade e depressão, influenciando nessa sensação de bem-estar.

    Debert6 entende que a atividade física para o idoso representa uma forma de negar o envelhecimento, pois para os velhos manter a capacidade de autonomia e independência é essencial para os sentimentos positivos em relação à auto-estima. Siqueira12 acredita que as pessoas na velhice devem manter os mesmos níveis de atividade dos estágios anteriores da vida adulta, substituindo papéis sociais perdidos com o processo de envelhecimento por novos papéis, de modo que o bem-estar na velhice seria resultado do incremento dessas atividades. Deve-se, portanto, ser destacado o grande número de participações em excursões (85%) e encontros comunitários (72%) dentre os entrevistados.

    Leite et al 13 aponta que os idosos que freqüentam grupos de convivência com outras pessoas redescobrem-se, trocam, vivem, sonham e ajudam-se. O que contribui para a socialização, manter e adaptar por mais tempo possível a independência física, mental e social, e ainda, reconstruir padrões de vida e atividades.

    Acredita-se, diante disso, que a participação do idoso em programas de exercício físico influencia no processo de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade de vida, melhorando as funções orgânicas, gerando maior independência e autonomia pessoal e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças, já que apenas 12% dos entrevistados que cursam com alguma patologia afirmam que essa interfere em alguma AVD.

    As principais angústias relatadas são medo da violência e preocupação com filhos e netos cada uma contando com 21%, seguidas de conflitos familiares (16%), ficando em terceiro lugar (11%) os problemas de saúde, principalmente por se tratarem de condições não atuais, as quais os idosos já se adaptaram.

    Conforme Alves et al.14 a tendência atual é termos um número crescente de indivíduos idosos que, apesar de viverem mais, apresentam maiores condições crônicas. E o aumento no número de doenças crônicas está diretamente relacionado com maior incapacidade funcional.

    Os principais problemas de saúde relatados foram: HAS - o mais citado (35), artrose (12), pós-AVC (8), colesterolemia (6) e hipotireoidismo, DM tipo II e reumatismo foram citados cinco vezes cada; não se conseguindo discernir quais patologias afetam mais os homens ou mais as mulheres.

    Sobre a relação de gênero no envelhecimento Parahyba15 ao analisar as diferenças nas condições de saúde de homens e de mulheres idosos no Brasil, a expectativa de vida das mulheres idosas é sempre mais elevada do que a dos homens. Já as taxas de prevalência de incapacidade funcional são bem mais elevadas entre as mulheres, o que evidencia que, apesar de viverem mais, suportam uma maior carga de problemas de saúde.

    Spirduso16 explica que as mulheres sofrem mais com doenças agudas e condições crônicas não fatais. Enquanto os homens sofrem mais com enfizemas, doenças cardíacas e cerebrovasculares, as mulheres mais idosas sofrem mais de estresses emocionais, têm maiores incidências de deficiências e são mais dependentes.

    WHO17 salienta que não se deve separar “doença masculina” de “feminina” como vem sendo ressaltado principalmente no que diz respeito às doenças cardiovasculares, as quais eram tidas antigamente como doença dos homens e que hoje merece atenção em ambos os sexos devido aos mesmos fatores de risco que os atingem: fumo; sedentarismo; dieta inadequada – incluindo abuso do sal e pouca ingesta de frutas e verduras.

    Alves et al.14 em um estudo das patologias que afetam os idosos apontou a hipertensão arterial como mais freqüente (53,4%), seguida por artropatia (33,8%), doença cardíaca (20,6%), diabetes mellitus (17,5%) doença pulmonar (12,5%) e câncer (3,6%). Os idosos dependentes nas AIVDs e AVDs apresentavam maior prevalência de doença pulmonar (10%), seguida da doença cardíaca (8,5%) e artropatia (7,5%).

