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A importância do treino das 

capacidades coordenativas na infância

 

*Alunos da licenciatura em Educação Física do ISCE – Odivelas

** Professor da licenciatura em Educação Física do ISCE – Odivelas

Colaborador do centro de investigação CIDESD

Editor da Revista Electrónica de Desporto e Actividade Física (REDAF)

(Portugal)

Joaquim Carvalho*

Luis Assunção*

Valter Pinheiro**

prof_valterpinheiro@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Com o presente artigo pretende-se demonstrar a importância das Capacidades Coordenativas. Apresenta-se o seu conceito, como se desenvolve, bem como os benefícios do seu trabalho. No treino de crianças e jovens estas capacidades vão condicionar todas as suas aprendizagens, neste contexto surge a Escola através da Educação Física como espaço privilegiado, para um trabalho variado de experiências motoras que permitam uma melhoria da coordenação motora e consequentemente do desenvolvimento global.

          Unitermos: Capacidades coordenativas. Infância

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 132 - Mayo de 2009

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Introdução

    “A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para a escola. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares; estas não podem ser conduzidas a bom termo se as crianças não tiverem tomado consciência do seu corpo, lateralizar-se, situar-se no espaço, dominar o tempo; se não tiver adquirido habilidade suficiente e coordenação de seus gestos e movimentos.” (Le Boulch, 1988).

    O treino das Capacidades Coordenativas é fundamental não só a nível desportivo como no processo educativo da criança. O seu treino é uma forma de qualquer pessoa optimizar o seu desempenho motor e o seu desempenho cognitivo e com isso o seu bem-estar, pois, a coordenação está presente em todas as actividades diárias. As capacidades coordenativas se exploradas e trabalhadas convenientemente permitem processar informação de forma mais complexa e especializada melhorando o reportório motor, permitindo uma resposta mais rápida e com um menor dispêndio energético. Neste contexto surge a Escola através da Educação Física como espaço privilegiado, para um trabalho variado de experiências motoras que permitam uma melhoria da coordenação motora e consequentemente do desenvolvimento global. É neste âmbito, que este trabalho surge, com o objectivo de ser mais um instrumento de auxílio no conhecimento, sobre a importância, na infância, do treino das capacidades coordenativas, por parte de toda a comunidade educativa.

O conceito das capacidades coordenativas

    “Coordenação é a interacção harmoniosa e económica do sistema músculo-esquelético, do sistema nervoso e do sistema nervoso sensorial com o fim de produzir acções motoras precisas e equilibradas, importância em várias disciplinas científicas como a aprendizagem motora, o controlo motor e o desenvolvimento motor”, (Kiphard, 1976). O mesmo autor refere que “a coordenação do movimento, de acordo com a idade, é a interacção harmoniosa e, na medida do possível, económica, dos músculos, nervos e órgãos dos sentidos, com o fim de produzir acções cinéticas precisas e equilibradas e reacções rápidas e adaptadas à situação”.

    Para Meinel (1976), a coordenação é a “capacidade de organizar movimentos para atingir, um objectivo determinado”, enquanto Frey (1977), citado por Weineck (1986), realça que a coordenação permite ao atleta dominar acções motoras com precisão e economia, que podem ser previsíveis (estereótipos) ou imprevisíveis (adaptação) e aprender relativamente depressa os gestos desportivos.

    Na interpretação de Weineck (1986), a coordenação é “ a acção combinada do sistema nervoso central e da musculatura esquelética, objectivando uma sequência de movimentos”.

    Hirtz (1986), define as capacidades coordenativas como uma classe das capacidades motoras que em conjunto com as capacidades condicionais e as habilidades motoras, permitem retirar rendimento do corpo, e que são determinadas na sua essência através de processos de condução nervosa.

    Para Meinel e Schnabel (1987), a coordenação motora é a capacidade de harmonizar os processos na acção motora em relação ao objectivo que se pretende atingir. Os mesmos autores entendem que as capacidades coordenativas possibilitam ao atleta ”dominar, de forma segura e económica, acções motoras em situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adaptação), como também aprender movimentos desportivos”.

