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Composição corporal e desempenho 

motor em crianças de baixa renda

 

*Mestranda em Cineantropometria e Desemepenho Humano

do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFSC

Técnica e professora de Educação Física

**Mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria

Professora e coordenadora do curso de Educação Física da

***Licenciada em Educação Física

Universidade do Oeste de Santa Catarina

UNOESC, campus de São Miguel do Oeste/ SC

Sandra Fachineto*

sandra@unoescsmo.edu.br

Andréa Jaqueline Prates Ribeiro**

andrea@unoescsmo.edu.br

Ana Paula Trentin***

anapaulatrentin@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi analisar a composição corporal e o desempenho motor de crianças de baixa renda na fase final de infância, pertencentes ao programa de ação social “Educação e vida” da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, campus de São Miguel do Oeste. Para tanto, a amostra foi composta por 104 crianças na faixa etária de 9 a 11 anos, sendo 51 meninos e 53 meninas, selecionadas de forma intencional. Foram efetuadas medidas antropométricas (massa corporal, estatura e dobras cutâneas tricipital e subscapular), avaliação da condição econômica e aplicado os testes motores de sentar e alcançar e abdominal. Considerando o fato das crianças analisadas pertencerem à classe econômica baixa, constatou-se que meninos e meninas se enquadram dentro dos níveis de adiposidade “adequada” para a idade, embora tenha sido observado um maior número de meninas com nível de gordura “baixo” e “alto” em comparação aos meninos. Por outro lado, os meninos apresentaram desempenho superior ao das meninas para o teste abdominal, sendo o fator nível de gordura um importante preditor para o baixo desempenho. Sendo assim, os resultados apontam que meninos e meninas apresentam escores baixo de desempenho em relação à flexibilidade e ao teste de resistência abdominal.

          Unitermos: Adiposidade corporal. Condição econômica. Desempenho motor

 

Abstract

          The purpose of this study was to analyze body composition and performance engine for children of low income in the final stage of childhood, belonging to the programme of social action "Education and Life" at the University of the West of Santa Catarina - UNOESC, campus of São Miguel do Oeste . Therefore, the sample was composed by 104 children in the age group of 9 to 11 years, with 51 boys and 53 girls, selected with intent. Anthropometric measurements were performed (body weight, height and triciptal and subscapular skinfold thickness), assessment of the economic condition and applied testing engines sit and reach and abdominal. Considering the fact of children analyzed belong to the lower economic class, it was found that boys and girls fall in the levels of adiposity "appropriate" for age, but has been observed a greater number of girls with fat level of "low" and "high" compared to boys Furthermore, the boys showed the superior performance of girls to the test abdominal, and the factor level of fat an important predictor for the low performance. Thus, the results show that boys and girls have lower performance scores on the test of flexibility and abdominal strength.

          Keywords: Body adiposity. Economical. Performance engine

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 133 - Junio de 2009

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Introdução

    A prática esportiva por crianças e adolescentes está diretamente relacionada ao desempenho motor. No entanto, vários são os fatores determinantes na aptidão motora, destacando-se a influência da adiposidade corporal (MALINA; BOUCHARD, 2002). Por sua vez, estudos envolvendo o fator condição econômica têm merecido destaque na literatura e não são totalmente consistentes quanto à influência desta variável no desempenho motor. (MALINA; BOUCHARD, 2002; JUNIOR SERASSUELO, 2005; LUCCA; GUERRA, 2006)

    Dessa forma, a análise da composição corporal é um importante indicativo do acúmulo de gordura proveniente de um desequilíbrio entre ingestão e gasto calórico bem como um meio de detecção de estado de desnutrição em crianças, estando relacionadas a aspectos ambientais, étnicos e sócio-culturais (GUEDES; GUEDES, 1997; DINIZ et al., 2006). A condição econômica, por sua vez, pode gerar uma grande influência no que diz respeito aos hábitos alimentares e à prática de atividade física. Isso traz conseqüências no que concerne à obesidade e desnutrição. Normalmente as pessoas de baixa renda não têm acesso à educação, e desta forma não tem informações necessárias para poder ter uma alimentação correta e hábitos de vida saudáveis, como a prática de atividade física regularmente (SERASSUELO JUNIOR et al., 2005).