    Em estudo semelhante Saueressig et al.18 encontrou no relato das doenças dos idosos, a hipertensão arterial sistêmica foi mais freqüente nos pacientes que nunca fumaram, os fumantes apresentaram mais doença isquêmica e cérebro-vascular. Ainda o mesmo autor refere que outro fator de risco associado aos idosos é o tabaco. Evidências científicas têm conclusivamente demonstrado que fumantes são mais propensos a diferentes tipos de neoplasias, particularmente os cânceres de pulmão. O tabaco, em todas as suas formas, também aumenta o risco de mortes prematuras e limitações físicas por doença coronariana, hipertensão arterial, acidente vascular encefálico, bronquite e enfisema.

    Apenas um dos entrevistados (uma mulher) era fumante, porém resistente ao falar sobre o assunto, por vergonha e certa repressão dos outros participantes do evento. Figueiredo et al.19 ao estudarem a influência do gênero na qualidade de vida dos idosos destacaram a baixa auto-estima vivenciada pelos homens ao envelhecerem, evidenciaram à autonomia e a liberdade conquistada pelas mulheres idosas, e o aprendizado ocorrido entre as mulheres idosas que se inseriram em programas de terceira idade.

    Quase a totalidade dos idosos entrevistados (82,25%) fazem uso de algum tipo de medicamento – principalmente anti-hipertensivos (37%) - e nem todos conseguem correlacionar patologia de base e remédio. As dificuldades referidas pelos idosos frente aos fármacos vão desde a diferença das embalagens, de acordo com o laboratório que os produzem à similaridade das drágeas/comprimidos mesmo sendo de diferentes composições (96% têm diminuição da acuidade visual). Tudo isto associado com a perda da destreza e diminuição da motricidade fina (41%) que desmotivam depois de certo número de tentativas a abertura das cartelas que contém as medicações. Os idosos que não sabem reconhecer as formas nem os nomes dos medicamentos (13,5%) são auxiliados por terceiros para que a prescrição seja seguida.

    Almeida et al.20 em uma pesquisa que investigou o padrão de uso de medicamentos, polifarmácia e uso impróprio de medicações entre indivíduos com 60 anos ou mais atendidos no serviço ambulatorial de saúde mental da Santa Casa de São Paulo, apontam um número médio de medicações consumidas por paciente de 2,46 - 41,3% dos entrevistados utilizavam três ou mais medicamentos e 10,9% utilizavam cinco ou mais medicações por dia. Antidepressivos (42,4%), drogas anti-hipertensivas (32,6%) e benzodiazepínicos (21,2%) eram as medicações mais freqüentemente utilizadas.

    Cintra et al.21 abordam essa problemática nos idosos, indicando vários fatores relacionados à não utilização adequada de medicamentos: o consumo elevado e uso prolongado; efeitos colaterais; desaparecimento dos sintomas; desconhecimento sobre os medicamentos; alto custo das medicações; falta de motivação; analfabetismo ; e, distúrbios de memória. Já Almeida et al.20 descrevem outros fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de polifarmácia ou uso de medicações inadequadas: fácil acesso a medicações, baixa freqüência de uso de recursos não farmacológicos para o manejo de problemas médicos, e características do paciente e do médico.

    Romano-Lieber et al.22 verificaram outras situações que contribuem para diminuir o conhecimento do paciente idoso quanto ao seu tratamento medicamentoso. Isso inclui, entre outras causas, a falta de aconselhamento individualizado, a falta de informação escrita personalizada e reforço das instruções orais, inabilidade para recordar as informações previamente apresentadas e a falta de um ajudante ou auxiliar na hora de tomar a medicação.

    O fato de os idosos identificarem os medicamentos pelas características físicas – embalagens, formatos, cores – faz com que uma simples troca de laboratório cause desconfiança em alguns, pois acarreta a troca na maneira de identificá-lo, facilitando, principalmente quando um idoso tem polifarmácia, a troca de um fármaco por outro. Isso invariavelmente, aumenta o risco de agravos à saúde e até descompensação de doença de base, principalmente se associado às dificuldades de se abrir os medicamentos ou de depender da ajuda de cuidadores para tal.