    Segundo Adelino, Vieira e Coelho (2000) a função da coordenação é convergir as diversas funções orgânicas e psíquicas.

    Verifica-se na literatura da especialidade uma diversidade em relação à definição das capacidades coordenativas, segundo Barbanti (1996), isto deve-se ao facto dos estudos serem efectuados por especialistas de áreas distintas, defende ainda que esta definição devia ser uniformizada, com o intuito de possibilitar um melhor planeamento e consequente operacionalização por parte dos profissionais da área.

Classificação das capacidades coordenativas

    Como nos refere Roth (1999), na literatura podem encontrar-se numerosos estudos sobre as capacidades coordenativas, onde se pode verificar quais os critérios usados pelos autores para definir as capacidades, como foram quantificadas e que capacidades coordenativas foram avaliadas: Fleishman e col. (1954, 1955), Puni (1961), Blume (1978), Roth (1982), Teipel (1982), Hirtz (1985), Zimermann (1987) e Cumbee (1988).

    Em relação às classificações conhecidas os diversos autores recomendam diferentes sistematizações, uma é a de Schnabel (1974), que sistematiza três capacidades coordenativas básicas:

  1. Capacidade de controlo motor - baseia-se nas componentes de coordenação da capacidade de diferenciação cinestésica, da capacidade de orientação espacial e da capacidade de equilíbrio;

  2. Capacidade de aprendizagem motora - depende da capacidade de aprendizagem motora e ainda da capacidade de controlo motor;

  3. Capacidade de adaptação e readaptação motoras – são os mecanismos da apreensão, do tratamento da retenção da informação.

    Hirtz (1986) subordina às três capacidades básicas cinco capacidades essenciais de coordenação:

  1. Capacidade de orientação espacial - faculdade de se aperceber das modificações espaciais à medida que elas intervêm na execução dos movimentos;

  2. Capacidade de diferenciação cinestésica - faculdade de controlar as informações provenientes da musculatura, de apenas reter as mais importantes e de dosear a força a empregar;

  3. Capacidade de reacção - faculdade de analisar rapidamente a situação e de lhe aplicar a resposta motora mais adequada;

  4. Capacidade de ritmo - faculdade de imprimir uma certa cadência à realização de um movimento ou de “apanhar” essa cadência se ela é dada;

  5. Capacidade de equilíbrio - faculdade de manter uma posição, mesmo em condições difíceis, ou de a recuperar rapidamente se ela é perturbada.

    Para Pohlman, citado por Barbanti (1996), as capacidades coordenativas são:

  1. Capacidade de diferenciação sensorial - capacidade de diferenciar as sensações extraídas dos objectos e dos processos através dos nossos órgãos dos sentidos, face a uma necessidade específica de uma actividade;

  2. Capacidade de observação - capacidade de perceber o desenvolvimento de um movimento próprio ou de outros, assim como os objectos imóveis, com base em critérios seleccionados;

  3. Capacidade de representação - capacidade de mentalizar situações bem determinadas, processos de movimentos, objectos etc., com base nas informações disponíveis;

  4. Capacidade de antecipação - capacidade de prever o desenvolvimento e o resultado de uma acção motora ou de uma situação e, a partir desta, preparar a próxima acção;

  5. Capacidade de ritmo - capacidade de articular o desenvolvimento de um movimento e de agrupar o desenvolvimento temporal e dinâmico que caracteriza o movimento;

  6. Capacidade de coordenação motor - capacidade de assegurar uma adequada combinação de movimentos que se desenvolvem ao mesmo tempo ou em sucessão;

  7. Capacidade de controlo motor – capacidade de poder responder às exigências elevadas de precisão de movimentos do ponto de vista espacial, temporal e dinâmico;

  8. Capacidade de reacção motora - capacidade de reagir rápida e correctamente a determinados estímulos;

  9. Capacidade de expressão motora - capacidade de criar os próprios movimentos, criando uma expressão artística e provocando uma expressão estética.