    Outro fator que Silva e Malina (2003) apontam é o grande tempo destinado à assistência de televisão. A televisão é um eletrodoméstico acessível à maioria da população, e desta forma muito fácil de ser trocada por uma caminhada ou qualquer atividade física que seja, e não gera quase nenhum custo. Além de provocar sedentarismo, muitas vezes ocorre que enquanto as crianças assistem televisão, as mesmas fazem a ingestão de alimentos pobres no que se refere a nutrientes e muito ricos em açúcares e gorduras, podendo provocar a obesidade.

    A aquisição de bons níveis de aptidão motora ajuda no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes e implicam em uma vida adulta mais saudável. Os testes motores têm por objetivo avaliar uma multiplicidade de funções musculares e biomecânicas, observando a qualidade de execução dos movimentos exigidos, e ao final, como produto gera-se números que quantificam os dados obtidos, mas sempre observando que as diferenças encontradas no desempenho motor, tanto positivas quanto negativas, podem sofrer influência, como já destacado, dos níveis de adiposidade corporal e da condição econômica (MALINA; BOUCHARD, 2002).

    Nardo Junior e outros (2004) destacam a influência da adiposidade corporal sobre o desempenho no teste de abdominal e na capacidade cardiorrespiratória em adolescentes de ambos os sexos com idades entre 13 a 17 anos no município de Maringá/PR. Meninos e meninas com níveis de adiposidade moderadamente alto tiveram desempenho inferior aos classificados na categoria normal. Este fato pôde ainda ser confirmado pela análise da dieta destes adolescentes, que na sua maioria apresentaram ingestão excessiva de lipídios.

    Corroborando, Junior Serassuelo e outros (2005) mostraram que escolares de baixo nível socioeconômico apresentaram níveis de aptidão física abaixo das condições mínimas desejáveis, especialmente no que diz respeito ao desempenho neuromuscular e a resistência cardiorrespiratória. Por outro lado, Lucca e Guerra (2006) não observaram diferenças significativas no que concerne a influência da condição socioeconômica sobre o desempenho da velocidade em crianças de 9 e 10 anos.

    Diante disto, e partindo da premissa que são poucos ainda os estudos que representam especificamente os resultados do desempenho e da composição corporal em populações de baixa renda, o presente estudo objetivou analisar a composição corporal e o desempenho motor de crianças de baixa renda na fase final de infância (9 a 11 anos).

Procedimentos metodológicos

    O estudo realizado foi do tipo descritivo exploratório e envolveu 104 crianças na faixa etária de 9 a 11 anos, sendo 51 meninos e 53 meninas, participantes do programa de Filantropia Educação e Vida da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Este programa tem por objetivo amparar as crianças e adolescentes, economicamente carentes, em situação de risco pessoal e/ou social proporcionando oportunidades que os levem ao exercício da cidadania e conseqüentemente à realização pessoal.

    A tabela 01 mostra a distribuição do percentual da amostra utilizado por este estudo a partir do número total de crianças na faixa etária de 9 a 11 anos que participam do programa. Neste sentido, a amostra foi selecionada de forma intencional com participação voluntária.

Tabela 1. Distribuição da amostra em relação à população total de meninos e meninas com idade 

entre 9 e 11 anos que freqüentam o programa de filantropia da UNOESC – Educação e Vida.

 

N º de Alunos

Amostra

Porcentagem (%)

Masculino

72

51

70,80

Feminino

80

53

66,25

Total

152

104

68,42

Fonte: Programa de filantropia UNOESC – Educação e vida (2007)

    A tabela 02 apresenta a distribuição amostral por idade e sexo.