    Flores e Benvegnú23, Nóbrega e Karnikowski24 ressaltam, assim, que com o aumento da população idosa são necessárias mudanças no modelo de atenção à saúde no país, principalmente em relação à assistência farmacêutica prestada à população idosa.

4.     Conclusões

    Devido ao alto grau de heterogeneidade entre os idosos e acreditando que existem associações entre condições de saúde dos idosos com os fatores ambientais, demográficos e sócio-econômicos. O estudo desses fatores regionais é capaz de fornecer informações relevantes para o desenvolvimento de programas que visam à promoção de um envelhecimento ativo e saudável.

    Foi constatado que a maioria dos idosos participantes do evento são mulheres, a maior parte deles é alfabetizada e aspectos religiosos têm grande influência no seu cotidiano. Quanto às patologias encontradas a hipertensão arterial sistêmica foi a mais relatada, seguida da artrose, a maioria dos indivíduos utiliza algum tipo de medicamento e tem dificuldade em associar o fármaco à sua enfermidade.

    Os idosos de forma geral indicam um alto grau de satisfação com a vida, se mantêm informados escutando rádio e assistindo televisão, apresentam grande envolvimento social em grupos de convivência, participam de excursões e viagens, manifestam contentamento com relação a capacidade de cuidar da casa e de suas coisas. Declaram como problemas relacionados ao dia-a-dia medo da violência, preocupação com filhos e netos, problemas de saúde e problemas econômicos.

    Assim, nosso estudo confirma a idéia de que a participação ativa dos idosos nos grupos vinculados ao NIEATI/UFSM, influencia diretamente de modo positivo na qualidade dos mais velhos, levando a uma forma primária de inclusão social, pois muitos dos participantes são mulheres que não tiveram ao longo da sua vida uma profissão fora do ambiente doméstico onde estavam restritas ao convívio familiar.

Referências bibliográficas

  1. MAURICIO, H.A., SOUZA, A.L. MELO, M.C. LEANDRO, E.L. SILVA, I.D. OLIVEIRA, J.M.O. A educação em saúde como agente promotor de qualidade de vida para o idoso. Revista Ciência & Saúde Coletiva [periódico na internet] 2008 julho. [Citado 17 de julho de 2008]; Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

  2. COUTINHO, R. X. ACOSTA, M. A. F. Ambientes masculinos da terceira idade. Revista Ciência & Saúde Coletiva [periódico na internet] 2008 julho. [Citado 17 de julho de 2008]; Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

  3. BOTH, A. Identidade existencial na velhice: mediações do Estado e da universidade. Editora UPF: Passo Fundo – RS, 2000.

  4. GOLDMANN L. Ciência Humana e Filosofia. São Paulo: Editora Papirus; 1980.

  5. VERAS, R. P. et al. População idosa no Rio de Janeiro (Brasil): estudo-piloto da confiabilidade e validação do segmento de saúde mental do questionário BOAS. Rev. Saúde Pública., S. Paulo, 24:156-63, 1990.

  6. DEBERT, G. G. A reinvenção da Velhice: Socialização e Processos de Reprivatização do Envelhecimento. Editora da Universidade de São Paulo: Fapesp, 1999.

  7. ACOSTA, M. A. F. Getting old in the city: a study on groups of physical activities for elderly people in Santa Maria/RS. The FIEP Bulletin, v. 77, p. 625-628, 2007.

  8. FREITAS, C.M.S.M. SANTIAGO, M.S. VIANA, A.T. LEÃO, A.C. FREYRE, C. Aspectos motivacionais que influenciam a adesão e manutenção de idosos a programas de exercícios físicos. Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2007;9(1):92-100.