    Estas capacidades são condicionadas pela capacidade de elaboração das informações por parte dos analisadores implicados na formação do movimento (tácteis, cinestésicos, estático-dinâmicos ou vestibulares, visuais e acústicos. Segundo Meinel e Schnabel (1984), Weineck (1999), podem ser assim classificados:

  • Analisadores cinestésicos – funcionam através de proprioceptores existentes nos músculos, tendões, ligamentos e articulações que informam o sistema nervoso central, através de fibras nervosas, das forças exercidas sobre estes;

  • Analisadores tácteis – funcionam através de receptores existentes na pele, que informam sobre a forma, superfície dos objectos, etc.…;

  • Analisadores vestibulares – que se situam no ouvido interno, e que informam sobre as mudanças na direcção, aceleração e velocidade dos movimentos da cabeça;

  • Analisadores visuais – que através dos seus receptores informam sobre a percepção da distância, da relação dos próprios movimentos e os de outras pessoas.

  • Analisadores acústicos – estão relacionados com os estímulos que se recebe através dos sons.

    Weineck (1999), subdivide a coordenação em geral e especial, sendo a primeira aquela que resulta da instrução geral para o movimento em diversas modalidades desportivas, ou seja, manifesta-se em diversos sectores da vida quotidiana. Já a coordenação especial é aquela que se forma no contexto de uma modalidade desportiva específica, ou seja, são movimentos específicos de uma modalidade desportiva.

    O rendimento das capacidades coordenativas depende muito da capacidade destes analisadores fornecerem informação adequada, para Fonseca (1999), se as informações sensoriais transmitidas por estes analisadores não forem precisas ao nível da recepção (input), não serão bem integradas no cérebro e o produto final (output) em consequência sairá inadequado.

Importância das capacidades coordenativas

    O trabalho em conjunto com as capacidades condicionais melhora a realização de movimentos coordenados ( Meinel e Schnabel, 1984).

    “Uma boa disponibilidade para o movimento e um bom desenvolvimento ao nível das capacidades coordenativas são aspectos significativos e determinantes no quadro da formação corporal dos atletas.” (Hirtz e Holtz, 1986).

    “…as capacidades coordenativas desempenham um papel primordial na estrutura do movimento com reflexos nas múltiplas aptidões necessárias para responder às exigências do dia-a-dia, do trabalho e do desporto”. (Hirtz, e Schielke, 1986)

    De acordo com Meinel e Schnabel (1987), as capacidades coordenativas são requisitos fundamentais para o atleta praticar de uma forma óptima uma determinada modalidade desportiva, diz ainda, que associados a estas estão, aspectos perceptivos, cognitivos e menemónicos, sublinhando a inter-relação que existe entre estes elementos.

    O desenvolvimento das capacidades coordenativas é imprescindível ao desenvolvimento das capacidades condicionais (força, velocidade, resistência, flexibilidade) e vice-versa, como refere Barbanti (1996),

    Greco e Benda (1998), afirmam que quer ao longo da vida, quer na iniciação desportiva, quer no desenvolvimento motor do Homem é imprescindível o trabalho de coordenação motora. Os mesmos autores referem que desenvolver a coordenação motora não só é importante na optimização das técnicas desportivas específicas, mas também no desempenho motor e no bem-estar do indivíduo.

    Weineck (1999) afirma que “as capacidades de coordenação são a base de uma boa coordenação sensório-motora; quanto mais elevado for seu nível mais depressa e mais seguramente poderão se aprender movimentos novos ou difíceis”.

    Segundo, Fonseca (1999), o cérebro deve integrar toda a informação dos seus analisadores, porque sem essa interacção dinâmica, o cérebro não funciona de forma adequada, fazendo com que a aprendizagem seja difícil e desmotivante. O trabalho de forma sistemática das áreas de integração táctilo-quinestésica, visual e auditiva, possibilita um aumento do seu repertório motor, o processamento de informação de forma mais complexa e especializada, permitindo uma economia de esforço, uma maior adaptação quando há modificações do ambiente ou de situações.