Tabela 2. Distribuição amostral das crianças por idade e sexo.

IDADE

Meninos

Meninas

n

%

n

%

09

22

43,14

17

32,07

10

20

39,21

23

43,40

11

9

17,65

13

24,53

Total

51

100

53

100

Fonte: os autores

Coleta de dados

    A coleta de dados foi efetuada no Laboratório de Fisiologia do Esforço – LAFE da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Todas as crianças participantes do projeto de filantropia Educação e Vida foram convidadas a participar das avaliações. Para exclusão de alguma criança usou-se como critério: não assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos pais ou responsável e recusa da criança em participar das avaliações. Neste sentido, as crianças foram submetidas à avaliação antropométrica, de desempenho motor e da condição econômica.

a.     Avaliação antropométrica

    Compreenderam medidas de massa corporal, estatura e dobras cutâneas tricipital e subescapular. Os instrumentos utilizados foram: uma balança digital da marca Plenna® com precisão de 0,05 Kg, um estadiômetro da marca Seca® com precisão de 0,5 cm e um compasso de dobras cutâneas científico Cescorf®. Posteriormente, foram estimados o percentual de gordura (%G) e a massa corporal magra (MCM) através do Sistema de Avaliação e Prescrição da Atividade Física – SAPAF jovem, versão 1.0 (GUEDES, 1999). A classificação do percentual de gordura foi feita de acordo com os parâmetros propostos por Lohman (1986), sendo: excessivamente baixo (0 – 6, masculino; 0 – 12, feminino); baixo (6,01 - 10, masculino; 12,01 – 15, feminino); adequado (10,01 – 20, masculino; 15,01 – 25, feminino); moderadamente adequado (20,01 – 25, masculino; 25,01 – 30, feminino); alto (25,01 - 31, masculino; 30,01 – 36, feminino); excessivamente alto (31,01 – 99,99, masculino; 36,01 – 99,99, feminino).

    Para efeitos de análise, as crianças foram agrupadas em três níveis de adiposidade: baixo (incluindo os níveis “excessivamente baixo” e “baixo”); normal (incluindo o nível “adequado”) e; alto (incluindo os níveis “moderadamente adequado”, “alto” e “excessivamente alto”).

b.     Avaliação do desempenho motor

Teste de sentar e alcançar

    Para o teste de flexibilidade foi utilizado o banco de Wells e Dilon. O protocolo descrito seguiu o proposto por Guedes e Guedes (1997). A criança deveria estar descalça e sentada de frente para o aparelho, com as pernas embaixo da caixa, joelhos completamente estendidos e pés encostados à caixa. Os braços deveriam estar estendidos sobre a superfície da caixa, com as mãos colocadas uma sobre a outra e com a ponto dos dedos ambas coincidindo. Dessa forma, a criança com as palmas das mãos voltadas para baixo e em contato com a caixa, curvava-se a frente, procurando alcançar a maior distância possível, realizando o movimento de modo lento e sem solavancos. O resultado final equivaleu à maior distância alcançada em centímetros de uma série de três tentativas realizadas consecutivamente pela criança.

Teste abdominal

    O protocolo descrito seguiu o proposto por Guedes e Guedes (1997). Para o teste a criança deveria deitar em decúbito dorsal sobre um colchonete. Os quadris e joelhos deveriam estar flexionados e as plantas dos pés voltadas para o solo; os braços cruzados sobre a face anterior do tórax. Os pés deveriam ser segurados pelo avaliador. Para a realização do teste a criança elevou o tronco até o nível em que ocorreu o contato com a face anterior dos antebraços com as coxas, retornando logo em seguida à posição inicial. Esses movimentos deveriam ser mantidos durante um espaço de tempo igual a 60 segundos, sendo permitido algum descanso entre uma repetição e outra.

c.     Avaliação da condição econômica

    A condição econômica foi avaliada utilizando-se o Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP (2003). Para efeito de análise foram consideradas crianças de baixa renda todas aquelas que se enquadraram nas categorias D e E.