  9. DE GASPARI, J. C.; SCHWARTZ, G. M. O idoso e a ressignificação emocional do lazer. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 21, n.1, p.69-76, jan-abr 2005.

  10. ROSA, M.F. MAZO, G.Z. SILVA, A.H. BRUST, C. Efeito do período de interrupção de atividades aquáticas na aptidão funcional de idosas. Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho Hum. 2008;10(3):237-242.

  11. CERRI, A.S. SIMÕES, R. Hidroginástica e Idosos: por que eles praticam? Movimento, Porto Alegre, v.13, n. 01, p.81-92, janeiro/abril de 2007.

  12. SIQUEIRA, M.E.C. Teorias Sociológicas do Envelhecimento. "Tratado de Geriatria e Gerontologia", FREITAS, E. V. et al (org.). Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2002.

  13. LEITE, M. T.; CAPPELLARI, V. T.; SONEGO, J. Mudou, mudou tudo na minha vida: experiências de idosos em grupos de convivência no município de Ijuí/RS. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v. 4, n. 1, p. 18 – 25, 2002.

  14. ALVES; L.C. LEIMANN, B.C.Q. VASCONCELOS, M.E.L. CARVALHO, M.S. VASCONCELOS, A.G.G. FONSECA, T.C.O. LEBRÃO, M.L. LAURENTI, R. Influência das doenças crônicas na capacidade funcional de idosos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(8):1924-1930, ago, 2007.

  15. PARAHYBA, M. I. Desigualdades de gênero em saúde entre os idosos no Brasil. Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG – Brasil, de 18 - 22 de Setembro de 2006.

  16. SPIRDUSO, W. W. Dimensões Físicas do Envelhecimento. Editora Manole: Barueri - SP, 2005.

  17. WHO. Envelhecimento ativo: uma política de saúde /World Health Organization; Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

  18. SAUERESSIG,S. HEKMAN,P. CONSONI, P. MENEZES, H.S. Prevalência de tabagismo em idosos atendidos pelo Programa de Saúde da Família em Camaquã – RS. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 51 (3): 173-179, jul.-set. 2007.

  19. FIGUEIREDO, M.L.F. TYRREL, M.A.R. CARVALHO, C.M.R.G. LUZ, M.H.B.A. AMORIM, F.C.M. LOIOLA, N.L.A. As diferenças de gênero na velhice. Rev. Bras. de Enfermagem, Brasília 2007 jul-ago; 60(4):422-7.

  20. ALMEIDA, O.P., RATTO, L. GARRIDO,R. Fatores preditores e conseqüências clínicas do uso de múltiplas medicações entre idosos atendidos em um serviço ambulatorial de saúde mental. Rev. Bras. Psiquiatr., July/Sept. 1999, vol.21, no.3, p.152-157.

  21. CINTRA, F.A, GUARIENTO, M.E., MIYAZAKI, L.A. Adesão medicamentosa em idosos em seguimento ambulatorial. Revista Ciência & Saúde Coletiva [periódico na internet] 2008 julho. [Citado 17 de julho de 2008]; Disponível em: http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

  22. ROMANO-LIEBER, N.S. TEIXEIRA, J.J.V. FARHAT, F.C.L.G. RIBEIRO, E. CROZATTI, M.T.L. OLIVEIRA, G.S.A. Revisão dos estudos de intervenção do farmacêutico no uso de medicamentos por pacientes idosos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(6):1499-1507, nov-dez, 2002.

  23. FLORES, V.B. BENVEGNÚ, L.A. Perfil de utilização de medicamentos em idosos da zona urbana de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(6):1439-1446, jun, 2008.

  24. NÓBREGA, O.T. KARNIKOWSKI, M.G.O. A terapia medicamentosa no idoso: cuidados na medicação. Ciência e Saúde Coletiva, 10 (2): 309 – 313, 2005.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 133 | Buenos Aires, Junio de 2009  
© 1997-2009 Derechos reservados