Quando e como desenvolver as capacidades coordenativas

    Weineck (1986), Hirtz e Schielke (1986), afirmam que é necessário respeitar a idade sensível a estas capacidades para que se obtenham bons resultados, é consensual a ideia que é durante a infância até a puberdade o período propício, para que exista sucesso, pois, ocorre uma rápida maturação do sistema nervoso central.

    Greco e Benda (1998), complementam esta ideia quando dizem que é nos primeiro anos de vida que o desenvolvimento da coordenação motora se inicia e existirão melhorias no seu desenvolvimento se estimulado desde a infância, ideia esta, reforçada por Fonseca (1999), se o cérebro durante o período pré-escolar trabalhar bem e de forma sistémica as várias áreas de integração táctilo-quinestésica, visual e auditiva vão poder processar informação de forma mais complexa e especializada.

    Segundo Barbanti (1979), Weineck (1999), devem realizar-se algumas tarefas para que exista um aperfeiçoamento coordenativo na educação física e no desporto de jovens, tais como:

  • Aperfeiçoar e utilizar as várias formas de base de motricidade (marchar, correr, saltar, balançar, trepar, lançar, apanhar, etc.) e garantir o enriquecimento sistemático de experiências motoras;

  • Aperfeiçoar as capacidades coordenativas fundamentais (capacidade de diferenciação cinestésica, capacidade de orientação espacial, capacidade de equilíbrio, capacidade de reacção, capacidade de ritmo);

  • Garantir uma racional aquisição e consolidação das técnicas desportivas através de uma ligação sistemática do aperfeiçoamento das capacidades coordenativas com o processo de aprendizagem motora;

  • Combinar de forma óptima o aperfeiçoamento das capacidades condicionais e coordenativas.

Bibliografia

  • Adelino, J., Vieira, J., Coelho, O. (2000): Treino de Jovens o que todos precisam de saber!: Lisboa: M.J.D./C.E.F.D.

  • Barbanti, V. (1996): Treinamento físico: bases científicas. 3. ed. São Paulo: CLR Balieiro.

  • Fonseca, V., (1999): Perturbações do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Tendências Filogenéticas e Ontogenéticas: Lisboa: fMH edições.

  • Greco, P. J., Benda, R. N. (1998): Iniciação Esportiva Universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. V. 1. Belo Horizonte: Editora UFMG.

  • Hirtz, P., (1986): Rendimento desportivo e capacidades coordenativas: Horizonte III (13).

  • Hirtz, P., Holtz, D., (1986): Como Aperfeiçoar as Capacidades Coordenativas. Exemplos Práticos: Horizonte III (17).

  • Hirtz, P., Schielke, E., (1986): O Desenvolvimento das Capacidades Coordenativas nas Crianças, nos Adolescentes e nos Jovens Adultos: Horizonte III (15).

  • Le Boulch, J. (1988): O Desenvolvimento Psicomotor – do Nascimento até aos 6 anos: Rio de Janeiro: Editora Artes Médicas.

  • Kiphard, E. J. (1976): Insuficiências de movimiento y de coordinación en la edad de la escuela primaria: Buenos Aires: Kapeluscz.

  • Meinel, K. (1976): Motricidade II. O desenvolvimento motor do ser humano. Ao Livro Técnico: Rio de Janeiro.

  • Meinel, K., Schnabel, G. (1984): Motricidade I. Teoria da Motricidade Esportiva Sob o Aspecto Pedagógico. Ao Livro Técnico: Rio de Janeiro.

  • Meinel, K., Schnabel, G. (1987) Teoria del Movimiento: 7. ed. Buenos Aires: Stadium.

  • Roth, K. (1999): De lo fácil a lo difícil. Gradualmente: aspectos teóricos, metodológicos y práticos del aprendizaje motor en el deporte: Buenos Aires: Stadium.

  • Weineck, J.(1986): Manual do Treino Desportivo: 2. ed. São Paulo. Ed. Manole.

  • Weineck, J.(1999): Treinamento Ideal: São Paulo. Ed. Manole.

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revista digital · Año 14 · N° 132 | Buenos Aires, Mayo de 2009  
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