Análise estatística

    Para a análise estatística utilizou-se o pacote estatístico computacional SPSS® versão 13.0. A estatística descritiva (média e desvio-padrão) foi usada para caracterizar a amostra. O teste t para amostras independentes foi utilizado para verificar possíveis diferenças entre os valores médios das variáveis antropométricas e de desempenho motor para os sexos. A análise de variância One-Way e o teste de comparações múltiplas de Tukey foram utilizados para comparar as médias das categorias de percentual de gordura e entre as idades. As correlações entre o percentual de gordura e os testes motores foram testadas pelo coeficiente de Pearson. O nível de significância adotado foi de p≤0,05.

Resultados

    A tabela 3 apresenta a comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre os sexos para crianças na faixa etária de 9 a 11 anos. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05) para as variáveis idade, massa corporal estatura, massa corporal magra e no teste de sentar e alcançar. Por outro lado, para as variáveis percentual de gordura e teste abdominal, observou-se diferenças significativas (p≤ 0,05) entre os sexos, evidenciando que meninos apresentaram menor percentual de gordura e um melhor desempenho no teste abdominal do que as meninas (14,04 ± 5,35 %; 20,14±6,86 repetições para os meninos; 17,82 ± 6,40 %; 17,43±6,47 repetições para as meninas, respectivamente).

    De forma geral, os valores médios de percentual de gordura demonstram que tanto para meninas quanto para meninos, ambos os grupos encontram-se dentro dos níveis adequados de adiposidade corporal, de acordo com Lohman (1986).

Tabela 3. Comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre os sexos

Variáveis

Masculino

Feminino

p

MÉDIA

DP

MÉDIA

DP

Idade

9,74

± 0,74

9,92

±0 ,76

,225

Massa corporal (Kg)

33,21

± 6,68

33,62

± 7,99

,780

Estatura (cm)

138,58

± 7,18

140,05

± 8,59

,349

Percentual gordura (%)

14,04

± 5,35

17,82

± 6,40

,002*

Massa corporal magra (Kg)

28,79

± 5,06

27,72

± 5,21

,292

Sentar e alcançar (cm)

17,75

± 5,25

17,07

± 5,69

,525

Abdominal (repetições)

20,14

± 6,86

17,43

± 6,47

,041*

*p≤0,05

    A tabela 4 denota a comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre os níveis de gordura para o sexo masculino. A análise de freqüência evidenciou que a maioria do grupo (38 meninos) apresentam níveis de adiposidade corporal “adequado”, de acordo com Lohman (1986). No entanto, também foram observados nove casos de níveis de adiposidade “baixo” e quatro “alto”.

    A análise de variância apontou diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) para todas as variáveis antropométricas entre os níveis de adiposidade corporal, sendo que os valores médios do nível de gordura “alto” diferiu estatisticamente dos níveis “adequado” e “baixo” para as variáveis massa corporal (46,72±7,20 Kg; 32,96±5,26 Kg; 28,28±3,56 Kg, respectivamente), estatura (147,50±4,60 cm; 138,15±7,16 cm; 136,44±5,58 cm, respectivamente) e massa corporal magra (40,95±4,41 Kg; 28,20±3,51 Kg; 25,88±3,28 Kg, respectivamente). Já para a variável percentual de gordura, todas as categorias apresentaram diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05).

    Dessa forma, os resultados denotam que, em relação a composição corporal, o total de meninos (quatro) com nível de adiposidade corporal “alto” tendem a apresentar valores médios mais elevados em comparação as outras categorias.

    Para o teste abdominal e de sentar e alcançar o nível de gordura corporal não influenciou no desempenho. No entanto, é importante destacar que tomando por base os valores médios de desempenho dos meninos deste estudo com os resultados encontrados no estudo de Guedes e Guedes (1998), é possível observar que o desempenho nos testes motores dos meninos deste estudo é muito inferior aos valores médios das crianças e adolescentes do município de Londrina/PR (médias de 25,26 cm para a flexibilidade e de 31,71 repetições para o teste de abdominal).

Tabela 4: Comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as categorias de percentual de gordura para o sexo masculino

Variáveis

Baixo (n=9)

Adequado (n=38)

Alto (n=4)

p

Média

DP

Média

DP

Média

DP

Peso corporal (Kg)

28,28a

±3,56

32,96a

±5,26

46,72b

±7,20

,000*

Estatura (cm)

136,44a

±5,58

138,15a

±7,16

147,50b

±4,60

,025*

Percentual gordura (%)

8,48a

±1,16

13,93b

±3,00

27,64c

±4,77

,000*

Massa corporal magra (Kg)

25,88a

±3,28

28,20a

±3,51

40,95b

±4,41

,000*

Sentar e alcançar (cm)

18,55

±6,12

17,35

±5,08

19,75

±5,57

,612

Abdominal (repetições)

21,00

±8,63

20,31

±6,05

16,50

±10,63

,533

*p≤0,05. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey.

    A tabela 5 compara as variáveis antropométricas e de desempenho motor para o sexo feminino. Chama-se a atenção para o fato de que a análise de freqüência evidenciou que a maioria do grupo (24 meninas) apresentam níveis de adiposidade corporal “adequado”, de acordo com Lohman (1986). Por outro lado, grande parte do grupo (20 meninas) também apresentam níveis de adiposidade “baixo”, evidenciando casos de desnutrição. Também foi constatado nove casos de meninas com níveis de adiposidade “alto”.

    Para as variáveis massa corporal e percentual de gordura houveram diferenças significativas (p≤0,05) entre todos os níveis de gordura. Para a estatura, houve diferença estatisticamente significativa (p≤0,05) da categoria “baixa” para “adequada” e “alta” (134,98 ±7,94 cm; 142,86 ±7,82 cm; 143,80 ± 7,12 cm, respectivamente).

    Para a variável massa corporal magra foram observadas diferenças do nível de gordura “alto” para o “adequado” e “baixo” (35,11 ±6,04 Kg; 27,65± 3,53 Kg; 24,48 ±2,63 Kg, respectivamente).

    Da mesma forma que os meninos, os resultados evidenciam que meninas com nível de adiposidade corporal “alto” tendem a apresentar valores médios mais elevados em comparação as outras categorias.

    Em relação aos testes motores, não foram verificadas diferenças significativas (p≤0,05) para o teste de sentar e alcançar. No entanto, para o teste de abdominal, a análise de variância apontou diferenças significativas (p≤0,05) entre os níveis de adiposidade corporal “alto” e “baixo” (18,95 ±7,27 repetições; 13,33±6,85 repetições, respectivamente).

    Assim é possível constatar que as meninas pertencentes à categoria “baixo” conseguiram desempenhar um maior número de repetições no teste abdominal. Por outro lado, meninas com adiposidade corporal “alta” apresentaram valores médios inferiores para o mesmo teste.

    Comparando novamente os valores médios com os resultados encontrados no estudo de Guedes e Guedes (1998), podemos constatar que o desempenho nos testes motores das meninas deste estudo é muito inferior aos valores médios das crianças e adolescentes do município de Londrina/PR (médias de 26,77 cm para a flexibilidade e de 28,15 repetições para o teste de abdominal)

Tabela 5. Comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as categorias de percentual de gordura para o sexo feminino

Variáveis

Baixo (n=20)

Adequado (n=24)

Alto (n=9)

p

Média

DP

Média

DP

Média

DP

Massa corporal (Kg)

27,76a

±3,18

33,80b

±4,32

46,17c

±8,58

,000*

Estatura (cm)

134,98a

±7,94

142,86b

±7,82

143,80b

±7,12

,002*

Percentual gordura (%)

12,37a

±2,24

18,10b

±2,44

29,19c

±4,20

,000*

Massa corporal magra (Kg)

24,48a

±2,63

27,65a

±3,53

35,11b

±6,04

,000*

Sentar e alcançar (cm)

17,18

±5,87

17,49

±5,85

15,67

±5,25

,717

Abdominal (repetições)

18,95b

±7,27

17,71ab

±5,09

13,33a

±6,85

,041*

*p≤0,05. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey.

    Na tabela 6 são mostradas as comparações das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as idades para o sexo masculino. Para a variável estatura foram observadas diferenças estatisticamente significantes (p ≤0,05) entre as idades, sendo que crianças de 11 anos apresentaram valores médios superiores às de idades 9 e 10 anos (145,23±6,62 cm; 136,01±6,23; 138,42 ±6,76 cm respectivamente), resultados estes que coincidem com as curvas de Guedes e Guedes (1998).

    A massa corporal magra mostrou-se diferente (p<0,05) nas crianças de 9 anos para as de 11 anos (27,14±3,91 Kg; 32,27±6,72 Kg, respectivamente) evidenciando um crescimento linear ao longo da infância, conforme Guedes e Guedes (1998).

    No teste de sentar e alcançar, foi possível notar diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05) quando comparadas às idades de 10 e 11 anos (19,96±5,33 cm e 14,28±4,43 cm respectivamente), porém, as mesmas idades não apresentaram diferenças estatisticamente significativas se comparadas aos 9 anos (17,16±4,74 cm).

    Para o teste abdominal, podemos observar que houve diferença estatisticamente significativa (p≤0,05) quando foram comparadas as idades de 9 e 10 anos (17,50±6,77 e 23,40±5,19 repetições, respectivamente) e de 9 e 11 anos (17,50±6,77 e 19,33 ±7,95 repetições, respectivamente), contudo, não houveram diferenças estatisticamente significativas quando comparadas as idades de 10 e 11 anos (23,40±5,19 e 19,33 ±7,95 repetições, respectivamente).

    No que se refere ainda as comparações entre a faixa etária, o presente estudo mostrou que os meninos apresentam uma baixa aptidão motora para flexibilidade e força quando se compara ao estudo de Guedes e Guedes (1998).

Tabela 6. Comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as idades para o sexo masculino

Variáveis

9 anos (n=22)

10 anos (n=20)

11 anos (n=9)

p

Média

DP

Média

DP

Média

DP

Peso corporal (Kg)

31,87

±6,38

33,25

±5,81

36,42

±8,69

,231

Estatura (cm)

136,01a

±6,23

138,42a

±6,76

145,23b

±6,62

,003*

Percentual gordura (%)

13,94

±3,62

13,70

±5,19

15,05

±8,87

,820

Massa corporal magra (Kg)

27,14a

±3,91

28,99ab

±4,73

32,37b

±6,72

,029*

Sentar e alcançar (cm)

17,16ab

±4,74

19,96b

±5,33

14,28a

±4,34

,017*

Abdominal (repetições)

17,50a

±6,77

23,40b

±5,19

19,33b

±7,95

,016*

*p≤0,05. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey.

    A tabela 7 demonstra a comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as idades para o sexo feminino. Não foi possível observar diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) para as variáveis massa corporal, percentual de gordura, teste de sentar e alcançar e abdominal.

    Para a variável estatura notou-se diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05) sendo que crianças de 11 anos apresentaram valores médios superiores quando comparados aos valores médios das idades de 9 e 10 anos (147,21±6,15 cm; 134,94±8,95 cm; 139,78±6,72 cm, respectivamente).

    Para massa corporal magra, as diferenças foram percebidas quando comparados os valores médios das crianças de 9 e 11 anos (25,70 ±4,08 Kg e 30,43±6,27 Kg respectivamente), não havendo diferenças estatisticamente significativas para as idades de 9 e 10 anos (25,70 ±4,08 Kg e 27,69±4,80 Kg respectivamente) e 10 e 11 entre si (25,70 ±4,08 Kg; 27,69±4,80 Kg respectivamente) .

    No que tange ainda as comparações entre a faixa etária, o presente estudo mostrou que da mesma forma que os meninos, meninas também apresentam uma baixa aptidão motora para flexibilidade e força quando se compara ao estudo de Guedes e Guedes (1998).

Tabela 7. Comparação das variáveis antropométricas e de desempenho motor entre as idades para o sexo feminino

Variáveis

9 anos (n=17)

10 anos (n=23)

11 anos (n=13)

p

Média

DP

Média

DP

Média

DP

Peso corporal (Kg)

31,28

±6,40

33,83

±9,40

36,31

±6,63

,232

Estatura (cm)

134,94a

±8,95

139,78a

±6,72

147,21b

±6,15

,000*

Percentual gordura (%)

18,08

±6,61

17,65

±7,48

17,79

±4,07

,978

Massa corporal magra (Kg)

25,70a

±4,08

27,69ab

±4,80

30,43b

±6,27

,045*

Sentar e alcançar (cm)

18,16

±5,98

16,41

±5,09

16,79

±6,54

,628

Abdominal (repetições)

16,29

±6,75

16,26

±6,34

21,00

±5,35

,071

*p≤0,05. Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey.

    As tabelas 8 e 9 mostram os valores da correlação de Pearson entre os testes motores e o percentual de gordura para o sexo masculino e feminino, respectivamente.

    Para os meninos (tabela 8), os resultados apontam que houve uma correlação significativa (p<0,05), porém negativa entre o desempenho no teste abdominal e o percentual de gordura, indicando que quanto menor o percentual de gordura maior é o desempenho na força abdominal destas crianças. Todavia, cabe salientar que a correlação entre estas variáveis é fraca, com r = - 0,300.

    Da mesma forma, situação idêntica é o observada nas meninas (tabela 9), sendo a correlação entre o teste de abdominal e o percentual de gordura considerado fraco, com r = - 0,305.

Tabela 8. Correlação entre o percentual de gordura e os testes motores para o sexo masculino

Variáveis

Percentual de gordura

r

s

Sentar e alcançar (cm)

- ,051

,724

Abdominal (repetições)

- ,300

,033*

*p≤0,05

 

Tabela 9. Correlação entre o percentual de gordura e os testes motores para o sexo feminino

Variáveis

Percentual de gordura

r

s

Sentar e alcançar (cm)

- ,159

,256

Abdominal (repetições)

-,305

,026*

*p≤0,05

Discussão

    Durante o crescimento e o desenvolvimento, as crianças sofrem influência de distintos fatores como a renda familiar, alimentação, nível educacional dos pais, condições de moradia entre outros, relacionados ao nível socioeconômico e que podem trazer importantes alterações no processo de crescimento (MALINA; BOUCHARD, 2002; OLIVEIRA, 2006). Essas alterações no processo de crescimento geram, conseqüentemente, transtornos na composição corporal e podem afetar o desempenho motor.

    Os resultados deste estudo deixam claro que meninos apresentam um desempenho maior no teste de abdominal e também um percentual de gordura menor. Já para a variável flexibilidade não houve diferenças, concordando com os achados encontrados por Guimarães e Guerra (2006) que observaram não haver diferenças estatisticamente significativas entre meninos e meninas com idades entre 09 e 10 anos na cidade de Ipatinga/MG. Contudo, Serassuelo Junior e outros (2005) mostraram haver diferenças entre a flexibilidade, evidenciando que meninas entre 11 e 12 anos apresentam maior mobilidade articular que seus pares. Oliveira (2006) discorre que não é conclusivo que as meninas sejam mais flexíveis que os meninos. Esse fato pode ser devido a influência de fatores como a altura total, comprimento de membros superiores e inferiores, aspectos maturacionais entre outros (ALTER,1999; DANTAS, 1999; WEINECK, 2003).

    No entanto, quando se comparam os níveis de percentual de gordura e as variáveis antropométricas e de desempenho motor para cada sexo, podemos perceber que tanto meninos quanto meninas apresentaram valores médios de desempenho no teste abdominal maiores no nível de adiposidade “baixo”. Da mesma forma, ambos os sexos apresentaram desempenho pior no nível de adiposidade “alto”. Isto corrobora com o estudo de Ferreira e Bohme (1998) que evidenciaram uma relação inversa entre adiposidade corporal e o desempenho nos testes motores de flexão e extensão de braços em suspensão e no salto em distância parado, isto é, à medida que aumentam os valores de adiposidade, diminuem os valores de desempenho em ambas as tarefas motoras. Ainda, Daronco, Etchepare e Rech (2005) avaliando o índice de massa corporal e o desempenho motor de meninos com idades entre 12 à 14 anos apontaram que os meninos considerados com sobrepeso obtiveram escores inferiores na bateria de testes da AAHPERD.

    Corroborando, este estudo também evidenciou uma relação contrária, quanto menor o percentual de gordura maior é o desempenho na força abdominal de meninos e meninas, embora a correlação tenha sido fraca fica claro que um maior percentual de gordura interfere no desempenho.

    Comparando as idades, também foi observado que a média de percentual de gordura é maior para as meninas. Da mesma forma, estudo de Ferreira e Bohme (1998) encontraram uma média significativamente maior para o percentual de gordura para meninas escolares de baixa renda entre 11 e 12 anos do município de São Paulo/SP.

    Similar aos dados encontrados por Guedes e Barbanti (1995), para todas as idades, com exceção da idade de 11 anos, os meninos apresentaram valores médios superiores aos das meninas para o número de repetições no teste abdominal. Entre as moças, Guedes e Barbanti (1995) mostraram que resultados mais elevados ocorreram por volta dos 10-11 anos, indo de encontro ao observado por este estudo. Em um estudo atual e específico sobre aptidão física e baixo nível socioeconômico de escolares, Serassuelo Junior e outros (2005) também observam desempenho melhor nos testes de força e aptidão aeróbia para meninos.

    Comparando o desempenho motor do teste de flexibilidade e do abdominal deste estudo com o de Guedes e Guedes (1998), os resultados demostram que, de modo geral, as crianças pertencentes a este estudo apresentam escores médios muito inferiores aos às crianças de Londrina/PR, indicando que o fator econômico pode ser um forte preditor para diminuição na aptidão motora e consequentemente resultar em possíveis interferências no crescimento e desenvolvimento saudáveis.

    E por fim percebeu-se, ao classificar as crianças nos níveis de adiposidade corporal, que, embora a maioria dos meninos e meninas estejam enquadrados dentro do nível “adequado” de percentual de gordura, um número considerável de meninas apresentam níveis de adiposidade “baixo”, evidenciando casos de desnutrição. Também foram observados maiores casos de níveis de adiposidade “alto” para as meninas em comparação aos meninos. Corroborando, o estudo de Diniz e outros (2006) apontou um maior número de meninas entre 8 e 11 anos com um percentual de gordura alto.

Conclusões

    Considerando o fato das crianças analisadas pertencerem à classe econômica baixa, e embora tenha sido observado uma maior número de meninas com nível de gordura “baixo” e “alto” em comparação aos meninos, a maior parte das crianças avaliadas se enquadrou dentro dos níveis de adiposidade “adequada” para a idade.

    Por outro lado, os meninos apresentaram desempenho superior ao das meninas para o teste abdominal, sendo o fator nível de gordura um importante preditor para o baixo desempenho.

    Sendo assim, os resultados do presente estudo apontam que crianças de baixa condição econômica apresentam escores baixo de desempenho em relação à flexibilidade e ao teste de resistência abdominal, fato este que induz a elaboração de metas de ação para modificação e prevenção deste quadro.

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